Blog da Ana Maria Bahiana

O vampiro mora ao lado: por que o novo Hora do Espanto é melhor que o original
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Ana Maria Bahiana

Colin Farrell e Imogen Poots no novo Hora do Espanto...

Chris Sarandon e Amanda Bearse, no Hora do Espanto de 1985

Quando A Hora do Espanto passou pelos cinemas nos idos tempos de 1985 confesso que não me impressionou muito. Não era – sem trocadilho – de se espantar: os primeiros anos 1980 foram uma era de fartura de excelentes filmes de terror, começando pelo impossivelmente profundo e apavorante O Iluminado, de Stanley Kubrick e incluindo várias outras adaptações de Stephen King – Cujo, Christine, Colheita Maldita; o lançamento de franquias como A Hora do Pesadelo, Sexta Feira 13 e Halloween; George Romero continuando sua saga zumbi com O Dia dos Mortos, Sam Raimi dando o seu troco com Evil Dead. Steven Spielberg escrevia e produzia Poltergeist para Tobe “Massacre da Serra Elétrica” Hooper dirigir, e a fronteira entre riso e grito era amplamente explorada por filmes como Um Lobisomem Americano em Londres, No Limite da Realidade (ambos de John Landis, que também dirigiria o histórico curta/clip Thriller, de Michael Jackson) e Gremlins, de Joe Dante.

Era uma safra e tanto e, olhando em perspectiva, ali estavam os fundamentos do slasher e do terror modernos, empurrando tanto os limites do que era permissível mostrar quanto a profundidade do mergulho psicológico. Efeitos digitais ainda eram um sonho distante, mas os efeitos físicos, principalmente próteses, robótica e animatronics davam um salto quântico nas mãos de uma geração de jovens técnicos criados pelos filmes B dos anos 60: Rick Baker, Chris Walas, Richard Edlund, Greg Nicotero, Stan Winston.  Parceirados com uma nova geração de realizadores com as mesmas influências – Landis, Hooper, Dante, Raimi, mais Wes Craven, John Carpenter – eles realizavam a proposta de, ao mesmo tempo, mais realismo e mais fantasia, o impossível tornado mais aceitável e, por isso, mais assustador.

Com tanta fartura não é de estranhar que A Hora do Espanto tenha passado batido pela minha memória. Vampiros não eram muito comuns nessa safra, e os sofisticados, sexy habitantes de Fome de Viver, de Tony Scott (Catherine Deneuve, Susan Sarandon e David Bowie!!!!) eram muito mais memoráveis. A encruzilhada comédia/terror também não era novidade, assim como não era a inclusão do extraordinário (e extraordinariamente terrível) no cotidiano mais banal (Stephen King era e ainda é mestre nesse setor).

Revisto hoje, A Hora do Espanto de 1985 aparece mais como uma ideia – adolescente tem certeza de que seu vizinho é um vampiro, contra a descrença de todo mundo- não inteiramente resolvida, com um elenco  em grande parte fraco, mais aqueles cabelos e ombreiras absurdas dos anos 80. O que fica são exatamente os efeitos de Richard Edlund, impressionantes até mesmo 26 anos depois, e a presença calmamente aterrorizante de Chris Sarandon como o vampiro que mora ao lado (apesar das lapelas e echarpes…)

Refeito agora em (desnecessário) 3D por um jovem diretor – Craig Gillespie- muito bem escolado na TV (United States of Tara) e cinema independente (A Garota Ideal), o novo A Hora do Espanto é um desses raros casos em que a segunda tentativa ficou melhor que a primeira. Um espertíssimo roteiro de Marti Noxon ( bem treinada na TV: Buffy, A Caça Vampiros, Grey’s Anatomy, Mad Men) enfatiza o principal charme do original, a incrivel banalidade da situação em volta dos inesperados vizinhos. E resolve vários problemas do primeiro filme, principalmente os três personagens secundários (mas importantes): a namorada, a mãe e o melhor amigo. Uma boa escolha de elenco, a excelente fotografia de Javier Aguirresobe (Vicky Cristina Barcelona, A Estrada, A Better Life) e uma combinação impecável de efeitos físicos e digitais se incumbem do resto.

