Blog da Ana Maria Bahiana

Arquivo : Hollywood

O blockbuster ainda tem futuro?
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Ana Maria Bahiana

Não muito tempo atrás, quando a temporada-pipoca começava exatamente agora, no feriadão do 4 de julho, dia da independência norte americana, os estúdios sabiam exatamente o que fazer: por um filmão de ação no máximo possível de telas, e esperar a grana pingar no caixa. Eu disse pingar? Palavra errada. Tsunami seria o mais correto.

Eram os bons tempos de Exterminador do Futuro 2, 31 milhões de dólares em 1991; Independence Day,  50 milhões de dólares na estreia em 1996; MIB Homens de Preto, 51 milhões de dólares em 1997; Transformers, 70 milhões de dólares em 2007.

Mas estes agora são tempos em que um filme como Homem de Aço quebra recordes, faz mais de 528 milhões de dólares pelo mundo afora e ainda não dá lucro (ele precisa fazer três vezes seu orçamento de 225 milhões de dólares para isso), e,ainda por cima, é deslocado do primeiro lugar na bilheteria por um longa de animação, Universidade Monstros. Fenômeno que deve ser repetir exatamente agora, no feriadão, quando outro filme criado dentro da fórmula para fazer sucesso na temporada pipoca – O Cavaleiro Solitário, bem ruinzinho, aliás –  vai levar  uma surra de outro longa de animação, Meu Malvado Favorito 2.

Não sei se os estúdios estão se fazendo esta pergunta, mas me parece o óbvio: o “frankenfilme”, o filme feito por comitê, com todo mundo dando palpite e anexando  o que acha que vai fazer sucesso, ainda funciona? E como é possível sobreviver numa era em que tais projetos só podem ser rentáveis se derem retornos que mais parecem o PIB de alguma pequena república do leste europeu?

Diante disso, ficou ainda mais interessante a leitura desta experiência feita pelo New York Times:  Red, White and Blood,  argumento fictício de um possível frankenfilme colando todos os clichês que, teoricamente, devem dar super certo na bilheteria – Velozes e Furiosos misturado com Duro de Matar, mais romance açucarado e muitas explosões — foi submetido a um produtor, dois executivos de marketing , um especializado nos Estados Unidos,outro nos mercados internacionais, um pesquisador de mercado, um executivo de estúdio e um roteirista.

Cada um deles deu seu palpite, e eis o que eu deduzi que, pelo senso comum hollywoodiano, funciona num filme, hoje:

–       Armas mortais, imensas e apavorantes. Dar tiro é pouco.

–       Ninguém mais aguenta heróis-presidentes. Chefes da CIA ou agentes secretos funcionam melhor.

–       É importante ter atores bonitões que tirem a camisa frequentemente.

–       Os elencos devem ser multi-culturais e multi-étnicos.

–       Se possível, incluir diálogo em outros idiomas,  especialmente espanhol.

–       Menos romance, mais ação. Segundo o marketeiro internacional, romance vende mal internacionalmente. Ação e muitas explosões é o que o público fora dos EUA gosta de ver.

–       Nada de sexo – o filme precisa ser para maiores de 13 anos.

–       Quando em dúvida, destrua coisas espetacularmente. Um monte dessas cenas resolve qualquer fraqueza do roteiro.

O que vocês acham?


Alô, Kal-El: Hollywood depende de você!
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Ana Maria Bahiana

Para mim um dos aspectos mais interessantes de O Homem de Aço é seu impacto sobre o futuro da Warner. E, por consequência, seu impacto em toda a indústria, já que a Warner tem a maior fatia do mercado (mas não é o estúdio que mais cresceu no último ano – esse é o independente Film District, o que já dá um elemento interessante à conversa toda…)

Por partes:

O drama da super-escala. Com um orçamento de 225 milhões de dólares, O Homem de Aço não poderia ter feito menos do que fez em sua estreia recordista. Esse é um dos dramas do mega-cinemão:  em filmes destas dimensões, um retorno que não é super é um fracasso. A rede de segurança para algo como Homem de Aço são as ações de merchandising, parcerias e colocação de produto que, somados aos 128.6 milhões de dólares da bilheteria norte-americana, já cobriram dois terços do orçamento, um total de 170 milhões de dólares. O terço que falta virá, não tenho dúvida. O lucro? Mais uma vez, do mercado externo. A questão: Durante quanto tempo mais este modelo de produção/retorno em larga escala será sustentável? O que acontece com um estúdio quando um, apenas um desses mega-jumbos só se paga parcialmente, mesmo com altas bilheterias?

