Blog da Ana Maria Bahiana

Semana de definições na temporada ouro
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Ana Maria Bahiana

Esta é uma semana de definições. Quinta, a definição dos indicados ao Oscar 2013. Domingo, a definição dos vitoriosos dos Globos de Ouro 2013.  Neste momento, posso adiantar três coisas com certeza:

  • as duas listas –indicados e vitoriosos- serão muito parecidas.
  • Django Livre será indicado pelo menos por melhor figurino. A página com essa informação apareceu inesperadamente (e por erro, é claro) no site da Academia.  E na pressa de divulgar o evento, a Academia vazou a noticia para a Vanity Fair

  • O que nos leva à terceira certeza: mudar o anúncio das indicações do Oscar para antes da entrega os Globos não está ajudando em nada a Academia. Esta semana, tudo o que midia, online e off, quer comentar são Globos, Globos, Globos…

Para antecipar as indicações de quinta feira existe um método razoavelmente simples: use como base as indicações dos Globos de Ouro, e adicione as indicações das organizações de classe: roteiristas, diretores, produtores, atores, diretores de fotografia,  efeitos especiais. Os nomes que mais se repetirem em todas as listas são os que vão estar entre os indicados de quinta feira.

Não extrapolo para dizer que serão também os premiados de domingo porque a Associação dos Correspondentes Estrangeiros (à qual pertenço) é famosa por ser imprevisível. Somos poucos – 90 – de culturas e nacionalidades diversas, e com personalidades, idades e gostos extremamente variados.  Tomar o pulso desse grupo é muito mais complicado do que prever o que os profissionais da indústria vão escolher – na noite de domingo, literalmente tudo pode acontecer. Estarei lá, e vou contar tudo o que puder para vocês.

Aos Oscars, pois. De cara anuncio os desacontecimentos:

  • O Mestre, que para mim e para muitas associações de críticos é o filme do ano, não deve aparecer. Os Globos lembraram-se (com justiça) do fenomenal elenco – Joaquin Phoenix, Philip Seymour Hoffman, Amy Adams. Mas não sei se a Academia fará o mesmo.
  •  Batman, O Cavaleiro das Trevas Ressurge ainda tem algumas chances nas técnicas, especialmente som, fotografia e montagem. Mas já sabemos que pelo menos nos efeitos especiais reinam O Hobbit, As Aventuras de Pi (foto), Vingadores e Prometheus.

Agora, as certezas.  A maioria dos acadêmicos a quem perguntei que filmes tinham deixado uma impressão mais marcante em suas memórias me respondeu com cinco títulos: Argo (foto), A Hora Mais Escura, Lincoln, As Coisas Boas da Vida e Os Miseráveis. Como os Oscars prevêem até 10 indicados para melhor filme, eu acrescentaria a esses Skyfall, As Aventuras de Pi Moonrise Kingdom. Ousando bastante, talvez O Mestre, O Impossível e Amour.

Entre atores e atrizes, estes filmes favoritos tem as contribuições mais certeiras. Entre as atrizes, conto ver Jessica Chastain (A Hora Mais Escura)(foto), Jennifer Lawrence (O Lado Bom da Vida) , Naomi Watts (O Impossível). Aposto também em Marion Cotillard por Ferrugem e Osso, Emmanuelle Riva por Amour e Helen Mirren por Hitchcock. Meryl Streep (por Um Divã para Dois) é um xodó da Associação, mas acho que vai passar batida pela Academia. Voto extremo? Quvenzané Wallis por Indomável Sonhadora.

Entre os atores, Daniel Day Lewis (Lincoln) , Denzel Washington ( O Vôo)  e Bradley Cooper ( O Lado Bom da Vida ) são certezas. Eu contaria também com John Hawkes (As Sessões) e Hugh Jackman ( Os Miseráveis), e ficaria torcendo por Joaquin Phoenix (O Mestre) e Jack Black (Bernie). Azarão vindo por fora? Bill Murray por Um Fim de Semana em Hyde Park.

