Blog da Ana Maria Bahiana

Categoria : Corrida do Ouro

Ausência de favoritos pode ajudar Harry Potter?
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Ana Maria Bahiana

Mais um mês se passou e ainda não apareceram os super-favoritos que, nos anos anteriores, definiam a corrida do ouro. Vocês se lembram, não é? Sangue Negro ou Onde os Fracos Não Tem Vez? Crash ou Brokeback Mountain? Avatar ou Guerra ao Terror? Benjamim Button ou Quem Quer Ser Um Milionário? A Rede Social ou O Discurso do Rei?

Para fãs, isso pode ser um fator empolgante na disputa deste ano. Para os estrategistas, o vazio tem cor e cheiro de oportunidade: a impressão é que, com pouco mais de um mês até as indicações para os Globos de Ouro e 70 dias das indicações para o Oscar, tudo pode acontecer.

Depois de ver alguns títulos que estavam no balaio de possibilidades – mas impedida, por embargos diversos, de dizer algo a respeito, agora – posso adiantar que a lista original encolheu um pouco. Por outro lado, cresce o burburinho em torno de Young Adult – que não vi ainda-,  retorno da dupla Jason Reitman (diretor)- Diablo Cody (roteirista).

A falta de francos favoritos entre as opções de costume – independentes, independentes de luxo e lançamentos “de prestígio” dos estúdios, principalmente dramas, de preferência de época – pode levar a uma interessante resolução: a premiação de quem menos se esperava, em circunstâncias habituais. Quem se lembra de O Silêncio dos Inocentes em 1992? Lançado em fevereiro de 1991, o thriller de Jonathan Demme disparou na última hora exatamente porque seus rivais – Bugsy, JFK, O Príncipe das Marés e A Bela e a Fera (que aliás entrou na lista pelo mesmo motivo) – não tinham aquele “algo mais” que define o franco favorito.

Mais recente e mais adequada como comparação, a vitória de O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei em 2004 nasceu exatamente do mesmo impasse, a falta de poder de fogo da competição (Sobre Meninos e Lobos, Encontros e Desencontros, Mestre dos Mares e Seabiscuit-Alma de Herói).

Acho ainda mais interessante que Retorno do Rei tenha levado tanto o Oscar quanto o Globo de Ouro. O corpo votante dos Globos é menor e mais difícil de prever, impulsionado por preferências pessoais e culturais (afinal, somos todos correspondentes estrangeiros…). Já os Oscars e os prêmios das Guildas representam o consenso da indústria, dos colegas, de quem faz os filmes concorrentes. Suas escolhas revelam um tanto do, digamos assim, subconsciente do ofício: o que se faz é uma coisa, o que merece prêmio é outra.

Quando nenhum título das categorias previsíveis – drama, filme de época- tem a capacidade de gerar admiração sem reservas, sobem as chances de filmes que a indústria faz em grande volume mas quase nunca acha que merecem honra especial – thriller, fantasia, sci-fi.

Quem se beneficia este ano? Harry Potter e As Reliquias da Morte, parte II. É, até agora, uma unanimidade inquestionável de crítica, público e, sobretudo, apreciação de seus pares na indústria.  Seria também um modo de reconhecer uma década de trabalho de superior qualidade realizado por uma equipe extremamente talentosa. E, para a platéia, uma supresa gostosa num ano até agora imprevisível.


Corrida do Ouro 2011: Os primeiros favoritos de um ano sem favoritos
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Ana Maria Bahiana

Meados de outubro: dois meses para o anúncio dos indicados aos Globos de Ouro, três para sabermos os indicados ao Oscar. Ano passado, a esta altura, Inception-A Origem já tinha maravilhado plateias e críticos, e A Rede Social já tinha deixado bem claro que entrava na briga para disputar com tudo. Este ano, sento-me a uma mesa de jantar com alguns colegas votantes e o papo é o mesmo: “Mas que ano, hein? O que tem para a gente escolher?”

Tudo pelo Poder

Ter, tem, mas, até agora, nada que arrebate, que apaixone, que leve a discussões, campanhas furtivas, argumentos e contra-argumentos. Meus filmes mais queridos, até agora – Planeta dos Macacos-A Origem e Drive – não tem chance de ganhar nem um boa noite (embora o filme de Nicholas Winding Refn tenha um contigente passional dentro dos votantes dos Globos… mas me parece um contingente pequeno…) Árvore da Vida, que é lindo e exasperante em doses iguais, pode, igualmente, cativar e alienar número igual de votantes. Tudo pelo Poder é uma opção, assim como – para representantes de países onde há beisebol – Moneyball. O Artista deixou muitos colegas intrigados – “com certeza vimos um dos filmes mais originais dos últimos tempos “ – mas isso não significa, necessariamente, favoritismo.

Meia noite em Paris

Entre as comédias, Missão Madrinha de Casamento e Meia Noite em Paris estão na pole, e meu favorito, Amor a Toda Prova, é outra possibilidade bastante real, assim como outro querido meu, Beginners (no caso de ser considerado comédia…).

Enfim, este pode ser o ano em que se premia não o completamente excepcional, mas o melhor dentro de uma safra nada espetacular. Tem anos assim. Pode ser um momento bom para filmes como Harry Potter e as Relíquias da Morte –parte II. O gênero fantástico parece ter mais chances no derradeiro episódio de uma franquia, e o ano bamboleante pode abrir uma brecha, especialmente nos Oscars.

Estou falando, é claro, de filmes que já foram vistos, e de possibilidades pelo ângulo de quem tem que escolher indicados. Listas de favoritos feitas por gente que não tem que votar, incluindo filmes que ninguém viu,  estão dando sopa na internet.

Mia Wasikowska em Jane Eyre

As categorias dramáticas, por outro lado, vão dar congestionamento. Considerando, mais uma vez, apenas o que já foi visto, podem incluir no páreo, entre atrizes/atores principais: Glenn Close (Albert Nobbs), Michelle Williams (My Week With Marilyn), Emma Stone e Viola Davis (Histórias Cruzadas), Carey Mulligan (Drive), Mia Wasikowska (Jane Eyre), Jodie Foster e Kate Winslet (Carnage), Kristen Wiig (Missão Madrinha de Casamento), Julianne Moore (Amor a Toda Prova), Elizabeth Olsen (Martha Marcy May Marlene); Ryan Gosling (Drive e Tudo Pelo Poder), Brad Pitt (Moneyball), George Clooney (The Descendants), Jean Dujardin (O Artista), Ewan McGregor (Beginners), Steve Carell (Amor a Toda Prova), Michael Shannon (Take Shelter), Michael Fassbender (Shame), Paul Giamatti (Win Win), Christoph Waltz e John C.Reilly (Carnage).

