Blog da Ana Maria Bahiana

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Guerra nas pipocas: a TV e as mulheres estão ganhando…
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Ana Maria Bahiana

game-of-thrones-season-4-episode-9-the-watchers-on-the-wall-wildlings-hboMinha vontade esta semana era escrever exclusivamente sobre Game of Thrones, sobre como esta quarta temporada está  elevando ainda mais o nível já alto da série . E como Neil Marshall, que já havia botado pra quebrar na batalha do Blackwater, na  segunda temporada, definitivamente colocou a televisão num nível antes povoado apenas por gigantes como David Lean, William Wyler , John Ford. Porque dirigiu Watchers on the Wall como antes se dirigiam os grandes filmes de combate, tendo a petulância de incluir este plano sequência (que já vais er devidamente anexado ao meu curso…) Nessa hora é  bom lembrar  que Neil Marshall assinou alguns dos meus filmes de ação/terror favoritos dos últimos anos: Dog Soldiers, Abismo do Medo, Centurion. Tudo explicado: o bom cinemão está mesmo indo para a TV. Mas existem outros assuntos palpitantes aqui na cidade do outro lado do continente – e da Copa. Por exemplo:  edge-of-tomorrow-trailer-2

 

O que fazer com Tom Cruise? A vida é não é fácil quando um jovem mega-astro  passa dos 50 anos deixando para trás uma carreira muito mais de estrela do que de ator. Cruise é um dos nossos últimos, senão o último, puro “astro de Hollywood”. Sua glória se baseia não em como intrepreta seus papéis mas em como os papéis se transformam nele, Tom Cruise. Seus anos de esplendor estão entre Negócio Arriscado e Guerra dos Mundos, com um apogeu ali entre Top Gun e Magnolia, com um Kubrick ensanduichado no meio. Tempos mudaram, plateias mudaram ainda mais e, agora, No Limite do Amanhã tomou uma surra na bilheteria norte-americana, apesar dos elogios da crítica (merecidos – é um filme muito mais inteligente do que precisa). A bem da verdade a Warner, que é um verdadeiro rolo-compressor no marketing e distribuição, foi, digamos assim, super discreta e contida no lançamento de Limite do Amanhã. O empurrão maior foi reservado para os mercados internacionais, onde o filme foi lançado antes da estréia norte americana (sentiram a pressão aí?) E onde está fazendo uma bela carreira, com mais de 82 milhões de dólares em caixa – indica um caminho possível:  os anos dourados de Cruise estão fora dos Estados Unidos. É um padrão comum a todos os grandes astros de ação dos anos 80 e 90. Será que algum dia Cruise se imaginou na mesma categoria que Schwarzenegger e Stallone? hazel gus on set

 

Quem está dominando as bilheterias? Quem deu surra em No Limite do Amanhã foi A Culpa é Das Estrelas, a própria antítese do filme de ação/sci-fi.  É a segunda vez  em duas semanas desta temporada-pipoca, em geral dominada por adolescentes masculinos e familias, que o público feminino dá as cartas : Malévola passou de longe Um Milhão de Maneiras de Pegar Na Pistola (não briguem comigo – foi esse o título que o filme de Seth MacFarlane ganhou no Brasil) ; e acho que a mesma coisa vai acontecer internacionalmente. O mito de que apenas rapazes entre 14 e 39 anos vão ao cinema em quantidades suficientes para alegrar os grandes estúdios não se sustenta mesmo.  Bastava olhar o último relatório da Motion Picture Association of America para o ano de 2013: 51% dos compradores de ingressos são mulheres; 52% das pessoas que vão ao cinema também são mulheres. Num recente seminário da indústria, aqui em LA, o workshop sobre “como atrair o público feminino” estava superlotado. Eu não fui mas tenho uma sugestão simples: contratem mais mulheres roteiristas, diretoras, produtoras. Opcionem mais obras onde mulheres são protagonistas. O “público feminino” não é um gueto – é metade do mundo. E parece que é a metade que está ganhando. 680x478

 

