Blog da Ana Maria Bahiana

Categoria : Corrida do Ouro

Em fim de semana de definições, Argo toma a dianteira
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Ana Maria Bahiana

Ben Affleck aceita premios por Argo no PGA…

… e, 24 horas depois, por conjunto de elenco, no SAG

Encerrado este fim de semana de definições, duas coisas ficaram claras: já temos algumas dianteiras firmes na corrida do ouro 2013; e já sabemos quem será o quindim independentes da corrida do ouro 2014.

Ao mais imediato, primeiro: seja qual for a urucubaca/ confusão/ momento de privação de sentidos que fez com que a Academia esquecesse de indicar Ben Affleck na categoria Melhor Diretor, Argo já é o filme da vez na disputa 2013. Confirmando a escolha nos Globos de Ouro, duas semanas atrás, a Producers Guild of America, no sábado, e Screen Actors Guild, no domingo, escolheram Argo como seu melhor filme.

Matematicamente, não há como negar que o filme de Ben Affleck tem a vantagem: nesta etapa dos Oscars, toda a Academia vota em todos os premios; com 1.178 integrantes, o departamento de atores é o mais numeroso da Academia; com 462, o de produtores é o segundo mais numeroso.  Como praticamente todos os membros deste departamentos também são votantes em suas Guilds, só aí já está uma vantagem clara.

Mas há algo além da simples soma de possíveis votos no Oscar: para alcançar esta dupla vitória, Argo teve de convencer mais de 100 mil votantes das duas Guilds. Como bem lembrou um twitter de Steve Pond, o que impressiona cem mil pessoas de gostos e lealdades tão diferentes muito mais facilmente vai impressionar os seis mil acadêmicos.

Confirmada essa vantagem, Argo seria uma exceção na escrita da Academia, onde apenas filmes cujos diretores são indicados acabam levando o prêmio maior. Nessa área de sombra os fãs de Lincoln ainda torcem pela vitória mas quanto mais escuto os sons ao redor, mais me convenço que apenas Daniel Day Lewis, que também levou SAG e Globos, é uma certeza. Tommy Lee Jones (outro vitorioso do SAG) como coadjuvante e Steven Spielberg como diretor são possibilidades. As outras vantagens: Jennifer Lawrence para melhor atriz, Anne Hathaway (Os Miseráveis) como coadjuvante.

De todo modo, a briga este ano envolve grandes estúdios – a Warner de um lado, com Argo; a dobradinha DreamWorks/Fox de outro, com Lincoln. Depois de tantas vitórias, o time Weinstein este ano tem que se contentar com Jennifer Lawrence e talvez mais alguns biscoitinhos por O Lado Bom da Vida.

Mas não chore por eles, Brasil. A outra definição deste fim de semana veio no sábado também, com o encerramento do festival de Sundance. O grande vitorioso, de público e crítica, foi Fruitvale, um drama inspirado em fatos reais – o assassinato de um jovem negro por um policial, numa estação do metrô de Oakland, California, em 2008—escrito e dirigido por um jovem (26 anos) realizador estreante, Ryan Coogler, feito em regime cooperativo por uma bagatela, e, desde o começo do festival, o título mais quente da serra de Utah. A Weinstein Company, rapidamente, já comprou Fruitvale. Alô, 2014!

 

 


Por que os Globos de Ouro são importantes. (E os Oscars também.)
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Ana Maria Bahiana

O produtor George Clooney, cercado pelo elenco de Argo, reage à vitoria do filme nos Globos de Ouro 2013, minutos depois de receber seu troféu.

 

Algumas coisas são sempre importantes de serem lembradas quando se fala de temporada de prêmios, especialmente quando se está no auge desta fogueira de vaidades:

  • Como disse antes, todo prêmio é, em essência, a expressão da opinião de um grupo de pessoas num determinado momento.
  • Para quem é indicado ou vence, prêmios são importantes como: reconhecimento de seus pares; ferramenta de marketing; upgrade ou viabilização de carreira. Mas quem dá o devido valor a qualquer obra são o tempo e a história. Que o digam Kubrick, Chaplin, Hitchcock, Altman e Kurosawa, entre muitos outros.
  • Para quem escolhe, prêmios são importantes como: ferramenta para estabelecimento e ampliação de sua posição no meio; ritual de consolidação de seus integrantes; fonte de renda.
  • Desde 1953, quando o Oscar foi televisionado pela primeira vez nos Estados Unidos, os prêmios evoluíram de uma festa entre colegas para um show de mídia. Uma entidade que  tem um prêmio televisionado sabe que ali está sua principal fonte de renda para o ano todo, viablizando suas atividades, programas, doações e apoios. Uma entidade que tem seu prêmio televisionado está constantemente preocupada com a qualidade e popularidade de seu evento _ seria muito irresponsável de sua parte  não faze-lo.