Christopher Plummer em Beginners

Coadjuvantes? Fartura, também: Janet McTeer (Albert Nobbs), Octavia Spencer (Histórias Cruzadas), Melissa McCarthy (Missão Madrinha de Casamento), Berenice Bejo (O Artista), Evan Rachel Wood (Tudo pelo Poder), George Clooney (Tudo Pelo Poder), Albert Brooks (Drive), Christopher Plummer (Beginners), Ryan Gosling (Amor a Toda Prova).

E isso, repito, levando em conta apenas os títulos que já foram exibidos “para sua consideração”.

Ainda vem por aí J. Edgar, Hugo, O Espião Que Sabia Demais, War Horse e Os Homens que Não Amavam as Mulheres.

E, é claro supresas de última hora sempre são possíveis. Aliás, este ano serão mais que bem vindas, e podem dar sabor de real competição a uma disputa que cada vez mais está ficando previsível.

 

 


Eddie Murphy nos Oscars: é pra rir ou pra chorar?
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Ana Maria Bahiana

Os bons amigos: Eddie Murphy, Brett Ratner

 

E o Eddie Murphy nos Oscars, hein? Confesso que estou apreensiva. E não sou só eu: passei os últimos dias fazendo a mesma pergunta a amigos, conhecidos e acadêmicos sortidos, e a resposta foi consistentemente a mesma: ninguém espera muito, na melhor das hipóteses; na pior, esperam um desastre. Ecos do ano-catástrofe de 1989 – aquele da Branca de Neve e Rob Lowe- já estão circulando pela cidade. E isso seis meses depois de um Oscar que, segundo alguns observadores, ficou com a duvidosa palma de pior. Oscar. De todos os tempos.

É sobretudo o potencial para essa  dose dupla e consecutiva de horrores que me preocupa _ e não só a mim. Afinal não tenho nenhum interesse direto no evento além da paixão de fã de cinema e o dever de observadora profissional. “Este ano não me animo a brigar por ingresso”, me disse um acadêmico que é do tipo não-perco-uma.

A apreensão com a escolha tem dois motivos, infelizmente entrelaçados. O primeiro, e básico, é que a escolha foi feita por um produtor no qual, aparentemente, só a diretoria da Academia acredita: Brett Ratner, realizador de notória e, digamos assim, agressiva mediocridade. Sua nomeação como piloto dos Oscars este ano foi o primeiro susto ; certo que ele vem escorado pela experiência de seu co-produtor Don Mischer (Emmys, Comedy Awards, Billboard Awards), mas a reputação (ou falta dela) de Ratner foi o bastante para dar um susto coletivo na comunidade.

Aguardava-se, com a mesma reserva, sua escolha de apresentador. Os rumores de que ele estaria flertando com Oprah Winfrey já provocaram marolas _ Oprah, com certeza uma das pessoas mais poderosas do entretenimento, teria cacife suficiente como pessoa de cinema para ancorar a cerimônia?

E aí… Ratner convida Eddie Murphy, seu amigo e co-astro, ao lado de Ben Stiller (que teria sido, a meu ver, uma escolha melhor) do próximo filme do diretor, Tower Heist.

Murphy foi, depois de Richard Pryor, o comediante negro que mais abriu espaços na indústria, à custa exclusivamente de seu talento e de uma combinação perfeita de audácia, insolência e simpatia. Infelizmente, seus trabalhos mais recentes tem sido, à falta de uma definição melhor, patéticos (com exceção de sua participação em Dreamgirls, cinco anos atrás, torpedeada nos Oscars por sua atuação em Norbit, exemplo típico de onde ele anda desperdiçando seu talento).

Se os Oscars de 2012 tivessem outro produtor, mais criativo e com mais cacife junto a atores, sua escolha poderia ser super interessante _ como disse Dave Karger na Entertainment Weekly, seria muito bom que o evento marcasse a volta triunfal de um grande artista.

De todo modo, apresentar os Oscars é uma das tarefas mais ingratas da indústria _ as chances de tudo dar errado são muito maiores do que as de tudo dar certo. A maioria das estrelas de primeira linha foge dos convites exatamente pelo temor do possível impacto negativo em suas carreiras.

Vamos ver o que acontece em fevereiro…

 


Telluride clareia as apostas para os prêmios. E tem gosto de Brasil.
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Ana Maria Bahiana

 

Glenn Close em Albert Nobbs

Tilda Swinton, Glenn Close, George Clooney e Michael Fassbender acabaram de garantir a pole position para a largada da Corrida do Ouro 2011: seus filmes – We Need to Talk About Kevin, de Lynne Ramsey; Albert Nobbs, de Rodrigo Garcia; The Descendants, de Alexander Payne; A Dangerous Method, de David Cronenberg e Shame, de Steve McQueen- estão na seleção do super exclusivo Festival de Telluride que começa amanhã.

São quatro dias do melhor cinema  do mundo todo, sem prêmios e sem badalações, numa cidadezinha no alto das Montanhas Rochosas. E porque tem uma curadoria rigorosa, um clima relax e sem pressão (ao contrário dos grandes festivais), acesso ao mesmo tempo exclusivo e popular e posicionamento ideal no começo do outono norte-americano, Telluride está se tornando o melhor primeiro indicador do que vem por aí na temporada de prêmios.

Note-se, por exemplo, que Albert Nobbs foi escolhido, mas seu principal rival na “batalha das divas”, The Iron Lady, com Meryl Streep, ficou de fora (segundo a organização do festival, o filme ainda estava em pós produção e os produtores não queriam arriscar uma cópia inacabada, como Paul Thomas Anderson fez com Sangue Negro alguns anos atrás.)

George Clooney em The Descendants

O Clooney diretor de Tudo pelo Poder também não foi considerado pelo festival (e de fato o filme é fraco), mas o Clooney ator está na linha de frente, agora, com The Descendants, o independente-de-luxo que mais tem crescido em zum-zum de bastidor, nestas últimas semanas do verão.

