Blog da Ana Maria Bahiana

Categoria : Corrida do Ouro

Analisando a pré-lista do filme estrangeiro no Oscar
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Ana Maria Bahiana

Kon Tiki, da Noruega, um dos nove filmes pré-selecionados para o Oscar

E o balaio do filme estrangeiro do Oscar, hein? Sinto muito não ver o Brasil– com O Palhaço, de Selton Mello –  na lista mas sinceramente não me surpreendo. Há muita coisa que precisa ser feita para realmente termos chance de comprar essa briga, e que vai da escolha do representante no Oscar até uma verdadeira estratégia de campanha, aqui. Infelizmente não tenho visto nenhum desses passos estratégicos  nos últimos anos.

A lista repete muita coisa da seleção dos Globos de Ouro, mais uma vez afirmando a importância desse passo na trajetória de um filme estrangeiro por aqui — algo que o Brasil tem ignorado com uma teimosia que se reflete proporcionalmente na sua ausência. (Atualizo a informação: no final, tivemos três filmes inscritos para o Globo de Ouro: Xingu, Heleno e O Som Ao Redor. Mas todos entraram na última hora, literalmente. E com isso não tiveram tempo para fazer  a campanha que é essencial para se destacar na selva dos prêmios).

Dos nove do balaio do Oscar, quatro são também indicados ao Globo de Ouro:o grande favorito Amour que, acho, vai ganhar ambos; o noruegues Kon-Tiki, uma bela lição de como transformar uma cinebio de aventura num exercício de reflexão existencial; o dinamarquês A Royal Affair, da estrela ascendente da Zentropa (e roteirista original da série Millenium), Nikolaj Arcel; e Os Intocáveis, que joga descaradamente para a arquibancada, e tem ainda por cima a força da pressão dos irmãos Weinstein.

Outros três do balaio eram francos favoritos e por pouco não foram indicados aos Globos: o chileno No ( nota pessoal: me encantou profundamente e me deu saudade do que não vivi) que tornou-se o representante da América Latina na disputa; o romeno Beyond The Hills, de Cristian Mungiu, um favorito pessoal meu, todo em planos-sequência e luz natural; e o islandês The Deep, uma espécie de Náufrago nas águas geladas do Mar do Norte,e que já rendeu ao seu ótimo diretor, Baltasar Kormákur, dois projetos aqui em Los Angeles.

Surpresas mesmo foram o suíço Sister, sobre a complicada relação entre irmãos num resort de luxo, e o canadense Rebelle/War Witch, que tem um diretor de origem vietnamita e se passa inteiramente num país da África Central estraçalhado pela guerra civil.

Ausências notáveis: o coreano Pietá, vitorioso em Veneza; o maravilhoso italiano Caesar Must Die, dos irmãos Taviani, vencedor em Berlim; o alemão Barbara, outro favorito meu, mais um poderoso perfil de mulher vindo da Europa; e o holandês Kauwboy, que tem dois elementos normalmente irresistíveis para os acadêmicos _ criança (um menino) e bichinhos (no caso, uma gralha).

Agora é pensar quais desses nove vão de fato tornar-se indicados, dia 10 de janeiro.


A última safra do ano, parte I: uma visita ao inferno. E à Terra Média.
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Ana Maria Bahiana

Todo mundo que acha que tem chance de ganhar alguma coisa –uma indicação, no mínimo – lança filme nos últimos instantes do ano. E, como comentei há pouco no twitter, a estratégia, de tanto ser repetida nos últimos anos, treinou bem os votantes: porque estreou entre novembro e dezembro, muita gente se sente na obrigação de indicar.

Passei a peneira nos lançamentos “para sua consideração” que encheram meu calendário nestes últimos quinze dias e apenas alguns ficaram. Estes dois foram os primeiros:

A ideia de um filme sobre a caçada a Osama Bin Laden me pareceu, a princípio, prematura, imatura e possivelmente mal intencionada. Me lembrei da safra de filmes lançados nos anos imediatamente a seguir dos ataques do 11 de setembro, que me pareciam, todos, mal disfarçadas peças de propaganda. Ver A Hora Mais Escura (Zero Dark Thirty)  me obrigou a rever todos os meus temores.

Trabalhando mais uma vez com um roteiro de Mark Boal (Guerra ao Terror), Kathryn Bigelow mantem seu olhar ao mesmo tempo compassivo e impassível.

Os primeiros 20 minutos de Hora são absolutamente brutais e absolutamente necessários: os gritos e gemidos (verdadeiros) das pessoas encerradas nas Torres Gêmeas são mais eloquentes que qualquer imagem, e dissolvem-se em outros gritos e gemidos, os de um prisioneiro sendo torturado num dos muitos “centros especiais de confinamento” que se seguiram, na era Bush, aos ataques do 11 de setembro. Estamos num verdadeiro círculo do inferno descrito por Dante, onde violência sem sentido dá origem a mais violência sem sentido, onde carnificina gera tortura que gera mais carnificina.

É fútil (ainda bem) procurar uma agenda política em Hora. Bigelow conduz a história como um thriller do qual conhecemos o final mas não a trajetória, e seu olhar – as escolhas de composição, o ritmo das sequências – mantem-se equilibrado, pedindo que nós, na plateia, pensemos e tiremos nossas conclusões.

Boal usa um artifício comum em histórias baseadas em fatos verdadeiros: sintetiza várias pessoas em uma só, criando personagens fictícios que representam várias facetas dos reais protagonistas (algo ainda mais importante aqui, quando as fontes eram altamente confidenciais). Mas Maya, a protagonista interpretada (maravilhosamente) por Jessica Chastain é uma pessoa de verdade, uma funcionária do médio escalão da CIA cuja tenacidade e inteligência  levaram à localização de Bin Laden.

É facil notar a identificação de Bigelow com Maya – mulheres no centro de um mundo dominado por homens, conscientes de que suas meras presenças são sinais de mudanças radicais. Chastain é uma atriz de sutilezas, que Bigelow explora muito bem : há uma multidão de emoções em seu rosto, do horror à fúria, da repulsa à revolta. Mas sobre todas elas reina o autocontrole de quem sabe que, numa visita ao inferno, quem não se distancia se queima.

 A Hora Mais Escura estreia dia 14 nos EUA e dia 18 de janeiro no Brasil.

Alguns filmes tem um poder especial pelo menos sobre mim, não sei se sobre vocês: eles imediatamente me remetem aos primeiros anos do meu caso de amor com o cinema, quando ver um filme era me perder num outro mundo. O Hobbit (The Hobbit: An Unexpected Journey) teve esse efeito.

O que não é pouca coisa _ sou fã da trilogia Senhor dos Anéis, mas não gosto do livro O Hobbit. Sempre me pareceu uma obra superficial, apressada, com ideias que não eram plenamente desenvolvidas e um tom infantil que contrasta com o poder metafórico, adulto, de Senhor dos Anéis.