Quando, 70 anos atrás, um grupo de correspondentes estrangeiros em Los Angeles criou o que viria a ser a Hollywood Foreign Press Association, seu primeiro objetivo era por um ponto final à xenofobia e paranoia que dominavam o país em plena Segunda Guerra Mundial. A ideia de criar um prêmio que expressasse as preferências desse grupo – o Golden Globe, Globo de Ouro, enfatizando o aspecto universal das artes visuais – era uma forma de usar de outro modo a moeda corrente que a Academia, fundada 16 anos antes, já tinha descoberto: o prêmio como bilhete de entrada e afirmação no meio.

A Academia, em 1927, tinha um problema: a disputa entre produtores e estúdios e os sindicatos e entidades de classe por melhores salários e condições de trabalho. A HFPA, em 1943, tinha outro: não ser mais discriminada como “um bando de estrangeiros” que talvez estivesse espionando para o inimigo.

Acho incrível que, 70 anos depois, ainda tenha gente que continue nos chamando de “um bando de estrangeiros”, denegrindo nosso trabalho, insultando a mim e a meus colegas.  Xenofobia é uma erva daninha difícil de exterminar.

Felizmente, esta turma é uma minoria cada vez menor. Quando cheguei a Los Angeles em 1987, passei muitos anos ouvindo coisas como “esta entrevista só está disponível para territórios importantes, você não pode fazer” ou “ não temos mais lugar neste evento, é apenas para imprensa norte americana”. Ou recebendo  — depois de muita insistência– copias xerocadas das notas de produção enquanto os coleguinhas norte-americanos – muitos dos quais são os que ainda dizem todas essas coisas acima – eram mimados com luxuosas encadernações, camisetas e lugares reservados nos cinemas.

Ah, como isso mudou! A bilheteria internacional representa hoje 70% da renda combinada de todos os grandes estúdios e principais distribuidores. Carreiras inteiras – Tom Cruise que o diga – dependem dos mercados internacionais. Projetos são escolhidos e aprovados baseados em suas perspectivas internacionais.

A evolução, a popularidade e o prestígio crescentes dos Globos de Ouro devem ser entendidos, em primeiro lugar, à luz desse fenômeno. Os colegas norte americanos podem dizer que somos um “bando misterioso” de jornalistas que “ninguém conhece”, mas estúdios, produtores, divulgadores, atores e qualquer pessoa que lide com mídia internacional nos conhece muito bem: nós somos a voz dos BRICs, a ponte com a Europa, a Ásia, o Oriente Médio. Nossa presidente, a extraordinária  Aida Takla O’Reilly, nascida no Egito, escreve para Dubai, um dos maiores financiadores atuais do cinema. Da França à Coréia, da Australia ao México, o  que reportamos repercute nos mercados que, hoje, mais interessam aos realizadores de todos os tamanhos.

E – o que na verdade pode ser ainda mais interessante – as escolhas que fazemos, nos Globos, são as da platéia, de certa forma as nossas plateias, as culturas, os idiomas e os países que representamos. Vemos e consumimos cinema como o mundo vê e consome. Isso, hoje, vale mais do que qualquer outra coisa. (Inclusive, segundo este estudo, mais do que um Oscar, como ferramenta de marketing – uma vitória nos Globos adiciona, em média, mais 14 milhões de dólares à bilheteria de um filme, enquanto um Oscar traz em média mais 3 milhões de dólares.)

Tina Fey e Amy Poehler nas coxias do palco do International Ballroom, durante os Globos de Ouro 2013

O mito de que “os Globos influenciam os Oscars” começou na mesma salada de especulações e “experts” que hoje assolam a mídia. Por conta de nosso calendário profissional – ei, somos jornalistas, temos que acabar logo com essa farra para voltar a trabalhar! – e da agenda das emissoras que transmitem o evento, os Globos há muitos e muitos anos estão firmemente no segundo domingo de janeiro. O resto do nosso calendário se prende a isso.

Como bem aponta este artigo da Variety, nossas escolhas são de natureza diversa da dos Oscars. São escolhas de quem, sim, viu praticamente todos os filmes lançados no ano (porque é nosso dever profissional) e está lançando indicações como tal. Estamos na plateia. Uma plateia privilegiada, mas uma plateia.