Por que O Destino de Júpiter foi chutado para 2015? Vamos voltar ao marketing da Warner? Porque a resposta está aí….  Duas palavras: Cloud. Atlas. Que custou 102 milhões de dólares e fez 29 milhões e trocados nos Estados Unidos e Canadá, sendo salvo, assim-assim, pelos mercados internacionais (olha eles aqui de novo…). E mesmo assim… Certo, o motivo oficial pode até ser mesmo a pós produção, os efeitos digitais, etc. Mas suspeito que a razão mais profunda é estratégica: 18 de julho, a data original, é o filé da temporada-pipoca, super competitiva, onde um passo em falso é muito mais fatal do que os tranquilos idos de fevereiro de 2015, época morninha, sem grandes expectativas, sem a necessidade de uma campanha maciça ( e caríssima) de marketing . Coisa semelhante aconteceu com a Sony e Caçadores de Obras Primas – só que da temporada-ouro para o mesmo banho-maria do começo do ano. Em outras palavras: os executivos de distribuição e marketing deram uma boa olhada no filme e tiveram aquele proverbial frio na barriga, Que não era de emoção. E ,pra terminar, um lembrete: Penny Dreadful está chegando ao Brasil em julho, pela HBO (aqui, a série é da arqui rival Showtime). Não perca. Principalmente se você é fã de terror old school, com inclinações góticas. E gosta de coisas muito bem escritas.


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Ana Maria Bahiana

 

 

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De volta a Los Angeles em plena modorra pós-prêmios, pré-pipoca, quebrada apenas por dois escândalos de natureza sexual: as alegações de estupro contra o diretor Bryan Singer, bem na hora em que seu novo X Men vai estrear, e aquela cena no último episódio de Game of Thrones.

Estou acompanhando  o primeiro com luvas e máscara cirúrgica , para evitar tanta poeira tóxica. O segundo é uma obra de ficção, claro – e eu já havia alertado aqui que esta temporada continha uma das cenas mais perturbadoras de toda a história da TV.  Não vou ficar falando muito por conta dos famosos SPOILERS. Mas para mim estes são os pontos principais:

–       entendo a reação aqui, nos EUA, por conta de um elemento específico – a TV  (e o cinema) sempre  usaram a violência contra a mulher quase como um cacoete narrativo, um default, e recentemente esta forma particular de violência – o estupro – tem sido usada com ainda mais frequencia.

–       O mundo criado por George R. R. Martin em sua saga é brutal como nós éramos na antiguidade e na idade média (e como, infelizmente, ainda somos, apesar de todo nosso verniz de civilização…). Dentro dos horrores já perpretados pelos personagens de Game of Thrones, a tal cena do episódio passado faz sentido.

–       Sim, a cena está nos livros mas tem uma perspectiva diferente do que aconteceu no episódio. GRRM está meio que saindo de fininho quanto às alterações que os criadores da série se permitiram fazer, mas numa coisa ele tem razão – no seu texto a cena é contada do ponto de vista de Jaime. Na série, texto e direção se colocam de fora, num terceiro ponto de vista. Seria esse ponto de vista o mais exato sobre o que realmente se passou naquele momento? (Tomando “realmente” com certa licença, claro – estamos falando de Westeros…)

De todo modo, esse bate boca me lembrou, mais uma vez, quem realmente está puxando este trem: a TV, ou aquilo que a gente costumava chamar de TV.  Este tipo de discussão, que nasce espontâneamente (e não como marketing viral…)  como resultado do eco de uma representação fictícia que cutuca problemas reais, costumava ser, aqui, algo que o cinema era em geral capaz de fazer.

Ainda hoje duas notícias importantes confirmaram o avanço da TV como quem comanda o mercado. A HBO, sempre tão ciosa com a originalidade e o controle do seu conteúdo, acaba de fechar uma parceria de distribuição exclusiva com a Amazon . Isso é a mesma coisa que, vinte anos atrás , uma produtora independente como a Miramax ou  Working Title fechando com uma Disney ou Paramount. O peso que a notícia está tendo na midia e nas conversas demonstra claramente para onde o business está indo.