O assustadiço adolescente agora é o ótimo Anton Yelchin, que mora com a mãe (Toni Collette) nos subúrbios que mais crescem nos Estados Unidos: os de Las Vegas, surreais em si mesmos como comprova a sensacional imagem de abertura , um retângulo de luz perdido numa vastidão de nada, com a silhueta psicodélica da Strip de Las Vegas à distância. Para a casa ao lado, tão genérica quanto qualquer outra do condomínio, muda-se  o misterioso Colin Farrell, sedutoramente arrogante como pede o papel  ; a namorada é a inglesinha Imogen Poots (V de Vingança, Extermínio II), autoconfiante e despachada; e o melhor amigo, especialmente mal resolvido no filme original, agora é Christopher Mintz Plasse como mais um nerd oprimido pela espetacular mediocridade das turminhas de ginásio. (Numa alteração substancial e eficiente, neste Espanto é o amigo quem primeiro desconfia do vizinho _ porque,como bom nerd, ele possui vasto conhecimento da mitologia vampiral, e nutre especial repulsa pelos vampiros bonzinhos da série Crepúsculo).

Outra transposição muito bem feita foi a do “caçador de vampiros” Peter Vincent (o nome uma homenagem a dois grandes do horror clássico- Peter Cushing e Vincent Price).  Em ambos os Espantos seu papel na trama é representar  o passado do mito do vampiro na nossa cultura pop e a possibilidade de verdade atrás das histórias que contamos para nós mesmos. No primeiro filme ele era um apresentador de TV (Roddy McDowall) relegado ao horário da madrugada, apresentando filmes B, C e Z para impressionar adolescentes insones. Como a TV hoje não tem mais esse poder, o novo Peter Vincent (o inglês David Tennant) é um astro de Las Vegas na linha Criss Angel, rock n roll, gótico, cheio de atitude. Seu posto na narrativa continua o mesmo: seus truques recriam cenas clássicas dos filmes de terror, relembram as regras do mundo vampiresco, reancendem seu poder em nossa mente… e na dos impressionáveis adolescentes lidando, possivelmente, com um vizinho sinistro.

Se você não viu o filme de 1985, mais não contarei (a não ser alertar para a presença de Chris Sarandon numa ponta saborosa…) . Digo apenas que a mesma mistura de riso e susto está presente aqui, muito melhor expressada e resolvida, com um  aceno de respeito à trajetória da mitologia. E, muito importante, com vampiros como os dos bons tempos, famintos, cheios de dentes, sem dar a mínima para nós, pobres mortais. Se você quer um passatempo bem feito para uma noite de sábado, não há como errar.

A Hora do Espanto está em cartaz nos EUA e tem estreia prevista no Brasil para dia 7 de outubro.

 


No final da temporada pipoca, a festa da Disney. Mas onde está Tonto?
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Ana Maria Bahiana

Dez dias no Brasil e , na volta, encontro Los Angeles na habitual modorra do final do verão. Toronto e Veneza já anunciaram sua programação, mas ainda falta o mais importante: Telluride, o pequeno que satisfaz  _ e que este ano tem Caetano Veloso como diretor convidado. Com uma curadoria rigorosa e apaixonada e uma seleção de primeira, mas limitada pelo tamanho do evento – quatro dias- Telluride tem-se tornado o melhor indício de quem realmente está com bala na agulha para a temporada ouro (quem passou por Telluride 2010? Uns filminhos: O Discurso do Rei, Cisne Negro, 127 Horas… No passado? Sangue Negro, Benjamin Button, Quem Quer Ser um Milionário?..).

Mas não adianta ficar ansioso:  fiel à sua tradição, a programação 2011 de Telluride só será anunciada dia 1, véspera da abertura do festival.

Resta o rescaldo da temporada pipoca: três dias de delírio nerd (ou melhro: disnerd..) à sombra do castelo da Bela Adormecida em Anaheim, subúrbio ao sul de Los Angeles, na segunda edição da Expo D23. Recapitule-se: a D23, mega fã clube oficial de tudo o que se relaciona ao mundo Disney, foi criado em 2009 pelo presidente do conglomerado, Robert Iger. No mesmo ano o D23 (D de Disney, 23 para 1923, seu ano de fundação) lançou a primeira versão de sua Expo, uma espécie de Comic-Con particular dedicada exclusivamente à Disney.

Em 2010, sacudida por mudanças corporativas, a Disney não organizou uma Expo. Este ano, contudo, a temporada pipoca foi encerrada extra-oficialmente neste fim de semana, com barracas temáticas, personagens Disney ambulantes e, principalmente, apresentações dos próximos projetos Disney, aí incluídos os títulos Pixar e Marvel.