O que acredito que fazemos, para os Oscars e os demais prêmios,  é exatamente isso: criar um balaio, uma lista preferencial de quem realmente importa a cada ano. Isso não mudou. As listas de indicados aos Globos e aos Oscars é praticamente a mesma. As escolhas finais são sempre marcadamente diferentes, porque estamos olhando e selecionando de modo diferente.

Este ano tivemos a nosso favor um planejamento rigoroso do evento do dia 13 de Janeiro, que tomou praticamente o ano inteiro e envolveu as escolhas das hosts Tina Fey e Amy Poehler, o prêmio especial a Jodie Foster e um vasto trabalho online e em midias sociais do qual, digo sem falsa modéstia, participei ativamente (mas não aqui, é claro – não seria correto. No site da Associação). O resultado foi nossa melhor audiência em seis anos – 20 milhões de espectadores —  tornando os Globos o show de prêmios mais visto desta temporada, até agora.

Não creio que isso tenha impacto algum sobre os Oscars. Os Oscars tem sua própria, longa e ilustre história e vão fazer sucesso ou não, este ano, dependendo de seus próprios méritos, do quanto Seth McFarlane vai funcionar como host, e o quão dinâmico for seu telecast.

Suas escolhas finais serão, tenho certeza, absolutamente diferentes, porque o olhar do pool de votantes é necessariamente diferente.  (Por exemplo: os Globos escolheram Brokeback Mountain e os Oscars ficaram com Crash-No Limite. Para dar um exemplo.) Os Globos apontaram Argo e Os Miseráveis. Vejo Lincoln e O Lado Bom da Vida despontando nos Oscars. E seria assim não importa em que dia Globos ou Oscars acontecessem.

Falo tudo isso com absoluto conforto. Meu filme favorito  (e de Ben Affleck também), O Mestre, não ganhou nem biscoitinho de polvilho nem da minha Associação, nem da Academia.

Mas esse é o mistério e o fascínio dos prêmios – o contraponto entre nossas escolhas e paixões e as escolhas e paixões dos outros.

 

 


Indicações Oscar 2013: deu a louca na Academia?
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Ana Maria Bahiana

O primeiro resultado imediato dos sustos da madrugada do Oscar foi uma briga feroz entre a multidão de experts e oráculos profissionais de prêmios que multiplicaram-se nos últimos anos com a velocidade da internet.  Dá para entender: esse povo ganhou fama e seguidores apregoando poderes quase paranormais de compreender a possível “alma coletiva” da indústria tal qual ela se manifesta em seus prêmios anuais.

O que menos gente comenta é que esses oráculos se tornaram, na verdade, instrumentos da cada vez maior manipulação da opinião dos votantes através de “tendências” cuidadosamente plantadas pelos estrategistas  em suas “previsões”. Quando fatores além dos sistemas que eles criaram – baseados na verdade em cacoetes e nas “tendências” alimentadas pelos estrategistas – bagunçam suas previsões… é o caos!

A principal briga é entre David Poland do Movie City News, que fez uma análise bem balanceada das estranhas escolhas deste ano, e Sasha Stone da Awards Daily, que está choramingando na linha “injustiça!”. Mas em volta deles, amigas e amigos, parece a sequencia de abertura de O Resgate do Soldado Ryan, uns chamando os outros de incompetentes, arrogantes, cegos e coisas piores.

E no entanto…

Qualquer prêmio, inclusive o Oscar (ou qualquer festival) é o resultado da expressão da opinião de um grupo de pessoas num determinado momento.  É divertido especular em torno da forma que essa opinião vai tomar,  e imaginar que haja uma “vontade coletiva” atrás desta ou daquela escolha. Mas no fim das contas são fatores muito concretos que acabam  sendo os mais fortes.

Lembram quando eu disse que a antecipação dos prazos poderia resultar em escolhas desiguais e potencialmente injustas, especialmente para os filmes que estrearam no final do ano? Este, creio, é um grande fator no sumiço de Kathryn Bigelow, Tom Hooper e Quentin Tarantino dos indicados a melhor diretor.

Mas não explica porque Ben Affleck, indicado pela DGA, sumiu dos Oscars com um filme que estreou em outubro. A matemática não apoia nenhuma especulação. Existem  mais de 15 mil votantes na entidade de classe dos diretores. Existem 371 membros no departamento de diretores da Academia. 95%  deles são votantes da DGA. O que aconteceu?

