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Senhoras e senhores, está lançado o Oráculo do Oscar edição 2012
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Ana Maria Bahiana

É oficial: está lançado o internacionalmente famoso e absolutamente insubstituível Oráculo do Oscar 2012.

O sistema é simples: envie, até o meio dia (hora de Brasilia) de domingo, dia 26 de fevereiro, seus palpites para oraculooscar2012@bol.com.br.

Facilita muito minha vida de apuradora (não sou a PriceWaterhouseCoppers e minhas únicas assistentes são minhas gatas Isis e The Lady Orlando) se você seguir a ordem oficial do prêmio, como está na cédula da Academia, que você pode baixar aqui.

Lembre-se de:

  • Votar em todas as categorias. Ganha quem acertar mais categorias.
  • Mandar apenas para o email oficial.
  • Mandar apenas até o meio dia de domingo. Votos enviados depois desse horário não serão contados.

 

O que você ganha? Em primeiro lugar, a glória . Ser, por um ano, um Oráculo Oficial do Oscar  não é pouca coisa, como podem atestar vitoriosos de idos Oscars.

Em segundo lugar, um pacote de super exclusivos mimos da temporada de prêmios, daqueles que chegam aqui ao meu escritório e eu guardo cuidadosamente para esta ocasião. Os deste ano estão particularmente apetitosos, e incluem, pela primeira vez, uma bela seleção de roteiros, alguns deles assinados por seus autores!

Os Oráculos 2012 serão contactados individualmente por email assim que a apuração for concluída (lembre-se de que pode ser um processo demorado) e anunciados aqui no blog, com um post especial e exclusivo.

Boa sorte e bom Oscar!!!


Semana do Oscar: como funciona a cabeça dos votantes?
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Ana Maria Bahiana

Mr.Oscar chega ao Hollywood/Highland. Foto de Richard Harbaugh/AMPAS

Os Oscars foram criados para “destacar e honrar qualidade e excelência na arte cinematográfica”. Junte três pessoas e peça que cada uma defina “qualidade e excelência”. Agora junte 6 mil.

Pois é.

Não é possível fazer um estudo estatístico preciso sobre o que os votantes do Oscar –em sua maioria homens brancos com mais de 50 anos, semi-aposentados, como se viu ontem – pensam quando escolhem os vitoriosos, mas alguns traços aparecem com clareza durante os mais de 80 anos do prêmio:

1. Complexo de inferioridade. Há anos digo isso e fiquei feliz ao ver o Los Angeles Times concordar comigo _ a Academia prefere sempre o que menos se parece com aquele filmão feito em massa, especificamente para atender o mercado. É um estranho processo de baixa auto-estima que funciona mais ou menos assim: adoramos ganhar tubos de dinheiro com um monte de filmes mais ou menos, mas sabemos que a maioria deles não presta mesmo; portanto, qualquer coisa que não seja este modelo tem que ser premiado.

Ou seja: tem filme “pra ganhar dinheiro” e filme “pra ganhar prêmio”. As duas coisas ao mesmo tempo… aí complica.

Isso explica a  aversão a comédia, ficção científica e fantasia e a cisma com diretores que trafegam com grande facilidade entre o comercial e o artístico, como Steven Spielberg e Christopher Nolan: seu trabalho bate de frente com a percepção de que há algo profunda e essencialmente errado em fazer um filme sobre, digamos, um extra terrestre perdido na Terra ou um milionário que se torna super herói, e querer que ele seja reconhecido como algo mais além de uma fonte de  dinheiro. Spielberg só conseguiu vencer esse preconceito com A Lista de Schindler (leia o item 3). Nolan…. Acho que vai ter que esperar mais um pouco.

