Blog da Ana Maria Bahiana

Categoria : Corrida do Ouro

Globo de Ouro 2011: a noite, supreendentemente, foi boa
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Ana Maria Bahiana

Assim que anunciaram Carlos como vencedor na categoria filme para TV/mini-série eu achei que a noite, afinal, ia ser boa. Que íamos nos redimir das indicações bisonhas, e voltar ao nosso velho espírito de desencavar o original, o inusitado, o não-americano. Certo que, para o meu gosto, continuavam faltando indicações como a de Javier Bardem para melhor ator (falha que os BAFTAs corrigiram) ou Raising Hope em série/comédia, mas isso era detalhe diante dos horrores que inspiraram até o (genial, na minha opinião) monólogo de abertura de Ricky Gervais.

Vejam, aqui, como eu votei – e por que tive todo direito de celebrar…

Melhor filme/drama _ Praticamente sabendo que ia jogar o voto fora, cravei Inception-A Origem. Quem sabe… pensei. Mas minha segunda escolha, se a tivesse, teria sido A Rede Social, que é muito, muito mais que “o filme do Facebook”.

Melhor filme/comédia ou musical – Não tinha outro para votar, não é mesmo? Brinde geral ao redor da mesa 230 (“quem votou nos outros?” um colega me perguntou.)

Melhor atriz/drama_ Sem Natalie Portman Cisne Negro poderia ter sido um risco que desabaria em desastre. Outro brinde.

Melhor ator/drama _ Votei em Colin Firth ano passado, por A Single Man, e fiquei bem triste quando ele não levou. Este ano, meu voto foi para Jesse Eisenberg, cujo desempenho em Rede Social é preciso e complexo. Mas fiquei bem contente ao ver Firth reconhecido, ainda que um ano depois…

Melhor atriz/comédia ou musical_ Ia ficar com Minhas Mães e Meu Pai, mesmo : meu voto foi para Julianne Moore.

Melhor ator/comédia ou musical _ Fiquei super feliz com o reconhecimento a Paul Giamatti, que é muito superior ao filme em que está. Meu voto aqui foi para um caso semelhante: Kevin Spacey em Casino Jack.

Melhor atriz coadjuvante_ Amo Melissa Leo, e adoraria te-la visto ganhar anos atrás, por Rio Congelado,onde ela é absolutamente tudo. Este ano, meu voto (não convertido) foi para a igualmente extraordinária Jacki Weaver, de Animal Kingdom.

Melhor ator coadjuvante _ Aqui teria sido um bom lugar para honrar O Discurso do Rei: meu voto foi para Geoffrey Rush.

Melhor longa de animação _ Esse não tinha nem o que pensar- Toy Story 3. E um brinde por L’Illusioniste, tão lindo, pura poesia, ter sido lembrado.

Melhor diretor _ Continuei na linha Inception, com Chris Nolan. Mas aplaudi David Fincher, belo trabalho.

Melhor roteiro_ Aqui, depois de muito pensar e repensar, acabei cravando Aaron Sorkin, pela pura beleza do uso da linguagem em A Rede Social.

Melhor trilha_ Hans Zimmer, o Alemão Doido, ganhou meu voto, mas a dupla Trent Reznor/Atticus Ross mereceu- e o CD não sai do meu carro.

Melhor canção _ Minha favorita, “If I Rise”, de 127 horas, ficou de fora. As escolhas eram complicadas, optei pela canção de Enrolados, “I See the Light”, em honra da bela carreira de Alan Menken. Perdi.

Melhor filme estrangeiro _ Já que meu favorito, Incendies, não foi sequer indicado, votei em Biutiful, torcendo sobretudo por Javier Bardem. Mas entendo porque o dinamarques Haevnen ganhou, supreendendo todo mundo_ a diretora Susanne Bier tem a mão certa em dramas familiares que já lhe renderam dois remakes, Coisas Que Perdemos pelo Caminho e Entre Irmãos.

Melhor série TV/drama _ Num rasgo de loucura, cravei The Walking Dead, por pura insolência (minha e da série). Mas brindei a vitória de Boardwalk Empire com todo prazer.

Melhor série TV/comédia _ Minha querida Raising Hope ficou de fora (quem sabe ano que vem?) então votei na sempre infalível 30 Rock. Glee, nesta segunda temporada irregular, não merecia. Mas enfim – the kids are allright.