Cair na choradeira do “ah, mas o filme é tão bom, por que?!! Por que?!!” não resolve nada. Depois de passar uma tarde de domingo bebendo cinema da mais alta ordem na exposição Kubrick do Museu de Arte de Los Angeles, caí na real ao perceber que este gigante da sétima arte recebeu um único Oscar- por efeitos especiais, por 2001 Uma Odisseia no Espaço.

A conversa não é por aí.  (Se a conversa fosse por aí eu estaria aqui vociferando porque O Lado Bom da Vida, um filme que me irritou profundamente no mau sentido, pela auto-complacência e preguiça, conseguiu ser indicado em todas as categoria nobres. E como é possível que O Mestre tenha ficado de fora das categorias filme, diretor e roteiro original.) A conversa é sobre números, estatísticas e um corpo votante de idade avançada que reage a qualquer novidade.

Dois fatos me levam a pensar que houve um pepinaço na votação em geral, mais dramática na categoria “melhor direção”:

1. a inclusão de Benh Zeitlin (Indomável Sonhadora) e Michael Haneke (Amor) entre os melhores diretores,  duas indicações incrivelmente ousadas para um corpo votante tão conservador;

2. a imediata profusão de entrevistas de Hawk Koch,  presidente da Academia, garantindo que nunca tantos membros tinham enviado seus votos e comparecido às sessões dos filmes concorrentes. Lembrei de cara daquela cena maravilhosa de Argo, em que Alan Arkin diz para Ben Affleck: “Então, nesta cidade onde as pessoas mentem profissionalmente, você quer criar um filme de mentira?” (Que bom que, nesta confusão, tanto Arkin quanto o maravilhoso roteiro de Chris Terrio foram lembrados).

Pois é.

O que acho, até prova em contrário: as indicações anunciadas na manhã do dia 10 foram o resultado do menor número de votos já lançados numa escolha do Oscar; muita gente não soube ou não conseguiu votar no novo sistema online; muita gente deixou linhas em branco porque, com os novos prazos, não teve tempo de ver os filmes ou se guiar pelas indicações das sociedades de classe; muito voto foi anulado.

É tudo hipótese. Mas faz sentido.

Uma única unanimidade emergiu da madrugada do Oscar: a correria deseperada atrás do público jovem inventou um sub-Rick Gervais na figura de Seth McFarlane. Seus promos foram tão sem graça quanto suas piadas no anúncio das indicações. E que triste a Academia ter que debochar de si mesma para se mostrar “moderna”…

 

 

 


Globos: uma prévia
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Ana Maria Bahiana

Eis o que sei: Adele estará lá. Mas não vai cantar nem apresentar: vai apenas curtir a festa, como uma das indicadas (e favorita) na categoria Melhor Canção por “Skyfall”. Sim, será sua primeira aparição pública (pelo menos por estes lados) desde a chegada do baby. Taylor Swift, outra indicada (por “Safe and Sound”, de Jogos Famintos) também estará no International Ballroom do Beverly Hilton, mas só como indicada e convidada – nada de cantoria.

Em compensação, George Clooney, Meryl Streep, Jennifer Garner , Debra Messing, Kerry Washington, Nathan Fillion, Jason Statham, Jennifer Lopez, Kristen Wiig, Jeremy Renner, Amanda Seyfried e Will Ferrell estão confirmados como apresentadores — e mais vão aparecer em breve. Fiquem ligados.

Também posso dizer que o jantar vai consistir de um cardápio “Colheita de inverno na California”: entradas de alcachofra grelhada, queijo de cabra ao mel, mini quiche de  tomate seco e abóbora japonesa grelhada; prato principal com opção para badejo grelhado ou filé marinado; e sobremesa com uma montagem de mousses de chocolate. Tudo de baixo carboidrato e açúcar mínimo, para que, nas palavras do chef Suki Sugiura, as estrelas possam “comer sem receio”.

Arranjos de rosas vermelhas adornarão as mesas, e um champagne especial, safra 2004 trazido especialmente da França, será servido durante a noite toda, começando no tapete vermelho com mini-Moets de canudinho dourado.

O palco segue o mesmo esquema simples e funcional de outras noites, com predominância de formas elípticas. E a Miss Golden Globe (a que entrega as estatuetas aos vitorisosos) é Francesca Eastwood, filha de Clint, auxiliada por um Mister Golden Globe, Sam Fox, filho de Michael J. Fox.

Vou contando mais assim que souber…

 

Os chefs Thomas Henzi (sobremesas) e Suki Sugiura apresentam o cardápio dos Globos 2013.