O enigma da franquia. A primeira franquia Super-Homem, que tanto indignou seus criadores, Jerry Siegel e Joe Shuster, estendeu-se de 1975 até 1987, e sua popularidade e rentabilidade foram encolhendo junto com a criatividade da franquia, terminando com o patético  Em Busca da Paz. O reboot de  2006 não gerou descendência. A Warner vai demorar um pouco até se comprometer com uma franquia de Homem de Aço – além do item que vem a seguir, o estúdio precisa saber se o desempenho em todas as frentes, especialmente no mercado externo, é o bastante para segurar uma série de filmes.

A indecisão dos parceiros. Legendary, a empresa de co-financiamento e co-produção que, desde 2005, racha os custos dos grandes projetos pop da Warner, inclusive as adaptações de propriedades da DC Comics, também ainda está decidindo uma coisa muito importante _ se continua ou não a parceria com a Warner, e, se continuar, em que termos. A Warner, que tem um novo presidente desde o começo do ano, Kevin Tsujihara, vindo do home entertainment, está avaliando se quer assumir 100% da propriedade dos mega-projetos – ous eja, 100% do risco– para ter um retorno de 100% de receita. A Legendary está avaliando a mesma coisa.  Homem de Aço é a principal cobaia dessa observação.

Quem seria o General Zod dessa história?

 

 

 


Picadinho de Hollywood: a crise, os FX e a Academia
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Ana Maria Bahiana

Esta época do ano é sempre devagar por aqui _ ainda não é a pipocada do verão, e a temporada-ouro parece estar longe (só parece… como veremos a seguir). As coisas mais interessantes estão acontecendo na TV ….e nos bastidores da indústria. Como por exemplo:

A Entertainment Weekly desta semana saiu com uma matéria sobre o mesmo assunto que abordei aqui no blog três semanas atrás: a aparentemente contraditória crise na indústria dos efeitos especiais num momento em que cinema e TV  estão mais do que nunca utilizando FX. O básico é o que expus naquele post, mas o artigo me lembrou duas coisas importantes: que a ilustríssima Digital Domain, fundada por James Cameron e Stan Winston em 1993 e pioneira em vários aspectos dos FX (Titanic, Benjamin Button, Transformers, o holograma do Tupac Shakur…) , também pediu concordata em setembro de 2012, e acaba de fechar completamente seu departamento de produção, que estava criando o longa de animação The Legend of Tembo; e que uma das razões da crise é o atual sistema de operação entre os estúdios e produtores e as empresas de FX – os realizadores pedem várias versões de um efeito, mas pagam apenas pelo que escolheram; e se não aprovam nenhum a casa de FX cai num buraco maior ainda (porque arcou sozinha com o custo da mão de obra, equipamento, etc. das versões que não foram aprovadas…)

O prédio executivo dos estúdios Disney, em Burbank

Um outro reflexo da crise – ou, melhor dizendo, das transformações profundas que estão sacudindo a indústria, hoje – são as demissões em massa na Disney, esta semana. Semana passada, a Disney acabou de liquidar a LucasArts, a divisão de games da LucasFilm – uma decisão que afetou também a Industrial Light and Magic, gerando muitas demissões de profissionais que trabalhavam para as duas empresas. Agora, a Disney está pondo na rua 150 funcionários nos departamentos de marketing, entretenimento doméstico e animação, no quartel general aqui de Burbank. E no entanto… ao contrário das empresas de efeitos, a Disney está indo muitissimo bem de finanças, e reportou  5.7 bilhões de dólares em lucro no exercício 2012. O que está acontecendo? Acionistas querendo ainda mais lucro. E para fazer a magia, é preciso diminuir os custos… ou seja, baixar cada vez mais os gastos de produção, apostar ainda mais no que pode dar certo (e apenas nisso) e… demitir muita gente.

O futuro Museu da Academia

Enquanto isso, na Academia… Vem aí a primeira reunião geral dos mais de seis mil integrantes ativos da Academia. Dia 4 de maio, ao vivo no teatro Samuel Goldwyn aqui de Beverly Hills, e via skype para Nova York e a sede da Pixar no norte da Califórnia (vejam como a Pixar tem peso…), os acadêmicos vão receber notícias sobre: o projeto do Museu da Academia, que está sendo construído ao lado do Museu de Arte de Los Angeles, o LACMA (e cujo teatro já foi batizado em honra de David Geffen, que doou 25 milhões de dólares para o projeto); a votação eletrônica para o Oscar, ano que vem; e, nas palavras do presidente Hawk Koch, “o impacto da tecnologia nos Oscars e na Academia em geral”. Hummm… Isso promete… Estou de olho….