Melhor filme/ mini série_ Como assim Carlos? Uau! Brinde com grande entusiasmo_ e pensar que achei que era voto perdido…

Melhor atriz/ série drama _ Votei em Elizabeth Moss, cuja Peggy foi um farol de complicação e audácia nesta temporada de Mad Men. Mas fiquei feliz por Katey Segal, que deveria ter sido premiada um tempo atrás.

Melhor ator/série drama _ Brinde na mesa _ aparentemente todo mundo (eu também!) votou em Steve Buscemi, que os críticos americanos juravam ser errado para o papel.

Melhor atriz/comédia _ Laura Linney é tudo em The Big C. Ganhou meu voto_ e o Globo.

Melhor ator/comédia _Idem idem Jim Parsons. Outro que não acreditei quando ouvi o nome anunciado.

Melhor atriz/filme ou minissérie_ Não tinha pra mais ninguém, aqui. Claire Danes levou Globo e meu voto.

Melhor ator/filme ou minissérie_ Idem idem Al Pacino.

Melhor atriz coadjuvante/ TV_ Meu voto foi para a sublime Kelly McDonald em Boardwalk Empire. Com toda simpatia que tenho por Jane Lynch, nesta temporada eu não tinha como justificar meu voto.

Melhor ator coadjuvante/TV_ Este foi meu solitário voto em Glee – porque Chris Colfer está atacando com bravura um personagem complicado que teve bons momentos nesta temporada (e porque a competição era muito fraca _ embora Boardwalk tenha um belo elenco de apoio que não foi lembrado, aqui).

Meu balanço final dos Globos de Ouro, aqui.


Chuva de ouro: um guia prático da temporada de prêmios
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Ana Maria Bahiana

Ano novo: a temporada-ouro está em pleno vigor.  Antes que a gente comece a jogar palpites para todos os lados, achei mais proveitoso compartilhar com vocês o que são, como funcionam e o que representam cada um dos prêmios que estarão em nossos calendários nos próximos meses. Assim teremos todos a mesma base para as discussões com certeza acaloradas que vamos encarar.

Vamos lá:

Globos de Ouro Indicações: 14 de dezembro de 2010  Entrega: 16 de janeiro

O que são: Prêmios para destaques em cinema e TV no ano anterior. As principais categorias prevêem prêmios diferenciados para drama e comédia.

Quem vota: 85 correspondentes estrangeiros baseados em Los Angeles integrantes da Hollywood Foreign Press Association

Como votam: Por dever de ofício, os votantes (entre os quais me incluo) vêem todos os filmes e séries de TV que escolhem; mas com idades entre 30 e poucos e 80 e muitos e gostos, formação cultural e preferëncias pessoais tão diversos quanto os 55 países que representam, suas escolhas são as mais imprevisíveis entre todos os prêmios.

O que representam: A primeira munição para as campanhas do prêmio maior, os Oscars. O mito de que “os Globos antecipam os Oscars” não é inteiramente verdadeiro mas, de fato, a  a HFPA faz uma espécie de pré-seleção dos títulos que devem ser levados em conta a cada ano. Isso tornou-se ainda mais verdade com a mudança da categoria “melhor filme”, da Academia, de 5 para 10 títulos, o que de certa forma engloba os 5 dramas e 5 comédias que os Globos sempre destacam. Embora  que, este ano….

E também:  A festa mais divertida da temporada, um jantar à moda da velha Hollywood, com poucos discursos e muito champanhe. Ricky Gervais é o mestre de cerimônias este ano, Matt Damon apresentará o troféu Cecil B de Mille a Robert de Niro. (E eu escrevi os textos do livro-programa…)

Prêmios das Guildas (produtores, atores, diretores, roteiristas, diretores de arte, montadores, diretores de fotografia, efeitos visuais). Indicações: entre 4 e 12 de janeiro    Entrega: entre 22 de janeiro e 19 de fevereiro

O que são: Prêmios específicos para os diversos ofícios que compõem a arte e indústria do cinema

Quem vota: Membros das respectivas associações de classe ou “guildas”, que variam entre 800 (montadores, diretores de arte) e 4 mil integrantes (produtores).

Como votam: Com exceção dos produtores, cujo ofício é por natureza abrangente, os demais prêmios são absolutamente focados nos talentos específicos. São prêmios que destacam determinados aspectos dos filmes, vistos pelos olhos de alguns dos melhores praticantes dessas atividades.