Coadjuvantes-certeza são Sally Field e e Tommy Lee Jones (Lincoln),  Anne Hathaway (Os Miseráveis)(foto), Helen Hunt (As Sessões), Alan Arkin (Argo) e Christoph Waltz (Django Livre). Possibilidades fortes: Javier Bardem (Skyfall), Leonardo di Caprio (Django Livre), Philip Seymour Hoffman e Amy Adams (O Mestre), Robert de Niro (O Lado Bom da Vida). Surpresas possíveis: Nicole Kidman por Paperboy , Maggie Smith por O Exótico Hotel Marigold .

Os cinco diretores queridos da DGA – Steven Spielberg, Tom Hooper, Ang Lee, Katherine Bigelow e Ben Affleck — são as mais prováveis escolhas do departamento de diretores de Academia. Torço por Paul Thomas Anderson e ainda não perdi de todo a esperança em ver os nomes de Wes Anderson (Moonrise Kingdom) e Behn Zeitlin (Indomável Sonhadora). (Meu consolo: esses dois vão levar os Independent Spirits de lavada…)

Nos filmes estrangeiros, Haneke já deve até estar escrevendo o discurso de agradecimento por Amour, tanto nos Globos quanto nos Oscars. Outros indicados-certeza são o francês Os Intocáveis, o norueguês Kon-Tiki e o dinamarquês O Amante da Rainha. Fico torcendo pelo chileno No e pelo romeno Além das Montanhas para a quinta vaga… E se Paranorman fosse lembrado entre os longas de animação eu ficaria muito, muito feliz.


Indicações do prêmio dos roteiristas dão equilibrio à disputa de 2013
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Ana Maria Bahiana

As Vantagens de Ser Invisível – reconhecido pela WGA

 

A lista de indicados da Writers Guild — organização de classe dos roteiristas de cinema e TV dos Estados Unidos — é, até agora, a que apresenta um quadro mais equilibrado e realista da qualidade do texto no audiovisual desta safra. Num ano –2012– em que a produção comercial estava inteiramente tomada por adaptações, fraquias e refilmagens, a WGA soube escolher cinco excelentes obras originais: O Mestre, Looper, O Vôo, Moonrise Kingdom e A Hora Mais Escura (que, apesar de se basear em entrevistas com agentes envolvidos na caçada a Osama Bin Laden, é essencialmente uma obra de ficção, o que pode ser sua salvação no atual inquérito movido pelo Senado norte-americano).

A seleção de roteiros adaptados é excelente, também: Argo, As Aventuras de Pi (uma pequena gema, considerando a dificuldade da obra original), Lincoln, As Vantagens de Ser Invisível (afinal reconhecido!) e O Lado Bom da Vida (aqui eu teria preferido o elegante trabalho de Jose Rivera para On The Road, mas vamos deixar assim).

Senti falta de Indomável Sonhadora, mas havia uma questão técnica: seus autores não são filiados à WGA e por isso não podiam concorrer.

Na TV, o registro exato de quem liderou este ano: Breaking Bad, Game of Thrones, Mad Men, Homeland, Boardwalk Empire, 30 Rock, Girls, Louie, Parks and Recreation e (será cacoete?) Modern Family. Gostei também de ver Veep, Nashville e o desigual mas bem pensado Newsroom entre os indicados para nova série.

Impacto sobre os Oscars? A votação para os indicados da Academia termina hoje no final da tarde aqui de LA, depois de muitas confusões. Nesta etapa, os indicados são escolhidos pelos departamentos respectivos da Academia. Como quase todos os roteiristas acadêmicos são também afiliados à WGA, as chances de uma repetição de pelo menos cinco desses títulos é grande…

Os prêmios da WGA serão entregues dia 17 de fevereiro.


Oráculo do Oscar de melhor filme, a Producers Guild ignora O Mestre
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Ana Maria Bahiana

O que os Globos tem de termômetro do clima de votação —  a pré-lista de quem está no jogo, por assim dizer– os indicados da Producers Guild of America, orgão de classe dos produtores, são o melhor sinal de quem está na ponta para os prêmios de melhor filme.

A lista deste ano inclui todo mundo dos Globos — mas deixa de fora O Mestre, de Paul Thomas Anderson, que pelo menos, nos Globos, rendeu indicações para seus atores.