 2. Anglofilia. Um desdobramento comum do complexo de inferioridade é achar que, em princípio, qualquer coisa feita na Grã Bretanha é melhor do que qualquer coisa feita em qualquer outro lugar do mundo, especialmente nos Estados Unidos. Isso explica porque Carruagens de Fogo bateu Indiana Jones (um filme pipoca! E de Spielberg!) em 1981, O Paciente Inglês derrotou Fargo em 1996, a vitória de Shakespeare Apaixonado em 1998 (e Judi Dench levando um Oscar por cinco minutos de tela) etc etc etc. Este ano Sete Dias com Marilyn , se produzido nos EUA, seria talvez um bom filme de TV sem maiores ambições. Mas é britânico! Com Kenneth Branagh! E Judi Dench! Como vamos ignorá-lo?!

3.Fixação com o Holocausto. Aqui o sempre agudo J. Hoberman apresenta uma estatística impressionante nos Los Angeles Times: nos 83 anos do Oscar 20 filmes indicados tinham o Holocausto como tema e pano de fundo; apenas dois não converteram em estatueta a indicação. Este ano, preparem-se : A Separação é o filme a ser batido na categoria filme estrangeiro. Mas abram o olho para In Darkness, de Agniezska Holland, sobre judeus poloneses refugiados nos esgotos da cidade de Lvov. Até porque, no passado, Holland dirigiu um dos dois filmes sobre o Holocausto que foi indicado mas não levou _ Colheita Amarga, de 1985.

4. Saudosismo. É curioso como um prêmio que nasceu destacando o ousado – Asas, um filme adiante de seu tempo em muitos níveis – rapidamente começou a ter saudade de tudo. Culpe-se a chacoalhada dos anos 1970 e da geração sexo drogas e rock n roll? A engorda do blockbuster nos anos 1980-90? O fato é que, desde Titanic, tudo o que lembra “os  bons tempos” àqueles senhores brancos de meia idade cai no paladar. A ideia de que “os filmes eram melhores naquela época” é uma fantasia que põe os votantes num estado de transe…. E este ano vai premiar, pela primeira vez na história, uma produção da França… onde o cinema começou. Salut, Lumiére!


Semana do Oscar: quem é o votante do prêmio mais cobiçado do cinema?
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Ana Maria Bahiana

Tom Sherak, presidente da Academia, recepciona os Oscars, recém chegados em Los Angeles, direto da fundição em Chicago

 

Ele é homem, branco, com aproximadamente 62 anos. Jamais foi indicado para um Oscar e há dois anos não produz/dirige/supervisiona/divulga/trabalha/atua em um filme. Mora muito bem, em alguns dos bairros mais caros e luxuosos de Los Angeles, e há uma grande chance de estar aposentado.

Estes, caras e caros, é o eleitor-padrão do Oscar, segundo uma fascinante pesquisa do Los Angeles Times . Em outras palavras, olhe para a foto – Tom Sherak, presidente atual da Academia, é literalmente a cara do corpo votante dos Oscars.

A  detalhada pesquisa do LA Times põe um rosto num perfil que, até agora, só podia ser desenhado pelas escolhas que faz e pela quase paranormal atividade de adivinhar seus gostos ouvindo o zum zum de suas conversas nos meses entre o Dia de Ação de Graças ( última quinta feira de novembro) e a data de entrega dos votos finais (cinco dias antes da festa).

Os números são fascinantes e um pouco assustadores: 77% dos 6 mil votantes são homens; 94% são brancos; 64% jamais foram indicados para o prêmio que escolhem; 42% fizeram seu projeto mais recente em 2010; 79% tem mais de 50 anos.

E o mais interessante é que nada disso se deve ao fato da Academia ser, conscientemente, discriminadora _ esse é o perfil da indústria que a Academia representa. Um milhão de questionamentos nascem desta constatação. E igual número de constatações suportam esses questionamentos : em 83 anos de Oscar, apenas 4% dos prêmios de atores/atrizes foram para não-brancos; Kathryn Bigelow é única mulher a receber um Oscar por direção; os 43 membros da diretoria da Academia incluem apenas seis mulheres e uma pessoa negra; há departamentos – principalmente direção de fotografia e roteiristas – com um contingente 90% masculino.

“Não vejo por que devemos representar todas as facetas da população”, o roteirista (oscarizado por Um Dia de Cão) Frank Pierson disse ao Times. “Para isso existem os prêmios People’s Choice.”