E tem mais: suprindo uma lacuna que o cinema sempre tentou mas nunca conseguiu atender direito, a Netflix está anunciando sua primeira produção inteiramente em espanhol, produzida inteiramente no México, com elenco latino americano, e dirigida pelo mexicano Gaz Alazraki, responsável por um dos maiores sucessos de bilheteria en español, a comédia Nosotros Los Nobles. Ainda sem título e com estreia prevista para 2015, a série  de 13 episodios se passa no mundo do futebol profissional. Ou seja: gol de placa.

Mais TV no próximo post, com a minha nova série-obsessão…


As mulheres, os mortos e os vivos: meus queridos da “TV” em 2013
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Ana Maria Bahiana

Este foi um ano espetacular para  aquilo que se chamava televisão e hoje se chama… humm.. ainda não descobriram como se chama, acho. De todo modo aqui vão 12 coisas que, na tela aqui da minha sala, mantiveram minha fé na narrativa audiovisual em qualquer plataforma…

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Breaking Bad – Porque é a perfeição e a suprema alegria para quem escreve e/ou ama a criação.

Les Revenants/The Returned – Porque oferece a primeira meditação profunda sobre a morte, a perda e a separação numa plataforma em que em geral essas coisas são vendidas a quilo, pelo valor do espetáculo.

The Bridge – Porque pela primeira vez que eu me lembre trouxe uma verdadeira história de fronteira, bilingue e bicultural, para dentro de nossas casas.

The Americans – Porque foi uma grata surpresa.

Top of the Lake – Porque abraçou o real e o surreal, o terrível e o belo, o absurdo e o lógico como eu não via desde Twin Peaks.

 Enlightened – Porque foi a série mais bem escrita e interpretada na qual poucos prestaram atenção.

 Game of Thrones– Porque tem uma ambição e uma competência que o cinema não tem mais.

 Girls – Porque eu já gostaria só porque é uma história de mulher, do ponto de vista de mulher. Mas ainda tem todas as complicações de uma geração sobrecarregada de informação e desprovida de expectativas. E por falar nisso…

 Orange is The New Black – Pelo mesmo motivo, mais uma dose de real compreensão da condição humana.

Arrested Development – Porque não perdeu nem um grama de seu delicioso absurdo. Talvez um grama. Não faz diferença.

 Mad Men – Porque continua ancorado num nível de qualidade que todo mundo tem que correr atrás.

 The Walking Dead – Porque me amarro num terror bem feito, e porque a temporada atual está voltando ao essencial da metáfora do apocalipse zumbi.

 

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E também: Drunk History, porque nunca ri tanto este ano; Time of Death, pelos mesmos motivos de Les Revenants, só que a vera; Behind the Candelabra, porque as complicações da paixão não tem rótulo; The Killing, por Peter Sarsgaard; Getting On, porque promete; Casting By, porque é um banquete pra quem gosta dos bastidores do cinema; e Hemlock Grove, porque era tão ruim que chegava a ser barroco.

Um 2014 cheio de boas histórias para todos nós!

 


Novidades de Game of Thrones: vem aí The Red Viper
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Ana Maria Bahiana

Pedro Pascal

As filmagens da quarta temporada de Game of Thrones  começam semana que vem, e já podemos ter uma boa ideia de onde a história vai nos levar com esta novidade no elenco: o chileno Pedro Pascal (Graceland, Nikita, Burn Notice) foi escalado para ser o príncipe Oberyn Martell de Dorne, também conhecido como The Red Viper. Quem leu o livro sabe  ( e para quem não leu, isso pode ser SPOILER) que Oberyn entra na história descontente com as tramóias de King’s Landing e dos Lannisters, especialmente a morte de sua irmã nas mãos de The Mountain. E aí… bom, vou parar por aqui…

A quarta temporada de Game of Thrones – que inclui um terço do terceiro livro, Tormenta de Espadas, e um bom pedaço do quarto,O Festim dos Corvos – estreia no começo de 2014.


