Angelina Jolie, direto do set em Budapeste: “Nunca tive medo de ser diretora”
Ana Maria Bahiana
Minha colega Aniko Navai teve, recentemente, um raro privilégio: foi a única jornalista convidada para visitar o set do projeto, ainda sem título, que Angelina Jolie escreveu e está dirigindo, em sua primeira investida atrás das câmeras, em locação no leste europeu. Há uma boa razão por Aniko ter sido escolhida: as filmagens estão, neste momento, em Budapeste, e ela é uma das mais respeitadas jornalistas da Hungria, e pessoa querida no meio de cinema, miutas vezes fazendo ponte entre o talento local e os mercados mundiais.
Por especial cortesia de Aniko, aqui vão trechos da entrevista _ que pode se lida na íntegra (e em inglês) aqui, no site do jornal Vasarnapi Hirek.
Um pouco de pano de fundo: Angelina escreveu o roteiro para o projeto, ainda sem nome, baseada , como ela explica aqui, em sua pesquisa sobre conflitos recentes. São várias histórias que se entrelaçam nas vésperas , durante e depois da guerra na Bósnia, nos anos 1990 . Em uma delas, uma mulher muçulmana e um homem sérvio tem um romance complicado, o que provocou tremenda controvérsia na Bósnia, onde Angelina planejava filmar.
A nova diretora não aborda a questão diretamente nesta conversa, mas garante que seu filme é sobre “a tentativa de manter a humanidade nas piores condições possíveis”.
O que lhe deu a ideia para a história?
_ Sempre tive uma enorme frustração com o tempo que demora para que haja uma intervenção , para que se compreenda um conflito e o mundo dê assistência a quem precisa, e a informação correta chegue à comunidade internacional. Conheci tanta gente ao longo dos anos que esta história, de certa maneira, poderia se passar em qualquer lugar.
Em resumo, conhecemos duas pessoas na véspera da guerra e vemos o que suas vidas poderiam ter sido. Conhecemos os dois quando eles ssão jovens, cheios de esperança, como tantas outras vidas maravilhosas na Iugislávia, um povo único, incrível. E aí a guerra começa na Bosnia e vemos como as pessoas tentam se manter apegadas à sua humanidade mesmo vivendo dentro da guerra e testemunhando a morte de pessoas próximas, família, amigos… Para mim a ideia central foi: é possível intervir de um modo a encurtar esse sofrimento? Veja Darfur, hoje _ isso se arrasta há anos!
O conflito na Iugoslávia tem uma longa história antes e depois da guerra….
_ É verdade. Eu precisei aprender muito. Começou como uma história simples mas, para leva-la adiante, eu vi que tinha que me educar. Fiz muita epsquisa. Assisti documentários e filmes, entrevistei especialistas e, no final, escolhi pessoas do lugar para o elenco e me sentei com eles para ouvir suas histórias, o que eles fizeram durante a guerra, como eles sobreviveram, o que suas famílias enfrentaram. Eles me ajudaram a completar a história. Há muitos lados diferentes neste conflito e no filme, e eles me disseram como cada um deles se sentiu. Tentamos criar uma voz coletiva.
Você sempre afirmou, com grande veemência, que seu projeto não era uma declaração política e sim uma história humana…
_Não é minha intenção fazer uma declaração política. Meu objetivo é falar com pessoas de todos os lados da sitiuação e permitir que eles tenham uma voz. Permitir que tudo seja expressado, seja crueldade, esperança, beleza, o que for.. Se você conta algo corretamente, não é mais o seu ponto de vista, é o ponto de vista deles.
Você ainda pretende filmar na Bósnia?
_Sim. Vamos à Bósnia. Qualquer pessoa contando uma história sobte um outro povo tem que ter a sensibilidade de saber que nunca será possível compreender inteiramente como o outro se sente. É preciso ser extremamente respeitoso e cuidadoso. Eu sei que eu e todas as pessoas da equipe, aqui, estão vendo o projeto da forma correta, com a perspectiva correta e a intenção de ser respeitoso. Eu amo tanto esta parte do mundo!
Já perdeu o medo de dirigir um filme?
_ Nunca tive… desde o primeiro dia amei a experiência tanto quanto sempre amei atuar. Há algo especial no trabalho de diretor _ você passa a conhecer a equipe e o elenco muito mais profundamente. Você realmente se torna parte de um time. Um ator participa das cenas, trabalha com outros atores. Mas como diretor você conhece todo mundo, a equipe de câmera, os eletricistas, os ajudantes, o departamento de arte… e trabalha com todos eles.