As regras de acesso à Academia não mudaram em seus mais de 80 anos de existência: é preciso ser profissional da indústria há pelo menos 5 anos, ter endosso de pelo menos dois membros ou ter sido indicado ao Oscar. Mas nos anos 1990 a Academia fez um esforço concentrado de recrutamento para aumentar números e qualificações de seus integrantes. E de fato mais profissionais jovens, mais mulheres e mais pessoas de outros grupos étnicos e culturais  tornaram-se votantes. Mas nem assim o perfil mudou  substancialmente _ a idade média baixou de 64 para 62 anos (onde está agora), e em vez de 96% brancos, seus integrantes tornaram-se “apenas” 94% brancos.

Para mim  prêmios são apenas decisões tomadas por um grupo de pessoas num determinado período de tempo sob determinadas condições.  Os Oscars ganham uma dimensão mítica porque tem uma longa história e envolvem, dos dois lados da equação, nomes com dimensões universais.

Entender quem é o grupo que decide para quem vão as estatuetas mais cobiçadas do cinema pode ajudar a antecipar seus votos _e ,muito mais importante, colocá-los em sua devida perspectiva.


Almoço com as estrelas: palmômetro indica os favoritos?
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Ana Maria Bahiana

 

Glenn Close, Kenneth Branagh, Michelle Williams e Janet McTeer no almoço dos indicados.

Com menos de 20 dias até a grande noite do Oscar, e apenas duas semanas até a data fatal de entrega dos votos finais – 21 de fevereiro às 17h, horário de Los Angeles – 150 indicados lotaram o International Ballroom do Beverly Hilton ( o mesmo dos Globos de Ouro), nesta segunda feira, para seu tradicional almoço de confraternização.

Brad Pitt e George Clooney continuaram o papo iniciado nos Globos,  Rooney Mara confirmou que realmente fez piercing no seio para viver Lisbeth Salander, Tom Hanks deu instruções (via video) de como fazer discursos curtos e o presidente Tom Sherak anunciou que o Governors  Ball não terá cadeiras ou poltronas para “todo mundo poder cicular, em clima de festa e não de jantar formal” Felizmente Sherak anunciou que haveria “muita comida” disponível. É uma tradição, todos os anos, a fila de gente chique, de longo e smoking, na porta da hamburgueria In and Out, a algumas quadras do Kodak, depois de quatro horas de fome durante a cerimônia ….

Sergio Mendes, indicado para melhor canção por “Real in Rio”, não parecia preocupado com a possibilidade de apresentá-la no palco do Kodak (os produtores  Bria Grazer e Don Mischer estão planejando cortar todos os números musicais da evento). Sérgio pipocava de felicidade em voltar ao Oscar. Com seu grupo Brasil ’66, Sérgio interpretou indicada “The Look of Love”, de Burt Bacharah e Hal David no Oscar de 1968, e a  apresentação que catapultou-o para o topo das paradas e para o grande público norte americano. Agora, ele era todo sorrisos enquanto conversava com a turma de O Artista e saía atrás de seu ídolo, Steven Spielberg.

Close da turma de "formandos": Glenn Close, Jean Dujardin, George Clooney, Chris Columbus e Damian Bechir

Depois , como estudantes em dia de formatura, um a um os indicados foram chamados – em ordem alfabética do sobrenome – para receber seu certificado de indicação e juntar-se ao grupo da foto oficial da “turma de 2012”. Não se sabe se cansada de esperar pela letra “S” ou entediada com os outros muitos certificados que já tem, Meryl Streep deitou-se no topo da arquibancada do cenário da foto oficial esperando sua hora.

Martin Scorsese e Max Von Sydow em papo durante a sessão de fotos oficiais

E, num ritual que ganha popularidade a cada ano, os jornalistas presentes anotaram cuidosamente o nível de aplausos dos convidados para cada nome chamado. Constam as escritas que quem é mais aplaudido tem mais chances de levar a estatueta para casa…. O palmômetro 2012 deu picos para Max von Sydow. George Clooney, Brad Pitt, Gary Oldman, Jean Dujardin, Meryl Streep, Michelle Williams, Kenneth Branagh, Octavia Spencer , Glenn Close ,Viola Davis e, inesperadamente, Demian Bichir (Christopher Plummer não foi ao almoço).