Hollyworld: crise leva produção e efeitos para o mundo
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Ana Maria Bahiana

O que a eleição para prefeito de Los Angeles e a comoção com o discurso interrompido do ganhador do Oscar por efeitos especiais tem em comum?

Numa cidade que, literalmente, vive de cinema e TV, tudo.

Os dois candidatos a prefeito, escolhidos num primeiro turno três semanas atrás —  Wendy Greuel e Eric Garcetti, ambos democratas  — vão disputar o cargo no segundo turno, em maio tendo como um dos pontos principais de suas campanhas suas iniciativas para deter a “produção em fuga”. “Nesta cidade, quando há um volume produção em  andamento, todo mundo ganha. Eu não estou na indústria, mas as compras na minha loja aumentam quando estão filmando aqui na rua”, disse uma eleitora numa entrevista de rádio, no dia do primeiro turno.

Somente entre 2004 e 2011, o município de Los Angeles perdeu mais de três bilhões de dólares em salários que teriam ido para equipes de cinema e TV se os projetos não tivessem sido relocados para outros estados e países, atraídos por incentivos fiscais e facilidades burocráticas.

O problema não vem de hoje – uma rápida pesquisa nos arquivos de Variety e Los Angeles Times revela matérias e declarações preocupadas já em meados da década de 1990. Mas a globalização, a expansão das comunicações e o desenvolvimento de infra estrutura em outros países, junto com a prática cada vez mais comum de grandes incentivos fiscais, está neste século, levando a produção norte americana de cinema e TV cada vez mais para longe de Los Angeles. Leste europeu, Austrália e Nova Zelândia, Irlanda, Canadá, Filipinas, Tailândia, Taiwan e África do Sul recebem hoje produções que, décadas atrás, seriam filmadas em locações ou estúdios do Sul da Califórnia. E outros estados– Carolina do Norte,  Novo México, Georgia, Michigan, Louisianna, Havaí, Alasca – oferecem incentivos fiscais tão ou mais apetitosos quanto esses países.

A crise financeira de 2008 acelerou ainda mais esse processo, e agregou outro elemento da produção a essa fuga: os efeitos especiais.

Quando, cinco anos atrás, o dinheiro sumiu e o público decidiu ficar em casa, os grandes estúdios – que são os grandes movimentadores de recursos, contribuindo com mais de 15 bilhões de dólares  por  ano em impostos federais e estaduais – apertaram o botão de pânico em duas frentes: uma, baixar ao máximo o custo de produção; duas, só investir no que pode dar certo, ou seja, filmes espetaculares para o público infanto-juvenil.

Só existe um modo de resolver essa equação: levando os efeitos especiais, que hoje podem representar mais de 40 por cento do orçamento de uma produção, pelos mesmos caminhos da filmagem, ou seja, para lugares onde o custo seja menor e haja incentivos fiscais.

Bill Westenhofer (à direita) , à frente do seu time, tenta agradecer a vitória por As Aventuras de Pi, no Oscar

“Os efeitos especiais estão vivendo um momento de enormes desafios”, diz Bill Westenhofer, um dos fundadores e CEO da Rhythm ‘n Hues, uma das mais antigas e respeitadas empresas de efeitos visuais de Los Angeles. Premiada com um Oscar pelos efeitos de As Aventuras de Pi, a Rhythm ‘n Hues tinha pedido concordata uma semana antes da festa, e, neste momento, tem sua sorte decidida nos tribunais.  “Temos que repensar nosso modelo de negócios”, Westenhofer continua. “Nossos artistas de efeitos visuais estão sofrendo, agora. A Rhythm ‘n Hues sempre foi uma empresa onde o profissional vinha em primeiro lugar, onde cada um era tratado como o artista que ele ou ela de fato é. Como manter isso sem se colocar numa crise financeira? Como não perder a qualidade quando os orçamentos que nos propõem são cada vez mais apertados?”

Westenhofer e seus sócios parecem ter encontrado a resposta: além de suas filiais na Malásia e na India (que não foram afetadas pelo processo de falência), estão planejando abrir uma nova empresa em Taiwan. Nada foi anunciado oficialmente ainda, mas neste último domingo, dia 17, um anúncio da Rhythm ‘n Hues  no jornal chinês China Post procurava candidatos para 200 vagas de técnicos e artistas de efeitos.