Talvez tudo o que o livro precisasse fosse mesmo o talento combinado das roteiristas Fran Walsh e Philippa Boyens e do diretor Peter Jackson. Está certo que ainda acho Senhor dos Aneis superior como obra mas, ao incorporar as notas e material inédito deixados por Tolkien, Walsh, Boyens e Jackson deram mais detalhe aos personagens e à trama, e fizeram a conexão com o mundo da Terra Média que se desenvolveria, de modo mais complicado, na trilogia.

Ainda acho, também, que, mesmo com essa nova perspectiva, O Hobbit dificilmente aguenta três filmes. Suspeito que, em circunstâncias diferentes, Jackson não teria esticado a primeira metade do seu filme como fez. Mesmo com todo o seu esplendor visual (mais sobre isso daqui a pouco) o filme só pega embalo mesmo quando Bilbo (Martin Freeman) e a companhia de anões liderada por Thorin (Richard Armitage) despencam terra abaixo pelo reino dos goblins, e nosso herói se vê cara a cara com aquele que, para mim, é o personagem mais fascinante de toda o ciclo de histórias: Gollum.

Neste momento eu faço uma pausa para lamentar, pela milionésima vez, o não-reconhecimento de Andy Serkis como um dos melhores atores que temos, hoje, e o pioneiro no desenvolvimento da complicada arte de criar um personagem através de mocap. Hobbit torna-se fascinante, terrível, empolgante a partir do momento em que o Gollum de Serkis esgueira-se de trás das rochas num lago subterrâneo e propõe a Bilbo um jogo de enigmas ( elemento clássico de toda boa lenda). Num mundo que, até então, era habitado unicamente por criaturas fantásticas, o Gollum de Serkis é supreendentemente humano, um ser aprisionado nas cavernas de seu próprio espírito. É o primeiro personagem com todo o fôlego metafórico que Tolkien imprimiria a trilogia Senhor dos Anéis, e sua entrada em cena eleva O Hobbit a um outro plano do qual, com todos os sustos, não queremos mais sair.

E os 48 quadros por segundo? Não me incomodaram nem um pouco. O hiper-realismo que eles dão às imagens tem uma qualidade que aproxima o fantástico de nossa visão cotidiana, como se um dia pudéssemos de fato acordar numa toca debaixo de uma colina e achá-la tão real quanto a geladeira, o microondas e a TV de nossas casas habituais. No 48 fps as sofisticadas composições digitais se integram naturalmente com as imagens captadas de modo tradicional, e os mundos da imaginação e da percepção se abraçam e se confundem.

Não é opção estética para qualquer filme. O 48 fps mataria, por exemplo, a sensacional composição naturalista que Cristian Mungiu imprimiu ao seu Além das Montanhas  (que estreia no Brasil dia 11 de janeiro e eu recomendo com entusiasmo) ou o estilismo expressionista de Nicolas Windig Refn em Drive. Mas numa obra de plena fantasia como esta, é um grande recurso.

O Hobbit estreia aqui e no Brasil dia 14.


Heróis, vilões e o preço de ser humano: quatro lançamentos da temporada ouro
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Ana Maria Bahiana

Tanta coisa aconteceu nas últimas semanas por aqui que fiquei em super dívida com vocês… Aqui, os filmes que mais me impressionaram nesse tempo em que corri de um lado para o outro:

O conceito do presidente como herói/anti herói é comum na filmografia norte americana, atravessando praticamente todos os gêneros, do drama e thriller político à comédia romântica, rasgada e surreal (Marte Ataca!, por exemplo). É algo que dificilmente se imaginaria na produção de outros países, mas que faz sentido numa nação que elege presidentes há  237 anos, sem interrupções, ditaduras ou golpes militares.

Lincoln (em cartaz nos EUA, dia 25 de janeiro no Brasil) encontra Steven Spielberg em seu modo Amistad, refletindo sobre a história da nação norte americana, principalmente em uma de suas falhas fundamentais – a chaga da escravidão, e seus longos, dolorosos tentáculos até hoje.  Três elementos são o destaque do filme: o roteiro de Tony Kushner (Angels in America, Munique), veloz, erudito, incorporando tanto a complexidade do momento histórico (os momentos finais da Guerra Civil, a luta, no Congresso, para aprovar a lei que abole a escravidão) quanto o ainda mais complicado mundo interior do presidente; a fotografia espetacular de Janusz Kaminski, colaborador de fé de Spielberg; e o desempenho paranormal de Daniel Day Lewis como Abraham Lincoln.

Algo muito interessante aconteceu nesta colaboração: o roteiro de Kushner, centrado nos dilemas pessoais, sociais e políticos que, através de um grupo de pessoas – Lincoln, sua familia, seu braço direito William Seward (David Stathaim), o militante abolicionista Thaddeus Stevens (Tommy Lee Jones, genial) –  acabam impulsionando toda uma sociedade adiante, trava o impulso de Spielberg pela glamourização, pelo sentimental. E o calor passional de Spielberg ilumina e torna humano o que poderia ser um árido discurso sobre trâmites políticos na jovem nação norte-americana.

A notar: os igualmente ótimos desempenhos de Sally Field como Mary , esposa de Lincoln;  uma breve aparição de Joseph Gordon Levitt como Robert, seu filho mais velho; e James Spader, quase irreconhecível, como um antepassado de todos os lobbyistas que hoje  são a fauna mais comum de qualquer capital de Estado.

 Anna Karenina começou  como algo que, hoje, chamaríamos de novela: um folhetim encartado no periódico O Mensageiro Russo, suas oito complexas e generosas partes se estendendo de 1873 a 1877. Não é a toa que o que poderia se resumir a  um conto – mulher da alta sociedade da Russia Imperial, casada com influente político, tem um caso com um homem mais jovem e cai em desgraça —  tornou-se um vasto panorama da elite imperial, com um  15 personagens principais e mais um amplo sortimento de figuras secundárias.

Continuando seu ciclo de adoração cinematográfico-literária a Keira Knightley, Joe Wright (Orgulho e Preconceito,  Desejo e Reparação, Hanna) fez uma opção radical para sua adaptação do texto de Tolstoi: colocou  a maior parte de sua Anna Karenina (em cartaz nos EUA, dia 1 de fevereiro no Brasil) no interior de um velho (e lindo) teatro.

Como artifício dramático, é um espetáculo – Wright coloca os personagens de Tolstoi como elementos de uma grande performance pública, cada um representando seu papel no drama contínuo de uma sociedade altamente estratificada, dividida em classes hermeticamente fechadas. O artifício de transformar as coxias do teatro nas ruas de Moscou, a alta estilização da composição das cenas ( o balé dos burocratas, inspirado numa frase do texto de Tolstoi – “a burocracia é a alma da Russia”- é sensacional), o tom hiper-realista das caracterizações são empolgantes como estética.