As séries de TV mais bem escritas da história (segundo a WGA)
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Ana Maria Bahiana

Qual a série de televisão mais bem escrita da história?  Segundo a Writers Guild of America, Família Soprano. Seinfeld vem logo a seguir e um favorito da minha infância, Além da Imaginação, em terceiro.

A ideia de que estaríamos vivendo uma era de ouro do roteiro de TV não tem o apoio das escolhas do sindicato: os top 10 são dominados por séries dos anos 1950- 1980. Mad Men está em sétimo lugar, West Wing em décimo, Breaking Bad em décimo terceiro, Arrested Development em décimo sexto, Daily  Show em décimo sétimo, A Sete Palmos em décimo oitavo, 30 Rock em vigésimo primeiro e Game of Thrones em quadragésimo ( na frente de Downton Abbey, Law and Order e Homeland…)  Um renascimento da dramaturgia televisiva, então?

O que mais gostei: ver Os Simpsons lá em cima, entre The West Wing e I Love Lucy, devidamente creditados por terem mudado completamente as regras do jogo da comédia, abrindo caminho para a sátira social surrealista que hoje domina o gênero na TV. Doh!

As Top 20:

1. Família Soprano

2.Seinfeld

3.Além da Imaginação

4. All in the Family

5. M*A*S*H

6. Mary Tyler Moore

7. Mad Men

8. Cheers

9. The Wire.

10. The West Wing

11. Os Simpsons

12. I Love Lucy

13. Breaking Bad

14. The Dick Van Dyke Show

15. Hill Street Blues

16. Arrested Development

17. The Daily Show with Jon Stewart

18. A Sete Palmos

19. Taxi

20. The Larry Sanders Show

A lista completa aqui. Vocês concordam?

 


Mais uma série histórica, sobre a guerra que inspirou Game of Thrones
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Ana Maria Bahiana

Rebecca Ferguson, a Rainha Branca

Continuando no tema de ontem – vem aí, via Starz (nos EUA) e BBC (na Grã Bretanha) mais uma série histórica _ e com pedigree e uma interessante conexão com uma série (de ficção) de muito sucesso: The White Queen (A Rainha Branca), uma adaptação do primeiro livro da série The Cousins’ War (A Guerra dos Primos) da ilustre autora britânica Philippa Gregory.

O pedigree: além do nome de Philippa Gregory, sinônimo de ficção histórica de alta qualidade (A Outra,  The Virgin’s Lover, A Respectable Trade), o roteiro assinado por Emma Frost (Shameless) , a direção de Jamie Payne (The Hour, Da Vinci’s Demons), Colin Teague (Being Human) e James Kent (Inside Men) e música de John Lunn (Downton Abbey). No elenco: Max Irons, James Frain e a sueca Rebecca Ferguson, no papel título. E um orçamento de filme: 22 milhões de dólares, com filmagens em locação na Bélgica.

A conexão: The White Queen é o primeiro olhar de Gregory sobre a Guerra das Rosas, o conflito entre duas casas da mesma família – os Lancaster e os York – pelo trono da Inglaterra, entre 1455 e 1485. Se você ainda não pensou em Game of Thrones, acorde. A Guerra das Rosas foi uma das principais inspirações de George R. R. Martin, e os traços da história sobre a ficção são claramente visiveis: famílias se matando por um trono, incesto, traições, brasões (a rosa branca de York, a rosa vermelha dos Lancaster). Em The White Queen há até crianças aprisionadas e feitas de refém e um personagem chamado Tyrell (e… Lancaster não lembra nada?).

A série estreia ainda este ano e vale pelo menos uma conferida _ arrisca vir coisa boa aí…


Game of Thrones, terceira temporada: minha conversa com George R. R. Martin
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Ana Maria Bahiana

Discretamente, quase imperceptível, uma figura corpulenta e barbuda se esgueira pelas laterais do bufê de brunch, ao ar livre nos jardins de um luxuoso hotel de Beverly Hills, e se instala numa mesa de canto com um café e um prato de ovos mexidos e frutas. À sua volta fotógrafos, divulgadores e executivos da HBO circulam em torno das estrelas da série Game of Thrones como formigas em volta de um torrão de açúcar. Em sua mesa sossegada, o homem barbudo sorri : “Este é o momento deles, está certo.”