Teria sido por isso que Westenhofer foi tão brutalmente interrompido pelos temas de Tubarão e Bonanza, na noite do Oscar? Porque seu discurso de agradecimento nos Oscars estava rumando para um exposé do estado de coisas da indústria dos efeitos em Los Angeles? E concluindo que os dias em que Los Angeles era a capital por default da produção do cinema estavam terminando? E que isso não é coisa que se diga na noite em que a indústria está dando tapinhas nas próprias costas?

Não se iludam, contudo: o poderio financeiro e o know how ainda estão aqui. Mas o mundo está cada vez mais acessível e interessante, sustentado por mercados com apetite cada vez maior por produto audioviosual e com estrutura e mão de obra altamente competitivas. O que hoje se chama Hollywood migrou da costa leste para a California, um século atrás, exatamente por esse motivo. E, agora, vai mais além.


Transformers X Tom Hanks: a batalha do 4 de julho
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Ana Maria Bahiana

 

4 de julho, o feriadão da independência norte-americana, é uma data muito importante no calendário hollywoodiano: é o auge da temporada-pipoca, o momento de ouro para lançar arrasa-quarteirões.Por isso mesmo é também um dos fins de semana mais concorridos – senão O mais concorrido – do ano, o campo de batalha onde se constroem reputações e se estabelecem tendencias.

Foi num 4 de julho há exatos 20 anos que James Cameron provou de uma vez por todas que era capaz de produzir mega-sucessos (Exterminador do Futuro 2, 31 milhões de dólares_ o que, em 1991, era um bocado de dinheiro). Foi em outro 4 de julho, cinco anos depois  que Roland Emmerich mostrou que vinha para fazer muita grana (Independence Day, mais de  50 milhões de dólares em 1996); e, seis anos atrás, Steven Spielberg demonstrou que ainda tinha mojo na área do super popular (Guerra dos Mundos, quase 65 milhões de dólares em 2005).

Nem sempre foi assim: na verdade, até 1975 e Tubarão, junho-julho era a época em que NÃO se lançavam filmes. A crença vigente era que ninguém ia ao cinema durante as férias de verão do hemisfério norte, preferindo praia, viagem e acampamento. Foi Lew Wasserman, presidente da Universal na época (e, por esse motivo guru de Spielberg durante toda a sua vida) que teve a sacada: um filme sobre um tubarão assassino tem muito mais chances de aterrorizar (e atrair) as pessoas se elas já estiverem pensando em praia e outros prazeres de verão. (Leiam o capítulo Nove: A Vingança do Nerd de Easy Riders, Raging Bulls, de Peter Biskind, onde esta saga é contada em detalhes).

Na verdade a analogia com Tubarão é apropriada para este momentoso 4 de julho de 2011: com todo o ruído de seus avanços tecnológicos, a indústria de cinema como um todo, na verdade, movimenta-se muito lentamentGrandes marcos de mudanças fundamentais no modo de conceber, fazer, distribuir e divulgar cinema são raros e espaçados _ e a invenção do blockbuster de  verão, entre 1975/Tubarão e 1977/Star Wars, Capitulo IV: Uma Nova Esperança, foi, por incrível que pareça, a mais recente. Levando em conta a evolução de gostos e tecnologia, os filmes-pipoca ainda são criados, feitos e vendidos do mesmo modo como eram em 1975.

Será que o 4 de julho de 2011 mostra, afinal, sinais de um desvio importante de curso? Talvez. Os indícios:

Um filme em que o conceito e os efeitos são importantes passou batido por um filme em que os atores são importantes. Dez anos atrás se alguem anunciasse um filme estrelado por Julia Roberts e Tom Hanks estreando no mesmo dia de qualquer outro sem Julia Roberts e Tom Hanks, ninguém na indústria pensaria duas vezes em quem seria o top do feriadão. Neste 4 de julho as criaturas CGI de Transformers 3 deram uma lavada em Larry Crowne, estrelado por Tom Hanks e Julia Roberts: 97 milhões de dólares do primeiro contra 13 milhões de dólares do segundo (isso só nos EUA; no mundo todo T3 está pra lá de 400 milhões de dólares de receita, em apenas quatro dias em cartaz). A goleada foi tamanha (T3 é, agora, o recordista do feriadão) que muita gente se perguntou se este feriado marcava o fim de mais uma era dominada por estrelas, e anunciava um novo período em que o conceito era o grande atrativo para o público.

