Blog da Ana Maria Bahiana

Arquivo : TV

No cardápio da TV: monstros, tiranos e rapazes sem camisa
Comentários Comente

Ana Maria Bahiana

The Strain Antes de continuar com as novas séries deste segundo semestre,algumas boas notícias sobre futuros projetos:

  • Sherlock vai ter mais uma temporada em 2015-2016! Essa fez minha semana…
  • A quarta temporada de The Killing – a série que ninguém consegue matar – estará disponível na Netflix dia 1 de agosto.
  • Fãs de American Gods, como eu, ainda não se desesperem de todo. Embora a HBO tenha desistido depois de três tentativas de adaptar o livro de Neil Gaiman ( dá para imginar por que…) a Fremantle Media, que detem os direitos, está convencida de que é capaz de tirar uma série dali. A busca por um showrunner do primeiro time está avançada.
  • Fãs de Jonathan Strange e Mr. Norrell, também não percam as esperanças. O filme não saiu, mas vem aí uma série de sete episódios da BBC America, estrelada por Eddie Marsan (o “Terry” de Ray Donovan, e o “Inspetor Lestrade” de Sherlock) e Bertie Carvel ( o “Barnatabois” do filme Les Miserables).

E agora…. strain The Strain (FX, estréia nos EUA dia 13 de julho). Você sabe que Guillermo del Toro conseguiu te enrolar direitinho quando você termina de ver o primeiro episódio/piloto de The Strain completamente apavorada e hipnotizada. E só muito tempo depois você pára e percebe que este é o tipo de…eu ia dizer filme, o que ele de fato é… em que personagens entram em lugares enquanto outros gritam :”Não! Não! Não entre aí”; onde uma caixa gigantesca aparece numa área suspeita controlada pelo Centro de Controle de Epidemias e ninguém põe nem ao menos um vigiazinha para tomar conta da dita cuja; e que quando um personagem diz “nenhum veículo deixa esta área sem minha permissão” você sabe que na cena seguinte uma van enorme vai fazer exatamente isso. Tudo perdoado, Guillermo. Quem leu os quadrinhos criados por Del Toro e Chuck Hogan sabe do que se trata (a série é fiel à hq). Quem não sabe pode apertar os cintos para uma jornada daquele tipo de horror à moda Del Toro (que produz a série e dirigiu e escreveu o piloto): orgânico e metafísico, onde a própria carne humana é a fonte dos principais terrores, e onde nenhuma metáfora capaz de ser levada ao pé da letra é deixada de lado. Garanto: nunca mais você vai ouvir “Sweet Caroline”, do Neil Diamond, do mesmo modo. outlander Outlander (Starz, estréia nos EUA dia 9 de agosto). Sim, esta é o tipo de série em que rapazes fortes e bem apessoados – de kilt, ainda por cima! – tiram a camisa por qualquer coisa, mesmo no clima super ameno das montanhas da Escócia. É, também, o tipo de série em que uma moça tem que escolher entre dois bonitões igualmente (em tese) irresistíveis (o rebelde escocês Sam Heughan e o marido inglês Tobias Menzies) Tendo dito isso, acrescento – não é Crepúsculo. O diferencial é a obra de Diana Gabaldon, que oferece uma heroína substancial e complexa, a enfermeira Claire Randall, (Caltriona Balfe), escolada nos ambulatórios da Segunda Guerra Mundial, e um bom pano de fundo com os intermináveis conflitos entre ingleses e escoceses no século 18. As paisagens da Escócia (cujo bureau de cinema apoiou  e co-produz o projeto) são um ótimo bônus. tyrant Tyrant (FX, estréia nos EUA dia 24 de junho). Quem será que achou que isso daria uma boa série? Temos aqui o israelense Gideon Raff, um dos criadores de Homeland, juntando-se aos americanos Howard Gordon ( de 24 Horas) e Craig Wright (Lost, Brothers and Sisters, Six Feet Under, United States of Tara) para criar uma série sobre a luta pelo poder num país (árabe, muçulmano) fictício do Oriente Médio. E sabem o que é pior? O que mais incomoda não é nem o festival de clichês que referencia em parte o Iraque de Saddam Hussein, em parte o Egito da Primavera Árabe e da praça Tahir, e que coloca um irmão “mau “, o mais moreno, mais árabe ( o palestino Ashraf Barhom) contra um irmão “bom”, o mais clarinho, mais ocidental (o inglês Adam Rayner). É a multidão de personagens superficiais, começando pelos dois irmãos (Barhom parece que está sempre latindo; Raymer, que está sempre com dor de cabeça) e culminando numa familia que parece um replay das piores coisas de Homeland: a dona de casa devotada que não tem mais o que fazer além de se preocupar com o marido (Jennifer Finnigan, sempre com os olhos arregalados), os dois filhinhos insuportáveis. Eu já vi quatro episódios e digo: não melhora. Muito pelo contrário. knick2 The Knick (Cinemax, estréia nos EUA dia 8 de agosto) Sempre teve curiosidade para saber como se consertavam fraturas e se faziam cesáreas uns 100 anos atrás? Como eram tratadas, digamos, meningite e sífilis? Sempre quis saber como foram criados os instrumentos cirúrgicos, como se desenvolveram as técnicas e tratamentos da medicina moderna? Então esta série é para você! Mas mesmo que você não tenha nenhum desses interesses, esta é uma série que recomendo a qualquer pessoa que goste de bom cinema. Porque é cinema: Steve Soderbergh, produtor e criador, dirige e opera a câmera nos 10 episódios, garantindo unidade estética e clareza de visão na história de um hospital na Nova York do começo do século 20 – Knickerboker, o Knick do título – e seu time de médicos, tão fascinantes e complicados quanto os dos melhores momentos de, digamos, ER. Clive Owen como o cirurgião-chefe Dr. John Thackery, vaidoso, arrogante, viciado em drogas, é o Sol em torno do qual se desenrola a trama de vida e morte,. Um filmaço, em 10 episódios.


