Blog da Ana Maria Bahiana

Categoria : Gritos e sussurros

Alô, Kal-El: Hollywood depende de você!
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Ana Maria Bahiana

Para mim um dos aspectos mais interessantes de O Homem de Aço é seu impacto sobre o futuro da Warner. E, por consequência, seu impacto em toda a indústria, já que a Warner tem a maior fatia do mercado (mas não é o estúdio que mais cresceu no último ano – esse é o independente Film District, o que já dá um elemento interessante à conversa toda…)

Por partes:

O drama da super-escala. Com um orçamento de 225 milhões de dólares, O Homem de Aço não poderia ter feito menos do que fez em sua estreia recordista. Esse é um dos dramas do mega-cinemão:  em filmes destas dimensões, um retorno que não é super é um fracasso. A rede de segurança para algo como Homem de Aço são as ações de merchandising, parcerias e colocação de produto que, somados aos 128.6 milhões de dólares da bilheteria norte-americana, já cobriram dois terços do orçamento, um total de 170 milhões de dólares. O terço que falta virá, não tenho dúvida. O lucro? Mais uma vez, do mercado externo. A questão: Durante quanto tempo mais este modelo de produção/retorno em larga escala será sustentável? O que acontece com um estúdio quando um, apenas um desses mega-jumbos só se paga parcialmente, mesmo com altas bilheterias?

O enigma da franquia. A primeira franquia Super-Homem, que tanto indignou seus criadores, Jerry Siegel e Joe Shuster, estendeu-se de 1975 até 1987, e sua popularidade e rentabilidade foram encolhendo junto com a criatividade da franquia, terminando com o patético  Em Busca da Paz. O reboot de  2006 não gerou descendência. A Warner vai demorar um pouco até se comprometer com uma franquia de Homem de Aço – além do item que vem a seguir, o estúdio precisa saber se o desempenho em todas as frentes, especialmente no mercado externo, é o bastante para segurar uma série de filmes.

A indecisão dos parceiros. Legendary, a empresa de co-financiamento e co-produção que, desde 2005, racha os custos dos grandes projetos pop da Warner, inclusive as adaptações de propriedades da DC Comics, também ainda está decidindo uma coisa muito importante _ se continua ou não a parceria com a Warner, e, se continuar, em que termos. A Warner, que tem um novo presidente desde o começo do ano, Kevin Tsujihara, vindo do home entertainment, está avaliando se quer assumir 100% da propriedade dos mega-projetos – ous eja, 100% do risco– para ter um retorno de 100% de receita. A Legendary está avaliando a mesma coisa.  Homem de Aço é a principal cobaia dessa observação.

Quem seria o General Zod dessa história?

 

 

 


Apocalipse em breve: Spielberg e Lucas prevêem o “colapso do arrasa quarteirão”
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Ana Maria Bahiana

Lembram quando eu disse que tudo na industria do audio visual se resume a ciclos entre a primazia do rabo – a distribuição e o marketing – ou o cachorro– a criação?

Duas pessoas de grande peso nessa mesma indústria, personagens essenciais do ciclo dos anos 1970, concordam comigo.

Num seminário hoje, na inauguração do novo (espetacular, state-of-the art) prédio da Faculdade de Midia Interativa da University of Southern California, aqui no centro de Los Angeles, Steven Spielberg e George Lucas previram o fim do modelo do cinemão como é praticado hoje.  “Os estúdios estão obcecados em gastar muito para ter um retorno enorme, e isso não vai funcionar para sempre”, Lucas disse. “Porque o resultado dessas escolhas é que eles estão diminuindo cada vez mais o foco. As pessoas vão acabar cansadas do que eles oferecem. E aí eles não vão mais saber fazer outra coisa.”

“A coisa toda vai desabar”, Spielberg completou. “É inevitável. Três, quatro, talvez meia dúzia desses filmes de mega-orçamento vão despencar no chão e todo o paradigma vai mudar.”