O que se perde é a conexão emocional – Anna Karenina é uma obra linda mas fria, na qual o único ser humano parece ser o Karenin de Jude Law, atormentado entre a obrigação de agir de acordo com seu posto social e algo que pode ser, no fundo do seu coração, o pulsar de um afeto. Keira tem a estutura óssea de uma prima ballerina e a câmera está eternamente apaixonada por suas maçãs do rosto. Mas é talvez a mais gelada e distante de todos os lindos marionetes deste marzipan cinematográfico.

É um  sinal dos tempos: dois filmes se debruçam sobre a figura e a obra de Alfred Hitchcock. Um, feito para a TV (The Girl, de Julian Jarrold, para a HBO), ocupa-se de Hitch na época da realização de Os Pássaros; outro, com lançamento em circuito (Hitchcock, de Sacha Gervasi, estreia hoje nos EUA, dia 8 de fevereiro no Brasil) , é focado nos bastidores de Psicose.

E sabem qual é o melhor? O da TV. Jarrold preocupa-se em desconstruir a própria estética de Hitchcock e usar seus elementos para lançar luz nos vãos mais sombrios de sua alma, e Tobby Jones cria um Hitch de dentro para fora, organicamente e não como uma “personificação”.

Anthony Hopkins tenta fazer o mesmo em Hitchcock, mas, por incrível que possa parecer, a pesada maquiagem quase não deixa que ele trabalhe. Gervasi é um diretor simpático, responsável pelo delicioso documentário Anvil! The Story of Anvil. Mas me parece muito peso-leve para atacar um assunto complexo como Hitch. Trabalhando com um orçamento reduzidíssimo e apenas 35 dias de filmagem, ele criou um pequeno filme divertido que, ironicamente, teria sido mais apropriado para a TV.

Hitchcock oscila entre drama e comédia, aproximando-se da complicada mente do diretor mas temendo aprofundar-se em seu labirinto. Seus melhores momentos são os que comentam os eternos absurdos da indústria cinematográfica, a luta de Hitch para realizar seu projeto, as bizarras negociações com executivos e censores.

É interessante ver os dois lado a lado, em ordem cronológica – Hitchcock primeiro, The Girl em seguida. Alfred, o homem e o gênio, provavelmente não é nem nem outro.  Mas quem, décadas depois de sua passagem entre nós, pode ainda despertar tantas perguntas sem resposta?

E finalmente – eu não poderia deixar de comentar Skyfall.  O primeiro filme adaptado dos livros de Ian Fleming – 007 contra o Dr. No, de 1952 – trazia um conceito revolucionário no gênero “ação”: o espião como herói.  James Bond era um efeito colateral da guerra fria – até então, espiões, quando apareciam, eram sujeitos sórdidos, traiçoeiros, nada confiáveis. Um mundo em que conflitos passavam a ser, eles mesmos, secretos e indefinidos, abria espaço para que a atividade obscura fosse, enfim, heróica.

Mais de meio século depois, o impasse era: o que fazer com um ícone que já não parecia ter utilidade num mundo de guerras via bombardeios teleguiados, vírus pela internet e satélites-espião?

Trabalhando com um roteiro a três , mas principalmente do ótimo John Logan, Sam Mendes ataca o dilema de frente. Em suas mãos, o Bond de Daniel Craig é antes de mais nada um signo, um elemento dramático a ser composto como parte de lindos, elaborados panoramas visuais, de Xangai à Escócia. Humanos mesmo são o vilão Silva de Javier Bardem, e a extraordinária mãe-coragem M, de Judi Dench, lados opostos nessa dança mortal pelo controle de um mundo, na verdade, incontrolável.

 


Adeus, Emmys – agora, a correria dos outros prêmios
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Ana Maria Bahiana

E aí, gostaram dos Emmys? Da minha parte, resumidamente:

  • A abertura foi xoxa, comparada com anos anteriores (lembram do “Born to Run” de Jimmy Fallon e companhia em 2010?)
  •  Não aguento mais Modern Family, me pareceu um voto preguiçoso, especialmente considerando que este ano, além da eternamente injustiçada Big Bang Theory (será que só vão premiar quando ela definitivamente não for mais o que era? Prêmio faz muito disso…), tínhamos as excelentes estreantes Veep e Girls.
  • Homeland é uma bela série, mas o nível da dramaturgia e direção de Mad Men e Breaking Bad é muito superior – são duas séries que já fazem parte da história da TV contemporânea, e que se provaram ao longo do tempo, desenvolvendo magnificamente seus personagens e tramas.
  • Perder na “minha” categoria – categoria especial – para os Tonys foi um prazer. Explico o “minha”: fui, como consultora de roteiro, parte da equipe do show de entrega dos Globos de Ouro 2012, indicado na “categoria especial” dos Emmys, este ano, primeira indicação que o evento recebe. Eu me senti super lisonjeada, mesmo com meu papel minúsculo na empreitada. E não me importei nem um pouco em perder para os Tonys.

Mas o assunto da cidade, agora, não é mais Emmy, mas a momentosa temporada dos prêmios de cinema, que se aproxima com a mesma velocidade fulminante do temperamental outono angeleno (um dia, calor escaldante; dia seguinte, chuva, 17 graus e folhas pelo chão).

O amador, bizarro e propositalmente incendiário filmeco feito por um egípcio num subúrbio ao sul de Los Angeles acabou de custar alto para o cinema iraniano : em represália ao tal Innocence of Muslims, o Irã decidiu boicotar os Oscars e não submeter nenhum título este ano.

A história desse filmeco é um interessantíssimo tema para uma discussão sobre liberdade de expressão, responsabilidade e intolerância, mas neste momento o que mais lamento é a ausência do cinema iraniano numa das maiores janelas de exposição do mundo – e um ano depois  da vitória do sensacional A Separação.

A mudança das datas é uma história mais complexa_ e vamos esclarecer, o anúncio das indicações aos Globos de Ouro, dia 13 de dezembro, continua sendo antes do anúncio das indicações ao Oscar, dia 10 de janeiro. Para começar, não creio que isso altere em nada o efeito-balaio que os Globos de Ouro tem sobre os demais prêmios. Sempre disse que os Globos criam uma pré-seleção com suas indicações, não com seus vencedores – a composição, temperamento e ponto de vista dos votantes é completamente distinta. Uma olhada nas listas de indicados, ano a ano, comprova esse fator – e as diferenças entre os vencedores mostra como clareza os diferentes critérios de escolha de Academia, Guildas e correspondentes estrangeiros.

E aqui está o x da questão, que ainda não vi comentada com a importância que merece, a não ser num artigo da Variety: ao mudar a data de entrega das indicações para dia 3 de janeiro a Academia encurtou em cruciais 10 dias o tempo de reflexão e, em tese, de acesso aos filmes concorrentes.