Semana de definições na temporada ouro
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Ana Maria Bahiana

Esta é uma semana de definições. Quinta, a definição dos indicados ao Oscar 2013. Domingo, a definição dos vitoriosos dos Globos de Ouro 2013.  Neste momento, posso adiantar três coisas com certeza:

  • as duas listas –indicados e vitoriosos- serão muito parecidas.
  • Django Livre será indicado pelo menos por melhor figurino. A página com essa informação apareceu inesperadamente (e por erro, é claro) no site da Academia.  E na pressa de divulgar o evento, a Academia vazou a noticia para a Vanity Fair

  • O que nos leva à terceira certeza: mudar o anúncio das indicações do Oscar para antes da entrega os Globos não está ajudando em nada a Academia. Esta semana, tudo o que midia, online e off, quer comentar são Globos, Globos, Globos…

Para antecipar as indicações de quinta feira existe um método razoavelmente simples: use como base as indicações dos Globos de Ouro, e adicione as indicações das organizações de classe: roteiristas, diretores, produtores, atores, diretores de fotografia,  efeitos especiais. Os nomes que mais se repetirem em todas as listas são os que vão estar entre os indicados de quinta feira.

Não extrapolo para dizer que serão também os premiados de domingo porque a Associação dos Correspondentes Estrangeiros (à qual pertenço) é famosa por ser imprevisível. Somos poucos – 90 – de culturas e nacionalidades diversas, e com personalidades, idades e gostos extremamente variados.  Tomar o pulso desse grupo é muito mais complicado do que prever o que os profissionais da indústria vão escolher – na noite de domingo, literalmente tudo pode acontecer. Estarei lá, e vou contar tudo o que puder para vocês.

Aos Oscars, pois. De cara anuncio os desacontecimentos:

  • O Mestre, que para mim e para muitas associações de críticos é o filme do ano, não deve aparecer. Os Globos lembraram-se (com justiça) do fenomenal elenco – Joaquin Phoenix, Philip Seymour Hoffman, Amy Adams. Mas não sei se a Academia fará o mesmo.
  •  Batman, O Cavaleiro das Trevas Ressurge ainda tem algumas chances nas técnicas, especialmente som, fotografia e montagem. Mas já sabemos que pelo menos nos efeitos especiais reinam O Hobbit, As Aventuras de Pi (foto), Vingadores e Prometheus.

Agora, as certezas.  A maioria dos acadêmicos a quem perguntei que filmes tinham deixado uma impressão mais marcante em suas memórias me respondeu com cinco títulos: Argo (foto), A Hora Mais Escura, Lincoln, As Coisas Boas da Vida e Os Miseráveis. Como os Oscars prevêem até 10 indicados para melhor filme, eu acrescentaria a esses Skyfall, As Aventuras de Pi Moonrise Kingdom. Ousando bastante, talvez O Mestre, O Impossível e Amour.

Entre atores e atrizes, estes filmes favoritos tem as contribuições mais certeiras. Entre as atrizes, conto ver Jessica Chastain (A Hora Mais Escura)(foto), Jennifer Lawrence (O Lado Bom da Vida) , Naomi Watts (O Impossível). Aposto também em Marion Cotillard por Ferrugem e Osso, Emmanuelle Riva por Amour e Helen Mirren por Hitchcock. Meryl Streep (por Um Divã para Dois) é um xodó da Associação, mas acho que vai passar batida pela Academia. Voto extremo? Quvenzané Wallis por Indomável Sonhadora.

Entre os atores, Daniel Day Lewis (Lincoln) , Denzel Washington ( O Vôo)  e Bradley Cooper ( O Lado Bom da Vida ) são certezas. Eu contaria também com John Hawkes (As Sessões) e Hugh Jackman ( Os Miseráveis), e ficaria torcendo por Joaquin Phoenix (O Mestre) e Jack Black (Bernie). Azarão vindo por fora? Bill Murray por Um Fim de Semana em Hyde Park.

Coadjuvantes-certeza são Sally Field e e Tommy Lee Jones (Lincoln),  Anne Hathaway (Os Miseráveis)(foto), Helen Hunt (As Sessões), Alan Arkin (Argo) e Christoph Waltz (Django Livre). Possibilidades fortes: Javier Bardem (Skyfall), Leonardo di Caprio (Django Livre), Philip Seymour Hoffman e Amy Adams (O Mestre), Robert de Niro (O Lado Bom da Vida). Surpresas possíveis: Nicole Kidman por Paperboy , Maggie Smith por O Exótico Hotel Marigold .