É a Copa das séries: qual será o próximo grande sucesso?
Comentários Comente

Ana Maria Bahiana

 

leftovers
Enquanto a Copa arrebata corações por aí, aqui as apostas são em torno das novas séries _ o verão norte-americano é um excelente campo de provas para as séries estreantes dos canais pagos, um setor mais que aquecido.

Aqui vão algumas prévias para vocês:

The Leftovers (foto) HBO, estréia 29 de Junho. Carro chefe da HBO na ausência do mega-hit Game of Thrones (cuja quinta temporada está neste momento em filmagem),. Leftovers é uma adaptação do livro Os Deixados Para Trás, de Tom Perrotta (que a Intrínseca lançou no Brasil em 2012 ) com supervisão de Damon “Lost” Lindelof. Como toda a obra de Perrotta – que já vimos no cinema em Eleição, de Alexander Payne, e Pecados Íntimos, de Todd Field – Leftovers, o livro, tem um tom entre o drama e a sátira, com situações banais levadas até extremos que revelam o absurdo da “vida normal”. Aqui, no caso, o súbito e inexplicado desaparecimento de milhões de pessoas pelo mundo afora e o impacto do sumiço nas vidas dos que ficaram.

Depois de ver os quatro primeiros episódios da série, ainda estou esperando a sátira. Acho que, assim como os arrebatados, ela não vai aparecer tão cedo, provavelmente nunca. Tudo é muito sério na fictícia cidadezinha de Mapleton, o clima de tragédia pesando no ar, referenciando, o tempo todo, os atentados do 11 de setembro de 2001. Numa mudança importante do material original, o protagonista não é mais um poderoso homem de negócios, mas o chefe de polícia da cidade (Justin Theroux), às voltas com dramas coletivos e pessoais (a mulher que largou a família para juntar-se a uma das bizarras seitas que se multiplicam depois dos desaparecimentos, a filha que vive em estado de apatia crônica).

Talvez a série floresça na continuidade – há alguns momentos geniais, com um surrealismo perverso que flerta com possibilidades saborosas no futuro ( um deles envolve cachorros e uma corça, e mais não direi…)

 

halt_and_catch_fire_ 

Halt and Catch Fire (AMC, estréia dia 1 de junho). Devemos nos preocupar com a AMC? O canal que durante alguns anos gloriosos teve no ar Breaking Bad e Mad Men agora tem TURN (que é muito bem acabada mas não consegue me pegar de jeito nenhum) e esta novidade criada por uma dupla experiente na TV – Christopher Cantwell e Christopher C. Rogers – que, tenho quase certeza, pitcheou a série como “Mad Men nos anos 80! No mundo da informática!”

Senão vejamos: temos um executivo jovem, ambicioso, brilhante e arrogante (Lee Pace, que é o “Elfo Malvado” da trilogia Hobbit); uma ainda mais jovem profissional de informática, também brilhante mas socialmente canhestra (a canadense Mackenzie Davis), ao léu num universo dominado por homens; e um engenheiro inseguro, que se sente dominado pelos colegas e pela mulher (Scoot McNairy, um dos diplomatas sitiados de Argo).

Parece familiar?

Troque a publicidade pela industria da informática engalfinhando-se para produzir a próxima grande novidade nos anos 1980 como o mundo-em-transe das aventuras desses três personagem e temos Halt and Catch Fire.

Os dois primeiros episódios não conseguiram me dizer absolutamente nada além da excelente trilha musical – sintetizadores! New wave! Pós punk! – e das impressionantes sobrancelhas de Lee Pace. Já o terceiro, que foi ao ar domingo passado, apontou para uma boa evolução possível – em grande parte porque subverteu um pouco a rigidez dos personagens, tornando o Joe de Lee Pace mais vulnerável e imprevisível, e o Gordon de Scoot McNairy um pouco mais complicado e manipulador. Como quase toda série, Halt ainda não consegue dar às personagens femininas a complexidade que merecem, e isso é um dos seus grandes problemas.

Os diretores são do primeiro time – Juan José Campanella, Jon Amiel e Karyn Kusama, entre outros – e a a narrativa visual mostra com precisão tanto talento. E a trilha continua excepcional.

No próximo post: Outlander e The Knick.