Bato nessa tecla porque ela explica muito sobre a personalidade e a natureza das premiações. Os Oscars são escolhidos por pessoas que fazem cinema e, em sua maioria, não tem tempo, paciência ou inclinação para  ver todos os filmes qualificados. Os Globos são escolhidos por pessoas que, por oficio, precisam ver a maioria dos filmes exibidos ao longo do ano e que, portanto, estão qualificados.

Ao roubar 10 preciosos dias do tempo que os acadêmicos teriam para , em tese, ver os filmes do ano, deu ainda maior importância para a pré-seleção que os Globos já terão feito e anunciado dia 13 de dezembro.

Na verdade, o único impacto importante da antecipação foi sobre os estrategistas, que agora tem que correr com a bola durante novembro e dezembro, sem parar, pulando por cima de festas e férias.

E – outra coisa que lamento muito – essa pressa toda pode tornar a competição especialmente injusta para filmes menores, independentes, sem condições de fazer barulho.

Vamos ver o que acontece…


A batalha pelas estatuetas de metal, parte 3: o zum-zum dos festivais e as promessas da animação
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Ana Maria Bahiana

Enquanto vocês curtiam o feriadão, algumas coisas interessantes aconteceram por aqui,  cada uma delas acrescentando mais um pouco de foco e detalhe ao panorama do fim de ano – que, por sua vez, é quando se estabelece o tema e o tom deste momento na indústria cinematográfica.

Na Academia – que tem presidente, diretor executivo e chefe de marketing novos este ano – os planos para o Oscar 2013 começam a tomar forma. Os premiados com Oscars honorários, este ano – aqueles que foram tirados da cerimônia principal e colocados num evento fechado, em novembro – não incluem nem atores, nem atrizes, nem diretores de ficção. Jeffrey Katzenberg, mega-executivo e presidente da DreamWorks Animation (e um dos responsáveis pelo renascimento da Disney nos anos 1980 e 90) ficou com o troféu Jean Hersholt, por atividades filantrópicas, e George Stevens Jr., um dos fundadores do American Film Institute, ganhou um Oscar honorário.

Para mim, os mais interessantes são os outros dois Oscars honorários: D.A. Pennebraker, mestre documentarista e responsável por alguns dos filmes formativos da minha vida – Monterey Pop, Don’t Look Back, Ziggy Stardust and the Spiders From Mars (cujo poster está aqui atrás de mim enquanto escrevo) – e Hal Needham, um dos pioneiros do árduo ofício de dublê profissional (Star Trek e Missão Impossível na tv, e dezenas de títulos no cinema, inclusive Operação França, Rio Lobo, Chinatown e Nasce uma Estrela) e inventor do atual modelo de camera car, que permite tomadas em movimento realistas e de baixo risco.

Os Globos de Ouro continuam no mesmo formato de sempre  (mas ainda não se sabe quem será o host…), e dia 1 de novembro conheceremos o recipiente do troféu Cecil B. de Mille, por conjunto de obra. E, como este ano é o 70 ° aniversário do premio ( e da Associação dos Correspondentes Estrangeiros que o outorga) teremos um troféu especial, a mais, que só será entregue desta vez… conto mais assim que souber…

Na bilheteria, a crise criativa se tornou espetacularmente aparente: este fim de semana foi a pior arrecadação desde o ataque às Torres Gemeas, quando um trauma real paralisou produção e consumo de entretenimento. As coisas estavam tão ruins – 37% a menos que a pior bilheteria deste ano — que o filme com maior venda de ingressos por sala foi…. Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida, relançado em Imax. Ou seja – reciclagem por reciclagem , melhor rever o original.

E os primeiros ecos dos festivais de outono, Veneza e Toronto, apontam The Master, de Paul Thomas Anderson, e Argo, de Ben Affleck, como os pesos-pesados confirmados do final de ano. Não fosse um item do seu regulamento, The Master teria levado o Lido inteiro. Como não levou, abriu-se um foco de luz sobre o coreano Pieta, de Ki-duk Kim, na disputa de filme estrangeiro (onde, cada vez mais, reina Amour, de Michael Haneke).

 Cloud Atlas ganhou uma excelente matéria da New Yorker (que, entre outras coisas, documenta com precisão o que é levantar a arquitetura de financiamento de um projeto original, hoje…) e foi ovacionado em sua primeira sessão em Toronto, mas eu não percebo a unanimidade que cerca Master e Argo. E não é apenas porque as resenhas foram meio a meio – é porque há mais entusiasmo pelas tranças pink de Lana Wachowski (ex-Larry) do que pelo filme como um todo.

Vou conferir todos eles em breve, e continuo monitorando as reações dos formadores de opinião – estou bastante curiosa para saber o que, num ano de eleição, crise econômica e colapso de bilheteria, o cinema poderá expressar, coletivamente.

O que nos leva aos longas de animação. Quando a categoria foi criada nos Oscars, 10 anos atrás – e , cinco anos depois, nos Globos de Ouro, como resultado de uma campanha da qual tenho orgulho de dizer que participei – haviam basicamente três contendores: Disney, Pixar e DreamWorks (a última ganhou o primeiro Oscar com Shrek, a Pixar ficou com o primeiro Globo por Carros).

As coisas mudaram muitíssimo nos últimos anos – um olhar sobre os indicados das premiações deste ano revelam um panorama muito mais amplo, pontuado por estreantes (como a Paramount com Rango e a Fox  com O Fantástico Senhor Raposo) e independentes de paises fora dos EUA (O Segredo de Kells– que foi feito em grande parte no Brasil—  O Ilusionista, Um Gato em Paris, Persepolis, Chico e Rita).

Acho que a disputa deste ano será particularmente saborosa. A Pixar vem com Valente, que literalmente estabeleceu um novo padrão de qualidade na animação digital,  a Disney tem Frankenweenie, de Tim Burton, a DreamWorks vem com A Origem dos Guardiões e Madagascar 3 (um dos maiores sucessos de bilheteria de um ano de vacas anoréxicas).

Mas é sobretudo no território além dos pesos- pesados que vejo grandes possibilidades: Piratas Pirados!, da Sony/Aardman; Paranorman, da Focus;/Laika (os mesmos de Coraline) ; Hotel Transilvania, da Columbia, e O Lorax- Em Busca da Trúfula Perdida, da Universal.