Um filme em que o conceito e os efeitos são importantes recebeu críticas melhores que um filme sem efeitos, com atores e um diretor importantes. Larry Crowne foi escalado para o 4 de julho como uma opção de programação, visando o público mais velho, possivelmente desgostoso com o festival de porrada de Transformers 3. O previsível seria que T3 levasse uma surra da crítica,enquanto o filme “adulto”, encabeçado por dois ganhadores de Oscar (e dirigido por um deles, Hanks) ganhasse pelo menos o triunfo estético. Não foi o que aconteceu: T3 é uma pipocada divertida, seguindo a fórmula exata dos anteriores, e não decepciona porque não promete mais que isso; Larry Crowne é previsível e banal, decepcionando quem  esperava mais

O filme com grandes estrelas foi financiado independentemente. Cinco, dez anos atrás os nomes “Julia Roberts” e “Tom Hanks” seriam o suficiente para os estúdios abrirem as portas dos cofres. Mas para realizar Larry Crowne Hanks teve que usar recursos próprios, complementados por financiamento de terceiros, como qualquer independente. Os 195 milhões de dólares de T3 foram inteiramente cobertos pela Paramount/Dreamworks. “É incrível sequer pensar nisso, mas o filme de Tom Hanks é o pequeno filme independente”, me disse um escolado soldado da indústria. “Não há mais lugar para esse tipo de projeto na matemática dos estúdios.”

O 3D ganhou novo fôlego. Nas semanas anteriores ao 4 de julho Michael Bay fez um verdadeiro apostolado do 3D, comparecendo a eventos, dando palestras e entrevistas (muitas delas ao lado do messias do 3D, James Cameron) com o fervor de um recém-convertido à técnica. Não sei se foi o papo ou a qualidade da produção, mas a verdade é que T3 reverteu a tendência do ano, que vinha mostrando um declínio veloz do consumo de ingressos para salas 3D: 60% dos ingressos para o novo Transformers veio de exibições em 3D, trazendo nova energia para o segmento.

E vocês, o que acham?  A era das estrelas acabou mesmo? O 3D veio para ficar?

 

 


O 3D morreu? Viva o 3D?
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Ana Maria Bahiana

 

Nas últimas duas semanas algo interessante aconteceu no mercado norte americano:  o 3D como atrativo de bilheteria mostrou sinais de declínio. Sinais claros, vindos do índice de vendas de ingressos, assinalaram o que pode ser , na melhor das hipóteses, um desinteresse momentâneo e, na pior, o começo de uma curva descendente, o ciclo final de uma tendencia.

Primeiro, vamos ver o quadro geral: a venda de ingressos nos EUA, neste primeiro semestre, está em media 20% abaixo do mesmo periodo ano passado. É o ponto mais baixo de uma curva descendente que vem desde 2002, e que foi interrompida brevemente em 2009-inicio de 2010 por Avatar.

O mega-sucesso de Avatar, como se sabe, levou os nervosíssimos chefões da indústria a uma conclusão simples: o 3D é a salvação! Não apenas é o que público deseja, mas também é um modo de vender ingressos mais caros, dando um reforço na receita!

Como sempre acontece nesses casos, neste nível, ninguém discutiu a necessidade de tais filmes serem tão bons, tão envolventes e tão tecnologicamente avançados  quanto Avatar.

Fast forward para o feriadão de Memorial Day, a última segunda feira de maio, que marca o início da temporada-pipoca, em geral a fase das vacas gordas para Hollywood: Piratas do Caribe: Navegando em Águas Misteriosas, estreia no topo, como esperado _ mas apenas 46% de sua receita vem das exibições 3D. Uma semana depois, o filme é derrubado por Se Beber Não Case 2, em 2D. Mais sete dias – este final de semana – e Kung Fu Panda 2 fez pior: apenas 45% de seus ingressos vieram de exibições 3D.

A reação em Wall Street – que é onde realmente se resolvem  os destinos dos grandes estudios  e das empresas que deles dependem – foi rápida: as ações de empresas  do setor, como a Real 3D, despencaram vertiginosamente (11% em um dia, em um caso).

Na primeira eclosão do 3D, nos anos 1950, o entusiasmo das plateias durou exatamente três anos. Tentativas posteriores, nos anos 1970 e 80, resistiram menos tempo: um ano e meio, em media. Todas foram vitimadas pela mesma combinação de fatores: filmes vagabundos, falta de paciência com os óculos, problemas técnicos de exibição, alto custo do ingresso.

E nem assim ninguém aprendeu coisa alguma.

Existem algumas diferenças, contudo, entre as trajetórias anteriores do 3D e o que está acontecendo agora.

A primeira, e mais importante, é a força dos mercados internacionais, coisa que não existia em meados do século passado. O 3D pode estar caindo no consumo norte-americano, mas no exterior ainda é uma novidade pela qual, aparentemente, as plateias não se incomodam em pagar mais caro.