Os indicados da PGA são: Argo, Indomável Sonhadora (uma bela e feliz surpresa), Skyfall,Os Miseráveis, Django Livre, As Aventuras de Pi, Lincoln, Moonrise Kingdom, O Lado Bom da Vida e A Hora Mais Escura.

American Horror Story e Game Change estão entre os indicados na TV (a PGA só considera mini-séries e telefilmes), e Valente, Detona Ralph, Paranorman, A Origem dos Guardiões e Frankenweenie são os indicados em longa de animação (gostei…).

Os vencedores da PGA serão anunciados dia 26 de janeiro.


Para os Oscars, um não muito feliz ano novo
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Ana Maria Bahiana

Neste momento, enquanto escrevo, os 6 mil votantes do Oscar tem apenas 52 horas para decidir quem serão os indicados deste ano. E muitos deles estão completamente perdidos, ou em suas escolhas, ou no modo de votar. O resultado dessa correria e confusão pode ser uma seleção de indicados esquisita, desequilibrada e, sinceramente, injusta.

Duas novidades da votação 2012-2013 tem provocado verdadeiros surtos nervosos nos votantes. A primeira  foi a antecipação de todos os prazos: com os Oscars sendo entregues dia 24 de fevereiro, as indicações deste ano serão anunciadas agora no dia 10. Morro de rir quando penso no por que da mudança: depois de anos e anos mantendo a postura de que os Globos de Ouro não tinham a menor importância, a Academia colocou o anúncio dos indicados exatamente três dias antes da entrega dos Globos, este ano. O motivo oficial foi “dar mais tempo aos votantes para ver os filmes indicados” mas quase  ninguém por aqui acreditou: a impressão que ficou é que, ao contrário do que anuncia, a Academia está preocupadíssima com os Globos. (A coisa vai ficar pior ano que vem… continuem lendo.)

Até porque o efeito, no final das contas, foi o oposto: para anunciar dia 10, o prazo para votar nos indicados teve obrigatoriamente que cair logo depois do Ano Novo, um período complicado para muita gente. E particularmente nocivo para quem lançou filmes/deslanchou campanhas nos últimos dias de 2012 – entre eles, Django Livre, Os Miseráveis, O Impossível e Promised Land (de Gus Van Sant). Num corpo votante que já não tem o hábito de correr atrás dos filmes para ver, o novo prazo pode ser um fator de desequilíbrio. (Em tese, deveria favorecer filmes que estrearam em meados do segundo semestre, como O Mestre….)

Para tornar as coisas mais complexas, a Academia resolveu inaugurar este ano um sistema de votação online. Quando a mesma ideia circulou com relação aos Globos, optamos por instituir a opção online lentamente, em etapas, para familiarizar votantes mais idosos com a tecnologia. Hoje pode-se fazer o rascunho dos votos dos Globos online, mas eles ainda tem que ser impressos e enviados por correio tradicional. E mesmo assim tem gente que se confunde. Sem falar na complexidade de manter a segurança e usabilidade do site durante o período.

A Academia queimou etapas, e o resultado tem sido uma dor de cabeça de proporções cósmicas. O sistema de votação já caiu várias vezes. Senhas não são reconhecidas. Votantes que ainda estão na era do fax estão absolutamente perdidos. Para lidar com o caos o prazo de votação foi estendido até sexta dia 4 as 17h, e as boas e velhas cédulas de papel estão sendo distribuídas às pressas.

E em 2014? Teremos Olimpíadas de Inverno em fevereiro, e a temporada de futebol americano começando dia 19 de janeiro. São grandes eventos que ocupam as emissoras e os calendários da publicidade. Os Globos estão confortavelmente instalados em janeiro – tradicionalmente, no segundo domingo, que seria 12 de janeiro em 2014. O que os Oscars vão fazer?


Para 2013: de Downton Abbey a WikiLeaks
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Ana Maria Bahiana

Dan Stevens na terceira temporada de Downton Abbey…

… e Julian Assange.