Os cinco diretores queridos da DGA – Steven Spielberg, Tom Hooper, Ang Lee, Katherine Bigelow e Ben Affleck — são as mais prováveis escolhas do departamento de diretores de Academia. Torço por Paul Thomas Anderson e ainda não perdi de todo a esperança em ver os nomes de Wes Anderson (Moonrise Kingdom) e Behn Zeitlin (Indomável Sonhadora). (Meu consolo: esses dois vão levar os Independent Spirits de lavada…)

Nos filmes estrangeiros, Haneke já deve até estar escrevendo o discurso de agradecimento por Amour, tanto nos Globos quanto nos Oscars. Outros indicados-certeza são o francês Os Intocáveis, o norueguês Kon-Tiki e o dinamarquês O Amante da Rainha. Fico torcendo pelo chileno No e pelo romeno Além das Montanhas para a quinta vaga… E se Paranorman fosse lembrado entre os longas de animação eu ficaria muito, muito feliz.


Indicações do prêmio dos roteiristas dão equilibrio à disputa de 2013
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Ana Maria Bahiana

As Vantagens de Ser Invisível – reconhecido pela WGA

 

A lista de indicados da Writers Guild — organização de classe dos roteiristas de cinema e TV dos Estados Unidos — é, até agora, a que apresenta um quadro mais equilibrado e realista da qualidade do texto no audiovisual desta safra. Num ano –2012– em que a produção comercial estava inteiramente tomada por adaptações, fraquias e refilmagens, a WGA soube escolher cinco excelentes obras originais: O Mestre, Looper, O Vôo, Moonrise Kingdom e A Hora Mais Escura (que, apesar de se basear em entrevistas com agentes envolvidos na caçada a Osama Bin Laden, é essencialmente uma obra de ficção, o que pode ser sua salvação no atual inquérito movido pelo Senado norte-americano).

A seleção de roteiros adaptados é excelente, também: Argo, As Aventuras de Pi (uma pequena gema, considerando a dificuldade da obra original), Lincoln, As Vantagens de Ser Invisível (afinal reconhecido!) e O Lado Bom da Vida (aqui eu teria preferido o elegante trabalho de Jose Rivera para On The Road, mas vamos deixar assim).

Senti falta de Indomável Sonhadora, mas havia uma questão técnica: seus autores não são filiados à WGA e por isso não podiam concorrer.

Na TV, o registro exato de quem liderou este ano: Breaking Bad, Game of Thrones, Mad Men, Homeland, Boardwalk Empire, 30 Rock, Girls, Louie, Parks and Recreation e (será cacoete?) Modern Family. Gostei também de ver Veep, Nashville e o desigual mas bem pensado Newsroom entre os indicados para nova série.

Impacto sobre os Oscars? A votação para os indicados da Academia termina hoje no final da tarde aqui de LA, depois de muitas confusões. Nesta etapa, os indicados são escolhidos pelos departamentos respectivos da Academia. Como quase todos os roteiristas acadêmicos são também afiliados à WGA, as chances de uma repetição de pelo menos cinco desses títulos é grande…

Os prêmios da WGA serão entregues dia 17 de fevereiro.


Oráculo do Oscar de melhor filme, a Producers Guild ignora O Mestre
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Ana Maria Bahiana

O que os Globos tem de termômetro do clima de votação —  a pré-lista de quem está no jogo, por assim dizer– os indicados da Producers Guild of America, orgão de classe dos produtores, são o melhor sinal de quem está na ponta para os prêmios de melhor filme.

A lista deste ano inclui todo mundo dos Globos — mas deixa de fora O Mestre, de Paul Thomas Anderson, que pelo menos, nos Globos, rendeu indicações para seus atores.

Os indicados da PGA são: Argo, Indomável Sonhadora (uma bela e feliz surpresa), Skyfall,Os Miseráveis, Django Livre, As Aventuras de Pi, Lincoln, Moonrise Kingdom, O Lado Bom da Vida e A Hora Mais Escura.

American Horror Story e Game Change estão entre os indicados na TV (a PGA só considera mini-séries e telefilmes), e Valente, Detona Ralph, Paranorman, A Origem dos Guardiões e Frankenweenie são os indicados em longa de animação (gostei…).

Os vencedores da PGA serão anunciados dia 26 de janeiro.


Para os Oscars, um não muito feliz ano novo
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Ana Maria Bahiana

Neste momento, enquanto escrevo, os 6 mil votantes do Oscar tem apenas 52 horas para decidir quem serão os indicados deste ano. E muitos deles estão completamente perdidos, ou em suas escolhas, ou no modo de votar. O resultado dessa correria e confusão pode ser uma seleção de indicados esquisita, desequilibrada e, sinceramente, injusta.