Paraíso perdido: Top of the Lake, a série-sensação da nova temporada
Comentários Comente

Ana Maria Bahiana

Nas primeiras imagens de Top of The Lake uma menina entra, de roupa e tudo, lago adentro. O lugar é lindo, alguns diriam mágico: altas montanhas, florestas, o lago coberto de neblina.  A determinação da menina, seu caminhar resoluto água adentro, até o queixo, é terrível, mais apavorante ainda porque não sabemos nada que nos ajude a entender a imagem serena, deliberada e assustadora que a diretora Jane Campion nos propõe.

Esta tensão entre o belo e o terrível é o próprio tema da minissérie do canal Sundance, que estreia hoje aqui nos Estados Unidos. Jane Campion, que criou a série e escreveu e dirigiu vários episódios, diz que sua inspiração para Top of the Lake foi exatamente o descompasso entre “nossos sonhos, nossas noções de paraíso, de um lugar perfeito longe das complicações da vida” e a realidade, “o despertar dos sonhos”. A pequena comunidade isolada às margens do lago, nos arredores de Queenstown, Nova Zelândia (que serviu de locação para as filmagens) tem todos os elementos do sonho – inclusive um recanto chamado, precisamente, Paradise – mas seu coração abriga todos os pesadelos que o ser humano é capaz  de imaginar e, portanto, fazer. O fato de Campion ter decidido levantar esses véus com precisão e calma ao longo dos sete episódios torna Top of the Lake absolutamente hipnótica.

A menina da primeira cena é o agente desse desnudamento, e para resolver seu caso – a crise que a levou a caminhar lago adentro, seu sumiço imediatamente depois – entra em cena Robin, uma experiente policial que nasceu e cresceu na comunidade, mas mudou-se para bem longe, para Sydney, na Australia, assim que pôde. O caso da menina desaparecida será um modo drástico de passar a limpo o passado que a impulsionou para fora deste paraíso, enfrentando seus fantasmas cara a cara, caminhando resolutamente, ela também, para dentro do lago da vida que deixou para trás mas que definiu a mulher que ela é.

Elisabeth Moss interpreta Robin com um leve sotaque entre o australiano e o neozelandês – “eu aprendi imitando a própria Jane”, ela me disse – e a mistura de força e fragilidade que todos os fãs de Mad Men conhecem bem (e que foi exatamente o que fez Jane Campion escolhe-la para o papel). “Foi assim que acabou a produção da quinta temporada (de Mad Men)”, Moss me contou. “Eu tinha feito teste para o papel mas achava que não tinha a menor chance.  Eu estava encantada com o projeto, eu sabia que conhecia Robin, eu compreendia a mulher que ela era, e estava animadíssima em trabalhar com Jane Campion.”

Como eu e como muitos espectadores, Elisabeth viu imediatamente um clima Twin Peaks em Top of the Lake, “algo difícil de explicar, um clima de mistério e de absurdo, mesmo”. Essa não foi a inspiração imediata de Campion – ela credita Deadwood, de David Milch, como sua referência para o clima de Top of the Lake – mas os elementos estão todos lá: o incrivelmente dramático que é subitamente interrompido pelo ridículo (há uma cena envolvendo Peter Mullan e uma xícara de chá que é absolutamente exemplar), o ritmo deliberado, que avança sempre em pequenos passos precisos, a estética em tons mudos, os personagens que não seguem clichês de previsibilidade – Holly Hunter como a líder de uma “comunidade terapêutica” à beira do lago é provavelmente a pior terapeuta na história da terapia, e o manda-chuva Peter Mullan, obcecado pela mãe morta e viajando de ácido entre as flores é exatamente o que não se veria num seriado americano sobre crime em cidades do interior.

Eu queria muito poder dizer que Top of the Lake tem data de estreia no Brasil, mas ainda não achei esta informação. Eis o que posso dizer: procurem essa minissérie, de todos os modos . E confirmem porque muito do melhor cinema de hoje não é cinema, é televisão…

Veja trailer estendido em inglês da série “Top of the Lake”


Heróis, vilões e o preço de ser humano: quatro lançamentos da temporada ouro
Comentários Comente

Ana Maria Bahiana

Tanta coisa aconteceu nas últimas semanas por aqui que fiquei em super dívida com vocês… Aqui, os filmes que mais me impressionaram nesse tempo em que corri de um lado para o outro:

O conceito do presidente como herói/anti herói é comum na filmografia norte americana, atravessando praticamente todos os gêneros, do drama e thriller político à comédia romântica, rasgada e surreal (Marte Ataca!, por exemplo). É algo que dificilmente se imaginaria na produção de outros países, mas que faz sentido numa nação que elege presidentes há  237 anos, sem interrupções, ditaduras ou golpes militares.

Lincoln (em cartaz nos EUA, dia 25 de janeiro no Brasil) encontra Steven Spielberg em seu modo Amistad, refletindo sobre a história da nação norte americana, principalmente em uma de suas falhas fundamentais – a chaga da escravidão, e seus longos, dolorosos tentáculos até hoje.  Três elementos são o destaque do filme: o roteiro de Tony Kushner (Angels in America, Munique), veloz, erudito, incorporando tanto a complexidade do momento histórico (os momentos finais da Guerra Civil, a luta, no Congresso, para aprovar a lei que abole a escravidão) quanto o ainda mais complicado mundo interior do presidente; a fotografia espetacular de Janusz Kaminski, colaborador de fé de Spielberg; e o desempenho paranormal de Daniel Day Lewis como Abraham Lincoln.