Mas na verdade sem ele este momento não existiria: o convidado silencioso do dia de imprensa de Game of Thrones é seu criador George R.R. Martin, autor da série de livros As Crônicas de Gelo e Fogo que é a base da série vitoriosa da HBO e um dos seus roteiristas.

A calma em torno de sua mesa inspira uma boa conversa:

Embora seus livros sejam fantasia, eles tem muito em comum com fatos históricos, com a Europa medieval…

_Essa é a ideia. Adoro fantasia. Li todo Tolkien.  Mas também li muitos textos históricos e muita ficção histórica. Quando comecei a trabalhar nestes livros, anos atrás, meu objetivo era fundir as tradições da fantasia com as da ficção histórica, mantendo um clima mais realista, mais duro. E embora Westeros não exista, seja um país inventado, eu queria que tudo nele se passasse como na Idade Média real, e desse uma ideia clara do que era a vida diária nesse período. Porque acho que muito da literatura de fantasia não tem isso, é cheia de castelos e princesas, mas é a Idade Média da Disney.

O que está achando da série até agora?

_ Eu fico maravilhado quando vejo cada episódio da série. Eles estão realizando minha visão. É claro que há diferenças entre o que eu imaginei e coloquei na página e o que é possível realizar na série, mas isso é inevitável. O amor que David  e Dan (David Benioff e D.B. White, roteiristas, produtores e showrunners de Game of Thrones) têm pelos livros e sua dedicação em trazer a história para os espectadores mantém essa visão coesa. Eu compreendo perfeitamente o trabalho da adaptação, tenho essa vantagem porque trabalhei muitos anos em Hollywood. Durante dez anos, nos anos 80 e 90, eu trabalhei em séries de TV: Além da Imaginação, A Bela e a Fera, além de desenvolver meus próprios pilotos. Eu vi o processo pelo outro lado. Muitos autores que têm suas obras adaptadas para cinema ou TV não compreendem o processo, e por isso muitas vezes criam-se sentimentos negativos, animosidades. Minhas expectativas eram realistas, e por isso estou muito, muito feliz com o resultado.

Nesta temporada você escreveu o roteiro do episódio 7, The Bear and the Maiden Fair. Você gostaria de estar mais presente na produção da série?

_Um lado meu gostaria de estar ainda mais envolvido, mas ainda tenho dois livros enormes para terminar, para concluir a história, até 2015. Não ouso escrever mais que um roteiro por temporada.

Qual a sua visão desta terceira temporada?

_Esta temporada se ocupa de, digamos, dois terços do terceiro livro, A Tormenta de Espadas, que é onde resolvi várias coisas que eu vinha preparando desde o princípio. E onde, por causa disso, há alguns dos momentos que, eu sei, mais vão chocar e, possivelmente, enfurecer a plateia. Eu já passei por isso – quando o livro saiu, eu recebi uma chuva de emails de leitores dizendo que me odiavam, que tinham jogado o livro no lixo, que tinham queimado o livro… Eu mesmo confesso que passei muito tempo sem conseguir escrever esse capítulo. Pulei e escrevi o capítulo seguinte, até o final do livro, e depois voltei atrás e escrevi. Mas… não vou falar mais disso não porque muita gente que acompanha a série não leu os livros…

Você se ofende com esse tipo de reação?

_Não, pelo contrário. Quando eu escrevo eu estou emocionalmente investido nos personagens, e espero que meus leitores também estejam. Eu quero que os personagens sejam verdadeiros para meus leitores, que eles se preocupem com o destino deles. Essa reação é mais que natural _ é a que mostra que estou no caminho certo.

Qual é o seu personagem favorito?