O que representam: Como a maioria dos integrantes das associações profissionais tambem são membros dos departamentos específicos da Academia, suas escolhas são excelentes métodos de antecipar os Oscars, pelo menos na fase das indicações ( o vencedor do prêmio da Producers Guild costuma levar o Oscar…) . E, como eles se dedicam especificamente a certos aspectos da realização, muitas vezes destacam filmes que não tem oportunidades em outras áreas.

E também: Cada guilda tem regras próprias quanto a quem pode ser premiado.A Writers Guild tem-se mostrado a mais enjoada, não permitindo premiações para não-integrantes, o que, este ano, deixou de fora grandes roteiros como Toy Story, Another Year e O Discurso do Rei.

British Academy Indicações: Pre-selecionados, dia 7 de janeiro; indicados, 8 de fevereiro   Entrega: 13 de fevereiro

O que são: Os Oscars da indústria cinematográfica britânica

Quem vota: os 6,500 integrantes da British Academy of Film and Television, todos profissionais de cinema, TV e games

Como votam: Assim como seus colegas norte americanos, os integrantes da BAFTA votam nos filmes que eles mesmos fazem e, é claro, privilegiam não apenas as próprias obras ( e as de amigos/associados) mas as produções britânicas

O que representam: Muito importantes para filmes europeus e independentes, que frequentemente são realizados com recursos britânicos. Como muitos profissionais top são membros das duas Academias, pode indicar tendencias de voto para os Oscars.

E também: a festa é em Londres, no Covent Garden. E é o único prêmio com duas rodadas de indicação. Ah, esses britânicos…

Spirit Awards Indicações: 29 de novembro de 2010   Entrega: 26 de fevereiro

O que são: Os Oscars do cinema independente norte-americano

Quem vota: Os 4 000 integrantes da Film Independent, uma ONG dedicada ao apoio e incentivo do cinema independente; apesar de contar com grande número de profissionais (inclusive os indicados do ano anterior) , qualquer pessoa que pagar os 95 dólares de inscrição na Film Independent pode votar.

Como votam: Cada vez mais, os Indie Spirits tem ido para os lançamentos dos chamados independentes-de-luxo, as distribuidoras especializadas dos grandes estúdos, como Fox Searchlight e Sony Classics. Mas ainda é uma das únicas janelas para os filmes menores, mais autorais.

O que representam: Há muito pouco overlap com a Academia, em termos de corpo votante e gostos. Mas pode ser a diferença entre a vida e a morte para obras pequenas e de estreantes (como, este ano, Tiny Furniture e Night Catches Us)

E também: É uma festa divertidíssima, super informal, numa tenda armada na praia de Santa Monica.

Oscars Indicações: 25 de janeiro   Entrega: 27 de fevereiro

O que são: O prêmio que, assumidamente ou não, todo mundo que faz cinema quer ganhar, um dia.

Quem vota: Mais de 6 000 acadêmicos _  profissionais de todas as áreas da realização cinematográfica, de várias nacionalidades, divididos em departamentos de acordo com sua atividade profissional.

Como votam: Este é o voto da industria em si mesma. Todos os 6 000 votantes fazem ou fizeram cinema ativamente, em alguma capacidade. Embora em tese eles tenham que ver os filmes nos quais votam, na realidade muito poucos tem tempo para isso: os votos vão primeiro para suas próprias obras e depois para os trabalhos de gente amiga, associada ou, muitas vezes, sinceramente para quem se admira. Na etapa das indicações, cada departamento vota na sua categoria – atores em atores, diretores em diretores, etc. Na fase final, todo mundo vota em todas as categorias.

O que representam: Além da imensa massagem no ego, um profissional indicado tem um ganho imediato de 60%  em seu cachê e um filme acrescenta automaticamente 40% a mais de público. É uma das maiores alavancas de venda nos mercados internacionais e para plataformas secundarias como DVD/BluRay, TV e internet.

E também: Os prêmios-homenagem perderam espaço na festa, e agora são entregues num jantar privado, em novembro.