Algo muito interessante aconteceu nesta colaboração: o roteiro de Kushner, centrado nos dilemas pessoais, sociais e políticos que, através de um grupo de pessoas – Lincoln, sua familia, seu braço direito William Seward (David Stathaim), o militante abolicionista Thaddeus Stevens (Tommy Lee Jones, genial) –  acabam impulsionando toda uma sociedade adiante, trava o impulso de Spielberg pela glamourização, pelo sentimental. E o calor passional de Spielberg ilumina e torna humano o que poderia ser um árido discurso sobre trâmites políticos na jovem nação norte-americana.

A notar: os igualmente ótimos desempenhos de Sally Field como Mary , esposa de Lincoln;  uma breve aparição de Joseph Gordon Levitt como Robert, seu filho mais velho; e James Spader, quase irreconhecível, como um antepassado de todos os lobbyistas que hoje  são a fauna mais comum de qualquer capital de Estado.

 Anna Karenina começou  como algo que, hoje, chamaríamos de novela: um folhetim encartado no periódico O Mensageiro Russo, suas oito complexas e generosas partes se estendendo de 1873 a 1877. Não é a toa que o que poderia se resumir a  um conto – mulher da alta sociedade da Russia Imperial, casada com influente político, tem um caso com um homem mais jovem e cai em desgraça —  tornou-se um vasto panorama da elite imperial, com um  15 personagens principais e mais um amplo sortimento de figuras secundárias.

Continuando seu ciclo de adoração cinematográfico-literária a Keira Knightley, Joe Wright (Orgulho e Preconceito,  Desejo e Reparação, Hanna) fez uma opção radical para sua adaptação do texto de Tolstoi: colocou  a maior parte de sua Anna Karenina (em cartaz nos EUA, dia 1 de fevereiro no Brasil) no interior de um velho (e lindo) teatro.

Como artifício dramático, é um espetáculo – Wright coloca os personagens de Tolstoi como elementos de uma grande performance pública, cada um representando seu papel no drama contínuo de uma sociedade altamente estratificada, dividida em classes hermeticamente fechadas. O artifício de transformar as coxias do teatro nas ruas de Moscou, a alta estilização da composição das cenas ( o balé dos burocratas, inspirado numa frase do texto de Tolstoi – “a burocracia é a alma da Russia”- é sensacional), o tom hiper-realista das caracterizações são empolgantes como estética.

O que se perde é a conexão emocional – Anna Karenina é uma obra linda mas fria, na qual o único ser humano parece ser o Karenin de Jude Law, atormentado entre a obrigação de agir de acordo com seu posto social e algo que pode ser, no fundo do seu coração, o pulsar de um afeto. Keira tem a estutura óssea de uma prima ballerina e a câmera está eternamente apaixonada por suas maçãs do rosto. Mas é talvez a mais gelada e distante de todos os lindos marionetes deste marzipan cinematográfico.

É um  sinal dos tempos: dois filmes se debruçam sobre a figura e a obra de Alfred Hitchcock. Um, feito para a TV (The Girl, de Julian Jarrold, para a HBO), ocupa-se de Hitch na época da realização de Os Pássaros; outro, com lançamento em circuito (Hitchcock, de Sacha Gervasi, estreia hoje nos EUA, dia 8 de fevereiro no Brasil) , é focado nos bastidores de Psicose.

E sabem qual é o melhor? O da TV. Jarrold preocupa-se em desconstruir a própria estética de Hitchcock e usar seus elementos para lançar luz nos vãos mais sombrios de sua alma, e Tobby Jones cria um Hitch de dentro para fora, organicamente e não como uma “personificação”.

Anthony Hopkins tenta fazer o mesmo em Hitchcock, mas, por incrível que possa parecer, a pesada maquiagem quase não deixa que ele trabalhe. Gervasi é um diretor simpático, responsável pelo delicioso documentário Anvil! The Story of Anvil. Mas me parece muito peso-leve para atacar um assunto complexo como Hitch. Trabalhando com um orçamento reduzidíssimo e apenas 35 dias de filmagem, ele criou um pequeno filme divertido que, ironicamente, teria sido mais apropriado para a TV.

Hitchcock oscila entre drama e comédia, aproximando-se da complicada mente do diretor mas temendo aprofundar-se em seu labirinto. Seus melhores momentos são os que comentam os eternos absurdos da indústria cinematográfica, a luta de Hitch para realizar seu projeto, as bizarras negociações com executivos e censores.

É interessante ver os dois lado a lado, em ordem cronológica – Hitchcock primeiro, The Girl em seguida. Alfred, o homem e o gênio, provavelmente não é nem nem outro.  Mas quem, décadas depois de sua passagem entre nós, pode ainda despertar tantas perguntas sem resposta?