Na verdade, eu diria que todos os grandes lançamentos dos estudios, hoje, são criados, desenvolvidos e planejados visando em primeiro lugar o público fora dos EUA, de saturação mais lenta. Ou vocês acham que esses lançamentos simultâneos ou antecipados de arrasa-quarteirão são por acaso, ou apenas por conta do medo da pirataria?

O segundo elemento é o interesse na nova tecnologia por realizadores que não se alinham com o cinemão, como comentamos aqui, há pouco. A plasticidade e o poder visual da nova tecnlogia está oferecendo o que suas versões anteriores não tinham: a capacidade de ser uma real ferramenta narrativa, com resultados empolgantes e imprevisíveis.

E vocês, que estão consumindo o 3D além das fronteiras dos EUA, o que acham?

 


Em Mildred Pierce, todo o poder da vida de uma mulher
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Ana Maria Bahiana

Poucos dias atrás vi um filme que se parecia em tudo com a produção comercial norte-americana dos anos 1940 e 50, exceto no essencial – o toque de gênio que frequentemente estava escondido (mas não muito) debaixo dos clichês exigidos pelos estúdios.

Mildred Pierce, a mini-série da HBO que está no ar aqui e que vocês começaram a ver ontem, é o oposto disso. Baseia-se em um livro de 1941, referencia (e reverencia) o estilo de grandes da época, especialmente Douglas Sirk, grã mestre do melodrama. Mas é uma obra moderna, cuidadosamente pensada e dirigida por um diretor sem medo de ousar _ Todd Haynes, que já nos deu Não Estou Lá, Longe do Paraíso e Velvet Goldmine.

Fã do filme de Michael Curtiz, de 1945 (que rendeu um Oscar para Joan Crawford) Haynes escolheu voltar ao texto original do livro de James Cain e mergulhar, com ele, num estudo de personagem incomum na filmografia de hoje: a vida de uma mulher, em todas as suas facetas, não como acessório à narrativa de algum outro herói, mas inteira em si mesma.

Ao remover a principal alteração feita por Curtiz – o assassinato que transforma toda a narrativa num híbrido de melodrama e noir, dois gêneros  populares na época – Haynes recolocou o poder da história nas mãos de Mildred, a mulher que não se sabe tão forte, tão independente, tão dona de seu corpo e de sua alma até passar por sucessivas perdas e provações.

E ao escolher Kate Winslet para ser essa mulher. Haynes imediatamente acrescentou uma colherada de mel ao projeto , a impressionante mistura de extrema fragilidade e completo poder que Winslet sabe trazer a suas personagens, quando estimulada por um diretor que compreende seu enorme talento.

A mini-série da HBO-  desde já no topo da lista de melhores do ano na categoria- segue estritamente o texto de Cain, eliminando apenas os detalhes que poderiam tirar o foco do essencial. Aos 10 minutos do primeiro episódio Mildred (Winslet) despacha porta afora o marido adúltero, colocando-se a  na posição mais vulnerável possível na escala social dos Estados Unidos em plena Depressão: a mulher descasada, com duas filhas para criar.

Nos episódios subsequentes, Mildred descobrirá seu poder  enfrentando humilhação e mãos na bunda durante anos de trabalho como garçonete, explorando seu desejo primeiro com o desajeitado Waly (James LeGros), depois com o sedutor playboy Monte Beragon (Guy Pearce, ótimo) e, finalmente, criando coragem para abrir seu próprio negócio.

É uma estrutura que vocês vão reconhecer em várias novelas, tributárias do melodrama hollywoodiano em conteúdo e forma. Com a liberdade das cinco horas de uma minissérie e a certeza de estar falando com uma fatia específica do público (afinal, é HBO), Haynes pode se deter na intensidade da paixão, na devastadora dor da perda e, sobretudo, na complexa relação entre Mildred e sua filha mais velha, Veda (Morgan Turner e Evan Rachel Wood).  A filmografia mundial é repleta de títulos que exploram a relação entre o filho e o pai. Raros e bem vindos são os que se ocupam da rede complicada de amor, ressentimento, inveja e admiração que pode se formar entre mães e filhas.

A direção de arte , reproduzindo minuciosamente a ensolarada e ainda provinciana Los Angeles dos anos 1930 (em estudio e em locações nos arredores de Nova York), é um prazer à parte. Mas o grande espetáculo é a confluência dos talentos de Haynes e Winslet.  Em um momento, quando Mildred , já dona de sua vida, se reencontra com o ex-marido (Bryan O’Byrne), muitos anos depois , ambos mais velhos, solteiros, marcados por perdas e ganhos, uma rara luz ilumina a tela da TV – a luz da verdadeira, sincera humanidade que o bom cinema, em qualquer plataforma, é capaz de captar.