É um momento sensível para tanta festa. A toda poderosa Pixar está atravessando um ano pálido à sombra da inesperada concorrência da Fox (Rio) e Paramount (Rango); a última animação tradicional do estúdio, A Princesa e o Sapo, não brilhou como esperado na bilheteria; e um verão abarrotado de super-heróis de desigual desempenho está levando os estúdios a reavaliarem as franquias comix.

Robert Downey Jr, Chris Hemsworth e Scarlett Johansson na D23 Expo

Mesmo assim, os fãs aplaudiram entusiasmadamente os grandes anúncios do fim de semana:

  • O elenco completo de Os Vingadores, mais quatro minutos de cenas do filme que tem estréia marcada para 4 de maio de 2012 no mundo todo.
  • As novas produções da Pixar e da Disney Animation : Planes, filhote da franquia Cars, com Jon Cryer (2 ½ Men) dublando o protagonista; Wreck It Ralph, que tem as vozes de Sarah Silverman, Jane Lynch e John C.Reilly; Monsters University, prequel de Monsters; e, mais importante, dois longas de animação ainda sem título, um sobre o dinossauros e outro sobre o cérebro humano.
  • A versão longa do curta stop-motion Frankenweenie, de Tim Burton, com a assinatura do mestre (para outubro de 2012)
  • Dois longas de fantasia que tem ao mesmo tempo promessas e problemas: Oz The Great and Powerful, dirigido por Sam Raimi, traz James Franco como o Mago que acaba se instalando em Oz  tornando-se o centro do clássico O Mágico de Oz, de 1939 (promessa: expandir a visão de um mega-clássico; problema: é possível?); e John Carter, adaptação de  um livro de Edgar Rice Burroughs sobre um veterano da Guerra Civil que tem uma vida paralela em Marte, planeta verdejante habitado por nativos de quatro metros de altura, verdes da cabeça aos pés (promessa: um sci fi diferente do que temos visto ultimamente; problema: Avatar? – mas pontos extras para o trailer ao som de ''My Body is  A Cage'', do Arcade Fire, cantado por Peter Gabriel)

Ao mesmo tempo, várias perguntas importantes ficaram sem resposta. Por exemplo: a animação tradicional vai voltar ou esté encerrada de vez? Tron Legacy continua ou não? O que são os “Projetos Sem Título” da Marvel para 2014? E por andam Zorro/O Cavaleiro Solitário e Tonto _ o projeto foi cancelado mesmo?

Enfim_ os tempos não estão fáceis nem para um mega- super- conglomerado de entretenimento…

 


Por que os macacos ainda nos fascinam?
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Ana Maria Bahiana

 

Os anos 1960 foram importantes para os grandes símios. Em 1963 o francês Pierre Boulle, um ex-soldado e ex-agente secreto dos aliados na Ásia durante a Segunda Guerra Mundial que se tornara autor de sucesso  em 1952 com o livro A Ponte do Rio Kwai (transformado em filme ganhador do Oscar em 1957) lançou uma obra de ”ficção científica clássica, repleta de suspense e inteligência satírica”(segundo um crítico) : La Planete des Singes ou, no título da primeira tradução em inglês, Monkey Planet.

4 anos depois outro autor europeu, o zoólogo e antropólogo inglês Desmond Morris, lançou um dos maiores best sellers da década, O Macaco Nu, uma popularização das diversas teorias que aproximavam seres humanos e seus primos primatas.

Ao mesmo tempo, vários centros de pesquisa desenvolviam programas para estudar as funções cerebrais dos símios, especialmente os chimpanzés. Os dois mais bem sucedidos, da Universidade de Columbia em Nova York e da Universidade de Nevada em Reno, envolviam a criação de dois chimpanzés – o macho Nim e a fêmea Washoe, respectivamente – em ambientes humanos, com o objetivo de “evoluir” seu potencial cognitivo  e de comunicação. Washoe foi o primeiro primata a usar a lingugem de gestos para se comunicar, e Nim  atingiu níveis ainda mais altos. Ambos, contudo, sofreram muito – Nim morreu aos 26 anos de um ataque do coração, como uma pessoa estressada e angustiada. Sua história pode ser vista no excelente documentário Project Nim.

Mas antes de tudo isso havia o chimpanzé Oliver, apresentado em circos e parques de diversão, desde 1960, como o “macaco humano”. Oliver tinha o hábito de andar apenas em duas patas, era extremamente inteligente e demonstrava preferência por mulheres e não fêmeas de sua espécie.