E finalmente – eu não poderia deixar de comentar Skyfall.  O primeiro filme adaptado dos livros de Ian Fleming – 007 contra o Dr. No, de 1952 – trazia um conceito revolucionário no gênero “ação”: o espião como herói.  James Bond era um efeito colateral da guerra fria – até então, espiões, quando apareciam, eram sujeitos sórdidos, traiçoeiros, nada confiáveis. Um mundo em que conflitos passavam a ser, eles mesmos, secretos e indefinidos, abria espaço para que a atividade obscura fosse, enfim, heróica.

Mais de meio século depois, o impasse era: o que fazer com um ícone que já não parecia ter utilidade num mundo de guerras via bombardeios teleguiados, vírus pela internet e satélites-espião?

Trabalhando com um roteiro a três , mas principalmente do ótimo John Logan, Sam Mendes ataca o dilema de frente. Em suas mãos, o Bond de Daniel Craig é antes de mais nada um signo, um elemento dramático a ser composto como parte de lindos, elaborados panoramas visuais, de Xangai à Escócia. Humanos mesmo são o vilão Silva de Javier Bardem, e a extraordinária mãe-coragem M, de Judi Dench, lados opostos nessa dança mortal pelo controle de um mundo, na verdade, incontrolável.

 


Adeus, Emmys – agora, a correria dos outros prêmios
Comentários Comente

Ana Maria Bahiana

E aí, gostaram dos Emmys? Da minha parte, resumidamente:

  • A abertura foi xoxa, comparada com anos anteriores (lembram do “Born to Run” de Jimmy Fallon e companhia em 2010?)
  •  Não aguento mais Modern Family, me pareceu um voto preguiçoso, especialmente considerando que este ano, além da eternamente injustiçada Big Bang Theory (será que só vão premiar quando ela definitivamente não for mais o que era? Prêmio faz muito disso…), tínhamos as excelentes estreantes Veep e Girls.
  • Homeland é uma bela série, mas o nível da dramaturgia e direção de Mad Men e Breaking Bad é muito superior – são duas séries que já fazem parte da história da TV contemporânea, e que se provaram ao longo do tempo, desenvolvendo magnificamente seus personagens e tramas.
  • Perder na “minha” categoria – categoria especial – para os Tonys foi um prazer. Explico o “minha”: fui, como consultora de roteiro, parte da equipe do show de entrega dos Globos de Ouro 2012, indicado na “categoria especial” dos Emmys, este ano, primeira indicação que o evento recebe. Eu me senti super lisonjeada, mesmo com meu papel minúsculo na empreitada. E não me importei nem um pouco em perder para os Tonys.

Mas o assunto da cidade, agora, não é mais Emmy, mas a momentosa temporada dos prêmios de cinema, que se aproxima com a mesma velocidade fulminante do temperamental outono angeleno (um dia, calor escaldante; dia seguinte, chuva, 17 graus e folhas pelo chão).

O amador, bizarro e propositalmente incendiário filmeco feito por um egípcio num subúrbio ao sul de Los Angeles acabou de custar alto para o cinema iraniano : em represália ao tal Innocence of Muslims, o Irã decidiu boicotar os Oscars e não submeter nenhum título este ano.

A história desse filmeco é um interessantíssimo tema para uma discussão sobre liberdade de expressão, responsabilidade e intolerância, mas neste momento o que mais lamento é a ausência do cinema iraniano numa das maiores janelas de exposição do mundo – e um ano depois  da vitória do sensacional A Separação.

A mudança das datas é uma história mais complexa_ e vamos esclarecer, o anúncio das indicações aos Globos de Ouro, dia 13 de dezembro, continua sendo antes do anúncio das indicações ao Oscar, dia 10 de janeiro. Para começar, não creio que isso altere em nada o efeito-balaio que os Globos de Ouro tem sobre os demais prêmios. Sempre disse que os Globos criam uma pré-seleção com suas indicações, não com seus vencedores – a composição, temperamento e ponto de vista dos votantes é completamente distinta. Uma olhada nas listas de indicados, ano a ano, comprova esse fator – e as diferenças entre os vencedores mostra como clareza os diferentes critérios de escolha de Academia, Guildas e correspondentes estrangeiros.

E aqui está o x da questão, que ainda não vi comentada com a importância que merece, a não ser num artigo da Variety: ao mudar a data de entrega das indicações para dia 3 de janeiro a Academia encurtou em cruciais 10 dias o tempo de reflexão e, em tese, de acesso aos filmes concorrentes.

Bato nessa tecla porque ela explica muito sobre a personalidade e a natureza das premiações. Os Oscars são escolhidos por pessoas que fazem cinema e, em sua maioria, não tem tempo, paciência ou inclinação para  ver todos os filmes qualificados. Os Globos são escolhidos por pessoas que, por oficio, precisam ver a maioria dos filmes exibidos ao longo do ano e que, portanto, estão qualificados.

Ao roubar 10 preciosos dias do tempo que os acadêmicos teriam para , em tese, ver os filmes do ano, deu ainda maior importância para a pré-seleção que os Globos já terão feito e anunciado dia 13 de dezembro.

Na verdade, o único impacto importante da antecipação foi sobre os estrategistas, que agora tem que correr com a bola durante novembro e dezembro, sem parar, pulando por cima de festas e férias.