From Up Poppy Hill, do Studio Ghibli

E atenção especial a uma pequena companhia que, título por título, pode ser a mais poderosa distribuidora no mercado norte-americanio: a Gkids, especializada em animação independente de qualidade e produtora do Festival Internacional do Cinema Infantil de Nova York – que qualifica para os Oscars…

Em 2011, a GKIds emplacou Chico & Rita e Um Gato em Paris. Para este ano a Gkids vai lançar cinco títulos dentro dos prazos qualificadores: From Up Poppy Hill, do Studio Ghibli do Japão, A Letter do Momo, também do Japão, e os franceses Zarafa, Le Tableau e o meu favorito, The Rabbi’s Cat (sobre um gato que engole um papagaio e se torna subitamente douto em doutrina judaica). É uma imensa lufada de ar fresco e novas ideias vindas de outros quadrantes, que o departamento de animação da Academia tem recebido de braços e olhos bem abertos.


A batalha pelas estatuetas de metal, parte 3: uma boa maré para os estrangeiros
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Ana Maria Bahiana

 

O Festival de Cinema de Telluride, que começa hoje na deliciosa cidadezinha das Montanhas Rochosas, no estado do Colorado, é um ótimo gancho para pendurar a terceira parte de nossa elucubração sobre o panorama geral do segundo semestre — que é focado, em sua parte mais importante, na batalha por indicações e, se tudo der certo, estatuetas de metal.

Uma pausa para explicar porque tanta gente graúda gasta tanto tempo e dinheiro para ser indicado ou receber uma láurea que, em si mesma, não traz nenhuma recompensa financeira:

  1. Prestígio. Ser indicado ou ganhador de um prêmio de primeira linha imediatamente atira uma carreira numa dimensão muito mais elevada de poder e cachê dentro da indústria. O que cada um faz com esse prestígio cabe à sabedoria (ou falta dela) individual.
  2. Acesso. Para um grande segmento de criadores e trabalhadores da indústria – documentaristas, realizadores  estreantes, independentes ou de países estrangeiros, atores, técnicos , roteiristas – uma indicação é a diferença entre ser um joão-ninguém hoje e alguém conhecido amanhã. Esta é uma indústria que só dá acesso a quem tem algum tipo de endosso e recomendação. Uma indicação é o endosso mais elevado possível.
  3. Munição de marketing. Num mercado dividido pelo consumo individual (TV, internet, tablets) de entretenimento e afogado em arrasa-quarteirões, uma indicação é o trunfo mais precioso do mundo para um filme desprovido do grande  suporte  de um estúdio. Dentro dos grandes estúdios, projetos que não tem perfil-pipoca são imediatamente analisados pelo seu potencial de emplacar na temporada-ouro – porque esse é seu principal trunfo para atrair público. Fora dos estúdios, essa munição é quase o santo Graal.

Tendo dito isso… Telluride é um pequeno festival – apenas três dias, rigoroso processo de admissão,  acesso restrito, curadoria cuidadosíssima – que, na verdade, é uma das melhores peneiras para determinar quem tem chance de passar para a segunda etapa da briga pelas indicações.

Matthias Schoenaerts e Marion Cotillard em Rust and Bone

 

A lista de filmes escalados para este ano revela alguns já mencionados aqui, como Hyde Park on the Hudson. Mais importante, contudo, são dois outros elementos: as exibições –supresa, que em geral emplacam firme nos prêmios (ano passado foi Os Descendentes), este ano foi Argo, de Ben Affleck, superbem recebido.; e a predominância dos filmes não-americanos na seleção.

Tenho dito e vou repetir – desde a floração dos anos 1970 nunca houve um momento melhor para cinematografias e realizadores fora dos Estados Unidos. Não digo apenas do ponto de vista de bilheteria – o icônico O Artista é uma exceção, mas também uma demonstração importante de que, as vezes, o improvável é possível – mas do ponto de vista de exposição, reconhecimento.

Dentro da lista de Telluride (eu, se fosse de alguma entidade selecionadora para os Oscars, imediatamente escolheria estes filmes para representar seus países para “melhor filme estrangeiro”), os destaques são Amour, de Michael Haneke, que já vem premiado de Cannes; Rust and Bone, de Jacques Un Prophete Audiard (que ainda por cima tem Marion Cotillard e Matthias Schoenaerts , de Bullhead); o australiano The Sapphires, que fez sucesso em Cannes; e o britânico Ginger and Rosa, de Sally Potter.

Não há Brasil em Telluride – mas há o chileno No, de Pablo Larraín – e ignoro o que pode estar se passando pelos bastidores das escolhas oficiais. Aqui, depois de um bom tempo sem grandes repercussões para filmes do Brasil (que, eu sei, estão fazendo grande sucesso no país, o que é ótimo. Mas atravessar fronteiras é um desafio diferente…), O Som ao Redor, do pernambucano Kleber Mendonça Filho, vem provocando muito zum-zum desde sua exibição no festival de Rotterdam, e ótimas críticas em sua estreia aqui em circuito limitado. Vamos ver…

No episódio final da saga, a questão da animação e porque a microscópica Gkids pode ser a mais poderosa pequena distribuidora da indústria.


A batalha pelas estatuetas de metal, parte II: fantasia, cantoria e Tarantino
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Ana Maria Bahiana

E saga da Batalha pelas  Estatuetas continua…. Este ano os votantes vão se ver diante de muitos elementos fantásticos: além de O Cavaleiro das Trevas Ressurge – que, me contaram, vai mesmo fazer uma investida firme “para sua consideração” na temporada de prêmios – teremos O Hobbit-Uma Jornada Inesperada, de Peter Jackson, e As Aventuras de Pi, de Ang Lee.

São, obviamente, criaturas completamente diferentes. Com toda seriedade que Nolan imprimiu à sua trilogia, Cavaleiro das Trevas Ressurge ainda é um filme de super herói, para o qual muita gente entre os votantes torce o nariz. Neste momento, ainda vejo Ressurge como um fortíssimo candidato em todas as categorias técnicas. O que vai acontecer além disso vai depender muito da estratégia e perseverança da Warner.

A primeira exibição de cenas de O Hobbit, na CinemaExpo de Las Vegas, quatro meses atrás, não foi exatamente bem recebida. Uma das descrições menos agressivas que ouvi dizia que as imagens em ultra-alta-resolução pareciam “de cenas de uma novela muito ordinária” e que “tiravam o aura de mistério do cinema”. Pode-se argumentar que a plateia da CinemaExpo é predominantemente de proprietários de cinemas e executivos de distribuição. Mas também pode-se contra-argumentar que havia muita gente de outras áreas em Las Vegas, e que um bocado dessa plateia vota para algum prêmio importante – inclusive os Oscars. O enigma aqui é: poderão os votantes vencer a dupla antipatia por cinema de fantasia e visual em altíssima resolução?

As Aventuras de Pi tem elementos que com certeza remetem ao cinema de fantasia—é essencial para a história do náufrago que se vê no meio do oceano na companhia de um tigre e outros animais selvagens, e que conta sua história de vários modos diferentes, um deles claramente extraordinário. Trata-se de algo que votantes aceitam com maior facilidade, como aceitaram (com toda razão) O Tigre e o Dragão, mais de uma década atrás.