Globos de Ouro 2011, o dia depois das indicações: como eu votei (e não votei)
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Ana Maria Bahiana

Globos de Ouro 2011 _ o que dizer além de meus comentários para o UOL Cinema? Numa tentativa de compreender como um desastre cinematográfico como Burlesque foi parar na seleção dos melhores do ano (sem falar em obras bem mais ou menos como The Tourist, Red, Alice no País das Maravilhas e semelhantes) fiz uma pequena enquete entre meus colegas de  variadas vertentes. Alguns estavam tão chocados quanto eu. Outros justificaram o voto na base da diversidade, da necessidade de incluir estrelas no mix da festa, etc. É complicado _ eventos de prêmios são, cada vez mais, eventos. Foi assim que o Oscar perdeu as honras históricas e ganhou 10 indicados a melhor filme.

Queria muito poder dizer, em detalhes, como votei, mas a verdade é que não me lembro de todos os votos. Fiquei feliz de ver nos finalmentes algumas das minhas apostas na contramão: Jacki Weaver por Animal Kingdom, Jennifer Lawrence por Winter’s Bone, Edgar Ramirez por Carlos, Idris Elba por Luther. Mas a lista dos meus votos que ficaram no pó da estrada é maior ainda.

Tentando reconstruir minhas escolhas, aqui vão as principais categorias:

Drama: Emplaquei Inception, A Rede Social e Cisne Negro. Mas meus votos suicidas para Não Me Abandone Jamais e Ghost Writer (um filme muito melhor do que a maioria das pessoas recorda) se perderam. The Fighter tem seus fãs, mas não me incluo entre eles _ me parece qualquer outro filme sobre boxe/familias operárias da costa leste, e todo mundo interpretando como se fosse uma novela mexicana. Sim, até minha amada Melissa Leo.

Comédia: Aqui apanhei mais que Jake La Motta em Touro Indomável. Meu único voto convertido foi Minhas Mães e Meu Pai. Meus votos perdedores foram It’s Kind of a Funny Story (um filme lindo, lírico, que merece muito), Cyrus, Scott Pilgrim Contra o Mundo e Please Give.

Atores: Ó céus, Johnny Depp, gosto muito de você, mas o que você está fazendo DUAS vezes nessa lista?! Não com meu voto. Jesse Eisenberg, Colin Firth e Ryan Gosling foram votos meus, mas adeus Andrew Garfield por Não me Abandone Jamais e Leonardo di Caprio por Inception entre os dramáticos. Entre os comediantes, consegui algo tão dificil quanto emplacar todos: não emplaquei nenhum. Minhas escolhas: Michael Cera (Scott Pilgrim), Keir Gilchrist (Funny Story), John C. Reilly (Cyrus), Jim Carrey (I Love You Philip Morris).

Atrizes: Só emplaquei a dupla de Duas Mães na arena da comédia. Foram-se Sally Hawkins em Made in Dagenham (que não sei se deveria estar em comédia, pra começar…), Catherine Keener por Please Give, Mary Elisabeth Winstead por Scott Pilgrim. No drama fui um pouco melhor, e quatro das minhas escolhas estão lá. Mas Halle Berry no papel de uma stripper com múltipla personalidade me lembrou aqueles telefilmes cafonas dos anos 1980. Quem não consegui emplacar:  a mais que divina Lubna Azabal, de Incendies.

Coadjuvantes: Jacki Weaver, Andrew Garfield, Jeremy Renner e Geoffrey Rush eu consegui. Não consegui: Pierce Brosnan por Ghost Writer, Marion Cotillard por Inception, Chloe Moretz por Let Me In.

Filme estrangeiro: Aqui, novamente, levei uma surra. Só converti Biutiful.  Está certo que Tio Boonmee e Des Hommes et Des Dieux podem parecer muito extremos, mas como esnobar Incendies, um dos melhores filmes do ano, em qualquer língua?

TV: Não fui de todo mal. Meus escolhidos ficaram na órbita de Mad Men, Boardwalk Empire, Walking Dead, Breaking Bad, Carlos, Temple Grandin, You Don’t Know Jack. Não consegui emplacar Sherlock nem minha querida Raising Hope _ espero que ela segure a onda até o ano que vem…

Agora é esperar a cédula defiitiva, para os vencedores, que chega dia 28…


Foi dada a partida: quem está na frente na Corrida do Ouro 2010-2011
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Ana Maria Bahiana

Pronto, agora é guerra. Como vocês podem ver pelo estado de coisas no meu escritório, as armas incluem dvds/blu rays, livros, sacos de bala e pipoca, garrafas de vinho, babilaques diversos ligados ao conceito de filmes e séries de TV.

