Blog da Ana Maria Bahiana

Categoria : TVland

Minha séries favoritas da nova temporada (nem todas estão na “TV)
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Ana Maria Bahiana

Nesta época do ano sou o alvo de duas avalanches. A primeira traz os dvds da quantidade cada vez maior de novas séries disputando espaço no início oficial do ciclo, o outono no hemisfério norte. A segunda vem mais tarde, em geral depois do dia de ação de graças (final de novembro): todos os filmes esperançosos por uma indicação ao Globo de Ouro.

A avalanche de TV, este ano, foi triste. Nem vou entrar em detalhes, a não ser para dizer que Gotham poderia tern sido tão divertida se tivessem contratado roteiristas que sabem escrever…

Mas vamos focar no positivo: do balaio 2014 estas são as minhas séries favoritas.

Transparent

Transparent (Amazon; todos os episódios disponíveis) já está sendo chamada de “a melhor nova série do ano”, o que é um pouco demais pra burro num ano que teve True Detective e Fargo. Mas não deixa de estar, com certeza, entre as melhores coisas desta safra. Crédito à criadora e showrunner Jill Soloway, que vem de duas boas escolas – o cinema independente (recomendo oseu Afternoon Delight que, apesar de instável – cheio de altos e baixos – revela seu talento para compreender e compor personagens) e a TV de primeiro escalão (Six Feet Under, United States of Tara). E crédito a Jeffrey Tambor, protagonista e principal força de impulso da série, no papel de um professor universitário, pai de três filhos, que decide, do alto de seus 70, mudar de sexo. O assunto não é original – o ótimo Transamerica, de 2005, e o telefilme Normal, de 2003, exploraram a questão com inteligencia, sensibilidade e grandes desempenhos de Felicity Huffman e Tom Wilkinson, respectivamente. Transparent alinha-se com esses bons títulos acrescentando uma paisagem humana e social precisa – a alta classe média de Los Angeles- e explorando o impacto das escolhas do pai sobre a vida dos filhos adultos, mas não necessariamente maduros. Um prazer, repleto de humanidade e humor.

Olive

Olive Kitteridge (HBO; estreia nos EUA 2 de novembro) Mildred Pierce, três anos atrás, abriu um nicho super interessante na programação da HBO: a minissérie sobre e para mulheres. É uma recuperação genial do “filme de mulheres” dos anos 1930 e 40, agora com a liberdade de ir mais fundo, de não fugir de temas espinhosos, controversos. Baseada no livro homônimo de Elizabeth Stro ut– na verdade uma coleção de contos sobre as vidas de vários habitantes numa cidadezinho do Maine – Olive Kitteridge foi adaptada com total precisão pela roteirista Jane Anderson e a diretora Lisa Cholodenko. A pragmática, contida, burtalmente honesta Olive (Frances McDormand, espetacular) é agora o centro de tudo. A cidade muda, pulsa e se transforma ao longo de 25 anos na vida dessa mulher, cuja fachada de força impenetrável oculta um mundo de dor e paixão. Só acompanhar o desempenho de McDormand já vale – mas ainda tem Richard Jenkins e, numa ponta essencial, Bill Murray (mais um sensacional elenco de apoio).

Bojack

BoJack Horseman (Netflix; todos os episódios disponíveis). Quando recebi os DVDs minha primeira reação foi: Ai! Quem precisa de mais uma animação tosco-irônica?! Confesso que o que despertou minha curiosidade foi a participação de Aaron Paul como a voz do principal coadjuvante, num elenco que já tinha Will Arnett, Amy Sedaris, Stanley Tucci, Patton Oswalt, J, K. Simmons , Anjelica Huston , Melissa Leo, e, como elas mesmas, Naomi Watts e Margot Martindale. Ainda bem. Imaginem os Simpsons na Hollywood de um universo paralelo onde os humanos convivem com híbridos entre gente e bicho, gerando seres como um diretor chamado Quentin Tarantulino (uma tarantula) , o nosso herói equino que foi famoso na TV dos anos 1990, e uma editora chamada Penguin onde só trabalham… pinguins. E isso é só o começo: a fina faca do comentário sobre as idiotices de nossa descerebrada cultura da celebridade corta de verdade, com o melhor gume possível – o riso.

 

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Menções honrosas vão para duas co-produções britânicas: Happy Valley (Netflix, todos os capítulos disponíveis) e The Missing (Starz, estréia nos EUA 15 de novembro). Em ambas, um desempenho espetacular ancora tudo e faz a gente esquecer as (pequenas ) falhas de cada um. Em Happy Valley Sarah Lancashire é uma sargento da polícia de uma pequena cidade do norte da Inglaterra, escondendo sob sua fachada estóica um mundo interior fracionado e muito próximo da violência que ela policia. Em The Missing Tony Hughes é um pai absolutamente possuído pela obsessão de encontrar seu filho, desaparecido há mais de oito anos. Os ritmos das duas séries são às vezes oscilantes, mas o poder de seus personagens nos mantém ligados na tela sem cessar, Cuidado com as maratoas – vão roubar horas preciosas de sono…