 

A estética de Quentin Tarantino é um grande ponto de interrogação em termos de prêmios. Pulp Fiction e Bastardos Inglórios emplacaram, todos os outros, não. Django Livre está na linha da reinvenção de gênero destes dois, e tem um elenco de peso – Jamie Foxx, Leonardo di Caprio, Samuel L. Jackson,  Christoph Waltz. Olho nele, pode ser a grande corrida por fora desta temporada.

 Les Miserables é outro com um pedigree que torna sua presença entre os indicados quase inevitável. O diretor de O Discurso do Rei dirigindo a adaptação de um mega-sucesso teatral que ainda por cima é de época e tem Anne Hathaway, Russell Crowe, Hugh Jackman, Helena Bonham Carter e Amanda Seyfried no elenco. Na eterna discussão “ o que aconteceu aos musicais?” há sempre uma vaga para um – e apenas um—representante do gênero entre os escolhidos do final de ano. E em 2012 não tenho a menor dúvida que será Les Miserables.

Restam, além dos meus muito queridos independentes Beasts of the Southern Wild e Moonrise Kingdom – e espero e torço para não serem esquecidos—filmes menores que podem render muita coisa especialmente para seus atores: Anna Karenina (Keira Knightley), The Sessions (John Hawkes, Helen Hunt), Silver Linings Playbook (Jennifer Lawrence, que já está fazendo campanha para isso em todo evento que comparece).

E, finalmente, The Master, de Paul Thomas Anderson. Mas desse só falo depois de ver, segunda feira agora. Se me deixarem…


A batalha pelas estatuetas de metal, parte I: presidentes, ayatolás e terroristas
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Ana Maria Bahiana

 

Vocês estão ouvindo esse silêncio? É o mes de agosto. Férias aí, férias aqui. Os estúdios descarregam seus abacaxis, e até os independentes dão um tempo. A Paramount está num descanso tão grande que deu férias coletivas a vários departamentos e há três meses não lança um filme.

De certa forma é a calmaria antes da tempestade. Assim que as temperaturas baixarem (o que aqui na California demora um pouco) e as crianças voltarem às aulas vai começar uma batalha pior que a disputa pelo Trono de Ferro _ a briga pelas Estatuetas de Metal.

Até agora o ano nos deu três filmes com grande potencial para chegarem até a batalha final: os independentes Moonrise Kingdom e Beasts of the Southern Wild e, é claro, O Cavaleiro das Trevas Ressurge. Falo deles num próximo post. Vamos dar uma olhada primeiro no que nos aguarda nos próximos meses.

Posso falar primeiro do que NÃO nos aguarda? A Warner decidiu relocar O Grande Gatsby para meados do ano que vem. Há quem diga que isto faz parte de uma estratégia maior para não dividir as atenções e recursos do estúdio em sua quixotesca missão de emplacar O Cavaleiro das Trevas ressurge pelo menos entre os indicados – e além das categorias técnicas, onde o filme de Christopher Nolan já é o favorito. Mas também pode ser porque Baz Luhrmann é famoso por se atrasar em pós-produção… A Fox até agora não esqueceu dos custos e demoras de Australia, que estourou todos os prazos e obrigou o estúdio a contratar um pequeno exército de montadores para que o filme conseguisse chegar às telas.

Descontado Gatsby—que tem pelo menos pedigree para entrar nas listas de candidatos a candidatos de 2013—o que temos?

Para começar, dois presidentes norte-americanos: o Lincoln de Steven Spielberg e o Roosevelt de Hyde Park on Hudson, de Roger Michell. Ambos  tem todo o pedigree de “isca de prêmio”. Daniel Day Lewis em mais uma transmutação paranormal para encarnar um dos presidentes mais adorados e carismáticos dos Estados Unidos, com Spielberg na direção. (Eco do passado: Amistad.) Bill Murray arriscando-se em mais uma nova direção, interpretando  Franklin Roosevelt, outro presidente querido, carismático e – votantes adoram isso!—deficiente físico, dirigido por Roger “Um Lugar Chamado Notting Hill” Michell. (Eco do passado: O Discurso do Rei.) O que esperar: indicações a melhor ator para os dois, no mínimo.

Continuando no tema azul-vermelho-e-branco, temos duas incursões pelas intervenções no Oriente Médio, ambas baseadas em casos reais: Argo, de Ben Affleck e Zero Dark Thirty, de Kathryn Bigelow.

Argo, de Ben Affleck

Affleck, vocês se lembram, teve aquela estreia bombástica com Gênio Indomável em 1997, emplacando supreendentes prêmios pelo roteiro. Ele vem se revelando um diretor seguro, que compreende o trabalho dos atores e tem uma visão propria. Argo tem produção de outro que votantes de prêmios amam, George Clooney, e se baseia numa dessas histórias tão incriveis que só podem ser verdadeiras – o plano mirabolante inventado por um agente da CIA (o próprio Affleck) para resgatar seis americanos refugiados na residencia do embaixador canadense, em plena revolução islâmica no Irã, em 1979. Bryan Cranston também está no elenco. Repetição do melhor coadjuvante Jeremy Renner de Atração Perigosa?

Zero Dark Thirty, de Kathryn Bigelow

Atravessando território muito parecido Bigelow tirou os Oscars de debaixo do nariz de James Cameron, três anos atrás. Zero Dark Thirty é, de muitos modos, Guerra ao Terror 2.0: a narrativa de como a tropa de elite Navy Seal Team 6 localizou e assassinou Osama Bin Laden em maio de 2011. É o tipo de filme arrancado das manchetes de jornais que se encontra mais facilmente nas TVs do que nos cinemas, e isso pode funcionar contra e a favor de Zero Dark Thirty, que por enquanto ninguém viu mas que já está criando zum zum.

Existe uma outra questão, também: filmes com essa temática não vão muito adiante no interesse das plateias – nem mesmo o ótimo Zona Verde, nem mesmo o premiado Guerra ao Terror quebraram essa barreira. Estou muito curiosa para saber o que vai acontecer com esses dois, tanto entre as elites que premiam quanto entre as massas que compram ingresso.

E isto é apenas o começo. Na segunda parte de nossa trilogia (é a moda, não é?), cantorias, fantasia e um mestre. Fiquem ligadas e ligados.

 


Cannes 2012: quem será O Artista deste ano?
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Ana Maria Bahiana

Começa hoje o festival (e mercado) de Cannes. E este ano ele vem acompanhado de uma tremenda expectativa: quantos títulos o festival vai catapultar para os prêmios de fim de ano?