É interessante manter esse pano de fundo na cabeça quando se pensa em O Planeta dos Macacos, o primeiro filme a adaptar o livro de Pierre Boulle e um dos grandes sucessos de 1968 . Um sucesso tão imenso que gerou várias continuações (todas inferiores ao primeiro), uma série de TV , quadrinhos e uma tentativa de reboot em 2001, com Tim Burton. Numa era de imensas transformações – os anos 1960 – não eram tanto os símios que nos interessavam, era o mistério de nossa própria humanidade – o que ela tinha de específico, o que ela tinha de adquirido, o que ela tinha de imprevisível- que nos intrigava.

Numa era de mudanças ainda maiores – a segunda década do século 21- voltamos ao mito dos macacos pensantes trazendo, agora, novas inquietações. O preço de nossa irresponsabilidade com o meio ambiente –raiz do “suspense e inteligëncia satírica” do livro original- está muito mais claro e urgente. Nossa nova fronteira cognitiva somos nós mesmos: como ampliar nosso cérebro, como impedir seu envelhecimento. O pano de fundo tornou-se mais complexo e por isso o novo Planeta dos Macacos- A Origem (estréia mundial hoje)  consegue ter o mesmo impacto que o primeiro gerou, 43 anos atrás: porque coloca a questão de novo, numa linguagem que nós, os passageiros do século 21, entendemos perfeitamente: o que nos faz humanos? e que responsabilidade carregamos juntamente com essa humanidade?

Tenho grande admiração pelos filmes de puro entretenimento que usam plenamente a capacidade metafórica do cinema. Planeta dos Macacos-A Origem é exatamente assim, o drama de Frankenstein – criatura X criador, o terror da responsabilidade  traída – realizado na era digital, onde o imenso talento da Weta e de um grupo atores liderado por Andy Serkis, é capaz de colocar o humano literalmente dentro do símio.

Vejam – é o melhor filme da temporada pipoca 2011.

 


Na saída de Frank Darabont, o outro lado do paraíso criativo da TV
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Ana Maria Bahiana

Por que Frank Darabont saiu de The Walking Dead? Por que abandonou a série que vem desenvolvendo há tantos anos, agora que conseguiu tudo o que queria _ sucesso de público e crítica, segunda temporada emplacada com 13 episódios, série líder em audiência no canal?

Vai demorar para conhecermos todos os motivos, e Darabont possivelmente é o único que realmente sabe. Mas uma possibilidade real, que se comenta aqui em LA, é que Darabont, ao contrário de outro responsável por um grande sucesso da AMC – Matthew Weiner, de Mad Men – vem do cinema. Sua única passagem anterior pela telinha foi a direção de alguns episódios de The Wire _ uma experiência bastante diferente da responsabilidade e estresse de um showrunner.

Teria sido essa diferença no estilo de fazer as coisas que levou Darabont a demitir todos os roteiristas, no final da primeira temporada?

O processo de criar uma série de TV difere bastante do de um filme, exigindo uma produção veloz, em massa, de roteiros. O showrunner precisa ter uma mistura exata de pulso – para manter intacta sua visão, o conceito da série – e confiança – para permitir que a equipe produza com facilidade, adicionando seu talento à “bíblia” da série, a coleção de perfis e elementos narrativos que compõem seu coração.

Scorsese não parece estar tendo problema algum com Boardwalk Empire, mas Scorsese, como produtor executivo, tem uma relação mais distante com a série, com o experiente Terence Winter (The Sopranos) atuando como showrunner.

Um segundo elemento do dilema pode ser a pressão vinda de cima, em duas frentes: conceitual e financeira.

Na véspera da estreia, ano passado, Darabont se desmanchava em elogios, aqui mesmo no blog, em cima da liberdade criativa que estava recebendo. Mas naquele momento a série era uma incógnita, seu risco maior era existir.

Uma segunda temporada é outra conversa. Há que segurar o público inicial, e há que expandi-lo. Já se comentava há algum tempo que Darabont não estava aceitando os comentários e recomendações dos executivos da AMC para as tramas da nova temporada. Aqui mesmo no blog Darabont mencionou o quanto ele gostaria de incluir The Governor na adaptação dos quadrinhos de Robert Kikman para a telinha. Em várias apresentações para diversas plateias –da Comic Con à Associação de Críticos de TV, esta semana – os chefões da AMC enfatizaram que o Governor não seria “de modo algum” um personagem da série e que, de comum acordo com Kirkman, Walking Dead começaria, a partir de outubro, a “divergir do material dos quadrinhos.”