Carey Mulligan e Michael Fassbender em Shame

Gostei de ver We Need To Talk About Kevin e Shame na lista: dois filmes com propostas intrigantes por dois diretores britânicos que vem na contramão do britânico-de-exportação tão comum nas temporadas de prêmios. Kevin põe Tilda de novo nas cercanias dos prêmios, e Shame pode finalmente aumentar a popularidade de Steve Mc Queen, um interessantíssimo diretor inglês (que não se parece nem um pouco com seu homônimo astro dos anos 1960) cujo filme de estreia em 2008, Hunger, ainda está na minha lista como um dos melhores, mais originais e perturbadores títulos da primeira década do século 21. Além do mais, Shame tem três ótimos atores que, imediatamente, entram para as pré-listas: Michael Fassbender (que tem o reforço do filme de Cronenberg), Carey Mulligan (que também tem Drive no seu currículo 2011) e James Badge Hale (que pode ser um dos coadjuvantes do ano).

E agora ao que eu acho mais lindo de Telluride este ano: o Brasil. O Brasil está nas Montanhas Rochosas tanto na presença de Transeunte, de Eryck Rocha, na mostra principal quanto na mostra paralela organizada pelo curador convidado, Caetano Veloso. Não sei o que amei mais: o fato de Caetano ter escolhido Se Meu Apartamento Falasse, do mestre Billy Wilder, ou o documentário Nordeste: Cordel, Repente e Canção, de minha amiga Tânia Quaresma, cujo maravilhoso trabalho documentando a música do Brasil eu ainda espero ver devidamente reconhecido. Do Norte ao Sul.

 


A pré-corrida do ouro, parte III: estrangeiros, animação e o saldo do primeiro semestre
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Ana Maria Bahiana

 

O que falta no balaio dos candidatos a candidatos a prêmios na temporada ouro?

Ryan Gosling em Drive

 

Para começar, algumas incógnitas : Contágio, de Steve Soderbergh (setembro nos EUA,; outubro no Brasil) e Drive, de Nicolas Winding Refn (setembro nos EUA, sem data no Brasil) , tem fôlego para prêmios? ;  Inquietos (Restless), de Gus Van Sant, ( setembro nos EUA; outubro no Brasil) será cabeça demais para ser lembrado?; o que vai acontecer com Melancolia (agosto no Brasil, novembro nos EUA), depois que Lars Von Trier desatou a dizer besteira?; e o duelo das divas diretoras – Madonna com W. E., (dezembro nos EUA) e Angelina Jolie, com In The Land of Blood and Honey (dezembro nos EUA)- no que vai dar?

Depois, os filmes estrangeiros. Para estes, existem dois caminhos _ serem escolhidos por seus países para representá-los nas categorias Filme Estrangeiro dos prêmios (como Grécia e Polônia já fizeram) ou se arriscarem na grande arena dos lançamentos no mercado norte-americano o que, automaticamente, qualifica qualquer filme para concorrer aos principais troféus.

O francês L’Artiste (novembro nos EUA, sem data no Brasil) é, neste momento, o líder nesta sub-categoria de filmes não americanos com força (e campanhas) capazes de transformá-los em competidores com os anglófonos. Uma vantagem: é mudo. Outra vantagem: é uma deliciosa, poética homenagem à alvorada de Hollywood. Mais uma vantagem: é distribuído pela Weisntein Company. Quem será seu rival? Talvez La piel que habito (setembro no Brasil, outubro nos EUA), Almodovar ingressando pelo thriller de terror, uma linguagem que acadêmicos e companhia podem compreender.

Resta olhar para o que já entrou em cartaz até agora e estimar quem tem fôlego para uma arrancada na reta final de novembro-dezembro-janeiro. Na encolha, Árvore da Vida (Tree of Life, maio nos EUA,  agosto no Brasil), de Terrence Malick, vem sendo exibido e re-exibido para grupos profissionais aqui em Los Angeles e em Nova York. Lírico, altamente pessoal, poético e, às vezes, exasperante, Árvore da Vida pode ser um favorito ou um azarão na temporada ouro.

 


Meia Noite em Paris (Midnight in Paris, maio nos EUA, junho no Brasil) é a grande unanimidade da safra do primeiro semestre. Não apenas foi (merecidamente) elogiado pela crítica mas tornou-se o maior sucesso comercial dos  últimos 25 anos da carreira de Woody Allen. É um duplo triunfo que não passa despercebido pelos votantes.

 

A outra unanimidade do primeiro semestre foi o independente  (Focus) Beginners (junho nos EUA, sem data no Brasil). Segundo filme de Milke Mills (Thumbsucker, vários videoclipes), Beginners é uma exploração autobiográfica das relações entre pais e filhos – complicada, no caso de Mills, pela revelação, depois da morte da mãe, de que seu pai era e sempre tinha sido gay. Uma indicação para Christopher Plummer (o pai) é mais do que provável, mas eu gostaria de ver o sempre excelente e sempre esquecido Ewan McGregor  (o filho) ser nomeado, também.

O primeiro semestre viu dois filmões-pipoca que podem, sim, ir para a briga no final do ano: Super 8 e Harry Potter e as Reliquias da Morte II. O primeiro seria o reconhecimento do valor do cinemão comercial norte americano da geração Goonies; o segundo seria a última oportunidade para saudar todo o extraordinário ciclo de adaptações da obra de J.K. Rowling, seu elenco, diretores e equipe.

E, finalmente, animação? Seria este o primeiro ano sem Disney ou Pixar entre os indicados? Até agora os dois favoritos pertencem respectivamente à Paramount – Rango, de Gore Verbinski – e 20th Century Fox – Rio, de Carlos Saldanha. Agora é ver as chances de Happy Feet 2 , Arthur Christmas (da Aardvark) e Gato de Botas neste combate…


A pré-corrida do ouro, parte II: independents day
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Ana Maria Bahiana

Se formos julgar pelos últimos anos quem realmente dá as cartas e impõe o ritmo da Temporada Ouro são os independentes. Principalmente os chamados independentes-de-luxo, as divisões especializadas dos estúdios que trabalham com orçamentos baixos, levantam financiamento no exterior e realizam projetos de autor. Olhem os últimos vencedores do Oscar: nos últimos cinco anos, todos eles vieram de independentes de luxo. E mesmo Os Infiltrados, de 2007, foi realizado por um produtor independente de vastos recursos, Graham King; a Warner levou a láurea, mas entrou na festa lá pelo meio.