Spielberg e Lucas chamaram atenção para o atual modelo, no qual “250 milhões de dólares são gastos em um filme super-inchado, em vez de vários menores e mais variados”, disse Spielberg. Lucas completou: “Notem que nós dois tivemos filmes menores, dentro dessa escala, que mal ficaram nas telas: LincolnRed Tails. Quando Spielberg e Lucas reclamam de que seus filmes não foram lançados direito… tem alguma coisa errada…”

O interessante é que, no final dos anos 1970, Spielberg e Lucas foram os principais responsáveis pela mudança de paradigma que encerrou a era dos pequenos filmes pessoais e, com Tubarão e Star Wars, inaugurou o conceito do arrasa-quarteirão.  Tudo é cíclico…

Spielberg e Lucas enumeraram os Davis que vão derrubar o Golias do cinemão arrasa quarteirão:

  1. TV e tudo o que está na tela pequena, “que está assumindo a produção independente e autoral”, segundo Spielberg
  2. conteúdo on demand, streaming diretamente nas telas de cada espectador
  3. games
  4. e “um tipo de narrativa interativa que estamos apenas vislumbrando, agora”, disse Lucas. (Spielberg, aliás, está produzindo, com o 343 Studios, uma série de ficção baseada em Halo, exclusiva para o Xbox Live).

A dupla dinâmica previu também que, depois da implosão do mega-blockbuster, os cinemas vão ficar ainda mais luxuosos, cobrando ingressos mais caros e mantendo os filmes em cartaz por meses “como um teatro da Broadway”.

Depois de alguns fins de semana com filminhos dando surra em filmões… quando será o apocalipse?


J.J.Abrams produz texto inédito de Rod Serling
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Ana Maria Bahiana

Rod Serling apresentando um dos episódios de Além da Imaginação

Rod Serling, um dos gênios da dramaturgia de TV e autor de uma das três séries mais bem escritas da história, segundo a Writers Guild – Além da Imaginação, 1959-1964- está de volta. J. J. Abrams, fã do pioneiro da TV, vai produzir e adaptar o último roteiro de Serling, a mini-série The Stops Along the Way.

Abrams vem há tempos negociando com a viúva de Rod, Carol Serling, não apenas com relação a Stops mas também quanto a outros textos e roteiros que seu marido deixou incompletos ou não-produzidos, ao falecer subitamente, de uma série de ataques cardíacos, em 1975, aos 50 anos. Em sua última entrevista, feita em março de 1975 num bar na Sunset Strip de Los Angeles, Serling menciona vários projetos em curso, e demonstra principal carinho por Stop, “um texto bem bonito”. Sua última frase, na entrevista, é profética: “Espero que se lembrem de mim como um escritor. Isso já é bastante. Todos nós temos um desejo de imortalidade.”

Já imortal pelo tanto que contribuiu em temas e linguagem para a evolução da TV, Serling agora será formalmente apresentado a uma nova geração de espectadores. The Stops Along the Way será produzido pela Bad Robot de Abrams em parceria com a Warner Brothers TV.


O que aprendemos com o fracasso de Depois da Terra
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Ana Maria Bahiana

Sabe por que você está vendo tantos cartazes, teasers e anúncios de Depois da Terra?

A resposta está no fim de semana sangrento na bilheteria norte-americana. Não estou nem me referindo ao episódio de Game of Thrones  de domingo que, fiel aos livros, trouxe a esperada virada violenta _ estou falando da surra que Depois da Terra levou de dois filmes sem estrelas do calibre de Will Smith: Velozes e Furiosos 6 e Truque de Mestre.

Como muitos de vocês leram por aí, em sua segunda semana em cartaz Velozes e Furiosos continuou no número um com mais de 35 milhões de dólares (um total acumulado de 171 milhões de dólares ), seguido pelo estreante Truque de Mestre com mais de 29 milhões de dólares. Depois da Terra estreou em terceiro, com 27.5 milhões de dólares. É muito difícil ir além saindo tão baixo.