_Tyrion. Na verdade, eu gosto de todos os meus personagens marginais, todos aqueles que não se enquadram na sociedade em que vivem. Tyrion, o anão. Jon, o bastardo. Danny, exilada, que perdeu tudo na vida. Arya, que age como um menino e não é considerada feminina. Brienne, que é enorme e forte e luta como um homem. Sam que é gordo e meio covarde. Eu sou muito atraído por esses personagens, pessoas que são desprezadas e precisam provar quem são e a que vieram. Para mim o heroísmo dessas pessoas é muito mais interessante do que o daqueles que ganharam tudo de bandeja.

Você está improvisando à medida em que escreve ou sabe quem vai ficar com o Trono de Ferro?

_Sei. De verdade. Mas é claro que não vou dizer. Posso dizer que muita gente vai ficar com o Trono de Ferro até o final da saga. E muita gente  vai passar pelo Trono de Ferro e morrer. Mas sim, alguém fica com o Trono de Ferro na última página do último livro, Um Sonho de Primavera. Espero que você goste. Nem todo mundo vai gostar….

 

 


The Killing, Game of Thrones: o tormento e delícia das segundas temporadas
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Ana Maria Bahiana

 

 

Segundas temporadas , como o segundo ato do roteiro de um longa, são sempre um desafio. Como o segundo ato de um roteiro,  o impacto da novidade já passou, os personagens são conhecidos, suas ações são previsíveis. Algo precisa acontecer de forma ao mesmo tempo surpreendente e coerente, empurrando a narrativa adiante no ritmo certo, sem atropelo mas também sem monotonia. O perfil dos personagens precisa ser aprofundado, as tramas tem que se complicar.

Num filme, o segundo ato pavimenta o caminho para a conclusão, o clímax, a resolução. Na TV, é bem mais complicado. A segunda temporada é , sim, parte do segundo ato de uma série: a grande história que, em tese, está sendo contada temporada após temporada, para ser resolvida (ou não…) no episódio final. Mas isso é apenas parte de algo mais complexo : a estrutura de cada episódio e de cada temporada, cada uma delas impulsionando a história e os personagens de um modo diferente.

Amanhã, domingo, aqui nos EUA, duas séries super cultuadas estarão testando as águas da temporada número 2: The Killing (AMC)  e Game of Thrones (HBO). E os resultados não podiam ser mais diferentes.

Se você, como eu, se sentiu absolutamente ludibriada pelo final da primeira temporada de The Killing, prepare-se para respirar fundo, fazer yoga, tomar ervas, tarjas pretas, seja lá o que for que funciona para você: a segunda temporada NÃO resolve o assassinato de Rosie Larsen. Pior: a roteirista e showrunner Veena Sud teve a cara de pau de anunciar que o crime só será resolvido no FINAL desta segunda temporada, e que os fãs deveriam “aproveitar a jornada”.

Eu não sei o que vocês acham (me contem…) mas para mim isso é abuso: da paciência, inteligência e investimento emocional das espectadoras e espectadores numa série que tinha tudo para ser excelente.

Com todo o seu climão existencial, The Killing é, essencialmente um procedural _ um drama de crime centrado na tentativa de descoberta de quem fez o que , como e por que. Negar à platéia a resolução daquilo que foi usado para prender sua atenção – e desenvolver todos os personagens – cheira a embuste. Há um limite para o número de pistas falsas que um roteirista ou autor pode colocar no caminho de uma espectadora ou leitora sem perder  sua confiança e fé. The Killing aproxima-se rapidamente do limite absoluto.

O que é super, mega pena: a fotografia e a direção (Agnieska Holland no episódio de estréia) continuam de primeríssimo nivel, o desempenho dos atores permanece absolutamente sensacional. A dinâmica entre Mireille Enos e Joel Kinnaman, alterada pelos eventos do final da primeira temporada, está ainda mais interessante, e é um prazer ver como os dois estupendos atores se desincumbem da tarefa).

Mas a insistência em prolongar além do plausível a busca do assassino da adolescente está prejudicando seriamente o que poderia ser uma lufada de ar fresco (e muito chuvoso) na cansada fórmula policial da TV.

 

Falta de tramas é um mal do qual Game of Thrones não padece. Quem leu os primeiros cinco livros da saga A Song of Ice and Fire, de George R.R. Martin, que inspira a série (revelando meu lado super nerd, eu confesso: eu li. Várias vezes.) sabe que o problema para a adaptação não é a falta mas a abundância de tramas, intrigas, personagens.