Arrisque-se quem quiser…

A turma de 2012


Em fim de semana de definições, a saudade vai dominar?
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Ana Maria Bahiana

Fim de semana importante na corrida do ouro: sábado saem os prêmios da Directors Guild e domingo, os vitoriosos da Screen Actors Guild. A essa altura da disputa pelo Oscar, nenhum dos dois tem peso em termos de números: os 367 diretores (liderados por Kathryn Bigelow, diretora do departamento) e os 1,183 atores da Academia (liderados por Annette Bening), quase todos membros da DGA e da SAG, estão agora diluídos nos mais de 6 mil votantes do Oscar que escolhem, juntos, os prêmios finais.

Mas tem importância como modo de chamar a atenção dos colegas de outros departamentos e estabelecer aquela coisa difusa mas muito poderosa que é a “vontade de votar”.

Quem especula sobre o resultado dos Oscars em geral usa fórmulas que levam em conta fatores concretos como bilheteria, data de estréia, gênero, comparações com anos anteriores, etc. Mas minha experiência me diz que o verdadeiro motor das escolhas é algo muito mais sutil, forte e impossível de quantificar: um desejo de premiar este ou aquele título, esta ou aquela atriz, diretor ou roteirista baseado em preferências que tem a ver com a época, o tempo em que vivemos, temas profundos que estão rolando quem sabe onde na cabeça de quem faz cinema, aqui.

Jung explicaria mas infelizmente Michael Fassbender não foi indicado.

Vamos ver, então, se DGA e SAG confirmam o que suspeito: que O Artista está na liderança este ano, e que A Invenção de Hugo Cabret passou Os Descendentes como seu rival mais importante.

Em outros anos, usando apenas as referências do passado, Os Descendentes seria o líder perfeito: independente, americano, abordando questões de familia, estrelado por um ator super popular, um diretor indicado (e vitorioso) anteriormente.

Mas algo diferente e especial está acontecendo nesta temporada 2011-2012: dois filmes lembraram, por caminhos diferentes, o que é essencial no cinema, qual o seu poder mais profundo, por que ele permaneceu contemporâneo e vital ao longo de mais de um século _ O ArtistaA Invenção de Hugo Cabret.

Jean Dujardin e Michel Hazanavicius no set de O Artista, nos estúdios RED, em Los Angeles (onde Matar ou Morrer foi filmado)

Tudo o mais empalidece diante desse elemento. Até mesmo o fato de Hugo Cabret só se tornar realmente genial quando Asa Butterfield encontra F.Murray Abraham. Ou a verdade de que O Artista se baseia num artifício, e não é um filme feito como o dos anos 1920, e sim um desejo, uma lembrança reconstruída de fragmentos e impressões, de um realizador do século 21, saudoso do que não viveu. Como a recente exibição de Asas  confirma, o cinema dos anos 1920 era muito mais ousado, complicado e arriscado que a doçura ingênua de O Artista (Metrópolis, Napoleão, Aurora…)

Filme por filme, Os Descendentes é superior a ambos.

Mas cinema é percepção. Ele é, em si mesmo, uma realidade alterada. E nessa realidade Artista e Hugo Cabret dizem a quem faz cinema que, voltando atrás, é possível recuperar a faísca com que tudo começou.

PS: Mas George Clooney e Viola Davis ainda são minhas apostas para ganhar ator/atriz/cinema nos SAGs…


Indicações ao Oscar, 2012: as gratas e ingratas surpresas
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Ana Maria Bahiana

E as indicações ao Oscar 2012, hein?

Antes de comentá-las é bom refrescar a memória explicando como elas são escolhidas.