A mania Downton Abbey já chegou aí? Aqui é uma verdadeira febre, com fãs fiéis e pessoas dando festas em casa para ver cada episódio da produção britânica (que nos EUA vai ao ar pela rede pública PBS). A quarta temporada começa a ser filmada na Inglaterra depois do Ano Novo mas, graças ao especial de Natal que foi ao ar na Grã Bretanha esta semana, já se sabe que a saga da aristocratica familia Crawley pelo século 20 vai continuar sem um integrante: o advogado Matthew Crawley interpretado por Dan Stevens.

E por um bom motivo: Stevens turbinou sua carreira graças à sua passagem pelo castelo que dá título à série, e está comprometido com uma das muitas cinebios de Julian Assange que estão, neste momento, movimentando os bastidores da indústria.

Stevens deverá fazer o papel do criador da Wikileaks no projeto que está sendo tocado pela DreamWorks, com Bill Condon na direção e roteiro baseado em dois livros sobre a criação do site determinado a destruir a  “cultura de segredos” de nações e corporações. As filmagens tem previsão de início também no primeiro semestre de 2013.

Mark Boal, roteirista de Guerra ao Terror e A Hora Mais Escura, também está desenvolvendo um projeto sobre Assange, assim como a HBO. Um documentário sobre a WikiLeaks, We Steal Secrets, vai estrear no Festival de Sundance que começa dia 17 de janeiro, e já é um dos títulos mais quentes do evento.


Ryan Gosling. Louro. Numa moto.
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Ana Maria Bahiana

Além de Ryan Gosling louro numa moto The Place Beyond the Pines tem um diretor muito interessante — Derek Cianfrance, de Blue Valentine/Namorados Para Sempre — e um elenco saboroso: além de Gosling, Ray Liotta, Bradley Cooper (realmente decidido a romper com os estereótipos rom-com), Eva Mendes e Rose Byrne. Há pontos em comum com Drive — agora Gosling usa a moto como arma do crime – mas o contexto é bem diferenciado. Estréia nos EUA dia 29 de março.Boa aposta para o geralmente morno primeiro semestre.


A última safra do ano, parte II: a valsa dos revoltados
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Ana Maria Bahiana

Os dois últimos grandes lançamentos da temporada-ouro estrearam aqui no dia de Natal e, quando escrevo isto, estão brigando ferozmente pelo domínio da bilheteria: Os Miseráveis, de Tom Hooper, está na liderança com 18.2 milhões de dólares num número menor de telas  –2.808– que Django Livre, de Quentin Tarantino, no seu encalço com 15 milhões de dólares em 3.010 telas.

Como ambos estão indicados aos Globos de Ouro e seus respectivos distribuidores acreditam que vão mais longe, até os Oscars, o público brasileiro só vai vê-los respectivamente dia 18 de janeiro (Django) e 1 de fevereiro (Miseráveis). Só para vocês calibrarem seus calendários, as indicações ao Oscar saem dia 10 de janeiro e as estatuetas serão entregues dia 24 de fevereiro. Os Globos serão entregues dia 13 de janeiro. Comparem com as datas das estréias no Brasil e verão o quanto Universal (Miseráveis) e Weinstein/Sony (Django) estão contando com estatuetas e indicações para alavancar suas campanhas de lançamento.

Muito pessoalmente, os dois filmes apresentaram problemas para mim. Reforço o muito pessoalmente porque suspeito que, para muitos espectadores, as coisas que não me apeteceram são justamente as que vão encanta-los. Essa é a natureza do cinema (e da música também). E o seu poder, também.

Admiro em ambos o seu fôlego e audácia. Os Miseráveis ataca de frente um monstro sagrado do teatro musical –60 milhões de ingressos vendidos em 42 países- que por sua vez já digeria e simplificava  um monstro sagrado da literatura, o vasto épico de Victor Hugo sobre redenção e amor durante a Revolução de Junho que, na Paris de 1832, tentou em vão restaurar a república. Django Livre encara o esqueleto no armário das novas nações do continente americano: a escravidão. Para mim, os resultados desses projetos ambiciosos foram desiguais, mas fica registrado meu enorme respeito por Hooper e Tarantino por terem tentado, sem meias medidas.