No cardápio da TV: monstros, tiranos e rapazes sem camisa
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Ana Maria Bahiana

The Strain Antes de continuar com as novas séries deste segundo semestre,algumas boas notícias sobre futuros projetos:

  • Sherlock vai ter mais uma temporada em 2015-2016! Essa fez minha semana…
  • A quarta temporada de The Killing – a série que ninguém consegue matar – estará disponível na Netflix dia 1 de agosto.
  • Fãs de American Gods, como eu, ainda não se desesperem de todo. Embora a HBO tenha desistido depois de três tentativas de adaptar o livro de Neil Gaiman ( dá para imginar por que…) a Fremantle Media, que detem os direitos, está convencida de que é capaz de tirar uma série dali. A busca por um showrunner do primeiro time está avançada.
  • Fãs de Jonathan Strange e Mr. Norrell, também não percam as esperanças. O filme não saiu, mas vem aí uma série de sete episódios da BBC America, estrelada por Eddie Marsan (o “Terry” de Ray Donovan, e o “Inspetor Lestrade” de Sherlock) e Bertie Carvel ( o “Barnatabois” do filme Les Miserables).

E agora…. strain The Strain (FX, estréia nos EUA dia 13 de julho). Você sabe que Guillermo del Toro conseguiu te enrolar direitinho quando você termina de ver o primeiro episódio/piloto de The Strain completamente apavorada e hipnotizada. E só muito tempo depois você pára e percebe que este é o tipo de…eu ia dizer filme, o que ele de fato é… em que personagens entram em lugares enquanto outros gritam :”Não! Não! Não entre aí”; onde uma caixa gigantesca aparece numa área suspeita controlada pelo Centro de Controle de Epidemias e ninguém põe nem ao menos um vigiazinha para tomar conta da dita cuja; e que quando um personagem diz “nenhum veículo deixa esta área sem minha permissão” você sabe que na cena seguinte uma van enorme vai fazer exatamente isso. Tudo perdoado, Guillermo. Quem leu os quadrinhos criados por Del Toro e Chuck Hogan sabe do que se trata (a série é fiel à hq). Quem não sabe pode apertar os cintos para uma jornada daquele tipo de horror à moda Del Toro (que produz a série e dirigiu e escreveu o piloto): orgânico e metafísico, onde a própria carne humana é a fonte dos principais terrores, e onde nenhuma metáfora capaz de ser levada ao pé da letra é deixada de lado. Garanto: nunca mais você vai ouvir “Sweet Caroline”, do Neil Diamond, do mesmo modo. outlander Outlander (Starz, estréia nos EUA dia 9 de agosto). Sim, esta é o tipo de série em que rapazes fortes e bem apessoados – de kilt, ainda por cima! – tiram a camisa por qualquer coisa, mesmo no clima super ameno das montanhas da Escócia. É, também, o tipo de série em que uma moça tem que escolher entre dois bonitões igualmente (em tese) irresistíveis (o rebelde escocês Sam Heughan e o marido inglês Tobias Menzies) Tendo dito isso, acrescento – não é Crepúsculo. O diferencial é a obra de Diana Gabaldon, que oferece uma heroína substancial e complexa, a enfermeira Claire Randall, (Caltriona Balfe), escolada nos ambulatórios da Segunda Guerra Mundial, e um bom pano de fundo com os intermináveis conflitos entre ingleses e escoceses no século 18. As paisagens da Escócia (cujo bureau de cinema apoiou  e co-produz o projeto) são um ótimo bônus. tyrant Tyrant (FX, estréia nos EUA dia 24 de junho). Quem será que achou que isso daria uma boa série? Temos aqui o israelense Gideon Raff, um dos criadores de Homeland, juntando-se aos americanos Howard Gordon ( de 24 Horas) e Craig Wright (Lost, Brothers and Sisters, Six Feet Under, United States of Tara) para criar uma série sobre a luta pelo poder num país (árabe, muçulmano) fictício do Oriente Médio. E sabem o que é pior? O que mais incomoda não é nem o festival de clichês que referencia em parte o Iraque de Saddam Hussein, em parte o Egito da Primavera Árabe e da praça Tahir, e que coloca um irmão “mau “, o mais moreno, mais árabe ( o palestino Ashraf Barhom) contra um irmão “bom”, o mais clarinho, mais ocidental (o inglês Adam Rayner). É a multidão de personagens superficiais, começando pelos dois irmãos (Barhom parece que está sempre latindo; Raymer, que está sempre com dor de cabeça) e culminando numa familia que parece um replay das piores coisas de Homeland: a dona de casa devotada que não tem mais o que fazer além de se preocupar com o marido (Jennifer Finnigan, sempre com os olhos arregalados), os dois filhinhos insuportáveis. Eu já vi quatro episódios e digo: não melhora. Muito pelo contrário. knick2 The Knick (Cinemax, estréia nos EUA dia 8 de agosto) Sempre teve curiosidade para saber como se consertavam fraturas e se faziam cesáreas uns 100 anos atrás? Como eram tratadas, digamos, meningite e sífilis? Sempre quis saber como foram criados os instrumentos cirúrgicos, como se desenvolveram as técnicas e tratamentos da medicina moderna? Então esta série é para você! Mas mesmo que você não tenha nenhum desses interesses, esta é uma série que recomendo a qualquer pessoa que goste de bom cinema. Porque é cinema: Steve Soderbergh, produtor e criador, dirige e opera a câmera nos 10 episódios, garantindo unidade estética e clareza de visão na história de um hospital na Nova York do começo do século 20 – Knickerboker, o Knick do título – e seu time de médicos, tão fascinantes e complicados quanto os dos melhores momentos de, digamos, ER. Clive Owen como o cirurgião-chefe Dr. John Thackery, vaidoso, arrogante, viciado em drogas, é o Sol em torno do qual se desenrola a trama de vida e morte,. Um filmaço, em 10 episódios.