Na etapa de indicações, apenas a categoria “melhor filme” é votada por todos os 6 mil acadêmicos. Todas as demais são escolhidas  ou pelos respectivos departamentos ou “branches” da Academia ou, no caso de  filmes estrangeiros, por um comitê de voluntários.

Portanto, se é verdade que o Oscar toma o pulso de Hollywood a cada ano (e eu estou entre os que acham que sim), os “melhores filmes” são os que mais claramente indicam isso. Os demais revelam o que atores, diretores, roteiristas, etc pensam de seus colegas.

É importante saber outra coisa sobre esses votantes: todos fazem ou fizeram cinema em suas vidas. Todos já trabalharam, trabalham ou querem trabalhar com quem está concorrendo. Muitos tem filmes concorrendo – e não apenas votam neles, mas por eles fazem campanha. Muitos tem admiração, inveja, amizade, rancor por quem está concorrendo. Todos trazem imensa bagagem pessoal e profissional para cada escolha.

E embora a Academia reúna grandes realizadores, atores, técnicos e executivos, a maior parte de seu corpo votante é de profissionais que ou nunca tiveram ou já passaram por sua fase áurea. Como exemplo eu lembro sempre de uma pitoresca festa de fim de ano, aqui em Los Angeles, onde absolutamente todos os convivas votavam em algum prêmio, e quase todos no Oscar. E onde ouvi de pessoas que não dirigiam ou produziam um filme há mais de 10 anos que Steven Spielberg e Martin Scorsese não sabiam contar bem uma história em imagens…

Enfim, somos todos humanos. Os deuses do cinema estão naqueles pulsos de luz que hipnotizam nossas retinas na sala escura, não entre os que preenchem cédulas de votos para prêmios…

Tendo dito tudo isso, acho que, este ano, alguns comitês e departamentos fizeram um trabalho muito melhor que outros. E muitos fizeram escolhas ótimas e terríveis ao mesmo tempo.

Não vou nem falar de filmes como meu querido Drive ou o igualmente sensacional Precisamos Falar Sobre Kevin, cujas chances de serem compreendidos pelo establishment hollywoodiano eram mínimas (pelo menos os técnicos de som se lembraram do quanto o filme de Nicholas Winding Refn sabe usar a trilha…). Mas falo, sim, de algo medíocre e forçado como Tão Forte e Tão Perto que conseguiu emplacar duas indicações, inclusive, justamente, melhor filme. Amo Max Von Sydow e acho que ele faz o que pode com um personagem artificial (como todos os outros do filme de Stephen Daldry) mas teria sido tão mais bacana e coerente ver Albert Brooks indicado ali para melhor coadjuvante por Drive…

Entre outras ausências notáveis (Tilda Swinton! Ryan Gosling! Michael Fassbender! Shailene Woodley! Projeto Nim!), fiquei chocada com a de Tintim e o Segredo do Licorne entre os filmes de animação (onde tinha até o fraco, fraco Gato de Botas). A animação de Steven Spielberg/Peter Jackson venceu o prêmio da Producers Guild mas não conseguiu empolgar os 343 votantes do departamento de curtas e animação da Academia (sim, eu também acho estranho que curtas e animação estejam juntos no mesmo departamento, mas enfim…) Meu palpite, parte 1: captura de desempenho realmente não passa pela garganta da Academia e 2. Spielberg não tem muitos fãs entre os animadores (o que não deixa de ser tristemente irônico, já que Spielberg é fã e incentivador de animação…)

Prefiro lembrar as gratas surpresas: Árvore da Vida com três indicações, inclusive melhor filme (o mesmo número de indicações, devo lembrar, de Harry Potter e as Reliquias da Morte parte II, embora as deste último sejam todas técnicas); Demián Bichir lembrado por seu ótimo trabalho no pequeno mas sincero A Better Life (crédito à influência das indicações da Screen Actors Guild); a presença de Nick Nolte e sua comovente composição do pai/treinador aos pedaços de Warrior; Pina, de Wim Wenders, lembrado pelo menos na esquisitíssima lista de documentários; A Separação entre os melhores roteiros originais (nos últimos dias da votação havia uma campanha cerrada para emplacar uma indicação tanto para roteiro quanto para diretor, além de filme estrangeiro. Estou feliz que uma delas deu certo…); e pelo menos um cheiro de Brasil com a canção de Rio (senti a falta dele entre as animações…)

Amanhã, um pouco mais sobre o que os Oscars e o que as indicações revelam do estado de coisas da industria, hoje.