Nota de esclarecimento: não sou fã de musicais. A não ser que se trate de documentários como Gimme Shelter (sobre os Rolling Stones em sua turnê de 1969) e Don’t Look Back (sobre como Bob Dylan virou Bob Dylan) ou filmes em que a trama, por ela mesma, pede momentos de música (como Quase Famosos), o artifício de parar tudo para que os personagens se expressem cantando tem apenas um efeito, comigo: me fazer imediatamente desconectar da narrativa.

Há exceções notáveis (uma delas em Magnolia, de Paul Thomas Anderson), mas vamos ficar por aqui. Basta dizer que, em Os Miseráveis, o recurso me incomodou muito menos por uma suprema ousadia de Hooper: em vez de dublar peças pré-gravadas em estudio, todos os atores foram captados cantando ao vivo, no set. Isso revelou, por exemplo, que Russel Crowe, no papel do implacável Javert, carcereiro e perseguidor do herói Jean Valjean (Hugh Jackman) não deveria ousar cantar além de sua banda de rock. Mas deu também a Jackman, Anne Hathaway (Fantine) e a grande revelação do filme, o britânico Eddie Redmayne (Sete Dias com Marilyn) como o revolucionário Marius, a oportunidade de cantar como uma extensão de seus personagens, e não como proeza vocal.

O resultado é gloriosamente imperfeito e intensamente dramático  — e aqui todos os que, como eu, tem reservas quanto às convenções do musical, vão começar a se afastar de Os Miseráveis. Porque este não é um filme onde se pratica contenção e sutileza: os heróis Jean Valjean, Fantine e sua filha Cosette (Amanda Seyfried) sofrem terrivelmente; Javert é um vilão implacável; jovens se sacrificam por amor e idealismo; e mesmo morrendo de tuberculose Fantine/Hathaway canta sem parar. Em 1862, a obra de Victor Hugo fundamentou o realismo na literatura. Um século e meio depois, ela serve de base a arroubos de ultra-romantismo.

Fãs da peça (e fiz questão de ver o filme, pela primeira vez, com uma verdadeira especialista ao meu lado, para compensar minha predisposicão contra musicais…) não vão se decepcionar. Vão, possivelmente, estranhar mas admirar a opção pelo canto dramático no lugar do canto exato, e notar onde o filme diverge da  peça como narrativa. São escolhas muito conscientes de Hooper, que compreende bem as necessidades diferentes de tela e palco, e usa todos os recursos do cinema para mostrar em larga escala tudo o que a obra de Victor Hugo descreve em detalhes e a peça menciona com poucos elementos de cena: os trabalhos forçados! Paris! As barricadas dos revolucionários!

Com Django Livre, minha admiração pela dupla ousadia de Tarantino – escolher a escavidão como tema e o spaguetti-western como forma – começou a esfriar quando certas pequenas coisas começaram a se empilhar em cima de suas bravas escolhas. Coisas como:

O fato de Christoph Waltz estar basicamente repetindo seu papel em Bastardos Inglórios – o cavalheiro extremamente educado, calmo e articulado, capaz de incríveis atos de violência sem perder nenhuma dessas qualidades.

A necessidade de colocar um europeu branco (o dentista/caçador de recompensas vivido por Waltz) como a porta da salvação/mentor/educador do escravo negro (Jamie Foxx).

Uma série de coisas displicentes, como uns bons 15 minutos de sobra, uma aparição desnecessária de Tarantino, erros pequenos e não tão pequenos de continuidade.

A ideia de compensar a medonha violência, a violação mesmo, da escravidão, com a super-violência da vingança de Django não me convenceu inteiramente. Eu gostaria de ver um filme em que Tarantino não  auto-referenciasse, em que ele se desafiasse a evoluir. Estou esperando por isso faz tempo, e outros realizadores da geração dele já dispararam na frente.

Tendo dito isso, Tarantino continua sendo um dos melhores dialoguistas que temos, e o que Leonardo Di Caprio faz com seu Calvin Candle, um senhor de escravos com o refinado sadismo que só o poder absoluto possibilita, é a melhor coisa e a mais exata medida do que Django Livre poderia ter sido.


10 filmes para o Natal
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Ana Maria Bahiana

O filão “filme de Natal” é uma coisa bem típica do cinemão comercial norte-americano que muito cedo descobriu o poder agregador de histórias temáticas aconpanhando o ciclo do ano – férias, primeiro dia de aula, dia dos namorados, verão, Dia de Ação de Graças, ano novo, etc e tal.