Não tenho postado nem comentado sobre bilheterias principalmente porque números, sozinhos, só interessam a quem produz e distribui. O que me interessa nos relatórios de bilheteria (que leio religiosamente toda semana) são indicações de tendências, um modo de compreender melhor tanto o mecanismo interior da indústria que produz quanto da plateia que consome produtos audiovisuais.

Há cinco anos estamos dentro de um ciclo em que o rabo – a distribuição e o marketing—abana o cachorro- a criação do conteúdo. Não é novidade: esses ciclos se repetem desde que o cinema se tornou bem de consumo.  Durante um tempo, quem controla a produção é quem distribui, ou seja, o que entendemos como “os grandes estúdios”. Quando isso chega ao extremo, tudo vira de cabeça para baixo e, por um tempo, a criação passa a dar as cartas.

Para o penúltimo ciclo (dos anos 50 aos anos 80), leiam Easy Riders, Raging Bulls, de Peter Biskind, que saiu no Brasil (sim, a tradução é minha…) pela Intrínseca. Para o último ( dos anos 80 ao começo do século 21), Down and Dirty, do mesmo Biskind. Para uma visão geral, o ótimo The History of Independent Cinema, de Phil Hall.

A surra de Depois da Terra mostra que:

–        a presença de um mega-astro como Will Smith , sozinha, não atrai plateias quando o filme é notoriamente ruim, chato.

–       Um filme ruim e chato que tem a seu favor o poder de uma franquia, de uma mitologia conhecida, de um universo já criado anteriormente por quadrinhos ou TV, sobrevive.

–       Um filme geneticamente criado no laboratorio do marketing e distribuição não é infalível.

–       Um filme  sem grandes astros se garante junto ao público quando tem os elementos certos: o poder da franquia, no caso de Velozes e Furiosos, o poder de um bom conceito ; no caso de Truque, a direção veloz e a popularidade do diretor Louis Leterrier graças à franquia Transporter ( ao contrário do nome de M. Night Shyamalan, tão queimado que sumiu até dos cartazes de Terra…)

E aí entra você, cara leitora ou leitor no Brasil, cercado de posters por todos os lados: o único modo do filme recuperar seu orçamento de 130 milhões de dólares está na bóia salva vidas que tem escorado esta indústria desde a crise de 2008 – o mercado internacional. É por isso que filmes como Homem de Ferro 3 e Guerra Mundial Z estreiam primeiro fora dos EUA. É por isso que você vai ter uma overdose de Depois da Terra. Porque este mercado não tem mais a habilidade de segurar alguma coisa que custe mais que a média de 30 milhões de dólares gastas numa produção, aqui. E porque, mesmo com todas as tentativas de controle do conteúdo pela distribuição, não existem fórmulas perfeitas.


Continuação de Blade Runner ganha embalo: isso é bom ou ruim?
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Ana Maria Bahiana

Esta é o tipo da noíicia que não sei se lamento ou comemoro. Talvez a gente deva fazer as duas coisas…

Para comemorar: o projeto de uma continuação de Blade Runner,  que está em ritmo de vai e vem faz tempo, acaba de tomar embalo com a contratação do roteirista Michael Green para trabalhar o roteiro original, de 1982, escrito por Hampton Fancher. Na época, Ridley Scott e Fancher haviam pensado Blade Runner como uma trilogia, expandindo os personagens e tramas de Do Androids Dream of Electric Sheep?, a obra de Philip K. Dick que inspirou o  filme.

E agora começa a parte em que a gente, se não lamenta, pelo menos fica de orelha em pé: Michael Green é o autor, entre outros, dos seguintes roteiros – Lanterna Verde, e, na TV,  Heroes (da fase final…) e o hilariamente ruim The River, cancelado depois de uma temporada, com toda justiça.

Pausa enquanto Philip K. Dick mandar raios e trovões do Além.