É a Corrida do Ouro 2010-2011 em pleno vigor a partir do feriadão do Dia de Ação de Graças, encerrado ontem. Não se pode acessar um site ou abrir uma revista ou jornal sem ser bombardeado por anúncios “para sua consideração” e, na mesma proporção, listas e mais listas de possíveis, prováveis candidatos a candidatos.

E a verdade é que há tão pouca certeza…

Eis o que se sabe:

  • Os Oscars escalaram seus apresentadores : Anne Hathaway e James Franco. A decisão  mostra claramente o desejo de rejuvenescer o evento e garantir uma porção maior do público abaixo de 35 anos para suas três horas de transmissão, de onde as referências técnicas e históricas – os prêmios científicos e honorários- já foram cuidadosamente removidos. Os dois são jovens, bonitos, charmosos, desincumbem-se bem da tarefa de cantar e dançar. Vamos ver o que acontece…
  • Nos Globos, Ricky Gervais vai repetir a dose. É uma boa combinação, clima de festa à moda antiga, todo mundo relax por conta da bebida farta, e o humor britânico, seco e às vezes cruel. A azeitona no martini.
  • Existe também um processo da minha associação contra a Dick Clark Productions, pelo controle dos direitos da marca Golden Globes. Por motivos de confidencialidade, não posso dar mais detalhes, mas eis o que importa: nada disso afeta o evento deste ano, dia 16 de janeiro.

Para quem tem a responsabilidade de escolher indicados e vencedores, o barulho constante dos anúncios e das previsões é uma distração não muito bem-vinda. Essa é uma das razões pelas quais procuro não entrar tão cedo nesse exercício de antecipação _ porque compreendo que ele faz parte da estratégia da campanha,  e que as listas são, em grande parte, resultado de sugestões vindas dos estrategistas. É um pouco assim: se a gente falar muito que fulano é candidato, e  se quem vota ler isso muito, quem sabe ela não vota no fulano?

Entendendo isso, e a curiosidade de quem acompanha o processo, posso dizer que estes são os títulos que estão mesmo na dianteira para diversas considerações: Inception-A Origem; A Rede Social; O Discurso do Rei; 127 Horas; Cisne Negro; The Town; e Rabbit Hole.

Entre as comédias, num ano magro, Minhas mães e meu pai é a pole, com múltiplas indicações possíveis; e também: Scott Pilgrim Contra o Mundo, Due Date, Reds-Aposentados e Perigosos, CyrusBurlesque é a grande incógnita_ será que meus colegas gostaram? É uma espécie de Showgirls com muita cantoria, mas o fator-Cher/Aguilera não deve ser desprezado.

Desempenhos individuais que podem ser lembrados incluem Leonardo Di Caprio em Ilha do Medo; Lelsey Manville em Another Year; Jacki Weaver e Ben Mendelsohn em Animal Kingdom; Jennifer Lawrence em Winter’s Bone; Andrew Garfield e Carey Mulligan em Não Me Abandone Jamais; Sally Hawkins em Made in Dagenham; Rebecca Hall em  Please Give; Christian Bale e Mark Wahlberg por The Fighter; Naomi Watts por Jogo do Poder; Robert Duvall e Bill Murray em Get Low; Michelle Williams e Ryan Gosling em Blue Valentine; Chloe Moretz e Kody Smit-McPhee em Let me In; Dakota Fanning em The Runaways; e Tilda Swinton em Il Sono L’Amore.

Filme estrangeiro é um mistério completo _ muito poucos realmente chamaram a atenção do povo. Incendies, Biutiful, La Prima Cosa Bella e Des Hommes et des Dieux são os poucos que vi deixarem marcas mais unânimes.

Na animação, Toy Story 3 domina, mas há tambem L’Illusioniste, Como Treinar o Seu Dragão e A Lenda dos Guardiões.

Na TV, os dramas que realmente chamaram atenção foram Mad Men, Breaking Bad, Boardwalk Empire, The Walking Dead, Fringe, The Good Wife e o final de Lost; nas comédias, Glee, Modern Family, Raising Hope. E vai ser dificil tirar os premios de ator/telefilme de Al Pacino por You Don’t Know Jack e de Claire Danes por Temple Grandin.