E ainda há a questão financeira. A TV é um grande refúgio para a criatividade porque não tem as exigencias de grande retorno, imensas bilheterias num final de semana. Mas também trabalha com orçamentos menores.

Isso, para começar. Para culminar, a Cablevision, nave-mãe da AMC, acaba de criar uma divisão só para seus canais:  AMC, IFC, WE e Sundance Channel. O objetivo da recém criada AMC Networks é, obviamente, achar um comprador com bolsos bem abastecidos. Para isso, além de sucessos, há que se mostrar saudávels planilhas de custos e retornos. E um modo certeiro de aumentar os retornos é diminuir os custos…. Lembram da briga entre Weiner e a AMC, meses atrás? Era exatamente por conta disso: cortes de orçamentos que poderiam afetar a qualidade da série…

De todo modo, The Walking Dead já tem um novo showrunner: Glen Mazzara, segundo no comando da série até agora, e calejado homem de TV. Agora, só esperando para ver…

 

 


Uma festa para caubóis, índios e ETs
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Ana Maria Bahiana

 

Aviso aos leitores mais sensíveis: o TÍTULO DO FILME é Cowboys & Aliens. Portanto, dizer que a trama inclui o aparecimento de aliens NÃO É SPOILER, certo?

Com esta questão devidamente esclarecida, vamos ao que interessa: não tenham receio de Cowboys & Aliens. É um delicioso filme-pipoca, bem concebido, planejado e executado, com  um coração que é alegria pura, tesão pelas possibilidades de encantamento do cinema e muito respeito pelos westerns.

Confesso: Não era absolutamente o que eu esperava. Acompanho este projeto há algum tempo, e a alta rotatividade de roteiristas – seis estão listados nos créditos- me fazia antecipar um desses filmes-por-comitê , tão comuns na temporada-pipoca, que no final não tem gosto nem cara de nada.

Certo, a história tem quase nada a  ver com a graphic novel do mesmo nome mas, na verdade, nem filme nem graphic novel tem as origens que se espera.

 

Antes que os dois –filme e graphic novel- existissem, existia o empresário Scott Mitchell Rosenberg, fã de quadrinhos e astuto homem de negócios. Nos anos 90, inspirado por um cartum da série The Far Side, Rosenberg registrou a marca Cowboys & Aliens e se pôs a vender o conceito – antes mesmo que houvesse algum produto baseado nele. Acabou na capa da Variety, depois de vender o pitch para a Universal por 500 mil dólares.

Quando, cinco anos depois, o filme prometido no acordo ainda não tinha se materializado, Rosenberg começou a pensar em seguir a ordem natural das coisas e criar uma graphic novel. Alguns times e mais cinco anos depois Cowboys & Aliens chegou às livrarias em 2006 com a assinatura de Rosenberg, Fred Van Lente e o brasileiro Luciano Lima no traço.

A complicada história de Cowboys & Aliens talvez ajude a entender por que o filme sobreviveu ao distanciamento da graphic novel e às muitas versões do roteiro_ porque ele é em primeiro lugar um conceito, flutuando no espaço da industria de entretenimento como… hum… uma nave alienígena em busca de pouso. Ou encarnação.

E esta encarnação do conceito, escrita por um bando de gente (boa, felizmente: entre outros Damon Lindelof, Roberto Orci, Alex Kurtzman,  Mark Fergus, com créditos que incluem Fringe, Lost, Alias, Homem de Ferro e Filhos da Esperança), funcionou. Caubóis, índios e ETs misturam-se harmonicamente numa trama que diverte e, ao mesmo tempo, faz referência aos cânones do western, adicionando uma pitada de tempero.

Nesta iteração do conceito, o herói (Daniel Craig, cuja semelhança com um Yul Brynner com cabelo não é coincidência) é lacônico como os pistoleiros-ícones de Clint Eastwood;  o anti-herói (Harrison Ford, agregando toda a sua carga pessoal de heróis passados) é um barão do gado que poderia estar num filme de John Ford; a paisagem é o imponente deserto do sudoeste, a porta do bar balança, há uma briga sobre o balcão, um tiroteio na rua principal, e chapéus são muito importantes.