Não quero ficar desconfiada, em princípio, do projeto de uma sequel. Acho, para começar, espetacularmente irônico, considerando a via crucis do primeiro filme, as brigas de Ridley Scott e Harrison Ford com a Warner, a primeira versão colocada nas telas de qualquer jeito, montada pelo pessoal da distribuição, o massacre da crítica… Este é o poder do público: descobrir, entender e abraçar um filme, transformando-o em algo tão valioso que…. merece uma continuação…

Se realmente esse sempre foi o projeto – expandir o mundo criado pelo texto e por Blade Runner — poderia ser algo super interessante. Mas essa escolha de roteirista está me deixando muito, muito preocupada…


A aposentadoria de Soderbergh não deu certo
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Ana Maria Bahiana

Soderbergh no set (e na câmera) de Behind The Candelabra. Adoro o detalhe da página do roteiro, toda rabiscada, no bolso…

E por falar na “aposentadoria” de Steve Soderbergh: coloquem mais aspas, por favor. Aparentemente o que ele não aguenta mais é o ritual cada vez mais frustrante e humilhante de tentar posicionar um projeto autoral no mercado de cinema. Trabalhar para TV não tem o menor problema: o próximo projeto de Soderbergh será a série The Knick, para o canal por assinatura Cinemax, divisão da HBO. Clive Owen, que vem desenvolvendo o projeto há tempos, será o astro e co-produtor executivo da série.

O “Knick” do título é o hospital Knickerbocker de Nova York, cenário da série em seu período pioneiro, a alvorada do século 20. Trata-se, portanto, de um drama hospitalar de época, sem desfribiladores, antibióticos e atores berrando “code blue!” … Com certeza uma opção interessantíssima.

A situação das finanças do mercado de produção audiovisual, hoje, está cada vez mais complicada, exigindo uma paciência e um acesso a fontes alternativas de investimento que Soderbergh, a esta altura de sua carreira, tem todo o direito de não ter e não procurar. Enquanto isso, a TV, que resolve de cara um dos maiores problemas de qualquer projeto audiovisual , a distribuição, está, aqui, investindo cada vez mais em talento de primeira linha e conceitos originais. Num passado não muito distante, um filme como Behind The Candelabra, com o nível de qualidade, valores de produção e elenco que tem, estaria automaticamente nos cinemas do mundo todo. Agora…

Ganha, de lavada, a telinha doméstica. Enquanto isso, confiram a outra série de TV de Soderbergh , K Street, de 2003,  co-produzida com George Clooney.


Novidades da temporada de prêmios: Seth não, Tina e Amy, talvez
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Ana Maria Bahiana

Enquanto preparo um outro post mais longo (e inter-estelar), as novidades da temporada-ouro:

– Seth McFarlane não será o host do Oscar 2014. “Não consegui encaixar na minha agenda: em alguma hora eu preciso dormir”, foi a explicação.

– Tina Fey e Amy Poehler serão convidadas para voltar aos Globos de Ouro, ano que vem. Agora é acompanhar os trâmites…

 

 


Admirável mundo novo: a Academia encara a era digital
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Ana Maria Bahiana

Damon Lindelof…

…e Mark Boal no evento da Academia.

Não havia um lugar vazio no teatro Samuel Goldwyn da Academia na noite de quarta feira. A fila tinha começado duas horas antes do evento, e muita gente teve que voltar para casa sem conseguir entrar para ver roteiristas, montadores e produtores discutirem como a tecnologia digital mudou, está mudando e ainda vai mudar ainda mais o modo como histórias são contadas no cinema.

O seminário, intitulado Turning the Page: Storytelling in the Digital Age (Virando a Página: Contando Histórias na Era Digital), foi algo inédito na Academia, a primeira vez que a organização propunha um debate público sobre o impacto das novas tecnologias sobre o coração mesmo da narrativa audiovisual. É parte da “nova visão” (palavras do presidente Hawk Koch durante a reunião geral de todos os membros, no início do mês) da Academia, aparentemente determinada a entrar com tudo no século 21. Até que enfim.

O encontro foi interessante e teve momentos sensacionais, como, por exemplo, depois da exibição, em silêncio respeitoso, de clipes de dois vencedores do Oscar, A Hora Mais Escura e Argo, ver a distinta plateia explodir em aplausos com a abertura de Além da Escuridão: Star Trek  (no fundo , no fundo somos todos adolescentes famintos por aventura na sala escura do cinema…).