Na Academia, a eterna juventude de um filme de 85 anos
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Ana Maria Bahiana

É super interessante que esta temporada de prêmios tenha se tornado, de certa forma, um tributo aos pioneiros do cinema. Seria coincidência o fato de estarmos entrando num ciclo de celebrações centenárias da arte e indústria da imagem em movimento?

O cinema em si já completou mais de um século de vida. Mas os grande estúdios que deram o formato e o impulso global do cinema tem datas de nascimento entre 1912 – a Pathé francesa (que começou em 1896 como empresa ótica), a Paramount e a Universal – e 1933, quando surge o mais jovem dos estúdios, a 20th Century Fox. No meio do caminho há poderosa UFA alemã (1917), a Columbia ( 1920), a Warner Brothers (1923)  e a MGM (1924). Esperem muitas comemorações no futuro imediato _ e, com elas, quem sabe, um desejo de voltar às origens e rever o que, realmente, torna o cinema tão vital, universal e importante.

Esta semana a Academia deu partida no ciclo de celebrações do centenário da Paramount – 100 aninhos no próximo dia 12 de julho – com a exibição de uma cópia restaurada de Asas, o primeiro filme a receber um Oscar.  A sincera empolgação do teatro Samuel Goldwyn lotado deixou bem claro – como O Artista prova –  que o poder de uma narrativa impecável transcende tempo e espaço e não depende nem de som, nem de cor nem de tela gigantesca.

Abrindo os trabalhos, o presidente da Academia, Tom Sherak, apresentou a estatueta que Asas recebeu nos idos de 1928 e lembrou que a própria Academia estava celebrando uma data importante: uma semana atrás em 1927, no dia 11 de janeiro, 36 dos mais poderosos da indústria emergente se reuniam num salão do (extinto) hotel Ambassador, aqui em Los Angeles, e decidiam criar o que viria a ser a Academia.

E  William Wellman Jr,  filho mais velho do diretor William A. Wellman – que mais tarde assinaria Inimigo Público e Nasce uma Estrela, entre muitos outros – deu a dimensão humana desse pioneiro do cinema: ele tinha 29 anos quando dirigiu Asas, e foi escolhido por ser, ele mesmo, veterano da aviação na Primeira Guerra Mundial, fanático por aviões e tão destemido que ganhara o apelido de “Wild Bill”.

"Wild Bill" no set de Asas, 1927

 

Filmado inteiramente em locação nas redondezas de San Antonio, no Texas, Asas custou a fortuna de 2 milhões de dólares em 1927 – o filme mais caro jamais produzido até aquela época, o equivalente a um arrasa quarteirão de 200 milhões de dólares, hoje. Exército e Aeronáutica forneceram soldados, armamentos e aviões e Wellman, fazendo algo absolutamente inédito no cinema, até então, tinha a liberdade dos estreantes. As pesadas câmeras da época eram colocadas nos frágeis monomotores, de frente para os atores. Os aviões decolavam, as câmeras rodavam. Sem dublês, sem digital, sem ensaio.

 

Foi um sucesso extraordinário, “o Star Wars de sua época”, disse Brad Grey, presidente da Paramount: dois anos em cartaz, continuamente.

85 anos depois, Asas continua ousado. O melodrama que enquadra a trama principal – a história da rivalidade e amizade entre dois pilotos da Primeira Guerra vindos da mesma cidadezinha do interior – é típico da época.  Mas o vigor das sequencias de ação,  a modernidade dos enquadramentos, a pura audácia das batalhas aéreas empolga hoje como deve ter empolgado as primeiras platéias. E ainda há Gary Cooper numa ponta, dominando cada um dos cinco minutos em que está na tela…

Lição aprendida: bom cinema é bom cinema, sem idade, sem limites.