E – outra coisa que lamento muito – essa pressa toda pode tornar a competição especialmente injusta para filmes menores, independentes, sem condições de fazer barulho.

Vamos ver o que acontece…


E lá se vai 2011, parte I: o ano do triunfo da TV. De novo.
Comentários Comente

Ana Maria Bahiana

Foi um ano estranho. A platéia foi uniformemente subestimada, a linha de montagem empurrou um monte de continuações, franquias, 3D vagabundo e super-heróis sem nenhum carisma.

Como, em compensação a TV deu surras homéricas no cinema, começo por ela minhas listinhas do que me falou ao coração em 2011:

  1. Breaking Bad (AMC) Simplesmente a série melhor escrita, atuada, filmada e dirigida do momento.
  2. Mildred Pierce (HBO) Quanto vale a vida de uma mulher? Todd Haynes e Kate Winslet voltam às origens literárias do melodrama mais copiado de todos os tempos.
  3. Game of Thrones (HBO) Ainda não gosto das perucas, mas que bela adaptação da ficção política de George R.R. Martin.
  4. Homeland (Showtime) A agonia de ver e ser visto na era da paranóia. Atuações maravilhosas.
  5. Enlightened (HBO) A mais delicada e complexa exploração de todo o espectro das emoções humanas que vi recentemente na TV.
  6. Boardwalk Empire (HBO) O caminho da danação nunca foi tão interessante desde os Sopranos.
  7. Downton Abbey (PBS) Como aprendemos a viver no século 20, pelo microcosmo da família.
  8. The Walking Dead (AMC) Começou maravilhosamente, teve uma barriga ali pelo meio, mas nos deixou todos roendo as unhas até fevereiro.
  9. Cinema Verite (HBO) O primeiro reality show revela porque somos viciados na vida alheia
  10. The Killing (AMC) Não fosse aquele final safado estaria bem mais para cima desta lista.

Na segunda temporada de Walking Dead, o equilíbrio entre horror e solidariedade
Comentários Comente

Ana Maria Bahiana

Como se continua uma série de enorme e inesperado sucesso, sem um dos seus idealizadores e com milhões de fãs de olhos bem abertos e grudados na telinha?

Com muito cuidado.

Segundas temporadas são arriscadas por natureza. O impacto da novidade já se desfez, os fãs exigentes já estão criados, as expectativas são altas. O público espera ter, ao mesmo tempo, mais do mesmo que o atraiu em primeiro lugar e alguma coisa nova que possa empolgá-lo.

Julgando pelo primeiro episódio da segunda temporada de The Walking Dead (AMC, estréia domingo passado, dia 16, nos EUA), a série conseguiu este delicado equilíbrio, mesmo sem a presença de uma de suas principais mentes criativas, Frank Darabont.

Reunindo numa estréia de 90 minutos o material do que deveriam ser os dois primeiros episódios da nova temporada, What Lies Ahead (o episódio número um)  coloca o grupo de sobreviventes liderados pelo xerife Rick Grimes (Andrew Lincoln) fora de Atlanta, numa caravana destinada à base militar de Fort Benning, centenas de milhas ao norte. Grimes carrega consigo a informação sussurrada pelo solitário médico do Centers for Disease Control no episódio final da primeira temporada – um elemento importante para a mitologia da série, e que o criador Robert Kirkman garante que vai ser resolvido “no tempo certo, de modo satisfatório” .

O equilibrio entre o horror inspirado pelos zumbis e a solidariedade e empatia provocados pela luta do grupo de sobreviventes é o elemento que mantém WD num nível acima da mera reciclagem do gênero, e a principal via  de comunicação da série com seu público. No episódio de estréia, uma longa e sensacional sequência  numa estrada repleta de carros abandonados estabelece, logo de cara, o nível de suspense que podemos esperar desta segunda temporada.  A complicação dos relacionamentos entre os sobreviventes, com revelações graduais de suas vidas pré-apocalipse e, neste episódio,  situações dramáticas envolvendo duas crianças, é o cimento que vai nos manter grudados na tela, vendo em cada um deles um pouco de nós, diante de momentos, literalmente, de vida e morte.

A qualidade da produção continua impecável – mesmo com a redução dos orçamentos que tanto irritou Darabont – e os zumbis mantém  a mesma perturbadora mistura de humanidade e horror que nos fascinou ano passado. Outras séries querendo competir no segmento terror – e penso aqui, é claro, na muito badalada American Horror Story – deviam aprender com WD como se faz a dosagem de elementos narrativos, ritmo de cena e som para realmente criar um universo onde o medo é catártico e, portanto, liberador.

Espero muito desta segunda temporada.


Numa safra decepcionante, o poder de um jogo de espelhos mortal
Comentários Comente

Ana Maria Bahiana

Depois do fantástico episódio final de Breaking Bad – tão perfeito que poderia muito bem ser o final de toda a série, como já foi dito aqui (não leia se não viu o episódio, todos os SPOILERS estão lá)- duas coisas ficam claras: a vontade de rever toda esta temporada para sacar cada fio narrativo, cada detalhe, cada passo na direção desta resolução final, a completa danação de Mr. White; e a constatação de que a nova safra de séries está mesmo muito, muito pálida.