É a Copa das séries: qual será o próximo grande sucesso?
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Ana Maria Bahiana

 

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Enquanto a Copa arrebata corações por aí, aqui as apostas são em torno das novas séries _ o verão norte-americano é um excelente campo de provas para as séries estreantes dos canais pagos, um setor mais que aquecido.

Aqui vão algumas prévias para vocês:

The Leftovers (foto) HBO, estréia 29 de Junho. Carro chefe da HBO na ausência do mega-hit Game of Thrones (cuja quinta temporada está neste momento em filmagem),. Leftovers é uma adaptação do livro Os Deixados Para Trás, de Tom Perrotta (que a Intrínseca lançou no Brasil em 2012 ) com supervisão de Damon “Lost” Lindelof. Como toda a obra de Perrotta – que já vimos no cinema em Eleição, de Alexander Payne, e Pecados Íntimos, de Todd Field – Leftovers, o livro, tem um tom entre o drama e a sátira, com situações banais levadas até extremos que revelam o absurdo da “vida normal”. Aqui, no caso, o súbito e inexplicado desaparecimento de milhões de pessoas pelo mundo afora e o impacto do sumiço nas vidas dos que ficaram.

Depois de ver os quatro primeiros episódios da série, ainda estou esperando a sátira. Acho que, assim como os arrebatados, ela não vai aparecer tão cedo, provavelmente nunca. Tudo é muito sério na fictícia cidadezinha de Mapleton, o clima de tragédia pesando no ar, referenciando, o tempo todo, os atentados do 11 de setembro de 2001. Numa mudança importante do material original, o protagonista não é mais um poderoso homem de negócios, mas o chefe de polícia da cidade (Justin Theroux), às voltas com dramas coletivos e pessoais (a mulher que largou a família para juntar-se a uma das bizarras seitas que se multiplicam depois dos desaparecimentos, a filha que vive em estado de apatia crônica).

Talvez a série floresça na continuidade – há alguns momentos geniais, com um surrealismo perverso que flerta com possibilidades saborosas no futuro ( um deles envolve cachorros e uma corça, e mais não direi…)

 

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Halt and Catch Fire (AMC, estréia dia 1 de junho). Devemos nos preocupar com a AMC? O canal que durante alguns anos gloriosos teve no ar Breaking Bad e Mad Men agora tem TURN (que é muito bem acabada mas não consegue me pegar de jeito nenhum) e esta novidade criada por uma dupla experiente na TV – Christopher Cantwell e Christopher C. Rogers – que, tenho quase certeza, pitcheou a série como “Mad Men nos anos 80! No mundo da informática!”

Senão vejamos: temos um executivo jovem, ambicioso, brilhante e arrogante (Lee Pace, que é o “Elfo Malvado” da trilogia Hobbit); uma ainda mais jovem profissional de informática, também brilhante mas socialmente canhestra (a canadense Mackenzie Davis), ao léu num universo dominado por homens; e um engenheiro inseguro, que se sente dominado pelos colegas e pela mulher (Scoot McNairy, um dos diplomatas sitiados de Argo).

Parece familiar?

Troque a publicidade pela industria da informática engalfinhando-se para produzir a próxima grande novidade nos anos 1980 como o mundo-em-transe das aventuras desses três personagem e temos Halt and Catch Fire.

Os dois primeiros episódios não conseguiram me dizer absolutamente nada além da excelente trilha musical – sintetizadores! New wave! Pós punk! – e das impressionantes sobrancelhas de Lee Pace. Já o terceiro, que foi ao ar domingo passado, apontou para uma boa evolução possível – em grande parte porque subverteu um pouco a rigidez dos personagens, tornando o Joe de Lee Pace mais vulnerável e imprevisível, e o Gordon de Scoot McNairy um pouco mais complicado e manipulador. Como quase toda série, Halt ainda não consegue dar às personagens femininas a complexidade que merecem, e isso é um dos seus grandes problemas.

Os diretores são do primeiro time – Juan José Campanella, Jon Amiel e Karyn Kusama, entre outros – e a a narrativa visual mostra com precisão tanto talento. E a trilha continua excepcional.

No próximo post: Outlander e The Knick.


Entre mundos, entre medos: o maravilhoso apelo sinistro de Penny Dreadful
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Ana Maria Bahiana

 

Episode 101

Ah, Penny Dreadful, Penny Dreadful, como eu gosto de você!

