Seis ou sete coisas que aprendi semana passada
Ana Maria Bahiana
Durante 10 dias, terminando neste final de semana, tive o prazer e o privilégio de guiar um grupo de cerca de 20 produtores, diretores, executivos e autoridades de cinema, TV e publicidade do Brasil por alguns dos lugares onde se forjam e se definem os caminhos da industria do audiovisual, aqui: estúdios, produtoras independentes de todos os tipos, organizações de classe, agências e – cereja no sundae – a Lucasfilm.
Foi uma iniciativa do Sebrae em parceria com a Apro e o Film Brasil, com curadoria minha e produção da Boathouse Row Productions. Muito do que vimos, ouvimos e discutimos infelizmente não pode ser compartilhado – são informações confidenciais que ainda não estão prontas para chegar a público. Só o que vimos na Lucasfilm – o desenvolvimento da tecnologia que vai ser empregada no novo ciclo Star Wars – já dava para deslocar a mandíbula várias vezes. Mas se eu contar acho que vou receber a visita imediata de um batalhão de Storm Troopers…
Mas estes foram alguns dos temas recorrentes das visitas:
- O modelo do blockbuster não vai durar muito mais. Nem mesmo a força dos mercados internacionais – entre eles o Brasil – é capaz de sustentar, a longo prazo, o esquema de produzir e lançar apenas um punhado de títulos caríssimos que precisam fazer o PIB de um pequeno país para dar lucro.
- O filme de pequeno orçamento está fazendo uma volta triunfal. “O sonho, a meta de todo grande estudio agora é acertar com um título que tenha custado muito pouco mas ache rapidamente sua plateia”, me disse um terno Armani muitissimo bem informado.
- O que se chamava “cinema independente” agora se chama “TV”. Os projetos que ficam entre o pequeno orçamento e o blockbuster estão rapidamente se transformando em séries, mini-séries e filmes de TV. A era de ouro da TV norte americana, hoje, é resultado direto do extermínio do filme de médio orçamento e do êxodo de talento – roteiristas, diretores, atrizes, atores – que veio com ele.
- O que se chamava “TV” agora se chama… o que você quiser. Netflix. Hulu. Amazon. You Tube. Em muito pouco tempo não serão mais o rabo que abana o cachorro… serão o totó inteiro.
- O segredo do sucesso está em quatro palavras. Criatividade. Paixão. Colaboração. Sorte. Perdi a conta de quantas vezes isso foi dito, de diversas maneiras. “Fórmulas e repetições funcionam até certo ponto”, me disse outro terno Armani dos mais poderosos. “Mas no fim das contas as carreiras só se fazem mesmo com convicções e com a capacidade de colaborar.”
- A realidade é algo cada vez mais relativo. As empresas de ponta em pesquisa e desenvolvimento – visitamos duas, a House of Moves em Los Angeles e a Industrial Light and Magic em San Francisco – estão caminhando para um modo de produção que desafia o próprio conceito de realidade como algo separado da percepção. Apavorante. Lindo.
E uma outra conclusão, que me deixa muito feliz: o Brasil está na mira de todo mundo, aqui. Eu sempre disse que havia um lugar reservado para nós no grande sarau que são as trocas e parcerias do audiovisual internacional. Agora é mais que a hora de sentar-se à mesa.