Este é um fato que dá muita dor de cotovelo à Academia, onde a maioria dos integrantes sonha com triunfos como os de Titanic, filmão de estudião levando um monte de estatuetas. E que revela um paradoxo interessante: parte substancial dos acadêmicos passa o ano fazendo um tipo de filme e, na hora de escolher, vota em outro tipo…

Por essas e outras é essencial acompanhar as escolhas dos independentes. Mais até que os grandes estúdios os independentes-de-luxo passam o pente fino em suas aquisições e produções, e pré-selecionam para o segundo semestre os títulos com mais chances de cair no gosto dos votantes. Grandes estúdios tem bolsos fundos e podem se dar ao luxo de gastar dinheiro até com filmes sem chance, apenas para agradar estrelas, diretores e produtores. Independentes, não: orçamentos restritos obrigam a uma seleção rigorosa, e só vai pro fogo do segundo semestre quem tem alguma chance de emplacar alguma coisa.

Eis como está o panorama indie:

A Fox Searchlight deu uma sorte danada em 2009 quando repescou Quem Quer Ser um Milionário das ruínas da falecida Warner Independent e levou-o até os Oscars. Este ano ela está colocando suas fichas do segundo semestre em  The Descendants (dezembro nos EUA, janeiro no Brasil). É um roteiro delicioso que tive o privilégio de ler, adaptando o livro de Kaui Hart Hemmings sobre um havaiano ha’ole (branco) em crise de meia idade. George Clooney lidera um ótimo elenco e o sempre bom Alexander Payne  (Sideways-Entre Umas e Outras,  As Confissões de Schmidt) dirige.  Bom pedigree.

A vitória de O Discurso do Rei, este ano, deu novo alento à Weinstein Company, que passava por apuros sérios. Os apertos financeiros continuam, mas Harvey Weinstein mostrou que não esqueceu seu talento de estrategista. O abre-alas da WC este ano é, sem dívida, The Iron Lady (dezembro nos EUA, sem data no Brasil), a cinebio da primeira e única Primeira Ministra da Grã Bretanha, Margareth Thatcher. Meryl Streep se dissolve na Dama de Ferro com o tipo de transfiguração que platéias e votantes adoram. Mais questionável é a diretora Phyllida Lloyd, cuja obra anterior é o felizmente esquecido Mamma Mia!

O segundo título da WC para o final do ano é outra aposta em anglofilia e interpretações carismáticas: My Week With Marilyn (novembro nos EUA, sem data no Brasil), a narrativa das tensas filmagens de O Príncipe Encantado, na Londres de 1957. Michelle Williams é Marilyn , Kenneth Branagh é Laurence Olivier e o diretor, Simon Curtis, vem da TV…. Como Tom Hooper…

A Sony Classics, veterana da corrida do ouro, tem  três apostas fortes para o páreo 2011. A primeira é Carnage (novembro nos EUA, sem data no Brasil) adaptação de Roman Polanski para a peça God of Carnage, sucesso de Paris a Londres, Nova York e Los Angeles). Como a peça, o filme é uma obra de câmara para quatro atores – Kate Winslet, Jodie Foster, John C. Reilly e Christoph Waltz – no papel de dois casais que resolvem conversar cordialmente sobre um incidente entre seus filhos…. Até , como em Em Quem Medo de Virginia Woolf, reverterem a um estado pré-civilização.

O outro peso-pesado da SC é A Dangerous Method (novembro nos EUA e no Brasil), com David Cronenberg analisando a relação entre Sigmund Freud (Viggo Mortensen) e Carl Jung (Michael Fassbender).

Michael Shannon e a onipresente Jessica Chastain estão no terceiro filme da SC, Take Shelter (setembro nos EUA, sem data no Brasil), um estudo de personagem que fez sucesso em Sundance e Cannes, sobre um pacato pai de familia que pode (ou não) estar enlouquecendo.

Outros independentes tem títulos de peso. A Roadside Attractions vem com Albert Nobbs (ainda sem data nos EUA e no Brasil), com Glenn Close repetindo o tour-de-force que lhe valeu prêmios no teatro: uma mulher que se faz passar por homem na Irlanda do século 19. Rodrigo Garcia dirige e o resto do elenco é de responsabilidade: Jonathan Rhys Meyers, Mia Wasikowska, Brendan Gleeson.

A Focus Features espera que a Academia reacenda seu amor por Colin Forth com O Espião Que Sabia Demais (Tinker Taylor Soldier Spy, novembro nos EUA, janeiro no Brasil), a adaptação de Tomas Alfredson (Deixe Ela Entrar) para a semi biografia dos primeiros anos de Ian Fleming, o homem que inventou James Bond, por John  Le Carré.

A Lionsgate aposta em outro sucesso de Cannes, Coriolanus (dezembro nos EUA, sem data no Brasil): Ralph Fiennes é o general renegado de Shakespeare e o diretor desta atualização da peça, transposta para um universo extremamente contemporâneo de mercenários e guerras lucrativas. Elenco de primeira: além de Fiennes, Gerard Butler, Brian Cox, Vanessa Redgrave e a onipresente Jessica Chastain.

Na parte III e final da nossa aventura, um apanhado dos filmes do primeiro semestre que podem chegar até a reta final.

 


A pré-corrida do ouro já começou: quem está no páreo para os prêmios 2011-2012, parte I
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Ana Maria Bahiana

Muito cedo para falar de temporada de prêmios? Não mesmo. A calmaria que reina sobre Los Angeles – crianças de férias, turistas pelas ruas de Beverly Hills, engarrafamento de ónibus de excursão – esconde uma atividade frenética: as primeiras movimentações que vão determinar quem está dentro ou fora da corrida do ouro 2011-2012.

De um lado, a Academia, que já anunciou as mudanças de regras para esta temporada, ungiu uma nova leva de integrantes e elegeu os diretores dos departamentos para  o próximo biênio. Todas medidas fundamentais para estabelecer o perfil de quem vai votar _ e como vai votar.

A preocupação com o a festa também está fervendo neste caldeirão oculto. O fiasco do ano passado ainda está muito presente na lembrança e na mídia, especialmente depois da entrevista de James Franco na Playboy norte americana deste mes, chamando os textos do evento “sem graça” e sua  própria atuação como “restrita, aprisionada pelos textos”.