Certo, não é exatamente algo que não vimos antes: o mundo opulento/aterrador da Inglaterra vitoriana é território mais que fértil, e agora mesmo está no ar, pela BBC., a ótima série Ripper Street que, embora seja um policial procedural “duro”, às vezes flerta com o sobrenatural.

E, é claro, temos A Liga Extraordinária. Fãs em geral e steampunks em particular vão achar, como eu achei, muitos pontos de contato entre o cico de obras de Alan Moore e a série de John Logan que a Showtime estreou aqui nos EUA neste último domingo. Tenham paciência – principalmente a partir do segundo episódio Penny Dreadful assume um perfil que, embora tenha pontos de contato com a Liga, é todo seu.

“Penny dreadfuls”, deve-se explicar, eram revistinhas-folhetins que faziam sucesso na Grã Bretanha de meados  do século 19 com história de terror em série. Seu público alvo eram (como hoje, aliás….) os adolescentes . Uma confluência de formatos e estios que fascinou o criador e showrunner John Logan (Skyfall, Hugo Cabret, Gladiador, os próximos dois 007).

Este Penny Dreadful pode ser “lido” de muitos modos diferentes. Como na Liga de Alan Moore, Logan faz um refogado bem apurado de praticamente todos os mitos e criaturas fantásticas da era vitoriana: vampiros, múmias, criaturas feitas a partir de cadáveres, Jack O Estripador. Também como na Liga há um grupo de personagens nada “normais” reunidos em torno de um propósito comum: um aristrocrata endinheirado fascinado com explorações geográficas (Timothy Dalton), uma bela médium com vastos dons paranormais (Eva Green), um pistoleiro norte-americano de pontaria infalível (Josh Hartnett) e um certo Doutor Victor Frankenstein (Harry Treadway).

O objetivo, pelo menos em tese, é achar a filha do aristocrata, desaparecida em circunstâncias que nunca são claramente mencionadas – e cuja primeira tentativa de resgate, logo no episódio de estreia, indica claramente que… bom… a coisa não é bem assim.

Episode 101

Essa, na verdade, é a essência da série: revelações constantes, uma atrás da outra, camadas de trama e de definição de personagens sendo retiradas, a cada momento. Cicatrizes são um elemento visual importante, sempre presente: elas apontam para a ideia de que há algo por baixo, algo oculto, feridas e traumas e monstruosidades mal curadas, mal contadas, mal esquecidas, mal cobertas. De quem o pistoleiro está fugindo? Por que o aristocrata frequenta lugares tão… inóspitos? O que realmente aconteceu com a filha dele? Por que a médium vive na mansão do aristocrata, por que reza fervorosamente, quase histéricamente?  O diretor dos dois primeiros episodios, Juan Antonio Bayona, nos brinda logo de cara com um plano sensacional de uma dessas preces, Eva Green praticamente decapitada sob o peso de sua devoção… ou de sua culpa?.

Lá pelo meio do segundo episódio uma sessão espírita toma rumos realmente extraordinários, e Penny Dreadful engrena numa descida delirante para o que os (fabulosos) diálogos de Logan descrevem como “um meio mundo entre a crença e o medo”. Com uma direção de arte espetacular, que contextualiza visualmente uma era fascinada ao mesmo tempo com a ciência e o ocultismo, ganhando fortunas com a rrevolução industrial mas sonhando com romanticamente com um mundo selvagem, e uma fotografia de cinema, Penny Dreadful tem ainda, para a sua largada, um diretor que sabe como poucos armar uma cena e deixar a imagem contar a história. São tantos os exemplos que não me arrisco a cometer spoilers…

Digo apenas: não percam de jeito nenhum.


Não foi você que envelheceu, Jack Bauer: foi a TV que rejuvenesceu
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Ana Maria Bahiana

 

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Em novembro de 2001, quando a 24 Horas estreou na Fox, sua chegada pareceu algo quase paranormal: três meses depois do ataque às Torres Gêmeas, aqui estava uma catarse coletiva prontinha, na medida, com a dose exata de violência explosiva e cuidadosamente orquestrada, produzida e realizada com a mesma extravagância e precisão dos arrasa-quarteirões da tela grande.

Em seu  centro, o  Jack Bauer  de Kiefer Sutherland, um herói indestrutível, um guerreiro imbuído de um senso férreo de certo e errado,  capaz de apanhar e bater com igual determinação e, ao mesmo tempo, ter aquela aura de vulnerabilidade ao redor dos olhos, ser um pai de família devotado (como esquecer aquela temporada em ele andou à cata de sua chatíssima filha perdida pelas montanhas ao norte de Los Angeles?).

Como os xerifes/caubóis justiceiros dos westerns clássicos, Bauer se guiava por um código particular de conduta, acima de todas as instituições, a cada hora/programa vingando um pouco mais um público (o norte americano) traumatizado pelo equivalente a uma bofetada cósmica na cara.