Além do profundo respeito que a ambição da produção de Game of Thrones me inspira, não cesso de ter admiração pelo trabalho de David Benioff e D.B. Weiss como roteiristas. Nesta temporada, baseada no segundo livro da saga, A Clash of Kings, o universo da série se expande espetacularmente (dica: prestem atenção a cada abertura de episódio – os  lugares naquele maravilhoso mapa/brinquedo mudam de acordo com  o avanço da história por novas terras…) Benioff e Weiss, contudo, mantem a mão firme no leme da narrativa, simplificando, condensando e, em alguns casos, acrescentando elementos que ajudam quem não leu a se envolver e compreender perfeitamente o que está acontecendo.

Se a primeira Game of Thrones nos apresentava a proposta da luta pelo poder, esta segunda complica e amplia a discussão, envolvendo religião, economia e, cada vez mais, desejos e frustrações completamente pessoais na sangrenta disputa pelo trono dos Sete Reinos, muito fragilmente ocupado pelo jovem psicopata Joffrey (Jack Gleeson). É um prato cheio para os atores _ e agora, sem a carismática figura de Sean Bean para centralizar as atenções da platéia, é a vez de Peter Dinklage brilhar plenamente, com seu cada vez mais fascinante Tyrion Lannister instalado no olho do furacão da corte de King’s Landing.

O premiado Dinklage não está sozinho _ esta é uma temporada onde mulheres são essenciais, e a  fabulosa Cersei de Lena Headey encontra excelente companhia na Melisandre de Carice van Houten, a Margaery de Natalie Dormer (que foi Anna Bolena na saudosa The Tudors), a Yara Greyjoy de Gemma Whelan e, sobretudo, Gwendoline Christie como uma das personagens, para mim, mais fascinantes da saga, a guerreira Brienne of Tarth.

A produção é numa escala como não me lembro de ter visto na TV, e a direção e montagem mantem o ritmo preciso entre o revelar e o ocultar, dando tempo para conhecermos os personagens e nos envolvermos com eles.

Um banquete.


E lá se vai 2011, parte I: o ano do triunfo da TV. De novo.
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Ana Maria Bahiana

Foi um ano estranho. A platéia foi uniformemente subestimada, a linha de montagem empurrou um monte de continuações, franquias, 3D vagabundo e super-heróis sem nenhum carisma.

Como, em compensação a TV deu surras homéricas no cinema, começo por ela minhas listinhas do que me falou ao coração em 2011:

  1. Breaking Bad (AMC) Simplesmente a série melhor escrita, atuada, filmada e dirigida do momento.
  2. Mildred Pierce (HBO) Quanto vale a vida de uma mulher? Todd Haynes e Kate Winslet voltam às origens literárias do melodrama mais copiado de todos os tempos.
  3. Game of Thrones (HBO) Ainda não gosto das perucas, mas que bela adaptação da ficção política de George R.R. Martin.
  4. Homeland (Showtime) A agonia de ver e ser visto na era da paranóia. Atuações maravilhosas.
  5. Enlightened (HBO) A mais delicada e complexa exploração de todo o espectro das emoções humanas que vi recentemente na TV.
  6. Boardwalk Empire (HBO) O caminho da danação nunca foi tão interessante desde os Sopranos.
  7. Downton Abbey (PBS) Como aprendemos a viver no século 20, pelo microcosmo da família.
  8. The Walking Dead (AMC) Começou maravilhosamente, teve uma barriga ali pelo meio, mas nos deixou todos roendo as unhas até fevereiro.
  9. Cinema Verite (HBO) O primeiro reality show revela porque somos viciados na vida alheia
  10. The Killing (AMC) Não fosse aquele final safado estaria bem mais para cima desta lista.

