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Indicações Oscar 2013: deu a louca na Academia?
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Ana Maria Bahiana

O primeiro resultado imediato dos sustos da madrugada do Oscar foi uma briga feroz entre a multidão de experts e oráculos profissionais de prêmios que multiplicaram-se nos últimos anos com a velocidade da internet.  Dá para entender: esse povo ganhou fama e seguidores apregoando poderes quase paranormais de compreender a possível “alma coletiva” da indústria tal qual ela se manifesta em seus prêmios anuais.

O que menos gente comenta é que esses oráculos se tornaram, na verdade, instrumentos da cada vez maior manipulação da opinião dos votantes através de “tendências” cuidadosamente plantadas pelos estrategistas  em suas “previsões”. Quando fatores além dos sistemas que eles criaram – baseados na verdade em cacoetes e nas “tendências” alimentadas pelos estrategistas – bagunçam suas previsões… é o caos!

A principal briga é entre David Poland do Movie City News, que fez uma análise bem balanceada das estranhas escolhas deste ano, e Sasha Stone da Awards Daily, que está choramingando na linha “injustiça!”. Mas em volta deles, amigas e amigos, parece a sequencia de abertura de O Resgate do Soldado Ryan, uns chamando os outros de incompetentes, arrogantes, cegos e coisas piores.

E no entanto…

Qualquer prêmio, inclusive o Oscar (ou qualquer festival) é o resultado da expressão da opinião de um grupo de pessoas num determinado momento.  É divertido especular em torno da forma que essa opinião vai tomar,  e imaginar que haja uma “vontade coletiva” atrás desta ou daquela escolha. Mas no fim das contas são fatores muito concretos que acabam  sendo os mais fortes.

Lembram quando eu disse que a antecipação dos prazos poderia resultar em escolhas desiguais e potencialmente injustas, especialmente para os filmes que estrearam no final do ano? Este, creio, é um grande fator no sumiço de Kathryn Bigelow, Tom Hooper e Quentin Tarantino dos indicados a melhor diretor.

Mas não explica porque Ben Affleck, indicado pela DGA, sumiu dos Oscars com um filme que estreou em outubro. A matemática não apoia nenhuma especulação. Existem  mais de 15 mil votantes na entidade de classe dos diretores. Existem 371 membros no departamento de diretores da Academia. 95%  deles são votantes da DGA. O que aconteceu?

Cair na choradeira do “ah, mas o filme é tão bom, por que?!! Por que?!!” não resolve nada. Depois de passar uma tarde de domingo bebendo cinema da mais alta ordem na exposição Kubrick do Museu de Arte de Los Angeles, caí na real ao perceber que este gigante da sétima arte recebeu um único Oscar- por efeitos especiais, por 2001 Uma Odisseia no Espaço.

A conversa não é por aí.  (Se a conversa fosse por aí eu estaria aqui vociferando porque O Lado Bom da Vida, um filme que me irritou profundamente no mau sentido, pela auto-complacência e preguiça, conseguiu ser indicado em todas as categoria nobres. E como é possível que O Mestre tenha ficado de fora das categorias filme, diretor e roteiro original.) A conversa é sobre números, estatísticas e um corpo votante de idade avançada que reage a qualquer novidade.

Dois fatos me levam a pensar que houve um pepinaço na votação em geral, mais dramática na categoria “melhor direção”:

1. a inclusão de Benh Zeitlin (Indomável Sonhadora) e Michael Haneke (Amor) entre os melhores diretores,  duas indicações incrivelmente ousadas para um corpo votante tão conservador;

2. a imediata profusão de entrevistas de Hawk Koch,  presidente da Academia, garantindo que nunca tantos membros tinham enviado seus votos e comparecido às sessões dos filmes concorrentes. Lembrei de cara daquela cena maravilhosa de Argo, em que Alan Arkin diz para Ben Affleck: “Então, nesta cidade onde as pessoas mentem profissionalmente, você quer criar um filme de mentira?” (Que bom que, nesta confusão, tanto Arkin quanto o maravilhoso roteiro de Chris Terrio foram lembrados).

Pois é.

O que acho, até prova em contrário: as indicações anunciadas na manhã do dia 10 foram o resultado do menor número de votos já lançados numa escolha do Oscar; muita gente não soube ou não conseguiu votar no novo sistema online; muita gente deixou linhas em branco porque, com os novos prazos, não teve tempo de ver os filmes ou se guiar pelas indicações das sociedades de classe; muito voto foi anulado.

É tudo hipótese. Mas faz sentido.

Uma única unanimidade emergiu da madrugada do Oscar: a correria deseperada atrás do público jovem inventou um sub-Rick Gervais na figura de Seth McFarlane. Seus promos foram tão sem graça quanto suas piadas no anúncio das indicações. E que triste a Academia ter que debochar de si mesma para se mostrar “moderna”…

 

 

 


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