A maioria, infelizmente, é muito chata. Mas como você, igual a mim, tem que sobreviver aos festejos natalinos com seu bom humor razoavelmente intacto, aqui vão 10 sugestões entre meus favoritos que, de uma forma ou de outra (mais de outra, como se verá) incorporam o tema:

  1. O Estranho Mundo de Jack (dir. Henry Selick, 1993) Sempre imitada, jamais igualada incursão pelo lado do avesso das festas. E para ficar no mesmo universo…
  2. Eduardo Mãos-de-Tesoura (dir. Tim Burton, 1990) Ainda o filme definidor da sensibilidade e da visão de Tim Burton. Quando Eduardo faz nevar na suburbia de Los Angeles, eu fico sempre engasgada.
  3. Férias Frustradas de Natal (dir. Jeremiah Chechik, 1989) É grosso, politicamente incorreto e gloriosamente idiota. Mas nunca falha em me fazer rir. E é uma tradição de festas na minha familiazinha.
  4. A Felicidade Não se Compra  (dir. Frank Capra, 1946) Esse não pode faltar. É tudo o que o cinemão americano tem de melhor, em sua fase de ouro: descaradamente sentimental, desoudiradamente otimista, impecavelmente executado.
  5. Natal dos Muppets (dir. Richard Donner, 1992) Os Muppets! Richard Donner! Charles Dickens!
  6. Gremlins (dir. Joe Dante, 1984) Os mogwais entortam uma cidade-cartão-postal neste delírio cartunesco do tempo em que Joe Dante era Joe Dante.
  7. Feliz Natal (dir. Christian Carion, 2005) O episódio abordado de passagem em Cavalo de Guerra – a espontânea trégua de Natal em plena Primeira Grande Guerra- em toda a sua complexidade política e social. Não exatamente o seu “filme de Natal”.
  8. Simplesmente Amor (dir. Richard Curtis, 2003) Sim, é tão sentimental que  quase dá dor no dente de tanto açúcar. Mas as vezes a gente precisa acreditar que esse tal de amor existe. E tem Colin Firth! E a trilha sublime de Craig Armstrong!
  9. Papai Noel às Avessas (dir. Terry Zwigoff, 2003) A sensibilidade torta do nosso número 3 torna-se mais amarga no século 21. E Zwigoff é o diretor do documentário sobre Bob Crumb… e de Ghost World…
  10. Expresso Polar (dir. Robert Zemeckis, 2004) Tom Hanks ainda parece um fantasma dele mesmo, e os humanos estão mais para zumbis que para seres vivos, mas as paisagens são fantásticas.

Boas festas e bons filmes para vocês!


10 filmes para o fim do mundo
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Ana Maria Bahiana

O churrasco global de Exterminador 2

Decepcionada/o com o desacontecimento do fim do mundo? O cinema, que resolve quase todos os problemas, também pode compensar seu desapontamento.

Os meus filmes apocalípticos favoritos

  1. Donnie Darko (dir. Richard Kelly, 2001) Não é só porque tem Jake Gyllenhaal moleque e um coelho gigante – e é porque sempre imagino que o verdadeiro fim do mundo, se e quando acontecer, virá precedido de um espécie muito especial de loucura. Veja o item 8.
  2. O Exterminador do Futuro 2: Julgamento Final (dir. James Cameron, 1991). Ainda a melhor sequência de aniquilação nuclear da tela.
  3. O  Dia dos Mortos (dir. George A. Romero, 1985). O primeiro, mega clássico, Noite dos Mortos Vivos, de 1968, terminava com o apocalipse zumbi sendo contido. Aqui a coisa está feia mesmo.  E por falar nisso…
  4. Madrugada dos Mortos (dir. Zack Snyder, 2004) Quando Zack Snyder ainda era bom, ele pegou um roteiro do grande Romero e fez um filme fim-de-mundo exemplar, com um grupo de pessoas num shopping cercado por zumbis por todos os lados.
  5. Extermínio (dir. Danny Boyle, 2002) Boyle entra de cabeça no mundo do apocalipse zumbi com seus mortos-vivos a toda velocidade.
  6. Extermínio 2 (dir. Juan Carlos Fresnadillo) Fresdanillo (também autor do roteiro) pega a história de onde Boyle deixou e empurra para ainda mais complicadas questões morais.
  7. Alerta Solar (dir. Danny Boyle, 2007) Pouca gente viu este filme de Boyle, pena… ele volta ao tem da destruição total através de uma outra perspectiva:a morte do Sol.
  8. O Abrigo (dir. Jeff Nichols, 2011). Um pequeno filme independente, sucesso em Sundance, levantando de novo a bola entre profecia e loucura.  E que elenco: Jessica Chastain e Michael Shannon.
  9. Melancolia (dir. Lars Von Trier, 2011). O fim do mundo como um drama intensamente pessoal. Para altos visuais, fast forward a primeira parte, a do casamento.
  10. Miracle Mile (dir. Steve de Jarnatt, 1988) Este é um micro filme indie dos anos 1980, difícil de achar mas super cult. E com boa razão. Além dos cabelos e ombreiras, uma trama amarradinha de suspense.