E isso explica os quase 14 milhões de espectadores em 2006 , o fato de ter-se tornado a série de ação mais longa da TV norte-americana (ultrapassando Missão Impossível) e uma boa parte dos prêmios – inclusive, em 2008, o primeiro Emmy na categoria “drama” da história da Fox. Para entender os outros aspectos de seu sucesso, tais como sua imensa popularidade pelo mundo afora, seu lugar de destaque na cultura pop do começo deste século, sua inclusão  em número 6 na lista 50 melhores séries de todos os tempos da revista britânica Empire é bom lembrar o quanto 24 Horas era audaciosa 14 anos atrás. O “tempo real” da narrativa – 24 horas de TV, uma hora a cada episódio. A contemporaneidade dos temas.  A qualidade dos efeitos. O realismo da violência. A complexidade de pelo menos alguns personagens.

Entretanto, entre novembro de 2001 e segunda feira passada  – quando estreou aqui a minissérie 24: Live Another Day – tanta coisa aconteceu na TV! A TV aberta, por exemplo, perdeu sua hegemonia para a TV paga, onde séries ainda mais bem produzidas, realistas em sua recriação da violência e infinitamente mais bem escritas tomaram a dianteira no coração das plateias do mundo todo (graças em grande parte a essa outra grande novidade, a internet banda larga).

O mundo ficou ainda mais complicado, e o público, mais relutante em aceitar mocinhos de chapéu branco que salvam tudo na porrada (a não ser que eles tenham capa, collant e estejam na tela grande. Ou se chamem Bourne. Mais sobre isso daqui a pouco). No vácuo de Jack Bauer, ausente da telinha desde 2010, entrou Walter White, o anti-herói sem nenhum caráter.

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Tudo isso explica porque Live Another Day pareceu tão previsível, tão sem graca, tão… antigo (e a audiência sólida mas morna parece que concorda comigo…).

Bem que tentaram modernizar a coisa toda: drones, ataques remotos, hackers e violação da privacidade online entram no coquetel; Jack Bauer é apresentado numa sequência de ação vigiada no coração de Londres que parece ter sido scaneada diretamente da franquia Bourne. Mas é tudo um verniz bem leve por cima de intermináveis diálogos de exposição (são quatro anos de ausência para serem explicados, afinal…) e os sopapos de sempre, com a mesma Chloe  mal humorada de Mary Lynn Rajskub  (agora com olhos de guaxinim!) guiando Bauer em manobras que imploram nossa capacidade de suspender a descrença.

Se você tem muita, muita saudade de 24 Horas, capaz até de achar divertido : é meio como rever um velho amigo, agora um pouco mais barrigudo e careca, mas ainda seu grande chapa. Se não estiver assim tão fissurado… pode dispensar. A TV cresceu e mudou muito desde 24 Horas (e em parte por causa de 24 Horas). Lá fora, hoje, tem muita coisa melhor.


Uma serpente à solta no jardim de inverno: Fargo, minha nova série-obsessão
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Ana Maria Bahiana

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Cozinhando no fogo brando de uma virose que trouxe comigo do Brasil ainda continuo devendo – a mim mesma e a vocês – uma atualização da temporada pré-pipoca. E quanta movimentação, afinal, nesta época em geral paradona: elenco de Star Wars VII anunciado; Les Revenants virando série americana via A&E com Carlton Cuse e Raelle “True Blood” Tucker no comando; júri e programação de Cannes 2014; Zack Snyder dirigindo Liga da Justiça

Mas uma coisa eu consegui fazer – por a TV em dia. E a TV está tão, mas tão mais interessante estes dias…

Prometi falar da minha série-obsessão, mas antes dela quero incluir uma importante menção honrosa: Silicon Valley, de Mike Judge, que estreou dia 6 de abril na HBO daqui. Não me dou bem com a maioria das séries de comédia americanas, confesso. Até rio de um ou outro episódio, mas muito poucas conseguem me prender com a fidelidade das séries de drama.

 Silicon Valley é uma baita exceção. E não é só porque pegou na precisão a cultura do Vale do Silício, as diferenças entre nerds  (que são franzinos e andam sempre em grupos de cinco) e brogramers (que são bombados, bonitões e atuam solo), o vestuário de agasalhos e tênis nike de cores berrantes, a onipresente mensagem de “vamos criar um mundo melhor” enquanto verdadeiros amazonas de dinheiro correm de um bolso para o outro. Não é nem porque conseguiu fazer riffs plausíveis sobre fatos, empresas e pessoas reais. É porque é espetacularmente bem escrita, com personagens que transcendem os estereótipos tão comuns em comédia (e especialmente em comédia nesse universo) e ganham vida e personalidade completas, complicadas.

E como metade do sucesso de um projeto está no elenco, o de Silicon Valley não podia ser melhor, liderado pelo sensacional Thomas Middleditch, que vimos quase de relance em O Lobo de Wall Street (e mais no muito bom indie The Kings of Summer). Além do Richard de Middleditch – o mais simple e o mais inteligente num universo em que todo mundo se acha o máximo – tenho carinho especial por Guilfoyle, o satanista imigrante ilegal de Martin Starr e o fanfarrão Erlich de T.J. Miller, possível futuro Steve Jobs que nunca será.