Tinha altas esperanças para Person of Interest (Warner Brothers/ CBS; estréia no Brasil dia 18/10). Afinal, era criação de Jonathan Nolan (irmão de Chris e seu parceiro nos roteiros de Amnésia, Cavaleiro das Trevas , O Grande Truque), estrelada por dois excelentes atores: Jim Caviezel e, em seu primeiro papel contínuo desde Lost, Michael Emerson.

Além disso, a série tinha um ponto de partida super interessante: a paranóia pós- 11 de setembro, e a cultura de vigilância perpétua e erosão das liberdades individuais que o ataque gerou. Emerson é um nerd transformado em mega-bilionário graças a um software que analisa imagens captadas por câmeras de segurança e cria “perfis” de bandidos e terroristas em potencial. Caviezel é um ex-agente especial da CIA traumatizado por perdas pessoais durante os atentados, que Emerson recruta para um projeto especial, super secreto: usando seu software, identificar não atacantes mas vítimas em potencial e, assim, impedir que crimes aconteçam.

É material suculento, com ecos de coisas tão díspares e deliciosas quanto Janela Indiscreta – a agonia do observador, a atração do observado – quanto Minority Report-A Nova Lei – a luta do saber contra o mal-fazer, a possibilidade de esvaziar o mal pela prática vigorosa, preventiva, do bem. No piloto , dirigido por David Semel (não por acaso responsável pelo melhor episódio de American Horror Story, até agora) estes temas eram expostos com clareza e a dose certa de mistério, com uma elevação da narrativa em geral simplificada das séries de TV aberta. O uso de imagens de câmeras de rua, lojas e sinais de trânsito aumentava o clima de paranóia mas não interferia na apresentação dos personagens, com a dose certa de revelação e mistério.

Os episódios seguintes não foram tão bons. O segundo, especialmente, se parecia com qualquer outro policial do horário das 20h na TV aberta norte-americana, incrementado pela presenças de dois atores de alto nível e por um visual mais ousado, cortesia das imagens granuladas.

Ainda não desisti da série, ainda acho que promete, mas a TV paga acaba de contra-atacar com uma abordagem muito mais brilhante do mesmo tema – o ver e o ser visto – e clima – a paranóia pós 11 de setembro: Homeland, da Showtime.

Numa interessante viagem de mão dupla, Homeland começou como uma série _ Prisoners of War– da TV israelense, criada e realizada por um diretor nativo mas educado e treinado em Los Angeles, Gideon Raff. Re-inventada pelos produtores e roteiristas Alex Gansa e Howard Gordon (24 Horas, Arquivos X), Homeland manteve o núcleo essencial, o motor que impulsiona toda a narrativa para um outro plano: o personagem central, um prisioneiro de guerra (no caso, no Afeganistão) miraculosamente resgatado depois de oito anos de cativeiro. Quem ele é, realmente, depois da medonha experiência? Um veterano heróico? Um soldado aos pedaços, destruído pela tortura? Ou um agente do inimigo, virado do avesso por inimagináveis pressões físicas, emocionais e existenciais?

Sua contrapartida no outro lado da trama é uma analista da CIA determinada a provar seu valor depois de uma missão arriscada mas desastrosa no Iraque. O enigma do prisioneiro é sua bússola, sua obsessão, e ela o segue com todas as armas de seu ofício _ “olhos e ouvidos”, câmeras e microfones que acabam gerando, nas palavras de um colega, um “estranho reality show”.

Desempenhos maravilhosos – Claire Danes como a agente, Mandy Patinkin como seu chefe, Damian Lewis como o ex-prisioneiro, Morena Bacarin como a mulher dele – e roteiros perfeitos criam um universo hermeticamente fechado de vigias e vigiados entrelaçados numa dança mortal onde tudo é espelho e todos tem vidas duplas, identidades secretas e lugares onde nem câmeras nem microfones conseguem chegar (para o ex- prisioneiro, a garagem de sua casa; para a analista, os bares onde ela ouve jazz e corteja parceiros para rápidos romances).

É , sem  dúvida, a melhor série da safra 2011. Olho nela nos prêmios…

 


Por que os Emmys funcionam como show de TV
Comentários Comente

Ana Maria Bahiana

 

E os Emmys, hein? Vocês viram? Gostaram?

Toda vez que sigo um evento assim eu fico pensando como ele se traduz para outros países e culturas, em termos de linguagem e referências. Imagino que os produtores devem ter a mesma preocupação mas, no fim das contas, a arquibancada para quem estão jogando é, em primeiro lugar, a comunidade de indicados e por indicar, os que votaram e os que concorrem (que, em geral, são mais ou menos a mesma coisa); e depois o público norte americano, que, no caso de shows de TV, é quem ainda sustenta o modelo econômico.

Minhas reações aos prêmios estão aqui no UOL TV, mas podem ser resumidos em : Barry Pepper? ARGH! Peter Dinklage? OBA!

Fiquei pensando depois no show em si. Justo no momento em que um dos papos mais comuns na cidade é o-que-vai-acontecer-com-a-transmissão-do-Oscar, um evento de prêmios que mostra saúde nos índices de audiência está dando o que falar.

