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Indicações 2011: para a Academia, a realidade sempre supera a imaginação
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Ana Maria Bahiana

Então, gostaram das indicações? Já estão preparando seus palpites?

Eu fiquei pensando primeiro no poder de Julia Roberts. Duas semanas atrás, na reta final para a entrega das cédulas, ela deu uma pequena recepção em sua casa de Los Angeles, apenas para alguns bem escolhidos colegas do departamento de atores da Academia. O tema: Javier Bardem, amigo e colega de tela em Comer, Rezar, Amar. Julia pediu claramente o voto para Bardem nas indicações, por Biutiful _ e conseguiu. Tarde demais para os prêmios da Screen Actors Guild mas Bardem, muito merecidamente, foi para os Oscars.

Jacki Weaver não teve uma madrinha dessas, mas foi uma delicia ve-la indicada para melhor coadjuvante, e Michelle Williams como melhor atriz na vaga que, eu antecipava e temia, poderia ter sido de Hillary Swank. Bom também ver L’Ilusioniste na vaga que seria de Meu Malvado Favorito (ironicamente, outro produto da animação francesa) e o carinho (10 indicações!) com Bravura Indômita e os irmãos Coen (não credito a esnobada nos Globos exclusivamente ao gosto duvidoso dos meus colegas – a Paramount praticamente escondeu o filme.)

A questão Inception-A Origem merece um pouco mais de vagar. Certo que ele tem 8 indicações, no mesmo pé de A Rede Social. Certo que uma das indicações é para melhor filme. Mas… ele se dirigiu sozinho? E se montou sozinho também? Ai se revelam as idiossincrasias do sistema atual de escolha dos Oscars _ existem 10 vagas para melhor filme, onde todo mundo vota; e 5 vagas nas outras categorias, onde votam apenas os departamentos. Isso deixa, automaticamente, 5 filmes como cidadãos de segunda classe, lembrados por estarem entre os melhores do ano sem que seus diretores possam ser igualmente reconhecidos.

Já me perguntaram no Twitter o que o Nolan fez para desagradar os colegas do Departamento de Diretores. Não tenho a menor ideia – seus companheiros da Directors Guild lhe deram a indicação, e muitos deles também são da Academia. Como expliquei no meu balanço para UOL Cinema, só posso atribuir isso à notória preferencia da Academia, em geral, pelo drama realista de época, e sua aversão ao cinema da imaginação – fantasia, sci-fi , terror e companhia. A correlação, tão comum na visão que a industria tem de si mesma, é que esses são gêneros para vender ingresso e pipoca, não para ganhar prêmio.

Agora, é ver como se resolve a disputa entre o príncipe gago e o nerd anti-social, ou como duas diferentes tecnologias – o rádio e a internet- mudaram o modo como nos relacionamos uns com os outros.


Globos de Ouro 2011, o dia depois das indicações: como eu votei (e não votei)
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Ana Maria Bahiana

Globos de Ouro 2011 _ o que dizer além de meus comentários para o UOL Cinema? Numa tentativa de compreender como um desastre cinematográfico como Burlesque foi parar na seleção dos melhores do ano (sem falar em obras bem mais ou menos como The Tourist, Red, Alice no País das Maravilhas e semelhantes) fiz uma pequena enquete entre meus colegas de  variadas vertentes. Alguns estavam tão chocados quanto eu. Outros justificaram o voto na base da diversidade, da necessidade de incluir estrelas no mix da festa, etc. É complicado _ eventos de prêmios são, cada vez mais, eventos. Foi assim que o Oscar perdeu as honras históricas e ganhou 10 indicados a melhor filme.

Queria muito poder dizer, em detalhes, como votei, mas a verdade é que não me lembro de todos os votos. Fiquei feliz de ver nos finalmentes algumas das minhas apostas na contramão: Jacki Weaver por Animal Kingdom, Jennifer Lawrence por Winter’s Bone, Edgar Ramirez por Carlos, Idris Elba por Luther. Mas a lista dos meus votos que ficaram no pó da estrada é maior ainda.

Tentando reconstruir minhas escolhas, aqui vão as principais categorias:

Drama: Emplaquei Inception, A Rede Social e Cisne Negro. Mas meus votos suicidas para Não Me Abandone Jamais e Ghost Writer (um filme muito melhor do que a maioria das pessoas recorda) se perderam. The Fighter tem seus fãs, mas não me incluo entre eles _ me parece qualquer outro filme sobre boxe/familias operárias da costa leste, e todo mundo interpretando como se fosse uma novela mexicana. Sim, até minha amada Melissa Leo.

Comédia: Aqui apanhei mais que Jake La Motta em Touro Indomável. Meu único voto convertido foi Minhas Mães e Meu Pai. Meus votos perdedores foram It’s Kind of a Funny Story (um filme lindo, lírico, que merece muito), Cyrus, Scott Pilgrim Contra o Mundo e Please Give.

Atores: Ó céus, Johnny Depp, gosto muito de você, mas o que você está fazendo DUAS vezes nessa lista?! Não com meu voto. Jesse Eisenberg, Colin Firth e Ryan Gosling foram votos meus, mas adeus Andrew Garfield por Não me Abandone Jamais e Leonardo di Caprio por Inception entre os dramáticos. Entre os comediantes, consegui algo tão dificil quanto emplacar todos: não emplaquei nenhum. Minhas escolhas: Michael Cera (Scott Pilgrim), Keir Gilchrist (Funny Story), John C. Reilly (Cyrus), Jim Carrey (I Love You Philip Morris).

Atrizes: Só emplaquei a dupla de Duas Mães na arena da comédia. Foram-se Sally Hawkins em Made in Dagenham (que não sei se deveria estar em comédia, pra começar…), Catherine Keener por Please Give, Mary Elisabeth Winstead por Scott Pilgrim. No drama fui um pouco melhor, e quatro das minhas escolhas estão lá. Mas Halle Berry no papel de uma stripper com múltipla personalidade me lembrou aqueles telefilmes cafonas dos anos 1980. Quem não consegui emplacar:  a mais que divina Lubna Azabal, de Incendies.

Coadjuvantes: Jacki Weaver, Andrew Garfield, Jeremy Renner e Geoffrey Rush eu consegui. Não consegui: Pierce Brosnan por Ghost Writer, Marion Cotillard por Inception, Chloe Moretz por Let Me In.

Filme estrangeiro: Aqui, novamente, levei uma surra. Só converti Biutiful.  Está certo que Tio Boonmee e Des Hommes et Des Dieux podem parecer muito extremos, mas como esnobar Incendies, um dos melhores filmes do ano, em qualquer língua?

TV: Não fui de todo mal. Meus escolhidos ficaram na órbita de Mad Men, Boardwalk Empire, Walking Dead, Breaking Bad, Carlos, Temple Grandin, You Don’t Know Jack. Não consegui emplacar Sherlock nem minha querida Raising Hope _ espero que ela segure a onda até o ano que vem…

Agora é esperar a cédula defiitiva, para os vencedores, que chega dia 28…