Agora, senhoras e senhores, minha nova série-obsessão: Fargo. Confesso que quando soube que os irmãos Coen estavam desenvolvendo uma série baseada em seu (justamente) premiado filme de 1996, fiquei preocupada. Não conseguia ver como uma narrativa tão perfeitamente bem contida nos 98 minutos do filme (é, só 98…) podia ser reinventada como uma série.

Como eu estava enganada… Tendo visto os primeiros seis episódios desta série de 10 (que ainda não se sabe se vai continuar…) as únicas perguntas que restaram na minha cabeça foram: como ninguém teve essa ideia? E – quem é  Noah Hawley e como nunca ouvimos falar dele antes?

Essa última pergunta é falha nossa. Hawley, showrunner espetacular de Fargo, escreveu uma batelada de episódios de Bones e produziu duas séries de breve duração, The Unusuals e My Generation. Mas isso não explica, sozinho, a sintonia que ele teve com Joel e Ethan Coen, a compreensão profunda não apenas de Fargo mas de toda a filmografia dos irmãos realizadores e  o modo como desconstruiu e reconstruiu esse mundo na estrutura multi-arco da série de TV.

Melhor não entender, apenas  desfrutar.

Fargo, a série, inspira-se em “fatos reais” (que não se sabe o quanto são de fato, e isso não tem a menor importância…) e se passa no inverno de 2006 (10 anos depois do filme original) numa região entre os estados de Minnesota e Dakota do Norte, na fronteira com o Canadá. A trama segue em círculos, como a trajetória dos condenados no Inferno de Dante, entre as cidades de Fargo e Duluth e a diminuta Bemidji, quase um ponto perdido na vastidão branca das planícies do centro-norte dos Estados Unidos.

Como em muitos momentos da filmografia dos Coen, Fargo, Duluth e Bemidji são uma espécie de reservatório de inocência, um universo preservado no gelo e no isolamento das altas latitudes onde pessoas simples e parrudas, descendentes dos imigrantes escandinavos que povoaram a região, levam uma vida singela pontuada por cordialidade lacônica e pequenos ritos domésticos e comunitários: o boliche, a pescaria no lago gelado, as compras da semana, o jantar de hambúrgueres comprados na lanchonete da esquina.

Neste jardim de inverno Hawley e os Coen – como tantas outras vezes em sua obra – introduzem uma serpente de pura e absoluta maldade, um predador liberto de qualquer moral, uma força inconsciente movida apenas a instinto e violência. O encanto é gradualmente quebrado. A fachada alegremente pitoresca começa a rachar, instintos reprimidos vem borbulhando à tona, um ato de violência gerando outro e mais outro – pense em Arizona Nunca Mais, Ajuste Final, Onde os Fracos Não Tem Vez.

Mas – e este é talvez um dos maiores triunfos da série – ao invés de cair no modo “over”, no fogo cerrado de coisas horrendas acontecendo  sem parar, barulhentamente, Fargo não permite que a serenidade gélida de sua paisagem geográfica e humana seja quebrada. Tudo continua como sempre foi, o que torna as explosões de sangue e crueldade mais impressionantes,  mais efetivas e – este é um mundo Coen – muitas vezes vagamente surreais.

Pense em toda a filmografia dos Coen condensada em Twin Peaks. É por aí.

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Filmada em Alberta, no Canadá, a série é perfeita em todos os detalhes, da impecável direção de arte à trilha que evoca mas não copia o trabalho original de Carter Burwell.

O elenco me surpreendeu demais. Confesso que tinha desistido de esperar muito de Billy Bob Thornton – para mim ele andava sempre muito perto de uma caricatura de si mesmo. Mas como Lorne Malvo, a serpente no paraíso das planícies geladas, ele é a representação perfeitamente calibrada do mal inteligente, aterrorizante num momento, sedutor em outro, inteiramente banal na maior parte do tempo.

Em pontos chave de um elenco de conjunto Martin Freeman como um atormentado agente de seguros, Colin Hanks como um policial coração mole, Bob “Saul” Odenkirk como um xerife de poucas luzes e Oliver Platt como um seboso dono de supermercado estão perfeitos. A grande revelação é a novata Allison Tolman que, depois de pequenos papéis em duas outras séries, carrega com delicadeza, inteligência e desenvoltura o papel que é a própria alma de Fargo: a policial Molly Solverson, uma espécie de Columbo perdido nos cafundós de Minnesota, muito mais inteligente e aguda do que todo mundo acha que ela é – um riff em cima do papel criado na tela por Frances McDormand.

Fiquei ao saber que Hawley assinou por dois anos com o canal FX. Com certeza muito boas coisas virão. Que tal mais Fargo?

 


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Ana Maria Bahiana

 

 

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De volta a Los Angeles em plena modorra pós-prêmios, pré-pipoca, quebrada apenas por dois escândalos de natureza sexual: as alegações de estupro contra o diretor Bryan Singer, bem na hora em que seu novo X Men vai estrear, e aquela cena no último episódio de Game of Thrones.