J.J. Abrams no set de Além da Escuridão: Star Trek

Mas podia ter ido mais longe: a conversa se limitou às mudanças formais no processo de produção de um filme, sem mergulhar fundo na discussão, muito mais interessante e perigosa, das alterações conceituais que o novo modo de olhar e consumir narrativa, trazido pela tecnologia digital, está forjando.

O moderador John August, roteirista de, entre outros , A Fantástica Fábrica de Chocolate, A Noiva Cadáver, Sombras da Noite e Frankenweenie, abriu a noite com um ótimo aperitivo: a apresentação de No Signal, um viral do You Tube sobre como roteiristas odeiam admitir que um celular que funcione pode acabar com a maior parte de seus truques narrativos.

Isso teria sido uma conversa fantástica, que às vezes emergia em menções dos convidados, especialmente Damon Lindelof (Lost, Star Trek) e Mark Boal (Guerra ao Terror, A Hora Mais Escura): a plateia, hoje, sabe muito mais, compreende muito mais rápido, e não precisa ser, nas palavras de Boal, “pega pela mão como uma criança no primeiro dia de escola, para ser ensinada o que é o que e quem é quem em cada cena”.

O fato de que existe todo um novo contexto, uma “leitura meta” (palavras de Boal) do que antes eram segredos do ofício de realizador teria sido o estopim para um papo interessantíssimo sobre o futuro da narrativa, especialmente quando, em dez anos, praticamente toda a plateia do cinema e da TV terá crescido num mundo digital.

Seria assustador demais? A conversa não foi por aí… Nem abriram para perguntas da plateia, onde havia o maior índice de pessoas com menos de 40 anos que eu já vi na Academia (eu já estava preparada para mandar “E aquele episódio final de Lost, hein?”, pro Lindelof…).

Mas salvaram-se algumas coisas preciosas.  Como por exemplo:

A hora mais escura de A Hora Mais Escura.

– O oscarizado montador William Goldberg descrevendo sua reação ao receber, no seu laptop, as primeiras imagens das sequências do ataque à fortaleza de Bin Laden, em A Hora Mais Escura. “Eu estava no skype recebendo as imagens e falando com o Mark (Boal), sentado na minha sala ensolarada, aqui em Los Angeles, e as imagens ainda eram cruas, sem tratamento. E eu não via absolutamente nada. A tela do meu laptop era 100% negra, com um ou outro risco verde de vez em quando. E o Mark me perguntando: Então? Que tal? Arrepiante, não é? E eu pensando – como vou dizer para ele que eles não captaram nada?”

-Goldberg, novamente, explicando a minuciosa seleção de suportes físicos e técnicas de montagem para diferenciar cada um dos atos de Argo: o ataque à embaixada norte-americana em Teerã, o “projeto” em Hollywood e, finalmente, o resgate dos diplomatas. “Muita gente pensa que usamos material de noticiários da época nas cenas do ataque à embaixada. Mas o que Ben (Affleck) fez foi dar câmeras super-oito para os extras e pedir que eles filmassem à  vontade. Todas as imagens que vocês vêem e que parecem documentário, no início do filme, foram captadas assim.”

-O surgimento de um novo sistema de criação, mais coletivo e mais rápido, produto tanto do imediatismo da produção digital quanto da presença cada vez maior de criadores vindos da TV, acostumados a pensar em grupo.  “Hoje não precisamos terminar um roteiro para começar a filmar”, disse Lindelof. De fato – os dois Star Trek foram gerados com roteiro, filmagem e montagem rolando simultaneamente , cada processo interferindo no outro. “J.J. (Abrams) diz sempre a todos os seus atores _- não cortem o cabelo tão cedo”, disse Lindelof. “Vocês nunca sabem quando eu, as montadoras ou os roteiristas vão querer mudar essa cena.”