O resto é a incerteza que todo tudo mais apetitoso…


Crônica de uma morte não anunciada: a corrida do ouro começa à sombra de um crime
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Ana Maria Bahiana

Ficção, realidade: Tim Robbins em O Jogador...

... e a cena do crime, em Beverly Hills

Com a cidade (e muitos amigos e colegas) ainda em estado de choque com o brutal assassinato de Ronni Chasen, a largada da Corrida do Ouro 2010, esta semana, foi estranha, comedida. Uma espécie de névoa de tristeza e apreensão pairava sobre todos os eventos, as pessoas pelos cantos com copos de vinho na mão sem saber o que dizer, profissionais-chave sumidos, abalados pela perda, pelo absurdo do crime, incapazes de se engajar na mandatória efervescência deste ciclo hollywoodiano.

Numa mostra do status de Ronni na indústria, os seis maiores estúdios estão custeando todas as despesas de seu sepultamento, e o festival de Palm Springs – que Chasen ajudou a criar e onde militava- está oferecendo uma recompensa de 100 mil dólares para a identificação e captura de seu assassino ou assassinos.

Eventos não estão sendo cancelados _ como me disse um colega e amigo dela, “Ronni ficaria furiosa” se isso acontecesse em seu nome _ mas o clima não é o mesmo. É como se todos se sentissem um pouco ameaçados, o destroçamento de suas claras visões de uma vida especial dentro da vida banal dos “civis” (os que não trabalham na indústria). Se aconteceu a um de nós…. pode acontecer a todos nós?

Ouço ecos de O Jogador, o sensacional filme de 1992 de Robert Altman (melhor que o livro em que se baseia, de Michael Tolkin) sobre assassinatos entre não-civis e os bizarros e complexos laços entre ficção e realidade numa cidade sempre tão precariamente equilibrada entre uma coisa e outra.

É interessante que as primeiras reações mais comuns, passado o choque inicial, foram 1. Afirmar que o crime era um fato “isolado e incomum” na gazilionária Beverly Hills, “ainda o bairro mais seguro do mundo” ; 2. Notar as semelhanças entre o trágico fato real e as imaginárias tramas de cinema e TV que ocupam tanta gente na cidade, todos os dias.  É claro que já ligaram para o escritório de Dick Wolf, o homem que criou e produz a franquia Law & Order (onde casos reais inspiram grande parte dos episodios) para perguntar se haveria algum roteiro sendo escrito sobre uma divulgadora assassinada depois de uma premiere, em plena Beverly Hills; 3. Narrar o drama real como se fosse um filme ou série de TV, destinado a esta ou aquela “plateia” (civis, não -civis…)

Acho significativo também que as primeiras teorias que vieram à tona, elaboradas pelos círculos imediatos à tragédia, imaginam os assassinos como pessoas de fora do meio: um motorista anônimo, furioso, inebriado e, é claro, só de passagem pelo bairro; uma gangue de alguma “vizinhança mais barra pesada”, em busca de “uma loura bonita num carro caro” para um ritual de iniciação. Os outros, sempre, são tão mais perigosos que nós, no modo hollywoodiano de contar histórias…

Há uma outra teoria emergindo agora, mais viável pelo menos como modo de execução: um assassinato por encomenda, muito bem organizado, pilotado por alguém que a seguiu desde a premiere, e executado por um parceiro escondido na praça – escura, arborizada- que fica do outro lado da rua que é o caminho mais curto para a casa da vítima. Faz sentido, como narrativa. Mas um roteiro assim ainda fica sem a peça principal: por que?


Como o garoto de Liverpool se transformou em John Lennon: a delicada saga de Nowhere Boy
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Ana Maria Bahiana

Porque hoje é dia 9 de outubro e John Lennon faria 70 anos se sua história não tivesse sido brutalmente interrompida 30 anos atrás achei que seria a hora certa de falar de Nowhere Boy – que estreou aqui neste final de semana e chega ao Brasil, com o título O garoto de Liverpool, dia 3 de dezembro.

Tenho problemas com a maioria das cinebios rock – acho banais, meio com cara de fime-de -TV- pré-HBO, assépticas, sem o pulso vital que  é a essência dessas vidas.  Tanta coisa nessas vidas é  além de imagens. Tanta coisa é intraduzível, ou infinitamente particular, ou misteriosa no modo como foi apropriada e reinterpretada nas vidas menores de todos nós, nas platéias, do outro lado das caixas de som, dos rádios.