Estou acompanhando  o primeiro com luvas e máscara cirúrgica , para evitar tanta poeira tóxica. O segundo é uma obra de ficção, claro – e eu já havia alertado aqui que esta temporada continha uma das cenas mais perturbadoras de toda a história da TV.  Não vou ficar falando muito por conta dos famosos SPOILERS. Mas para mim estes são os pontos principais:

–       entendo a reação aqui, nos EUA, por conta de um elemento específico – a TV  (e o cinema) sempre  usaram a violência contra a mulher quase como um cacoete narrativo, um default, e recentemente esta forma particular de violência – o estupro – tem sido usada com ainda mais frequencia.

–       O mundo criado por George R. R. Martin em sua saga é brutal como nós éramos na antiguidade e na idade média (e como, infelizmente, ainda somos, apesar de todo nosso verniz de civilização…). Dentro dos horrores já perpretados pelos personagens de Game of Thrones, a tal cena do episódio passado faz sentido.

–       Sim, a cena está nos livros mas tem uma perspectiva diferente do que aconteceu no episódio. GRRM está meio que saindo de fininho quanto às alterações que os criadores da série se permitiram fazer, mas numa coisa ele tem razão – no seu texto a cena é contada do ponto de vista de Jaime. Na série, texto e direção se colocam de fora, num terceiro ponto de vista. Seria esse ponto de vista o mais exato sobre o que realmente se passou naquele momento? (Tomando “realmente” com certa licença, claro – estamos falando de Westeros…)

De todo modo, esse bate boca me lembrou, mais uma vez, quem realmente está puxando este trem: a TV, ou aquilo que a gente costumava chamar de TV.  Este tipo de discussão, que nasce espontâneamente (e não como marketing viral…)  como resultado do eco de uma representação fictícia que cutuca problemas reais, costumava ser, aqui, algo que o cinema era em geral capaz de fazer.

Ainda hoje duas notícias importantes confirmaram o avanço da TV como quem comanda o mercado. A HBO, sempre tão ciosa com a originalidade e o controle do seu conteúdo, acaba de fechar uma parceria de distribuição exclusiva com a Amazon . Isso é a mesma coisa que, vinte anos atrás , uma produtora independente como a Miramax ou  Working Title fechando com uma Disney ou Paramount. O peso que a notícia está tendo na midia e nas conversas demonstra claramente para onde o business está indo.

E tem mais: suprindo uma lacuna que o cinema sempre tentou mas nunca conseguiu atender direito, a Netflix está anunciando sua primeira produção inteiramente em espanhol, produzida inteiramente no México, com elenco latino americano, e dirigida pelo mexicano Gaz Alazraki, responsável por um dos maiores sucessos de bilheteria en español, a comédia Nosotros Los Nobles. Ainda sem título e com estreia prevista para 2015, a série  de 13 episodios se passa no mundo do futebol profissional. Ou seja: gol de placa.

Mais TV no próximo post, com a minha nova série-obsessão…


O final de True Detective: mil e uma noites no sul da Louisianna
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Ana Maria Bahiana

True-detective-1x02-7 Minha primeira reação quando terminou o episódio final de True Detective foi: caramba, agora não dá pra ver mais nada hoje; todo o resto vai parecer….televisão. Depois eu fiquei com pena de todo mundo que, viciado em “televisão”, estava esperando mil truques e viradas e sustos. Pelas reações que vi no Twitter, tem muita gente assim. Dá dó mesmo. Porque  esta temporada de True Detective sempre foi sobre duas coisas, e duas coisas sempre: o poder da narrativa; e a narrativa de um lugar.

As pistas estavam na cara da gente o tempo todo, provocando, pedindo que a gente pensasse fora da caixa, pensasse não no que está acontecendo mas como e onde está acontecendo – e como esse artifício, tão antigo quanto a mente humana, ainda, mais uma vez, era capaz de nos manter presos à nossa capacidade de imaginar, que nem o Sultão ouvindo Sherazade nas Mil e Uma Noites. “Tudo foi sempre uma história, a mais antiga de todas”, Rust Cohle, o personagem de Mathew McConnaughey diz no diálogo que resume tudo. Quando Nic Pizzolato lançou a isca de Ambrose Bierce e seu  “Habitante de Carcosa”, que por sua vez leva ao Rei de Amarelo de Robert Chambers, que por sua vez leva a H. P. Lovecraft, o mito de Cthulhu e dezenas de outros escritores desenvolvendo histórias sobre histórias como níveis e mundos de um videogame a proposta ficou clara: este primeiro True Detective era sobretudo sobre contar histórias. A história de 1995. A história de 2002. A história de 2012. A história de Cohle, a história de Hart, a história que eles contam um ao outro, que eles contam aos detetives em 2012, que eles contam a si mesmos. A história que nós estamos vendo. E no fim, uma história muito antiga – a coragem necessária para entrar num labirinto sabendo, com certeza, que “no final há um monstro”. Uma história que por sua vez abraça uma história ainda mais antiga: bem, mal, luz, escuridão. Mas esta primeira safra de True Detective foi também sobre um lugar – o sul da Louisianna, onde Pizzolato cresceu, uma terra sempre à beira do caos, lentamente devorada por marés, tempestades e furacões, pontuada por ruínas e refinarias de petróleo, às vezes intocada e selvagem, às vezes poluída e contaminada, onde todos os opostos são possíveis, e convivem. Em True Detective a paisagem era um personagem, e sua história era uma das histórias mais poderosas da trama. Houve um tempo em que apenas o cinema – e o cinema de qualidade superior e grandes ambições – provocava esse tipo de reflexão, essa riqueza de ideias. Pizzolato e a HBO criaram um problemão para si mesmos: fazer uma segunda temporada desta série-antologia (nos moldes de American Horror Story) neste mesmo nível. E por favor indiquem para os Emmys todo mundo de True Detective – inclusive o notável time da montagem, que inclui o brasileiro Affonso Gonçalves, o mesmo de Beasts of The Southern Wild (que, se não foi uma das inspirações para a série… sei não…)