A meu ver, os Emmys tem alguns elementos sólidos para seu sucesso como show de TV:

  • Só transmite as categorias populares. Os Emmys tem mais categorias que os Grammys, capazes de confundir o mais devoto aficionado ( e isso sem falar em suas subdivisões: Emmys Creative Arts, Emmys Internacionais, Emmys Locais, Emmys do Horário Diurno). Mas todos os prêmios técnicos – direção de arte para shows com uma única câmera, por exemplo- são entregues em cerimônias não televisionadas, deixando na transmissão apenas os prêmios que o público quer ver , aqueles que tem caras e nomes conhecidos.
  • Não mexe na fórmula que deu certo. Ao contrário dos Oscars, que há tempos vem tentando revirar seu formato, alterando o esquema dos musicais, a abertura e o tipo de apresentadores, os Emmys não mexem no time que está ganhando. É um formato simples, sem sofisticação que funciona em grande parte porque…
  • Não se leva a sério. Há sempre um tom de “veja como somos maravilhosos” nos Oscars. Os Emmys há tempos assumiram sua condição de “primo pobre” do cinema e, mesmo no momento em que não são nada pobres (muito pelo contrário, com a TV resgatando várias carreiras e abrindo novos horizontes criativos no vácuo do cinema independente) continuam investindo na linha da ironia e da auto- gozação. Vocês imaginariam um musical como o hilariante Lonely Island (direto do Saturday Night Live), com Michael Bolton e tudo mais, nos Oscars? Ou aquele mash-up em cima do The Office, que começa com Jess entregando um pacotinho suspeito no quartel general de Cranston? Ou mesmo aquela abertura (da qual Alec Baldwin foi eliminado pela Fox, porque queria incluir uma piada sobre Murdoch e escutas telefônicas…) em que basicamente dava-se uma grande risada às custas dos sonhos por atacado da TV? E indicadas a melhor atriz se comportando como se estivessem num prom/baile de debutantes/ concurso de miss? Nos Oscars? Impensável.

  • Abre espaços para o quase perigoso- mas mantém a situação sob controle. Este ano, os momentos-espoleta ficaram por conta das aparições de Charlie Sheen, possivelmente o nome mais falado da TV em 2011 (pelos motivos errados) e Ricky Gervais, tormento dos deuses de todas as telas . Cúmplices do jogo, ambos se comportaram bem – Gervais com o artificio de que sua participação teria sido “editada”, mais um comentário mordaz de Jane Lynch sobre suas possíveis carências de infância. Mas o frisson já tinha sido estabelecido.

E para vocês? Foi bom?

 


Alegrias e mistérios dos Emmys 2011
Comentários Comente

Ana Maria Bahiana

Peter Dinklage em Game of Thrones

 

Interrompo brevemente a sequencia de posts sobre os candidatos a indicados (nos próximos: os independentes e os filmes do primeiro semestre) para comentar as indicações para os Emmys, anunciadas hoje.

Para entender (ou tentar entender) algumas indicações e alguns desaparecimentos, é bom explicar um detalhe importante no modo como os Emmys são escolhidos: ao contrário dos Globos, que levam em consideração toda a temporada de uma série ou mini-série, os Emmys  baseiam suas escolhas em episódios específicos, que são submetidos pelos produtores  aos mais de 15 mil votantes. Eu, pessoalmente, sempre achei o sistema estranhíssimo, uma adaptação não muito adequada das normas da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. Um filme se expressa no espaço contido de seu tempo de tela. Um título de TV frequente se expressa ao longo de vários episódios, uma qualidade que a torna mais semelhante aos folhetins da literatura ou aos “serials” da primeira metade do século 20, com seus longos arcos de trama e a possibilidade de desenvolver personagens e situações ao longo de um tempo maior.

Com essa explicação, é possível pelo menos achar uma desculpa para a mini-série The Kennedys, bastante tosca, ter recebido quatro indicações, inclusive para melhor mini-série; Glee ter ocupado um espaço que poderia ter ido, com mais equilibrio, para Community (Gwyneth Paltrow por Glee? Jura?!! E nada de John Noble por Fringe? Mesmo?!) ; a falta de Nick Offerman (Parks and Recreation) ou mais gente de Mad Men. The Killing e Game of Thrones entre os atores e atrizes indicados;o  sumiço absurdo de Breaking Bad e a Bryan Cranston . (Ok, esta temporada não era elegível por questão de datas. Mas fica registrada minha indignação, de todo modo…) E a aparição da inacreditavelmente cafona The Pillars of the Earth entre as mini-séries só pode ser explicada pela idade avançada da média dos votantes da Academia de TV…

Agora vamos ao que gostei: a merecida lavada da HBO, com mais uma safra espetacular _ Mildred Pierce, Game of Thrones, Boardwalk Empire, Too Big to Fail, His Way, Cinema Verité. Terem destacado Peter Dinklage em Thrones, e registrado Mireille Enos por The Killing, Elizabeth Moss por Mad Men, Kate Winslet por Mildred Pierce, Katy Bates for Harry’s Law, e Cloris Leachman por Raising Hope.  A inclusão de Downton Abbey, uma perfeita gema do melhor da produção britânica tradicional.

E vocês, o que acharam?