Talvez porque a diretora  Sam Taylor Wood tenha nascido em 1967, quando a Beatlemania já tinha passado  de histeria para fenômeno cultural e se fundia com a contracultura, ela tem a distância necessária para compreender John Winston Lennon como o garoto de Liverpool – alguém tão perdido como qualquer garoto pode ser aos 16 anos, tateando na escuridão da adolescência em busca de um rosto, uma identidade, um destino.

Seus parceiros nesta deliciosa jornada cinematográfica são o preciso roteiro  de Matt Greenhalgh (Control) a partir das memórias de Julia Baird, meio-irmã de Lennon; e Aaron Johnson, que encarna John de dentro para fora, de tal forma que é como se sua alma desse forma ao corpo, em princípio não muito semelhante ao verdadeiro personagem (a colaboração foi tão perfeita que Taylor-Wood e Johnson estão juntos até hoje e tiveram uma filha).

O John de Nowhere Boy é o herói inconsciente do mito – ele realmente não sabe quem é e o que faz na Liverpool do pós-guerra, ainda ecoando histórias de bombardeios e pais perdidos em batalhas. A tia Mimi (Kristin Scott Thomas, maravilhosa como sempre) que lhe serve de mãe é a imagem da Grã -Bretanha dos anos 50- estóica, aferrada a códigos de conduta que já não fazem sentido num mundo que em breve será virado do avesso. Julia (Anne Marie Duff, ótima), a verdadeira mãe que ele acha que perdeu é, na verdade, exatamente como ele – solta no mundo, naturalmente charmosa, fã de blues e jazz, irreverente, irresponsável.

Descobrir, quase ao mesmo tempo, que Elvis Presley existe e que  Julia mora, na verdade, a algumas quadras de sua casa  são as epifanias que vão impulsionar o garoto de lugar nenhum para um destino que ele mesmo, a princípio, não consegue nem imaginar – tudo o que ele quer é cabelo gomalinado, jeans justos, andar no teto do ônibus e impressionar as garotas com uma bandinha furreca na festa na igreja.

Um dos elementos mais delicados e precisos de Nowhere Boy é como ele mantém essa inocência do olhar – nada da onisciência que marca tantos filmes do gênero (aquele clima eles-não-sabiam-mas-estavam-destinados-para-a-glória que é  puro truque cinematográfico).  John e seus improvisados discípulos na banda que muda constantemente de nome e direção musical são exatamente como milhares de outros nas décadas que viriam, adolescentes curando a ressaca da embriaguez de viver com o elixir do rock ‘n roll.

Taylor-Wood ancora a realidade de sua história com os pequenos detalhes que, futuramente, serão parte do mito: a bicicleta passando diante do orfanato Strawberry Fields, o ônibus cujo trajeto inclui Penny Lane, o Cavern Club onde a banda sonha tocar, um dia.  O outro encontro que mudaria completamente a jornada do nosso herói – com Paul McCartney na tal quermesse de igreja – é tratado com igual simplicidade. Paul  (Thomas Sangster, preciso) é o pé no chão, pragmático, já enrijecido pela realidade de praticar o que prega, musicalmente. O excelente trabalho dos dois atores sublinha claramente a faísca entre eles, partes iguais de atração e repulsa, admiração e desprezo, cumplicidade e rivalidade. Em suma: Lennon e McCartney. Ou: “John, seu amiguinho está aqui!”, na voz de Mimi/Kristin Scott Thomas).

Taylor-Wood, que começa seu filme com o acorde de abertura de “A Hard Day’s Night” – num sonho, como um eco distante de chamados futuros – termina sua história um minuto antes  do garoto de Liverpool se transformar em John! Lennon!. Há uma conversa na sala, a luz da tarde pela janela, Mimi e sua xícara de chá.  “Qual é mesmo o nome de seu conjunto?”, Mimi pergunta. “Vocês já mudaram tantas vezes…” John não responde.

O resto será o destino.