CinemaCon 2011: o cinema morreu, viva o cinema
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Ana Maria Bahiana

Apostas da temporada pipoca: Cowboys & Aliens...

... e Super 8

Começou ontem à noite em Las Vegas o ritual da primavera dos exibidores, Cinema Con (que se chamava Showest até que a diretoria mudou e eles resolveram correr atrás de um clima ComicCon…) É um evento reservado apenas a exibidores, distribuidores, donos de cinema e profissionais da midia especializada (como eu).

É divertido mas repetitivo depois de alguns anos inspecionando diferentes tipos de poltronas e fazedores de pipoca, e ouvindo os executivos prometendo que dessa vez sim, as plateias irão se multiplicar, o público vai disparar para os cinemas para ver nossos maravilhosos filmes…

De uns três anos para cá o tom dessas fanfarras tem sido cada vez mais desesperado: salva brevemente pelo fenômeno Avatar em 2009, a situação da bilheteria norte-americana está cada vez mais crítica , caindo aos poucos mas sem parar, de ano para ano.

Este ano, a crise crônica está atingindo níveis agudos. A bilheteria do primeiro trimestre foi patética, com uma queda de mais de 20% comparado com 2010. E, olhando para o que vem a ser temporada mais gorda do ano – o festival de pipoca entre maio e agosto – muitos executivos duvidam que haja volume suficiente de filmes atraentes para garantir uma reviravolta.

As apostas estão em alguns títulos, todos eles continuações e franquias: o derradeiro Harry Potter, Carros 2, Transformers Dark of the Moon, X Men First Class, Kung Fu Panda 2, The Hangover part II. Há uma carencia grande de títulos originais, e os poucos que se aventuram são, neste mercado instável, incógnitas: Cowboys & Aliens, Lanterna Verde, Capitão America, Super 8. Pessoalmente, aposto em Cowboys  & Aliens e Super 8. Mas a verdade é que, numa industria em que “ninguém sabe nada”, como já dizia o sábio e oscarizado roteirista William Goldman, agora sabe-se menos ainda. Se isso fosse possivel.

O primeiro dilema que está se debatendo na CinemaCon é, nas palavras do diretor da CinemaCon à Variety, se os hábitos do público mudaram de vez devido à “abundancia de outras avenidas adicionais competindo pelo dinheiro do consumidor.” É o velho dilema TV X cinema, VHS x cinema, DVD/Blu Ray X cinema, só que agora muito pior: mais opções, menos incentivos para sair de casa, com todas as chateações, e gastar uma nota preta por um filme que pode ou não satisfazer o consumidor.

O segundo dilema é:  o que fazer com o mercado externo? Os apetitosos novos mercados – China, especialmente, mas nosso Brasil também (ou vocês acham que Rio e Fast 5 foram por acaso?) – tem problemas proprios: regulamentação estrita (caso da China), falta de telas, pirataria. E no entanto parecem ser a única saída para o congestionamento do mercado norte americano.

E se você já está se perguntando o que isso tem a ver com você, a resposta é : tudo. Ansiedade quanto à resposta do mercado leva `a retranca na produção: mais sequels, mais franquias, mais fórmulas, menos risco, menos aquisições de projetos independentes, menos oportunidades para novas ideias, temas e realizadores (Sucker Punch, por exemplo, deveria ter sido um meta-filme comentando a propria cultura do entretenimento, especialmente a estética gamer/anime. Snyder admite ter sido “desencorajado” pela Warner a prosseguir nessa trilha. Prestando atenção, nota-se que  exatamente uma cena do velho roteiro permaneceu. Eu gostaria de ter visto esse outro filme.)

Por outro lado,  cortejar o mercado internacional pode representar mais lançamentos simultâneos, prazos menores para saída de títulos em DVD/BluRay/TV e, sobretudo, muito mais interesse em parcerias e co-produções com realizadores locais e mais portas abertas para talento além das fronteiras norte-americanas. Ano passado, 10 dos 20 filmes com maior retorno internacional foram dirigidos por não-americanos.  A tendencia é vermos esse tipo de aproximação ficar cada vez mais intensa.


Está lançado o Oráculo do Oscar 2011!
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Ana Maria Bahiana

Hollywoodianas e hollywoodianos, chegou o momento que vocês tanto esperavam (além do Oscar, é claro).

Está lançado oficialmente o internacionalmente famoso Oráculo do Oscar edição 2011.