 

 

Todas as fotos deste post pertencem aos arquivos da Biblioteca Margaret Herrick, da Academia.

Na guerra pelo ouro, a batalha dos documentários
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Ana Maria Bahiana

Feliz ano novo _ prontos para a arrancada final rumo aos prêmios?

Por aqui, o interlúdio das festas foi breve. O ano nem tinha começado e as campanhas já tinham sido retomadas com renovado vigor. E com razão_ agora é a arrancada final, a hora da decisão. Os vencedores dos Globos de Ouro serão anunciados no domingo, dia 15. As indicações para os Oscars nós vamos saber dia 24. E as indicações das Guildas – atores, diretores, produtores, diretores de fotografia e roteiristas – já estão na rua.

Uma síntese de todo esse movimento dá uma boa ideia de quem está no jogo pelo ouro.

Mas antes falemos de uma categoria menos glamourosa : documentários. A Academia acaba de mudar (mais uma vez) as qualificações para concorrer ao Oscar da categoria: agora, além da obrigatoriedade de exibição comercial em Nova York ou Los Angeles, por uma semana no mínimo, só podem concorrer aos Oscars os documentarios que forem resenhados pelo Los Angeles Times ou New York Times.

A nova regra começa a vigorar este ano, para a cerimônia de 2013, e faz parte de um pacote de medidas que vão afetar muitas coisas no Oscar: a data da cerimônia e do anúncio das indicações, o formato do evento e as qualificações para várias outras categorias,inclusive,  sim, filme estrangeiro.

Como a maior parte das coisas que a Academia faz com relação às suas regras, essa novidade dos documentários parte das melhores intenções e acaba criando um problema ainda maior. A boa intenção era acabar com um certo tipo de elitismo (intencional ou não) da categoria que, ano após ano, tem ignorado documentários importantes. Este ano, por exemplo, Senna e The Interrupters não apareceram na pré lista da Academia, embora estejam entre os melhores filmes do ano para muitos críticos.

Usando um tipo de raciocínio simplista, a Academia decidiu que, se bons documentários são captados pelos críticos mas não pelos 172 integrantes do comitê de documentários – todos voluntários – então vamos passar o encargo para eles! Afinal, todo ano os membros do comitê reclamam da obrigatoriedade de ver os 300 e tantos documentários que se qualificavam pelas regras anteriores ou seja, pela exibição em determinados festivais. Deixem os críticos nos dizerem quais devemos ter o trabalho de ver…

E como a Academia, em termos de mídia não confia em ninguém que não seja de mídia impressa e preferencialmente norte-americano, pronto! New York Times e Los Angeles Times acabaram de ser adicionados ao posto de pré-selecionadores dos Oscars!

Os problemas que essa decisão traz para um prêmio já cheio de problemas são inúmeros. Para começar, retira da Academia o atributo fundamental de seleção, investe duas publicações com um  poder desigual e cria um provincianismo americanocêntrico, que automaticamente desqualifica qualquer documentário que não agradar três ou quatro pessoas em Nova York e Los Angeles.

Para continuar, coloca sobre produtores e distribuidores de documentários um encargo financeiro muito maior: a obrigatoriedade de bancar temporadas em duas cidades caras e contratar divulgadores para colocar as bundas dos resenhistas todo-poderosos nas cadeiras dos cinemas. Eu não vou nem entrar na questão de como isso pode degringolar para turvas áreas éticas…

E para terminar, não alegra os críticos nem assegura o bom funcionamento do esquema: há cada vez menos críticos em todos os jornais e revistas, inclusive esses dois, uma tendência que não deve mudar no futuro. Se 172 pessoas não dão conta de algo que é parte de um prêmio que elas criaram, por que duas ou três ou quatro dariam?

E vocês, o que pensam?


