Na saída de Frank Darabont, o outro lado do paraíso criativo da TV
Ana Maria Bahiana
Por que Frank Darabont saiu de The Walking Dead? Por que abandonou a série que vem desenvolvendo há tantos anos, agora que conseguiu tudo o que queria _ sucesso de público e crítica, segunda temporada emplacada com 13 episódios, série líder em audiência no canal?
Vai demorar para conhecermos todos os motivos, e Darabont possivelmente é o único que realmente sabe. Mas uma possibilidade real, que se comenta aqui em LA, é que Darabont, ao contrário de outro responsável por um grande sucesso da AMC – Matthew Weiner, de Mad Men – vem do cinema. Sua única passagem anterior pela telinha foi a direção de alguns episódios de The Wire _ uma experiência bastante diferente da responsabilidade e estresse de um showrunner.
Teria sido essa diferença no estilo de fazer as coisas que levou Darabont a demitir todos os roteiristas, no final da primeira temporada?
O processo de criar uma série de TV difere bastante do de um filme, exigindo uma produção veloz, em massa, de roteiros. O showrunner precisa ter uma mistura exata de pulso – para manter intacta sua visão, o conceito da série – e confiança – para permitir que a equipe produza com facilidade, adicionando seu talento à “bíblia” da série, a coleção de perfis e elementos narrativos que compõem seu coração.
Scorsese não parece estar tendo problema algum com Boardwalk Empire, mas Scorsese, como produtor executivo, tem uma relação mais distante com a série, com o experiente Terence Winter (The Sopranos) atuando como showrunner.
Um segundo elemento do dilema pode ser a pressão vinda de cima, em duas frentes: conceitual e financeira.
Na véspera da estreia, ano passado, Darabont se desmanchava em elogios, aqui mesmo no blog, em cima da liberdade criativa que estava recebendo. Mas naquele momento a série era uma incógnita, seu risco maior era existir.
Uma segunda temporada é outra conversa. Há que segurar o público inicial, e há que expandi-lo. Já se comentava há algum tempo que Darabont não estava aceitando os comentários e recomendações dos executivos da AMC para as tramas da nova temporada. Aqui mesmo no blog Darabont mencionou o quanto ele gostaria de incluir The Governor na adaptação dos quadrinhos de Robert Kikman para a telinha. Em várias apresentações para diversas plateias –da Comic Con à Associação de Críticos de TV, esta semana – os chefões da AMC enfatizaram que o Governor não seria “de modo algum” um personagem da série e que, de comum acordo com Kirkman, Walking Dead começaria, a partir de outubro, a “divergir do material dos quadrinhos.”
E ainda há a questão financeira. A TV é um grande refúgio para a criatividade porque não tem as exigencias de grande retorno, imensas bilheterias num final de semana. Mas também trabalha com orçamentos menores.
Isso, para começar. Para culminar, a Cablevision, nave-mãe da AMC, acaba de criar uma divisão só para seus canais: AMC, IFC, WE e Sundance Channel. O objetivo da recém criada AMC Networks é, obviamente, achar um comprador com bolsos bem abastecidos. Para isso, além de sucessos, há que se mostrar saudávels planilhas de custos e retornos. E um modo certeiro de aumentar os retornos é diminuir os custos…. Lembram da briga entre Weiner e a AMC, meses atrás? Era exatamente por conta disso: cortes de orçamentos que poderiam afetar a qualidade da série…
De todo modo, The Walking Dead já tem um novo showrunner: Glen Mazzara, segundo no comando da série até agora, e calejado homem de TV. Agora, só esperando para ver…