Nem sempre foi assim. Muito pelo contrário. Cansei de ver sensacionais filmes premiados (e até vencedores, como o genial Underground, de Emir Kusturica, em 1995) demorar uma eternidade para conseguir –  ou não conseguir de jeito nenhum –  distribuição em mercados além dos seus países de origem, especialmente o cobiçado mercadão norte americano.

Muita coisa mudou desde então:

  •  Os mercados internacionais, fora de EUA/Canadá, tornaram-se muito mais importantes tanto como fonte de receita quanto como geradores de produção com possibilidades além de suas fronteiras.
  •  A recessão levou os grandes estúdios a abandonar a produção do que não fosse estritamente comercial, com retorno o mais garantido possível dentro da indústria louca do cinema, criando uma lacuna importante.
  •  Os prêmios de fim de ano assumiram uma importância além da vaidade dos concorrentes e interesse dos fãs: são cada vez mais as principais ferramentas de marketing para qualquer filme que não seja um arrasa-quarteirão apoiado por um milionária campanha de divulgação.

Ano passado, o poder combinado da Croisette e dos irmãos Weinstein  conseguiu um fato inédito: tornou um filme francês, mudo, preto e branco e com atores desconhecidos o grande vencedor do Oscar e um sucesso de bilheteria pelo mundo afora. Além de O Artista, outros filmes premiados/destacados em Cannes foram para os prêmios de fim de ano e conseguiram uma visibilidade muito maior do que poderiam esperar: Meia Noite em Paris (a maior bilheteria da carreira de Woody Allen), Árvore da Vida, Drive.

O que pode acontecer este ano? Algumas apostas:

The Paperboy: o novo filme do diretor de Preciosa tem Mathew McConaughey e Zac Ephron como dois irmãos que tentam provar que John Cusack é inocente de um crime pelo qual foi condenado. Nicole Kidman é a apetitosa namorada do bandido.

Mud: Matthew McConaughey de novo (este pode ser seu ano, afinal…) neste drama com elementos fantásticos assinado por Jeff Nichols, diretor de uma sensação de Sundance, o ótimo Take Shelter.

 On the road: Tudo no projeto – a expectativa, o material de origem, a assinatura de Walter Salles, o elenco – promete. A IFC/Sundance Selects  pegou o filme para os cinemas nos EUA (HBO na TV) _ ano passado eles emplacaram Pina

Rust and Bone: Jacques Audiard em seu primeiro filme desde Un Prophete : um drama inspirado em fatos reais, sobre uma treinadora de baleias (Marion Cotilliard) envolvida num acidente medonho.

 

Beasts of the Southern Wild: a grande sensação de Sundance deste ano foi esta fábula mágica e quase abstrata sobre uma família numa comunidade isolada numa ilha da costa sudeste dos Estados Unidos. Ecos de Terrence Malick e muita promessa para o diretor estreante Behn Zeitlin

Killing them Softly: Brad Pitt volta a trabalhar com o diretor de O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford, Andrew Dominick, num policial sobre um caçador de recompensas com a máfia em seu encalço. Elenco da pesada: Ray Liotta, James Gandolfini, Richard Jenkins. Os Weinstein já puseram a mão e… já ouvi tanto zum zum sobre este filme que, espero, as expectativas não estejam altas demais…

 

Lawless: Outro que já está na mão dos Weinstein _ John Hillcoat (A Estrada) dirige Tom Hardy, Shia LeBeouf , Guy Pearce, Gary Oldman e Jessica Chastain num drama da época da Lei Seca nos EUA. Mais um que já tem zum-zum por aqui…

 Post Tenebras Lux : O novo cinema mexicano a todo vapor na mais recente obra de Carlos Reygadas (Luz Silenciosa, Batalla en el Cielo), um drama fantástico sobre universos paralelos.

 Cosmopolis: David Cronenberg adapta o livro de Don DeLillo sobre um  dia na vida de um jovem executivo (Robert Pattinson) enquanto ele atravessa Manhattan. Paul Giamatti e Juliette Binoche no elenco.

 

Antiviral: Brandon Cronenberg (sim, filho de David) estreia na direção voltando às raízes da familia com um thriller de terror sobre um  super vírus assassino.

Amour : Michael Haneke explora o que acontece numa familia sob o peso da idade avançada e da doença. Com Jean Louis Trintignant e Isabelle Hupert.

 

Agora é ver como esses (e outros..o melhor de Cannes são as supresas) títulos vão se comportar na Croisette e além dela…


E agora com vocês… os Oráculos do Oscar 2012!
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Ana Maria Bahiana

Foi uma batalha, entre os torpedos da “melhor montagem” e sucessivas contagens e recontagens noite adentro… Mas valeu: aqui estão, em toda a sua glória, os Oráculos do Oscar 2012! Palmas para eles!

(Dê “refresh” regularmente- novos nomes serão acrescentados à medida em que eles aparecerem aqui neste Hollywood & Highland virtual…)

Fazendo honra às oráculos da antiga Grécia, Nathally da Silva Carvalho, 25 anos, de Macaé, RJ,  foi a única mulher na tropa de elite dos acertadores. Cinéfila desde a adolescência, Nathally estuda Ciências Sociais na Uenf.

Sou cinéfila desde o começo da minha adolescência, quando minha percepção se tornou mais aguçados para a sétima arte: queria saber mais sobre os atores, suas filmografias, os diretores, e como os filmes eram feitos.

A partir de então comecei a pesquisar sobre a indústria, a alugar 4, 5 até 6 filmes por fim de semana e a ver com as grandes premiações como o Globo de Ouro e o Oscar. Fiquei muito feliz em saber que estou entre os Oráculos 2012. Fiz minhas apostas observando muito as críticas, (principalmente as categorias ‘bombas’ como documentário e curta), já que não tive muito tempo para ver os filmes indicados esse ano. Como disse uma grande amiga, acho que meus 20 acertos são creditados muito a um misto de sorte, instinto e conhecimento sobre o Oscar (muito pelas dicas que a própria Ana dá, todos os anos, de como são os mecanismos de votação). Acho que meu grande trunfo esse ano foi apostar sem ressalvas na Meryl Streep como Melhor Atriz, tinha certeza que esse ano era dela!

Gostaria de agradecer a Deus pela dádiva de ser uma cinéfila; a Ana pela oportunidade de exercitar minha paixão pelo cinema, não só vendo – e lendo sobre a sétima arte, mas também participando do Oráculo do Oscar; agradeço a Jairo Souza meu grande amigo cinéfilo, com quem troco grandes experiências e dicas sobre cinema e séries (minha vitória é sua também!) e agradeço a Nathália Fernandes que acompanhou a noite do Oscar comigo, via internet, e vibrou com cada acerto meu. Agradeço a todos os grandes homens e mulheres da indústria, que trabalham com afinco para trazer um mundo de sonhos, reflexões e aprendizado para todos aqueles que se propõem a ver no cinema muito mais do que algumas horas de diversão.