Sim, Oprah Winfrey está no topo da lista dos candidatos a apresentador de 2012, e muita gente na indústria acha que seria a escolha certa, trazendo ao mesmo tempo classe e popularidade ao evento, e, possivelmente, aumentando sua audiência … e dando uma força à nova rede de TV de Oprah que, conta-se, quer transmitir com exclusividade os bastidores da festa, em troca da presença de sua fundadora/CEO na frente das câmeras.

Algumas das decisões mais importantes, contudo, estão sendo tomadas em ambientes menos glamourosos: as salas de reunião dos departamentos de marketing e distribuição dos estúdios e independentes. Eis a verdade dos prêmios: por mais que, individualmente, os votantes possam querer,em sua opinião pessoal, peneirar os melhores do ano, o voto médio será sempre influenciado pelo modo como os títulos são apresentados ao mercado. É um processo de pré-seleção que fica nas mãos dos distribuidores e produtores, e começa com a decisão de quais filmes merecem a (custosa) atenção extra que pode posicioná-los “para sua consideração”.

O primeiro passo dessa estratégia é determinar quando o filme será lançado. Só de olhar o calendário do segundo semestre já é possível fazer especulações razoavelmente informadas sobre quem está em campo, pelo menos.

Na primeira parte deste levantamento de quem está no listão da temporada-ouro 2011-2012 vamos ver quem, entre os lançamentos do segundo semestre, os grandes estúdios pré-escolheram para entrar na disputa:

The Help ( agosto nos EUA, entre setembro e novembro internacionalmente) Há um mês a Disney vem trabalhando incansavelmente este filme, adaptação do best seller de Kathryn Stockett sobre a vida diária no sul dos Estados Unidos durante a campanha pelos direitos civis. A aposta é menos no diretor de primeira viagem, Tate Taylor, e mais no conjunto de elenco, onde despontam Emma Stone, Jessica Chastain, Viola Davis, Mary Steenburgen, Octavia Spencer, Cicely Tyson e Sissy Spacek.

Anonymous (outubro nos EUA e no Brasil). A Columbia espera que os nomes “Roland Emmerich” e “Shakespeare” não se excluam mutuamente neste intrigante lançamento. O mestre dos arrasa-quarteirões apocalípticos explora a teoria de que “Shakespeare” seria meramente um pseudônimo, e o estúdio saliva com o elenco britânico e as possibilidades da anglofilia dos prêmios _ David Thewlis, Rhys Ifahns, Vanessa Redgrave (como a Rainha Elizabeth) e Joely Richardson.

J. Edgar (outubro nos EUA, janeiro no Brasil). Se você perguntar a qualquer pessoa do meio qual é o filme que ninguém viu mas é o favorito da temporada ouro, este título vai aparecer em 9 de 10 respostas. O pedigree é impecável: Clint Eastwood na direção, roteiro de Dustin Lance Black (Milk) , Leonardo di Caprio como J. Edgar Hoover, o complicado e controvertido criador do FBI. É a grande aposta da Warner neste segundo semestre.

The Ides of March (outubro nos EUA e no Brasil) O fracasso de um astro (Tom Hanks) comod diretor pode ser um mau presságio para o novo filme de outro astro – George Clooney- como diretor. Mas a Sony está posicionando esta comédia dramática sobre a perda da inocência como uma possibilidade de indicações, nem que seja apenas para o elenco de notáveis: Ryan Gosling, Paul Giamatti e o próprio Clooney.

Hugo Cabret (Hugo,  novembro nos EUA, janeiro no Brasil) Prestem atenção nesta dobradinha de datas – segundo semestre aqui, janeiro no Brasil. Isso é  sinal claro de que o estúdio – no caso, a Paramount- acredita firmemente que o filme vai para as cabeças. A estréia de Martin Scorsese no 3D é um dos mais aguerridos representantes do gênero fantástico na disputa deste ano (sim, Harry Potter e as Relíquias da Morte II é outro…)

Homens Que Não Amavam as Mulheres (The Girl With the Dragon Tattoo, dezembro nos EUA, janeiro no Brasil) A Sony vem elaborando cuidadosamente a campanha desta refeitura do filme sueco com a griffe vitoriosa de David Fincher. E a possibilidade de um filme comercial com credenciais para prêmios faz estúdio e Academia babarem. Meryl, Glenn, olho em Rooney Mara…

As Aventuras de Tintin: O Segredo do Licorne (The Adventures of Tintin: The Secret of the Unicorn, novembro no Brasil, dezembro nos EUA) A Paramount, que tem os direitos de distribuição nos EUA, acredita que Steven Spielberg pode concorrer consigo mesmo e levar alguma coisa do ouro. A Sony, que distribui Tintin internacionalmente, aposta mais no impacto do filme entre os fãs dos quadrinhos de Hergé.

Young Adult (ainda sem data) Será que a dupla Jason Reitman/Diablo Cody emplaca de novo? A Paramount está estudando as possibilidades antes de tentar um repeteco de Juno com esta comédia romântico-dramática estrelada por Charlize Theron e Patrick Wilson.

We Bought a Zoo (dezembro nos EUA e no Brasil) Será que Cameron Crowe recuperou seu mojo? A Fox sonha com o retorno do toque de midas que levou Jerry Maguire, uma raridade – uma comédia romântico-esportiva – aos prêmios em 1996.

War Horse (dezembro nos EUA, janeiro no Brasil) A peça é um sucesso estrondoso; Spielberg volta ao drama de guerra; a Disney precisa desesperadamente de prestígio e impacto na temporada-ouro..

Extremely Loud and Incredibly Close (dezembro nos EUA, sem data no Brasil) O prestígio do aclamado livro de Jonathan Safran Foer, a temática que mistura elementos de realismo mágico com o trauma do 11 de setembro, o elenco liderado por Tom Hanks e Sandra Bullock e a direção de Stephen Daldry garantem o peso que Paramount/Warner (co-distribuidoras) estão dando a este lançamento e campanha.

Moneyball ( setembro nos EUA,  novembro no Brasil) _ Filmes de esporte não costumam “viajar” bem, mas a Columbia está mais preocupada em emplacar com votantes e críticos norte-americanos  esta cinebio de Billy Beane, o cartola do time de beisebol Oakland As que trouxe os computadores para o esporte. O fato de Brad Pitt estar encabeçando o elenco faz a Columbia  sonhar com um Blindside só seu.

No próximo post, os independentes  – simples e de luxo – com esperanças de ouro.