A loucura da compaixão e outras lições dos finais de The Killing e Jogo de Tronos
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Ana Maria Bahiana

 

Duas séries importantes deste primeiro semestre encerraram suas temporadas de estréia ontem, com resultados bem diferentes: uma, The Killing, me deixou extremamente frustrada; a outra, Jogo de Tronos,  confirmou os altos padrões de concepção e execução que são sinônimos da HBO.

The Killing sofreu do mesmo problema que assombrou outra série da AMC, Rubicon: uma promessa constante de grandes mistérios e revelações que , no final, não se sustenta. A maioria das séries deste nível é planejada minuciosamente antes do início das filmagens, mas os primeiros 13 episodios de The Killing pareciam, muitas vezes, uma improvisação livre em torno do tema “quem matou Rosie Larsen?”

Vamos dar pontos positivos ao desenvolvimento dos personagens que o ritmo da série possibilitou: é raro ver, na TV, as reais consequências, sobre toda a familia, de uma morte súbita e violenta. E mais pontos pelo clima noir-com-chuva, não visto na telinha desde os tempos de Twin Peaks, de saudosa memória.

Mas eu achei o final uma bela tirada de tapete, vocês não concordam? Mais uma falsa resolução, mais um mistério encaixado na última hora, mais um gancho para ver se é possível prender a atenção do público até a segunda temporada. Para mim não funcionou, pareceu coisa feita sem pensar, sem planejar, sem honrar os compromissos com o espectador que já havia investido tanto nas promessas da série.

Jogo de Tronos é uma outra criatura. Um elemento poderoso que narrativas de época, fantasia e ficção científica tem em comum é a capacidade de comentar assuntos extremamente atuais e difíceis deslocando-os para outro lugar ou tempo. Ao colocar sua desenfreada luta pelo poder num universo  fictício, George R.R. Martin nos permite participar, sem sentir, de uma profunda reflexão sobre a natureza humana e seus diversos tombos e topadas no caminho evolutivo.

No mundo de Westeros, situado mais ou menos no equivalenea ao final da nossa idade média, os Sete Reinos tem um certo verniz de civilização: há reis e conselheiros, cavaleiros, professores, estradas e uma engenharia sofisticada o suficiente para construir um gigantesco muro como defesa contra o que sempre tememos – os outros, os que não-são-nós.

No mundo de Essos ainda estamos a poucos passos dos primatas que fomos, e a força bruta é energia predominante: o Khal que não mais pode cavalgar não mais pode liderar; a horda que estupra e escraviza está fazendo “um favor” aos vencidos.

Em ambos, contudo, o ser humano ainda não evoluiu para um plano onde questões morais mais complexas e delicadas possam ser exercitadas.  Em Essos, ao salvar a vida da feiticeira Mirri Maz Duur (Mia Soteriu), Daenerys (Emilia Clarke) tenta exercer a rara arte da compaixão _ o que, como se vê no capítulo final, leva a uma sucessão de tragédias e à pergunta-chave: “Do que você me salvou?”

Em Westeros, visitando o prisoneiro Ned Stark (Sean Bean) no episodio 9, Varys (Conleth Hill), o mestre dos espiões, chama de “loucura” a compaixão que  levou o desgraçado primeiro ministro  a comunicar à rainha Cersei (Lena Headey) a descoberta de sua longa conspiração_ causando, assim, a morte do rei Robert (Mark Addy) e, finalmente, a sua própria.

Seguindo fielmente o primeiro volume da série Uma Canção de Gelo e Fogo – com pequenas alterações que, na verdade, facilitaram a compreensão da história – os roetiristas David Benioff e David B Weiss mantiveram o foco nessa profunda discussão moral que é a essência da saga. Porque estamos num mundo claramente imaginado, as questões podem ser apresentadas assim, de modo puro, sem firulas.

E mantendo sempre seu poder como entretenimento, amplificado por magníficas interpretações (Peter Dinklage como Tyrion Lannister é meu favorito) e por valores de produção de tela grande.

Foram 10 ótimos episódios para responder à pergunta da estréia da série – “você sabe por que está morrendo?” – e nos deixar com água na boca para a segunda temporada, no primeiro semestre de 2012.

Eu só ainda não gosto nas perucas.

E vocês, o que acham?