Só para os fortes: vem aí o cinema-claustrofobia
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Ana Maria Bahiana

Não sei se poderíamos chamar de sub-gênero, mas dois filmes de alta visibilidade que estarão em cartaz en breve nos EUA tem tanto em comum que não resisto a chamá-los de cinema claustrofobia: Buried (Enterrado Vivo), que estreia neste fim de semana (12 de novembro no Brasil) e 127 Hours (127 Horas), que vai para as telas, aqui, dia 5 de novembro (18 de março no Brasil). Um é cem por cento ficção, o outro baseia-se em fatos reais. Ambos são criaturas da produção globalizada de hoje,  co-produções entre estúdios independentes de luxo norte americanos e empresas europeias. Ambos têm um único protagonista em, praticamente, um único cenário, foram dirigidos por europeus- o espanhol Rodrigo Cortés e o inglês Danny Boyle- trabalhando com orçamentos reduzidos e tecnologia de ponta, capaz de suplantar os apertos financeiros com engenho e arte.

Os dois se seguram em fiapos de narrativa, às vezes titubeiam e muitas vezes alcançam  momentos de alto brilho . Mas, mais importante, ambos são muito bons _ embora não aconselháveis para pessoas impressionáveis, como se dizia antigamente.

Enterrado Vivo é meu favorito.  A espoleta da narrativa é tão absoluta que, muitas vezes, parece forçada – mas outros filmes já gastaram muito mais dinheiro e tempo de nossas vidas com muito menos… Paul Conroy (Ryan Reynolds) é um motorista de caminhão trabalhando no Iraque  na entrega de suprimentos. Quando seu comboio é atacado, Paul é nocauteado e acorda num caixão  enterrado em algum ponto da área de conflito, com um celular, um isqueiro e um cantil. Vozes diversas, ao telefone, alternam-se ao longo dos concentrados 90 minutos do filme (o tempo que Paul  tem de oxigênio em seu cativeiro) .  Algumas, ameaçadoras, explicam que ele é um refém cuja libertação custa, em princípio, muitos dólares  (as exigências aumentam com o passar do tempo); outras, indiferentes ou compassivas, vão compondo a reação do mundo da superfície à tragédia de Paul.

O diretor Rodrigo Cortés – que filmou Enterrado Vivo na Espanha pelo ínfimo orçamento de 3 milhões de dólares – mantém o olhar do filme estritamente dentro dos limites do caixão. É um feito que daria orgulho a Alfred Hitchcock e que, para muitas pessoas da plateia, causa acessos muito reais de falta de ar. A espetacular fotografia de Eduard Grau (cujo talento vimos recentemente em A Single Man) explora cada ângulo possível para manter a composição ao mesmo tempo clara e opressiva. E como o roteiro (do americano Chris Sparling) é fictício e define Paul como um civil sofrendo as consequencias da guerra alheia, a conexão com a plateia é muito fácil, ultrapassando posturas políticas e indo direto ao coração humano da trama – e Ryan Reynolds trabalha esses contornos com enorme talento.

127 Horas baseia-se numa história verdadeira : em maio de 2003 o engenheiro civil e  alpinista Aron Ralston, de 28 anos, sofre um acidente num remoto canyon do Utah, e se vê aprisionado no fundo de uma ravina, a mão direita esmagada por uma enorme rocha. Aron sobrevive cinco dias – as 127 horas do título – nessas condições, até , em desespero, sem víveres e sem água, tomar uma decisão excruciante para salvar sua vida. Se você não sabe o que é, não vou contar – basta dizer que é dramático o bastante, no filme, para enviar pessoas mais sensíveis direto para o banheiro.

Boyle faz o que pode para elevar a narrativa acima do desesperador tédio de cinco dias solitários no fundo de um cânyon – Aron (James Franco) monologa, alucina, relembra. Como Boyle e seu co-roteirista Simon Beaufroy estão trabalhando com fatos reais, eles não têm a liberdade de Enterrado Vivo para armar tramas paralelas nos momentos cruciais, de forma a segurar o espectador. O foco precisa se manter inteiramente em Aron – e seu estoicismo, típico de alguém com grande preparo físico e íntimo conhecimento da natureza, muitas vezes parece indiferença ou até mesmo arrogância. Crédito a Boyle e aos DPs Enrique Chediak e Dod Mantle por criarem mini-poemas visuais de intensa beleza pontuando as 127 horas da provação de Aron, e por se recusarem a levar o filme para a apelação. Quando acidente e solução final acontecem, é com a exata simplicidade e até rispidez com que essas coisas realmente têm.

Para espíritos fortes, recomendo ambos.