Você acha que consegue prever os vitoriosos da noite de domingo com o mesmo poder oracular de Renato Félix e Weliton Vicente, detentores do título em 2010, que acertaram 20 das 24 categorias? Ou, quem sabe, bater o recorde da verdadeira pitonisa do Oscar, a carioca Danielle Lima, que cravou 21 acertos em 2009 e é a recordista de acertos do Oráculo?

As regras são muito simples: mande seus votos para o email oraculo2011@bol.com.br até o meio dia (horário do Brasil) de domingo, dia 27 de fevereiro. Mande apenas para este endereço de email, e somente até o meio dia de domingo. Votos enviados depois deste horário não serão considerados.  Você pode corrigir ou emendar seus votos, mas apenas a última versão será levada em conta _ as demais serão deletadas. Não  esqueça de incluir seu nome (completo ou artístico –sei lá, você pode ser o Banksy…) e um email para contato. Ah! Facilita muito se você mandar seus palpites na cédula oficial do Oscar, que você pode baixar aqui. Ter os votos todos na mesma ordem agiliza muito o processo.

Os resultados  serão anunciados aqui, com grande pompa, fotos e entrevistas , assim que minha cabeça voltar a funcionar depois do evento e conseguir contar os votos. O que, em termos práticos, é em torno de terça feira, 1 de março.

Além da suprema honra de ser aclamada/o neste mesmo espaço onde, durante o ano, trafegam estrelas e cineastas do primeiro time, a/o Oráculo(s) 2011 receberá uma seleção de mimos exclusivos da temporada de prêmios. Por  motivos legais, não posso enviar DVDs. E, por motivos de segurança e de custo, também não posso mandar grandes objetos (os comestíveis e bebíveis se foram há muito tempo). Não se preocupem – tem muita coisa super bacana para escolher.

A postos?


Semana do Oscar, dias 2 e 3: a sorte está sendo lacrada
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Ana Maria Bahiana

Hollywood Boulevard, hoje pela manhã

O Oscar 2011 já está decidido, mas apenas os contadores da PriceWaterhouseCooper sabem disso. Os votos fecharam ontem à tarde e foram encaminhados  imediatamente à contadoria . Quando você estiver lendo este post os resultados já terão sido apurados, e os vencedores, estabelecidos _ agora é a hora de preparar os cartões fatais, colocá-los nos envelopes e lacrá-los.

Antes que vocês perguntem: as estatuetas não recebem os nomes vencedores nesta etapa. Em números muito maiores que o necessário – por garantia- as estatuetas ficam nos bastidores do Kodak, com placas em branco. Depois da entrega, elas são enviadas para a gravação dos nomes e devolvidas aos vencedores.

Nas últimas 48  horas da disputa Christopher Hitchens, que não tolera bobagens, massacrou O Discurso do Rei por sua “memória seletiva” na reconstituição dos fatos em torno do reinado de Jorge VI e seu pai. Jorge V; Annette Bening deu entrevistas para praticamente todos os programas de TV; Harvey Weinstein correu com Colin Firth para cima e para baixo de todas as festas, recepções e eventos, e explorou ao máximo o endosso da família real ao Discurso; Lucy Walker, diretora de Lixo Extraordinário, deu uma entrevista na qual não consegui achar a palavra “Brasil”; e o divulgador de Geefwee Boedoe, diretor do curta Let’s Pollute, desfechou emails  dizendo que o filme era o “Davi diante do Golias da Pixar” – o favorito Day and Night (isso  nunca dá certo…)

Teddy Newton, diretor de Day and Night, na recepção da Academia

Isso apenas no campo “estratégia”. No setor “produção”, a Academia abriu as portas para festejar os curtas de animação indicados; o tapete vermelho começou a ser instalado na entrada do Kodak; Anne Hathaway e James Franco ensaiaram um tributo a Nos Tempos da Brilhantina; e soube-se o por que de não haver prévia dos cenários, como é costumeiro –  os produtores Bruce Cohen e Don Mirscher optaram por um cenário minimalista, praticamente nu, que será alterado exclusivamente através de projeções. “Será um cenário virtual, que vai nos possibilitar levar a plateia a diversos momentos da história do cinema”, disse Cohen.

O que também não vai acontecer: vários indicados anteriores apresentando prêmios e falando sobre os indicados do ano; e longas montagens de clipes, como aquele tributo aos  filmes de terror do ano passado. O que voltou: “o Oscar vai para…” e  interpretação integral de todas as canções indicadas.

Esta noite, os documentaristas serão homenageados. Vamos ver o que vai rolar…