Duas novidades da votação 2012-2013 tem provocado verdadeiros surtos nervosos nos votantes. A primeira  foi a antecipação de todos os prazos: com os Oscars sendo entregues dia 24 de fevereiro, as indicações deste ano serão anunciadas agora no dia 10. Morro de rir quando penso no por que da mudança: depois de anos e anos mantendo a postura de que os Globos de Ouro não tinham a menor importância, a Academia colocou o anúncio dos indicados exatamente três dias antes da entrega dos Globos, este ano. O motivo oficial foi “dar mais tempo aos votantes para ver os filmes indicados” mas quase  ninguém por aqui acreditou: a impressão que ficou é que, ao contrário do que anuncia, a Academia está preocupadíssima com os Globos. (A coisa vai ficar pior ano que vem… continuem lendo.)

Até porque o efeito, no final das contas, foi o oposto: para anunciar dia 10, o prazo para votar nos indicados teve obrigatoriamente que cair logo depois do Ano Novo, um período complicado para muita gente. E particularmente nocivo para quem lançou filmes/deslanchou campanhas nos últimos dias de 2012 – entre eles, Django Livre, Os Miseráveis, O Impossível e Promised Land (de Gus Van Sant). Num corpo votante que já não tem o hábito de correr atrás dos filmes para ver, o novo prazo pode ser um fator de desequilíbrio. (Em tese, deveria favorecer filmes que estrearam em meados do segundo semestre, como O Mestre….)

Para tornar as coisas mais complexas, a Academia resolveu inaugurar este ano um sistema de votação online. Quando a mesma ideia circulou com relação aos Globos, optamos por instituir a opção online lentamente, em etapas, para familiarizar votantes mais idosos com a tecnologia. Hoje pode-se fazer o rascunho dos votos dos Globos online, mas eles ainda tem que ser impressos e enviados por correio tradicional. E mesmo assim tem gente que se confunde. Sem falar na complexidade de manter a segurança e usabilidade do site durante o período.

A Academia queimou etapas, e o resultado tem sido uma dor de cabeça de proporções cósmicas. O sistema de votação já caiu várias vezes. Senhas não são reconhecidas. Votantes que ainda estão na era do fax estão absolutamente perdidos. Para lidar com o caos o prazo de votação foi estendido até sexta dia 4 as 17h, e as boas e velhas cédulas de papel estão sendo distribuídas às pressas.

E em 2014? Teremos Olimpíadas de Inverno em fevereiro, e a temporada de futebol americano começando dia 19 de janeiro. São grandes eventos que ocupam as emissoras e os calendários da publicidade. Os Globos estão confortavelmente instalados em janeiro – tradicionalmente, no segundo domingo, que seria 12 de janeiro em 2014. O que os Oscars vão fazer?


A última safra do ano, parte II: a valsa dos revoltados
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Ana Maria Bahiana

Os dois últimos grandes lançamentos da temporada-ouro estrearam aqui no dia de Natal e, quando escrevo isto, estão brigando ferozmente pelo domínio da bilheteria: Os Miseráveis, de Tom Hooper, está na liderança com 18.2 milhões de dólares num número menor de telas  –2.808– que Django Livre, de Quentin Tarantino, no seu encalço com 15 milhões de dólares em 3.010 telas.

Como ambos estão indicados aos Globos de Ouro e seus respectivos distribuidores acreditam que vão mais longe, até os Oscars, o público brasileiro só vai vê-los respectivamente dia 18 de janeiro (Django) e 1 de fevereiro (Miseráveis). Só para vocês calibrarem seus calendários, as indicações ao Oscar saem dia 10 de janeiro e as estatuetas serão entregues dia 24 de fevereiro. Os Globos serão entregues dia 13 de janeiro. Comparem com as datas das estréias no Brasil e verão o quanto Universal (Miseráveis) e Weinstein/Sony (Django) estão contando com estatuetas e indicações para alavancar suas campanhas de lançamento.

Muito pessoalmente, os dois filmes apresentaram problemas para mim. Reforço o muito pessoalmente porque suspeito que, para muitos espectadores, as coisas que não me apeteceram são justamente as que vão encanta-los. Essa é a natureza do cinema (e da música também). E o seu poder, também.