As mulheres, os mortos e os vivos: meus queridos da “TV” em 2013
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Ana Maria Bahiana

Este foi um ano espetacular para  aquilo que se chamava televisão e hoje se chama… humm.. ainda não descobriram como se chama, acho. De todo modo aqui vão 12 coisas que, na tela aqui da minha sala, mantiveram minha fé na narrativa audiovisual em qualquer plataforma…

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Breaking Bad – Porque é a perfeição e a suprema alegria para quem escreve e/ou ama a criação.

Les Revenants/The Returned – Porque oferece a primeira meditação profunda sobre a morte, a perda e a separação numa plataforma em que em geral essas coisas são vendidas a quilo, pelo valor do espetáculo.

The Bridge – Porque pela primeira vez que eu me lembre trouxe uma verdadeira história de fronteira, bilingue e bicultural, para dentro de nossas casas.

The Americans – Porque foi uma grata surpresa.

Top of the Lake – Porque abraçou o real e o surreal, o terrível e o belo, o absurdo e o lógico como eu não via desde Twin Peaks.

 Enlightened – Porque foi a série mais bem escrita e interpretada na qual poucos prestaram atenção.

 Game of Thrones– Porque tem uma ambição e uma competência que o cinema não tem mais.

 Girls – Porque eu já gostaria só porque é uma história de mulher, do ponto de vista de mulher. Mas ainda tem todas as complicações de uma geração sobrecarregada de informação e desprovida de expectativas. E por falar nisso…

 Orange is The New Black – Pelo mesmo motivo, mais uma dose de real compreensão da condição humana.

Arrested Development – Porque não perdeu nem um grama de seu delicioso absurdo. Talvez um grama. Não faz diferença.

 Mad Men – Porque continua ancorado num nível de qualidade que todo mundo tem que correr atrás.

 The Walking Dead – Porque me amarro num terror bem feito, e porque a temporada atual está voltando ao essencial da metáfora do apocalipse zumbi.

 

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E também: Drunk History, porque nunca ri tanto este ano; Time of Death, pelos mesmos motivos de Les Revenants, só que a vera; Behind the Candelabra, porque as complicações da paixão não tem rótulo; The Killing, por Peter Sarsgaard; Getting On, porque promete; Casting By, porque é um banquete pra quem gosta dos bastidores do cinema; e Hemlock Grove, porque era tão ruim que chegava a ser barroco.

Um 2014 cheio de boas histórias para todos nós!

 


Notícias da não-TV: Netflix, Amazon aumentam poder de fogo
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Ana Maria Bahiana

 

John Goodman e um amigo numa cena da série Alpha House, da Amazon

Enquanto os canais “tradicionais” debatem que séries continuam e quais vão pro além, as notícias quentes da semana vem da outra TV, aquela que baixa em qualquer lugar onde haja uma tela de qualquer tamanho e acesso à internet.

* Em seu relatório anual para os acionistas, a Netflix anunciou que tem mais de 40 milhões de assinantes nos Estados Unidos – ou seja, muito mais que a HBO que, segundo analistas do mercado, tem cerca de 28. 7 milhões de assinantes (o canal não revela oficialmente quantos assinantes tem). É um marco: um serviço de distribuição de conteúdo fora do sistema tradicional (TV aberta/TV paga) com um volume de público maior que seus antepassados.

* Como consequência de sua base de audiência, aliada ao que o relatório chama de  “análise do comportamento de consumo de nossos espectadores”, a Netflix anunciou que vai dobrar  seu investimento em séries originais, aumentado e diversificando a oferta, acrescentando longa-metragens ao mix e alocando orçamentos “modestamente” mais generosos. Este é um ponto de divergência na competição: a HBO gasta 40% de seus recursos em produção original, enquanto a Netflix prevê, para 2014, a reserva de 10% de seus recursos para o mesmo fim. “Ainda temos muito espaço para crescer”, disse o diretor de produção Ted Sarandos.

* Tem espaço e mais competição:  depois de alguns balões de ensaio a Amazon está entrando firme na distribuição de conteúdo próprio. A sátira política Alpha House, estrelada por John Goodman e criada e escrita pelo cartunista Garry Trudeau, a série de comedia Betas, sobre a vida nas start ups do Vale do Silício, e três seriados infantis estreiam em novembro . E  a Amazon já anunciou que a próxima leva trará séries de drama na próxima leva…