 


As regras do Oscar mudam de novo: deu a louca na Academia?
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Ana Maria Bahiana

Mo'Nique, o presidente Tom Sherak e os 10 de 2011

 

 

Semana passada a Academia fez barulho suficiente para lembrar a todo mundo que a temporada de prêmios, acreditem se quiserem, começa daqui a três meses.

Para começar, a lista da nova safra de acadêmicos revela algumas coisas interessantes: o desejo (e a pressa) da Academia de renovar e rejuvenescer seus quadros e, ao mesmo tempo, a bizarra lentidão de suas escolhas. Vamos lá, pessoal: John Cameron Mitchell, Lisa Cholodenko, Yojiro Takita, Gregg Araki, Susanne Bier, Terrence Blanchard, Aaron Sorkin, Nastassja Kinski, Wes Studi..só agora?

Depois, o já famoso anúncio de que as regras para indicação a melhor filme vão mudar de novo no periodo 2011-2012. Recapitulando: em  junho de 2009, revertendo ao sistema dos anos 1940,  a diretoria da Academia votou por unanimidade (com uma abstenção: Tom Hanks, representando o departamento de atores) a mudança de cinco para 10 indicados na categoria Melhor Filme. A nova regra deveria estar em vigor por um mínimo de três anos, e deveria voltar para aprovação ou repúdio apenas em 2012.

Tudo isso foi esquecido na semana passada: usando como base o percentual de indicações que filmes favoritos receberam nos últimos anos, a Academia  aprovou mais uma alteração da regra. Agora, para ser indicado a melhor filme, um título tem que receber 5% dos votos que o colocam em primeiro lugar na cédula.

Como vocês sabem, os votos para indicações ao Oscar (e Globos também) são por ordem de preferência: o votante tem que dizer qual é sua primeira, segunda, terceira, etc escolha. Pela nova regra, um título que receba 5% de escolhas em primeiro lugar está indicado para Melhor Filme. O número final pode variar de cinco a 10 _ mas, usando como comparação anos anteriores, a média de “melhores filmes” deve ser seis ou sete.

A pergunta- chave, é claro, é: por que? Por que a regra foi alterada em 2009, e por que o novo sistema não vingou? E a resposta para as duas questões é a mesma: popularidade. Ou, como já foi dito, desespero.

O Oscar pode ser o maior, mas não é a mais o único prêmio disputando a atenção de espectadores mundo afora. Há anos a audiência da festa de entrega vem caindo e, este ano, com 10 indicados, despencou ainda mais.  Um dos motivos, a diretoria da Academia acredita, é a perda de prestígio que a mudança de cinco para 10  indicados causou; e, pior ainda, a perda de prestígio não foi compensada pela inclusão de filmões comerciais, como a diretoria esperava. “Todo mundo achava que teriamos um ou dois arrasa quarteirões, mas em vez disso tivemos Inverno na Alma”, disse um acadêmico frustrado com as mudanças.

Que é um ótimo filme mas não o atrativo popular que a Academia esperava… A verdade mais profunda  pode estar no raciocínio de outro acadêmico que também não foi a favor nem da primeira nem da segunda mudança: “Não se fazem mais filmes como antigamente. Achar 5 filmes excelentes já é um desafio. Tentar aumentar isso pela manipulação das regras é um absurdo.”

 


Oscar 2011, post-mortem: O que a Unidos da Tijuca pode ensinar à Academia
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Ana Maria Bahiana

Uma semana depois dos Oscars 2011, o consenso na industria é: não deu certo. A dupla de apresentadores não funcionou  (muita gente teve ataque de nostalgia quando Billy Crystal pisou no palco), um bocado de coisa não fez sentido ( Kirk Douglas? Javier Bardem e Josh Brolin todos de branquinho? James Franco de Marilyn, super sem graça? A interminável piada com Hugh Jackman?  O coral de crianças no final, de camiseta, com os vencedores empilhados em volta?). A audiência caiu (o terceiro menor índice em 58 anos de Oscar na TV),  e um dos raros momentos espontâneos e divertidos – o beijo e a dancinha entre Bardem e Brolin – ninguém (que não estava no Kodak) viu, porque o diretor de imagem resolveu cortar para Penelope Cruz, na plateia.

E não falamos nem dos prêmios… Mas este é um dos problemas crônicos do Oscar, essa preferencia pelo meio do caminho, uma espécie de disturbio de visão que enaltece o médio e perde a perspectiva da história. Afinal, este foi o prêmio que preferiu John Avildsen a Ingmar Bergman e Rocky,o Lutador a Taxi Driver, no mesmo ano (1977); que premiou  Como Era Verde o Meu Vale em vez de Cidadão Kane em  1942, A Volta ao Mundo em 80 dias em vez de Assim Caminha a Humanidade em 1957, Oliver! em vez de 2001 Uma Odisseia no Espaço em 1969, Gente como a Gente em vez de Touro Indomável em 1981, Crash-No Limite em vez de Brokeback Mountain em 2006…. Devo continuar?

Os problemas de visão da Academia seriam até pitorescos se não fossem agravados pelos outros. Lá nos idos de 1953, quando os acadêmicos faziam suas tradicionais bobagens premiando, por exemplo, O Maior Espetáculo da Terra em vez de Matar ou Morrer, o Oscar era o único prêmio de prestígio na industria (fora de festivais,)  e um dos maiores espetáculos da recem- inventada TV, com uma audiencia em torno de 45 milhões de espectadores. Isso queria dizer que praticamente todas as pessoas que tinham uma TV em casa, nos EUA, estavam assistindo a transmissão (entre 1950 e 1955 haviam 20 milhões de domicilios nos EUA com TV.)  O impacto cultural do evento era maciço em casa e cada vez mais substancial fora de suas fronteiras, onde os Estados Unidos, saindo de seu isolamento do começo do século 20, começava seu domínio cultural do pós-guerra.

E agora, quando existem dúzias de outros prêmios -muitos deles transmitidos em algum formato-  , uma fartura de outros canais de entretenimento e informação além da TV e o Império Americano não é mais o que era?

Como espetáculo, os Oscars são um problemão. Neste momento, estão em crise de identidade, e não sabem se são um grande show de TV (como os Grammys), uma festa (como os Globos que, com toda a sua idiossincrasia, ainda fazem escolhas melhores…) ou uma celebração da excelência profissional (como os prêmios das guildas).