Parabéns a todos os outros oráculos de 2012, e que 2013 tenha uma safra de filmes encantadoramente surpreendentes.”

 

 

O advogado Francisco de Assis Nóbrega, 28 anos, é recifense mas mora em Caruaru, PE, onde é Defensor Público Federal.

“Desde criança adoro ir ao cinema e colecionar filmes. Antes videoteca, atualmente DVDoteca, tenho filmes de todos os gêneros, estilos e nacionalidades, atualmente são mais de 600 títulos. Vidrado no Oscar, desde o ano 2000 organizo um bolão para amigos e faço uma pequena festa para receber os mais cinéfilos e loucos pelo Oscar feito eu, já é tradição! A estatueta em miniatura ao lado da TV dá o toque especial da festa! rs Após chegar perto em várias edições, estou muito feliz em ser um dos oráculos deste ano! Muito obrigado por organizar com tanto carinho o oráculo!”

Lucas Lôbo Takahashi é, na verdade, colega de Angelina Jolie  e George Clooney : todos eles trabalham para a mesma entidade,a Agência para Refugiados das Nações Unidas. A diferença principal é que Lucas está em Brasilia,DF, onde também estuda Relações Internacionais.

Eu nasci e cresci em uma cidade pequena, que não tinha cinema. Quando eu ia pra capital, assistia quatro ou cinco filmes no mesmo dia, e nunca me cansava. Sempre fui apaixonado por cinema, e o Oscar era umas das únicas maneiras de ter contato com aquele mundo, em uma época em que internet não era tão popular. Assim, vejo a cerimônia desde os sete ou oito anos, e nunca deixei de ver. Por isso, mesmo depois ter deixado de achar que o Oscar é um parâmetro de qualidade, eu ainda me importo com ele. E ganhar esse bolão e todos os brindes que você está dando me traz muito satisfação!  Obrigado! Espero lhe conhecer um dia!

Eduardo Azeredo Salgado, 31 anos, de Pindamonhangaba, SP, trilha o caminho de muitos realizadores ilustres: desde os 14 anos trabalha numa locadora de filmes. E mesmo não tendo cinema na cidade, não perde sua paixão pela Sétima Arte:

“Cinema sempre fez parte da minha vida, a primeira lembrança que tenho de ver um filme quando criança foi o filme A Missão com meus pais e de lá pra cá essa paixão pela Sétima Arte só aumentou. Por isso já faz muito tempo que vejo o Oscar e dou meus palpites, que desta vez deram resultado!”

Rodrigo Santiago,  23 anos, doutorando de Ciência Política em Recife,PE, é fã de Meryl Streep… e de Bette Davis também.

“É um prazer ser um Oráculo 2012! Há algum tempo, as atuações da Bette Davis e da Meryl Streep fizeram-me ver o cinema como uma forma de arte que vai além do entretenimento. A força das atuações dessas atrizes, bem como a direção e filmes do Ingmar Bergman, transformaram-me em um ávido apreciador da sétima arte. A partir do momento que tive contato com essas figuras, em especial, tornei-me um leigo que busca ler sobre a temática e, que de vez em quando, arrisca escrever algumas críticas sobre películas. Acho que essa bagagem, juntamente, com o acompanhamento das temporadas de premiação ajudaram a alcançar esse posto (o que não é fácil, principalmente, quando se tenta prever as categorias técnicas, documentários e curtas). Em síntese, eu agradeço ao cinema, por ele ser capaz de transformar a fantasia em realidade, e, ao mesmo tempo, mostrar as várias facetas do caráter humano. O cinema, quando nos faz refletir, cumpre o seu objetivo mais fundamental enquanto arte, ele propicia ao espectador o sentimento de estar vivo. “

Rafael Susin Baumann, 19 anos, estudante de arquitetura em Caxias do Sul, RS, participou pela primeira vez do Oráculo e já saiu na dianteira:

“Gostaria de lhe agradecer pela oportunidade, agradecer a aqueles que ainda suportam ir ao cinema comigo e, claro, agradecer a todos que tornam o cinema algo possível. Desde os 9 anos lembro de ir atrás de informações relacionadas ao cinema, principalmente comprando revistas relacionadas ao assunto. As idas à locadora e ao cinema tornaram-se frequentes e comecei a fazer uma lista com todos filmes que assistia (e até hoje não deixei de marcar). Aos poucos, já não havia mais lançamentos para alugar e comecei a ir atrás do cinema de verdade. Foi aí que descobri diretores como Hitchcock (meu favorito). Assim, o cinema tornou-se indispensável.  Não lembro exatamente a partir de que ano comecei a acompanhar o Oscar, mas lembro perfeitamente de Chicago ganhando como melhor filme (e tenho que admitir, não considero uma injustiça como a maioria acredita ser). Quanto ao Oscar desse ano, a maior surpresa da noite para mim foi montagem para Millenium. Uma mistura de satisfação (por ser realmente o filme merecedor do prêmio, e, na verdade, merecia uma indicação para melhor filme) e tristeza (por ser um ponto a menos nas apostas). Foi difícil conciliar favoritos com as apostas na hora da torcida, mas, fiquei satisfeito principalmente com roteiro para Meia-Noite em Paris, Rango como animação e os prêmios para Hugo.”

 Lucas Mateus, 27 anos, é pedagogo em Natal, RN e não perde uma premiação desde que Steven Spielberg ganhou com A Lista de Schindler:

É uma honra poder ter superado tanta gente boa no Oráculo do Oscar 2012. Acompanho a festa do Oscar desde criança, nos tempos em que Steven Spielberg ganhara seu tão aguardado prêmio de Diretor em 1994 por Schindler’s List. Desde então, não tenho perdido uma premiação, sempre testemunhando as vitórias e as injustiças que fazem parte do espetáculo. Acredito que o cinema seja a forma de arte que melhor retrata uma era da sociedade e o Oscar expõe, de alguma maneira, essas transformações que nós protagonizamos de tempos em tempos.”

Rafael Melo Feitosa, 23 anos, é carioca e blogueiro:

“É clichê, mas palavras não podem definir a minha relação com o cinema. É algo extremamente sensorial e que existe desde que me entendo por gente. O Oscar tem, para mim, a importância de uma Copa do Mundo. Sinto-me envolvido como se fizesse parte da indústria cinematográfica… torço, vibro, reclamo, discordo. Meu obrigado: à minha mãe por ter me apresentado ao Oscar quando eu tinha 7 anos; aos cineastas brilhantes que mantêm sempre acesa a minha paixão pelo cinema; e àqueles que disponiblizam os filmes na Internet, que fazem com que a cultura não tenha mais barreiras e que nos possibilitam assistir a todos os indicados. E, claro, muito obrigado à Ana Maria Bahiana por nos propiciar essa promoção espetacular com prêmios maravilhosos.