 


Analisando a pré-lista do filme estrangeiro no Oscar
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Ana Maria Bahiana

Kon Tiki, da Noruega, um dos nove filmes pré-selecionados para o Oscar

E o balaio do filme estrangeiro do Oscar, hein? Sinto muito não ver o Brasil– com O Palhaço, de Selton Mello –  na lista mas sinceramente não me surpreendo. Há muita coisa que precisa ser feita para realmente termos chance de comprar essa briga, e que vai da escolha do representante no Oscar até uma verdadeira estratégia de campanha, aqui. Infelizmente não tenho visto nenhum desses passos estratégicos  nos últimos anos.

A lista repete muita coisa da seleção dos Globos de Ouro, mais uma vez afirmando a importância desse passo na trajetória de um filme estrangeiro por aqui — algo que o Brasil tem ignorado com uma teimosia que se reflete proporcionalmente na sua ausência. (Atualizo a informação: no final, tivemos três filmes inscritos para o Globo de Ouro: Xingu, Heleno e O Som Ao Redor. Mas todos entraram na última hora, literalmente. E com isso não tiveram tempo para fazer  a campanha que é essencial para se destacar na selva dos prêmios).

Dos nove do balaio do Oscar, quatro são também indicados ao Globo de Ouro:o grande favorito Amour que, acho, vai ganhar ambos; o noruegues Kon-Tiki, uma bela lição de como transformar uma cinebio de aventura num exercício de reflexão existencial; o dinamarquês A Royal Affair, da estrela ascendente da Zentropa (e roteirista original da série Millenium), Nikolaj Arcel; e Os Intocáveis, que joga descaradamente para a arquibancada, e tem ainda por cima a força da pressão dos irmãos Weinstein.

Outros três do balaio eram francos favoritos e por pouco não foram indicados aos Globos: o chileno No ( nota pessoal: me encantou profundamente e me deu saudade do que não vivi) que tornou-se o representante da América Latina na disputa; o romeno Beyond The Hills, de Cristian Mungiu, um favorito pessoal meu, todo em planos-sequência e luz natural; e o islandês The Deep, uma espécie de Náufrago nas águas geladas do Mar do Norte,e que já rendeu ao seu ótimo diretor, Baltasar Kormákur, dois projetos aqui em Los Angeles.

Surpresas mesmo foram o suíço Sister, sobre a complicada relação entre irmãos num resort de luxo, e o canadense Rebelle/War Witch, que tem um diretor de origem vietnamita e se passa inteiramente num país da África Central estraçalhado pela guerra civil.

Ausências notáveis: o coreano Pietá, vitorioso em Veneza; o maravilhoso italiano Caesar Must Die, dos irmãos Taviani, vencedor em Berlim; o alemão Barbara, outro favorito meu, mais um poderoso perfil de mulher vindo da Europa; e o holandês Kauwboy, que tem dois elementos normalmente irresistíveis para os acadêmicos _ criança (um menino) e bichinhos (no caso, uma gralha).

Agora é pensar quais desses nove vão de fato tornar-se indicados, dia 10 de janeiro.