Mas este é só parte do problema _ a pior parte é a possibilidade de perder o significado histórico. Para notar que filmes entraram para o imaginário coletivo do mundo, é mais fácil hoje, por exemplo, olhar para o desfile da Unidos da Tijuca do que para a lista de ganhadores do Oscar.

O cinema que fica é o cinema que lava, e leva, a nossa alma.

Eu, se fosse a Academia, me preocuparia com isso, acima de tudo.


Temos Oráculo! Muitos oráculos, aliás.
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Ana Maria Bahiana

Teria sido o número recorde de candidatos – 986, do Oiapoque ao Chuí, mais Alemanha,  Dinamarca, Grã Bretanha, Portugal, Japão e EUA – ou o fato de todo mundo meio que já saber que O Discurso do Rei ia ganhar? O fato é que este ano temos não um, não dois, mas OITO oráculos do Oscar! O recorde da pitonisa Danielle Lima – 21 acertos em 2009 – ainda não foi quebrado, mas Romeika Cortez, Conrado Heoli, Marcio Motta, Sergio Azevedo, Murilo Paier, Paulo Soares , Carlos Cirne e Gabriel Gonçalves acertaram 20 das 24 categorias tornando-se assim os Oráculos do Oscar de 2011.

(Pausa para a salva de palmas no nosso Kodak virtual).

A turma da prata também foi numerosa : Ricardo Pantarotto, Fabiano Prado, Fidel Madeira, Renato Veneziani,Leonardo Costa Santos, Bruno Portugal, Santana Moura, Felipe Schirmer ,Ramon Vitral e Igor Paiva acertaram 19 categorias e são, portanto, nossos vice-Oráculos 2011. A turma do bronze, com 18 acertos, foi tão numerosa que ia tomar este post quase todo, mas fica aqui registrada.

E, no fim das contas, não foi tanto aquele “melhor diretor” para Tom Hooper que mais  derrubou a galera : foram os dois Oscars de Alice no País das Maravilhas…. E deu dó desconsiderar muitas cédulas – os fatos diziam que elas estavam erradas, mas em termos de bom gosto e sabedoria cinematográfica, estavam perfeitas.

Aqui vão os momentos de justo triunfo de nossos Oráculos 2011:

Romeika Cortez, 28 anos, nasceu em Natal-RN, é jornalista, fotográfa amadora, blogueira, e mora em Copenhague, Dinamarca, onde é estudante do curso “Estudos de Cinema e Mídia” da Universidade de Copenhague . E, é claro, é  cinéfila de carteirinha desde os 11 anos.

“Desde cedo sempre procurei absorver o máximo possível sobre a sétima arte, seja através de filmes, seja através da literatura disponível no momento”, explica nossa Oráculo. “Redundante dizer isso, mas o cinema faz e sempre fará parte da minha vida.  Assisto a cerimônia do Oscar desde 1996, e não tenho um resultado tão satisfatório desde o ano de Titanic (!). Agradeço à Ana pela oportunidade, ao meus pais pelo estímulo que sempre me deram e à amiga (também cinéfila) Kamila Azevedo, que me ensinou dicas preciosas.”

O paranaense Conrado Hernandes de Oliveira nasceu dia 11 de junho de 1987, em Londrina,e, como os super-heróis, criou uma nova identidade.” Adotei o ‘Heoli’ como sobrenome por economia de caracteres e comodidade”, ele explica.

Como tantos mestres da sétima arte seu primeiro contato mais significativo com o cinema foi quando trabalhou numa locadora de vídeos, “Eu retirava um filme por dia e uns 5 ou 6 por final de semana” ele admite. “ Na época descobri Hitchcock, Kurosawa, Wilder e outros mestres que ainda estão entre meus artistas favoritos.”

Hoje  Conrado estuda  Publicidade e Propaganda, escreve para o blog www.litcine.blogspot.com e trabalha com a programação e divulgação da Sala de Cinema Ulysses Geremia, em Caxias do Sul, Rio Grande do Sul.
Diferente da Melissa Leo, prometo não falar palavrões, embora alguns descrevam bem meu atual estado de alegria. Ser um dos oráculos do Oscar no Hollywoodianas, espaço que sempre foi um de meus referenciais no que diz respeito ao cinema, é muito gratificante! Quero agradecer a Ana pela oportunidade, aos meus amigos Marcelo e Rafael, que me acompanharam até as 2h da manhã assistindo ao Oscar (horário do Brasil em que a cerimônia terminou) e a meus pais, que não me xingaram quando vibrei alto no momento em que ganhei (pela 4ª vez) o bolão anual do qual participo. Este foi o primeiro ano em que enviei minhas apostas ao famoso Oráculo do Oscar, embora já tenha tido mais acertos em outros anos (em 2009 foram 20!), e fico extremamente feliz por receber este prêmio tão importante. Que a força oracular esteja com vocês!”

Murilo Paier, 17 anos, é estudante em Belém. “Apesar de não ser muito longa, minha relação com o cinema apesar de não ser muito longa é muito forte”, diz o jovem Oráculo.

“É a primeira vez que eu participo do oráculo,e estou muito surpreso,acho que foi um pouco de sorte e lógica.Eu não tinha um “favorito” porque não assisti a todos os filmes, mas foi difícil ver Melissa Leo e Christian Bale ganhando (odiei The Fighter e foram os piores discursos da noite),por mais que tenha apostado neles doeu,eram duas apostas que eu não me importaria em perder.David Fincher perdendo para Tom Hooper também doeu e nem vou comentar o esnobado Christopher Nolan.Mas enfim minhas apostas,apesar de todas pela lógica,me fizeram Oráculo!”

O designer e cinéfilo Carlos Cirne, 52 anos, mora em São Paulo/SP.

Através de sua empresa. Ma.ca Arte Eletrônica ,Carlos é responsável pelo projeto gráfico da Coleção Aplauso, da Imprensa Oficial do Estado, que procura preservar a memória de artistas brasileiros – atores, diretores, roteiristas e técnicos – na área de Teatro, Cinema e Televisão, com mais de 300 títulos lançados, em oito anos.

Com seu sócio Marcelo Pestana,  Carlos também é co-editor da newsletter de entretenimento Colunas & Notas, veículo diário on-line dirigido a jornalistas e formadores de opinião, cobrindo as áreas de Cinema, Teatro, Literatura e Home Entertainment.

