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Papas, cardeais e companhia: cinco (bons) filmes sobre o Vaticano
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Ana Maria Bahiana

Conseguiu resistir ao impulso de uma maratona  Dan Brown/Tom Hanks/Ron Howard depois de tantas notícias vindas do Vaticano? Tenho algumas opções mais interessantes para você. E, enquanto checava esta lista, me espantei com a escassez de bons títulos sobre a interessantíssima, complicada, historicamente fundamental encruzilhada de poder e espiritualidade que é o Vaticano.

Aqui vai uma breve mas seleta peneira de bons filmes sobre papas, cardeais e os dilemas entre fé e domínio, consciência e dogma, poder espiritual e poder temporal. Podem completar com as primeiras duas temporadas de Os Bórgias, onde Jeremy Irons – fisicamente muito diferente do seu personagem – dá uma aula sobre a complexidade de Rodrigo Borgia, político, estrategista militar, patrono das artes, pai de família e Papa Alexandre VI.

Habemus Papam (dir. Nanni Moretti, 2011). E se o escolhido pelo conclave sofresse de síndrome de pânico, disparando para os confins da Capela Sistina assim que sua eleição fosse anunciada sobre a Praça de São Pedro? Nanni Moretti (que também faz o papel do terapeuta contratado para resolver o impasse) é um humanista com um olhar preciso sobre os detalhes da comédia humana, mesmo na mais absurda (e pública) das situações.

As Sandálias do Pescador (The Shoes of the Fisherman, dir. Michael Anderson, 1968)  O que é mais fascinante neste filme? Sua visão do futuro – 1980- vinda do ponto de vista dos turbulentos anos 1960? A exatidão de algumas de suas especulações – a tensão entre Russia e China, fome na Ásia, um cardeal do leste europeu sendo feito Papa—ou seu elenco sensacional, com Anthony Quinn, Laurence Olivier, John Gielgud e até, num papel secundário, Vittorio de Sica?

 

Agonia e Êxtase (The Agony and the Ecstasy, dir. Carol Reed, 1965) E por falar em grande elenco… Rex Harrison como o Papa Julio II e Charlton Heston como Michelangelo. Precisa dizer mais? Sim: arte e fé, carnalidade e espírito, razão e dogma chocam-se, debatem-se e iluminam a tela enquanto a Capela Sistina (reproduzida em CineCittá) recebe os murais que a transformariam numa obra de arte.

O Poderoso Chefão Parte III (The Godfather Part III, dir. Francis Ford Coppola, 1990). Esqueçam Sofia Coppola, coitada: há uma saborosa trama dentro da trama, envolvendo o Banco do Vaticano, negociatas, trocas de favores e uma cena icônica – um cardeal, mancha escarlate no meio da tela, despencando-se ao som de uma ária da ópera  Cavalaria Rusticana. “Eu me interesso muito por sociedades fechadas, cheias de segredos e códigos particulares”, Coppola me disse, na época. “A mafia é uma delas. A Igreja é outra.”

 O Escarlate e o Negro (The Scarlet and the Black, dir. Jerry London, 1983) Sempre quis ver Gregory Peck no papel de um monsenhor das altas esferas do Vaticano? Então este filme – feito para a TV, mas com qualidade e elenco de filme de cinema- vai resolver seus problemas. Peck interpreta um personagem verdadeiro,  o monsenhor irlandês Hugh O’Flaherty, alto funcionário diplomático do Vaticano que, durante a Segunda Guerra Mundial, deu abrigo a prisioneiros de guerra fugitivos e famílias da resistência contra Mussolini. Bônus: Christopher Plummer como o coronel da SS no encalço do Monsenhor.