Crise no Oscar resolvida: Billy Crystal é o apresentador
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Ana Maria Bahiana

Os bons companheiros

 

Depois de muito doce de parte a parte- Academia dizendo que queria trazer novas pessoas, ele dizendo que não tinha tempo disponível- Billy Crystal pos sua capa de super-herói e veio salvar o atribulado Oscar 2012. Pela nona vez na história do prêmio ele será o apresentador da cerimônia – produzida em ritmo de urgência por Brian Grazer e Don Mischer.

Fora o fato de Crystal ter anunciado sua participação no Twitter, sua escolha representa, na verdade, um retorno a tempos mais amenos e clássicos para o Oscar. Não é de hoje que a Academia tenta “modernizar” a festa – os fantasmas de Rob Lowe dançando com a Branca de Neve em  1989 ainda chacoalham correntes pelos corredores do prédio da Wilshire com LaPeer. Mas a lição de cada tentativa parecia passar batido pelas diretorias da organização: com mais de 80 anos de vida a cerimônia tem uma bagagem histórica e emocional que reage muito mal a “modernizações” superficiais.

Este ano o universo ou quem sabe os deuses padroeiros do bom gosto criaram uma crise prévia para evitar o que poderia ter sido o armageddon a cerimônia: um espetáculo com a produção criativa de Brett Ratner e a apresentação de Eddie Murphy.

O nome de Crystal sempre esteve presente ao fundo de toda crise, como uma espécie de desejo secreto dos fãs e dos próprios acadêmicos. A diretoria devia ter prestado mais atenção à ovação estrondosa que Crystal recebeu este ano quando subiu ao palco do Kodak para a homenagem a Bob Hope – outro apresentador que agregava a unanimidade de público e Academia. A sensação, no Kodak e na sala de imprensa, era de alívio _ ah, se ele pudesse ficar ali até o final da noite!

Meses depois, num evento promovido pela American Cinematheque, Crystal confessou que a entusiástica acolhida durante a festa trouxe boas lembranças e acendeu a vontade de voltar ao posto. Mas essas coisas não funcionam quando as pessoas se oferecem _ era melhor que o convite viesse…

Curiosamente, toda essa confusão teve um interessante efeito colateral: tornou os Oscars empolgantes de novo…


Crise no Oscar: Brian Grazer e a busca de um retorno à elegância
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Ana Maria Bahiana

Não, Grazer não levou um susto com o convite; o cabelo dele é assim mesmo.

 

Como se comentava, Brian Grazer, produtor com vasto curículo de sucessos cinematográficos , responsável tanto por Tower Heist quanto por J. Edgar e quatro vezes indicado ao Oscar, acaba de dizer sim à Academia. Grazer vai parceirar com o experiente Don Mischer na difícil tarefa de produzir o complicado evento em pouco mais de três meses.

O posto de apresentador continua, nesta tarde aqui em Los Angeles, em aberto. Um convite da Academia a Billy Crystal já foi recusado ; o igualmente experiente mestre de cerimônias do Oscar disse estar “muito ocupado” em fevereiro para poder aceitar a responsabilidade. Próximo da lista? Neil Patrick Harris, que arrasou quando foi apresentador dos Emmys (onde Mischer era o produtor).

O clima na Academia, esta tarde, foi  descrito como de “pânico e ansiedade”. Não é apenas uma questão de prazo _ é uma questão de percepção. Há anos o Oscar vem procurando uma mudança e um rejuvenescimento que não tem dado muito certo. Isso estava implícito no convite que Tom Sherak, presidente da Academia, fez a Ratner, em agosto: “Você gosta de comédia, sabe como fazer as pessoas darem risada, e nós queremos trazer mais diversão e alegria ao show”.

Ok, deu no que deu, e ninguém está rindo.

Pelo que pude sentir dos acadêmicos de várias alas, conservadores e vanguarda igualmente, é que todos sonham com um retorno à elegancia e à simplicidade, e esperam ver mais respeito e menos gargalhada em torno da cerimônia. “A Academia devia parar de tentar produzir os prêmios da MTV ou o People’s Choice Awards e se concentrar em trazer classe para os Oscars”, disse um deles.

Vamos ver…