“Gostaria de agradecer àqueles que, com sua arte, me permitiram desenvolver esta paixão por esta que, sem dúvida, ainda é a Maior Diversão: o Cinema.

Agradeço a Fred Astaire, Gene Kelly, Ingrid Bergman, Audrey Hepburn, Bette Davis e, porque não, Billy Wilder, George Lucas e Steven Spielberg. Obrigado! (sobe a orquestra)”

O carioca Marcio Motta, 34 anos, é engenheiro civil  mas trabalha no mercado financeiro numa empresa com os irmãos.

“Meu interesse por cinema começou bem cedo”, ele conta. “.Bem antes dos 10 anos passava as noites vendo filmes com meu pai (principal incentivador) e meu irmão mais velho.”Marcio tem uma formação cinematográfica pra lá de clássica: ” Lembro que o primeiro filme que vi foi Tron em 1982. Acompanho o Oscar desde 1984, quando Amadeus levou o prêmio de melhor filme. Desde então, sempre aposto com meu irmão quem acerta mais categorias ano após ano.”


E este ano acertou aqui no cada vez mais internacionalmente famoso Oráculo do Oscar. “Gostaria de agradecer, primeiramente, ao meu irmão por compartilhar seus conhecimentos da Sétima Arte desde figurinistas, fotógrafos, editores, técnicos a atores, produtores e diretores consagrados. A minha mulher por me aturar todo ano, madrugada a dentro, gritando e discutindo com meu irmão a cada prêmio. Para finalizar, gostaria de agradecer a você, Ana Maria.. Leio suas colunas desde a época do O Globo e admiro muito os seus conhecimentos, acompanhando-a por todos os lugares por onde passou desde então.”


Gabriel Gonçalves (que já tem um grupo entusiasmado de fãs, como se vê na foto) tem 22, nasceu em Palmital SP mas mora em  Ribeirão Preto-SP, onde estuda medicina na  FMRP-USP.  É mais um autodidata dedicado: “Adoro muito cinema e sempre que dá assisto filmes com boa crítica.”
“Fico muito contente por seu um dos que obtiveram mais acertos desse ano”, ele diz.” É muito mais legal assistir a cerimônia do Oscar quando se está na torcida por cada categoria específica. Adoro muito cinema e sempre que posso vou. Esse ano assisti quase todos os  indicados ao Oscar, com exceção de Inverno da Alma que infelizmente não veio para Ribeirão. Embora tenho dado o palpite de melhor filme para o ‘Discurso do Rei, meu filme favorito foi ‘127 Horas”.
Paulo Soares, 23 anos, é formado em Turismo e reside em Nossa Senhora do Socorro, “umas das principais cidades do pequeno, agradável e receptivo .estado do Sergipe”. Apaixonou-se pelo cinema em criança, como tantos de nós: “Lembro de passar gostosos fim de tarde, jogado no sofá, comendo aquele lanche, assistindo Os Grelims, Os Caça Fantasmas, Convenção das Bruxas, Os Batutinhas, entre outras dessas nostálgicas delicias que todos com certeza assistiram em algum longínquo fim de tarde.”

“O tempo vai passando e nos vamos mergulhando mais fundo nesse mundo da sétima arte e explorando novas descobertas.   Descobertas essas que ao primeiro contato já nos provocam um turbilhão de sensações; Como ficar indiferente e não ser arrebatado ao ter a sua primeira vez com um Hitchcok, Kubrick, Fellini, Wilder.”

Como tantos colegas de prêmio, Paulo trouxe uma lista de amigos para serem justamente homenageados com ele: “Agradeço a todos que e seus momentos compartilharam comigo suas paixões pela sétima arte. Meus estimados Friendos Tom (Tom Connelly) e Mau (Mau Roberts). Pessoas que já fazem parte do meu grato círculo de amizades.

Minha amiga Andréia, que nessas temporadas de prêmios atura minha excitação em cada indicações, prêmios, cerimônias.

Ao amigo Luís, que é habitual companhia em várias de minhas idas ao cinema, principalmente nessa temporada do ouro; E parceiro das leituras também.

Aproveito o espaço para honrar o meu querido mestre Scorsese, diretor que mais moldou a minha forma de ver a arte e o cinema; Nicole Kidman, atriz de ousadia como poucas no cinema atual, e que esse ano apenas reafirmou seu imenso talento; E Christopher Nolan, que esse ano ganhou mais uma inexplicável esnobada da Academia, porém com seu engenhoso Inception confirmou o seu status de diretor em pleno ápice artístico; Perde o Oscar, ganhamos nós.

E claro que você Ana, pela oportunidade e generosidade de compartilhar seus conhecimentos e visões nesse espaço que já se tornou visita fiel. Até o próximo oráculo e parabéns a todos os outros vencedores.”

O advogado Sergio Azevedo, 28 anos, é de Natal-RN. e jea trabalhou como jornalista e redator publicitario.

Entre 2008 e 2009 Sergio teve uma coluna sobre cinema e crítica de filmes num portal de notícias do meu estado, o NoMinuto.com. O cinema para entrou em sua vida via video cassete:” Interesso-me por filmes desde 1990, quando meu pai comprou um aparelho de videocassete”, ele conta. “.Desde mais ou menos essa época, também acompanho a premiação da Academia.”

“É a primeira vez que participo do oráculo, embora sempre tenha participado de outros bolões. E é a primeira vez que saiu bem classificado. Ao fazer meus palpites, sempre procuro observar os vencedores de outros prêmios, como o Globo de Ouro , o BAFTA e, principalmente, os dos sindicatos (se tivesse seguido o prêmio do sindicato dos diretores, teria acertado o palpite de melhor diretor) – tais prêmios são excelentes termômetros para o Oscar.

Quero agradecer a Ana Maria Bahiana pelo concurso e pela “homenagem”, ao amigo Victor Trindade, pelo interesse em conversar sobre filmes comigo, a Pablo Villaça, por instigar ainda mais meu interesse pela sétima arte, e a todos aqueles que fizeram e fazem do cinema uma arte tão fascinante.”

Aos nossos Oráculos, mais uma rodada de aplausos. Que tenham um ano de bons filmes e preparem-se bem para o desafio de 2012 – se Roland Emmerich não acabar com o mundo, é claro.
A todos e a cada um de vocês que participaram do Oráculo do Oscar, meu mais profundo muito obrigada.