Na guerra pelo ouro, a batalha dos documentários
Ana Maria Bahiana
Feliz ano novo _ prontos para a arrancada final rumo aos prêmios?
Por aqui, o interlúdio das festas foi breve. O ano nem tinha começado e as campanhas já tinham sido retomadas com renovado vigor. E com razão_ agora é a arrancada final, a hora da decisão. Os vencedores dos Globos de Ouro serão anunciados no domingo, dia 15. As indicações para os Oscars nós vamos saber dia 24. E as indicações das Guildas – atores, diretores, produtores, diretores de fotografia e roteiristas – já estão na rua.
Uma síntese de todo esse movimento dá uma boa ideia de quem está no jogo pelo ouro.
Mas antes falemos de uma categoria menos glamourosa : documentários. A Academia acaba de mudar (mais uma vez) as qualificações para concorrer ao Oscar da categoria: agora, além da obrigatoriedade de exibição comercial em Nova York ou Los Angeles, por uma semana no mínimo, só podem concorrer aos Oscars os documentarios que forem resenhados pelo Los Angeles Times ou New York Times.
A nova regra começa a vigorar este ano, para a cerimônia de 2013, e faz parte de um pacote de medidas que vão afetar muitas coisas no Oscar: a data da cerimônia e do anúncio das indicações, o formato do evento e as qualificações para várias outras categorias,inclusive, sim, filme estrangeiro.
Como a maior parte das coisas que a Academia faz com relação às suas regras, essa novidade dos documentários parte das melhores intenções e acaba criando um problema ainda maior. A boa intenção era acabar com um certo tipo de elitismo (intencional ou não) da categoria que, ano após ano, tem ignorado documentários importantes. Este ano, por exemplo, Senna e The Interrupters não apareceram na pré lista da Academia, embora estejam entre os melhores filmes do ano para muitos críticos.
Usando um tipo de raciocínio simplista, a Academia decidiu que, se bons documentários são captados pelos críticos mas não pelos 172 integrantes do comitê de documentários – todos voluntários – então vamos passar o encargo para eles! Afinal, todo ano os membros do comitê reclamam da obrigatoriedade de ver os 300 e tantos documentários que se qualificavam pelas regras anteriores ou seja, pela exibição em determinados festivais. Deixem os críticos nos dizerem quais devemos ter o trabalho de ver…
E como a Academia, em termos de mídia não confia em ninguém que não seja de mídia impressa e preferencialmente norte-americano, pronto! New York Times e Los Angeles Times acabaram de ser adicionados ao posto de pré-selecionadores dos Oscars!
Os problemas que essa decisão traz para um prêmio já cheio de problemas são inúmeros. Para começar, retira da Academia o atributo fundamental de seleção, investe duas publicações com um poder desigual e cria um provincianismo americanocêntrico, que automaticamente desqualifica qualquer documentário que não agradar três ou quatro pessoas em Nova York e Los Angeles.
Para continuar, coloca sobre produtores e distribuidores de documentários um encargo financeiro muito maior: a obrigatoriedade de bancar temporadas em duas cidades caras e contratar divulgadores para colocar as bundas dos resenhistas todo-poderosos nas cadeiras dos cinemas. Eu não vou nem entrar na questão de como isso pode degringolar para turvas áreas éticas…
E para terminar, não alegra os críticos nem assegura o bom funcionamento do esquema: há cada vez menos críticos em todos os jornais e revistas, inclusive esses dois, uma tendência que não deve mudar no futuro. Se 172 pessoas não dão conta de algo que é parte de um prêmio que elas criaram, por que duas ou três ou quatro dariam?
E vocês, o que pensam?