Admiro em ambos o seu fôlego e audácia. Os Miseráveis ataca de frente um monstro sagrado do teatro musical –60 milhões de ingressos vendidos em 42 países- que por sua vez já digeria e simplificava  um monstro sagrado da literatura, o vasto épico de Victor Hugo sobre redenção e amor durante a Revolução de Junho que, na Paris de 1832, tentou em vão restaurar a república. Django Livre encara o esqueleto no armário das novas nações do continente americano: a escravidão. Para mim, os resultados desses projetos ambiciosos foram desiguais, mas fica registrado meu enorme respeito por Hooper e Tarantino por terem tentado, sem meias medidas.

Nota de esclarecimento: não sou fã de musicais. A não ser que se trate de documentários como Gimme Shelter (sobre os Rolling Stones em sua turnê de 1969) e Don’t Look Back (sobre como Bob Dylan virou Bob Dylan) ou filmes em que a trama, por ela mesma, pede momentos de música (como Quase Famosos), o artifício de parar tudo para que os personagens se expressem cantando tem apenas um efeito, comigo: me fazer imediatamente desconectar da narrativa.

Há exceções notáveis (uma delas em Magnolia, de Paul Thomas Anderson), mas vamos ficar por aqui. Basta dizer que, em Os Miseráveis, o recurso me incomodou muito menos por uma suprema ousadia de Hooper: em vez de dublar peças pré-gravadas em estudio, todos os atores foram captados cantando ao vivo, no set. Isso revelou, por exemplo, que Russel Crowe, no papel do implacável Javert, carcereiro e perseguidor do herói Jean Valjean (Hugh Jackman) não deveria ousar cantar além de sua banda de rock. Mas deu também a Jackman, Anne Hathaway (Fantine) e a grande revelação do filme, o britânico Eddie Redmayne (Sete Dias com Marilyn) como o revolucionário Marius, a oportunidade de cantar como uma extensão de seus personagens, e não como proeza vocal.

O resultado é gloriosamente imperfeito e intensamente dramático  — e aqui todos os que, como eu, tem reservas quanto às convenções do musical, vão começar a se afastar de Os Miseráveis. Porque este não é um filme onde se pratica contenção e sutileza: os heróis Jean Valjean, Fantine e sua filha Cosette (Amanda Seyfried) sofrem terrivelmente; Javert é um vilão implacável; jovens se sacrificam por amor e idealismo; e mesmo morrendo de tuberculose Fantine/Hathaway canta sem parar. Em 1862, a obra de Victor Hugo fundamentou o realismo na literatura. Um século e meio depois, ela serve de base a arroubos de ultra-romantismo.

Fãs da peça (e fiz questão de ver o filme, pela primeira vez, com uma verdadeira especialista ao meu lado, para compensar minha predisposicão contra musicais…) não vão se decepcionar. Vão, possivelmente, estranhar mas admirar a opção pelo canto dramático no lugar do canto exato, e notar onde o filme diverge da  peça como narrativa. São escolhas muito conscientes de Hooper, que compreende bem as necessidades diferentes de tela e palco, e usa todos os recursos do cinema para mostrar em larga escala tudo o que a obra de Victor Hugo descreve em detalhes e a peça menciona com poucos elementos de cena: os trabalhos forçados! Paris! As barricadas dos revolucionários!

Com Django Livre, minha admiração pela dupla ousadia de Tarantino – escolher a escavidão como tema e o spaguetti-western como forma – começou a esfriar quando certas pequenas coisas começaram a se empilhar em cima de suas bravas escolhas. Coisas como:

O fato de Christoph Waltz estar basicamente repetindo seu papel em Bastardos Inglórios – o cavalheiro extremamente educado, calmo e articulado, capaz de incríveis atos de violência sem perder nenhuma dessas qualidades.

A necessidade de colocar um europeu branco (o dentista/caçador de recompensas vivido por Waltz) como a porta da salvação/mentor/educador do escravo negro (Jamie Foxx).

Uma série de coisas displicentes, como uns bons 15 minutos de sobra, uma aparição desnecessária de Tarantino, erros pequenos e não tão pequenos de continuidade.

A ideia de compensar a medonha violência, a violação mesmo, da escravidão, com a super-violência da vingança de Django não me convenceu inteiramente. Eu gostaria de ver um filme em que Tarantino não  auto-referenciasse, em que ele se desafiasse a evoluir. Estou esperando por isso faz tempo, e outros realizadores da geração dele já dispararam na frente.

Tendo dito isso, Tarantino continua sendo um dos melhores dialoguistas que temos, e o que Leonardo Di Caprio faz com seu Calvin Candle, um senhor de escravos com o refinado sadismo que só o poder absoluto possibilita, é a melhor coisa e a mais exata medida do que Django Livre poderia ter sido.