 

 

 

 

 

 

 

 


Ecos da reunião da Academia: o que esperar
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Ana Maria Bahiana

A cúpula do futuro museu da Academia, na maquete dos arquitetos Renzo Piano e Zoltan Pali.

A famosa e inédita reunião de todos os integrantes da Academia foi, pelo visto, apenas o começo de uma leva de atividades e possíveis mudanças (digo possíveis porque a Academia é um bicho que se movimenta de-va-gar….)

Eis o que esperar no futuro imediato:

  •  A manutenção do esquema de cinco a dez indicações para melhor filme. A diretoria da Academia considera essa alteração um grande sucesso e, me disse um acadêmico, “a chave para a maior popularidade dos Oscars”.
  • Mais mudanças na escolha do Melhor Filme Estrangeiro e, possivelmente, Documentários. A ideia, que ninguém ousa dizer alto, é abrir o processo de indicação dessas duas categorias para todos os votantes, acabando com os comitês. Ninguém acredita que isso vá se dar este ano, talvez nem no ano que vem, mas o fato do processo admitir, agora, o envio de DVDs e a possibilidade de ver os indicados em qualquer cinema já é  indicador de mudanças nessa direção.
  • Em breve os quase seis mil acadêmicos receberão um longo questionário sobre o desempenho, a governança e os objetivos da Academia e do Oscar. Muitas decisões serão tomadas a partir dessas respostas.
  • A Academia espera que seu  museu seja auto-sustentável. Ou seja, esperem iniciativas comerciais lá dentro (gift shops, eventos, etc). Uma grande e esperada fonte de renda serão as três salas de exibição que serão construídas dentro da “cúpula” anexa ao prédio da May Company, que será inteiramente reformado. A Academia quer tornar as salas do museu o ponto principal para premières e grandes festas da indústria. As obras começam ano que vem, com a inauguração prevista para 2017.
  • A diretoria da Academia considerou o Oscar 2013 “um enorme sucesso”, mas nem todos os membros concordam. Muita gente está resmungando bem alto com a rápida escolha dos mesmos produtores – Craig Zadan e Neil Meron – para a festa de 2014. “Deveria ter havido algum tempo para reflexão”, me confessou uma acadêmica.

Scorsese rompe o Silêncio, com Andrew Garfield
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Ana Maria Bahiana

Depois de mais de duas décadas tentando trazer para a tela uma adaptação de O Silêncio, de Shusako Endo, Martin Scorsese finalmente conseguiu dar partida no projeto: Andrew Garfield será o protagonista, o jesuíta Padre  Sebastião Rodrigues, que chega ao Japão em 1638 com a missão de investigar os fatos em torno de seu predecessor e mentor, o Padre  Cristóvão Ferreira, que teria abandonado a batina e a igreja e se casado com uma japonesa. Ken Watanabe e Issei Ogata completam o elenco,  e o roteiro é de um velho colaborador de Sorsese, Jay Cocks. A busca de locações já começou e as filmagens estão planejadas para o início de 2014.

Silêncio é um projeto profundamente pessoal de Scorsese que, na juventude, considerou seriamente se tornar padre. Ele completa uma trilogia de indagação filosófica sobre a natureza da fé, iniciada com A Última Tentação de Cristo e continuada com Kundun. E aí está todo o problema de Silêncio: os projetos que Scorsese consegue financiar com facilidade são sempre os dramas policiais que a plateia mais facilmente associa com seu nome. Cristo e Kundun passaram pelos mesmos apuros, que se tornaram ainda maiores neste momento em que apenas filmes seguramente comerciais ou de baixo orçamento conseguem recursos. Foram precisos os recursos do próprio Scorsese, mais os da produtora belga Corsan Films, mais as produtoras de Irwin Winkler, Vittorio Cecci Gori e George Furla para dar o pontapé inicial – o restante do orçamento será levantado no mercado de Cannes, que acontece durante o festival.

O Silêncio já foi levado à tela uma vez, em 1971, por Masahiro Shinoda. Em novembro deste ano estreia The Wolf of Wall Street, a mais nova colaboração de Scorsese com Leonardo Di Caprio.