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Ana Maria Bahiana

Nem só de Mildred Pierce vive a safra 2011 da TV. Alguns destaques do que está no ar nesta primavera norte-americana:

The Borgias (Showtime, no ar nos EUA desde 3 de abril) – O sucesso de The Tudors animou a Showtime a investir nas séries de época, e o canal pago parece ter um xodó especial por linhagens poderosíssimas, cruéis e sexy –  uma combinação irresistível.  Os Borgias, a família de origem espanhola que se apossou de Roma no final do século 15 e se tornou sinônimo tanto de desmedida ambição quando de especial cuidado com as artes, são  sucessores mais que dignos das tramóias de Henrique VIII. Crédito especial para Neil Jordan, que escreveu e dirigiu os dois primeiros episódios, dando o tom para série como um estudo sobre a ambição e a banalidade do mal. Michael Hirst, que se tornou uma espécie de faz-tudo do drama histórico na TV (Tudors, Camelot) e no cinema (Elizabeth, Elizabeth: A era de ouro), segue no mesmo tom, mas o grande, enorme prazer da série é ver Jeremy Irons como o Papa Alexandre, com suas amantes, filhos, altos esquemas políticos, seduções de confessionário e limitada paciência com a mediocridade alheia.

The Killing (AMC, no ar no EUA desde 3 de abril) – Chove o tempo todo. Há florestas silenciosas e enevoadas, e um carro suspenso em câmera lenta, ao entardecer, do fundo de um lago, lindo e terrível. O clima é totalmente Twin Peaks nesta adaptação da mini-série dinamarquesa Fobrydelsen ( 2007), filmada em Vancouver mas teoricamente situada na vizinha Seattle.  Mireille Enos, que vem de vários pequenos papéis em filmes e séries e um desempenho mais substancial em Big Love, é a detetive de homicídios Sarah Linden, que, no último dia de trabalho (ela vai se casar e se mudar para a ensolarada Sonoma, California) tem que resolver o desaparecimento de uma adolescente. Cada episodio é um dia da investigação, e o clima não tem a exposição desenfreada e a necessidade de arrumar e explicar tudo dos CSIs da vida. A AMC apanhou muito com uma outra série cerebral como esta, Rubicon, mas The Killing, embaixo de seu verniz gelado, pulsa de emoção e humanidade.

Camelot (Starz, no ar desde 25 de fevereiro). O mito do Rei Artur é uma especie de template onde cada década e realizador coloca sua marca, ideologia, ponto de vista. Acho que poucas histórias podem ser contadas de tantos modos diferentes e permanecer, essencialmente, a mesma história: a do garoto que não queria ser rei mas acaba criando um país. Na estreia da GK TV – braço televisivo da produtora de Graham King, o melhor amigo de Martin Scorsese – Arthur (Jamie Campbell Bower) é um adolescente meio bobão, um peão no jogo pelo poder articulado por Merlin (Joseph Fiennes) , que se parece menos mago e mais um consiglieri da Mafia se a Mafia existisse nas ilhas britânicas do começo da idade media. A narrativa é meio gaga,  os figurinos são metidos a modernosos, e há diálogos irritantemente contemporâneos, cheios de “ok” e “fantastic”, mas Eva Green como uma linda, poderosa e astuta Morgan compensa quase tudo.

Game of Thrones (HBO, estreia 17 de abril) A HBO entra no território da fantasia jogando alto com esta ambiciosa adaptação do primeiro volume da cultuada saga A Song of Ice and Fire , de George R.R. Martin. Martin, que foi roteirista de TV  (Além da Imaginação, entre outros) antes de se dedicar aos livros, fez basicamente uma variação da história européia dos séculos 13 a 14, quando linhagens e reinos se matavam pelo controle de terras que, muitas vezes, mal eram países. Colocando suas intermináveis disputas num continente ficticio, Westeros, onde invernos e verões podem durar décadas, Martin permitiu que a história, transformada em lenda, pudesse ressaltar não os feitos heróicos, mas as fraquezas e os dramas de ser humano. David Benioff e Dan Weiss, roteiristas e escritores de ficção, fazem um trabalho monumental e perfeito adaptando o texto de Martin, e um grupo sólido de atores britânicos, liderados por Sean Bean como Lord Ned Stark, dá completa credibilidade a esta história de paixões e traições. Algumas perucas podiam ser melhores, mas a trama é tão boa que a gente releva.


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