Mas o mais divertido é como os ETs se incorporam a esse universo ,e como o seus signos – as naves, armas, abduções, objetivos – se encaixam no mundo do oeste norte-americano  de meados do século 19, quando ouro e prata substituíam o gado como impulso para a expansão, pequenas cidades nasciam aparentemente do nada e havia um vago esboço de lei e ordem.

E como este é um western escrito em parte pela turma de Lost e Fringe, os índios tem um papel importante – afinal, existem pinturas nas cavernas do Novo México que parecem mostrar seres gigantescos com capacetes. E este deve ser o único filme em que uma viagem xamânica em busca de um animal de poder se incorpora naturalmente a uma narrativa sobre ladrões, xerifes e seres malévolos de outro planeta.

Mais não digo – aí sim seria spoiler. Jon Favreau  (Homem de Ferro 1 e 2) mantem o ritmo animado mas não frenético, os efeitos convencem, o elenco de apoio é sólido, o som é impecável e, felizmente, ninguém tomou a decisão desastrada de enfiar um 3D furreca sobre a linda fotografia de Matthew Libatique.

 

Cowboys & Aliens estréia nesta sexta, dia 29, nos EUA, e dia 9 de setembro no Brasil.

 


A pré-corrida do ouro, parte III: estrangeiros, animação e o saldo do primeiro semestre
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Ana Maria Bahiana

 

O que falta no balaio dos candidatos a candidatos a prêmios na temporada ouro?

Ryan Gosling em Drive

 

Para começar, algumas incógnitas : Contágio, de Steve Soderbergh (setembro nos EUA,; outubro no Brasil) e Drive, de Nicolas Winding Refn (setembro nos EUA, sem data no Brasil) , tem fôlego para prêmios? ;  Inquietos (Restless), de Gus Van Sant, ( setembro nos EUA; outubro no Brasil) será cabeça demais para ser lembrado?; o que vai acontecer com Melancolia (agosto no Brasil, novembro nos EUA), depois que Lars Von Trier desatou a dizer besteira?; e o duelo das divas diretoras – Madonna com W. E., (dezembro nos EUA) e Angelina Jolie, com In The Land of Blood and Honey (dezembro nos EUA)- no que vai dar?

Depois, os filmes estrangeiros. Para estes, existem dois caminhos _ serem escolhidos por seus países para representá-los nas categorias Filme Estrangeiro dos prêmios (como Grécia e Polônia já fizeram) ou se arriscarem na grande arena dos lançamentos no mercado norte-americano o que, automaticamente, qualifica qualquer filme para concorrer aos principais troféus.

O francês L’Artiste (novembro nos EUA, sem data no Brasil) é, neste momento, o líder nesta sub-categoria de filmes não americanos com força (e campanhas) capazes de transformá-los em competidores com os anglófonos. Uma vantagem: é mudo. Outra vantagem: é uma deliciosa, poética homenagem à alvorada de Hollywood. Mais uma vantagem: é distribuído pela Weisntein Company. Quem será seu rival? Talvez La piel que habito (setembro no Brasil, outubro nos EUA), Almodovar ingressando pelo thriller de terror, uma linguagem que acadêmicos e companhia podem compreender.

Resta olhar para o que já entrou em cartaz até agora e estimar quem tem fôlego para uma arrancada na reta final de novembro-dezembro-janeiro. Na encolha, Árvore da Vida (Tree of Life, maio nos EUA,  agosto no Brasil), de Terrence Malick, vem sendo exibido e re-exibido para grupos profissionais aqui em Los Angeles e em Nova York. Lírico, altamente pessoal, poético e, às vezes, exasperante, Árvore da Vida pode ser um favorito ou um azarão na temporada ouro.

 


Meia Noite em Paris (Midnight in Paris, maio nos EUA, junho no Brasil) é a grande unanimidade da safra do primeiro semestre. Não apenas foi (merecidamente) elogiado pela crítica mas tornou-se o maior sucesso comercial dos  últimos 25 anos da carreira de Woody Allen. É um duplo triunfo que não passa despercebido pelos votantes.

 

A outra unanimidade do primeiro semestre foi o independente  (Focus) Beginners (junho nos EUA, sem data no Brasil). Segundo filme de Milke Mills (Thumbsucker, vários videoclipes), Beginners é uma exploração autobiográfica das relações entre pais e filhos – complicada, no caso de Mills, pela revelação, depois da morte da mãe, de que seu pai era e sempre tinha sido gay. Uma indicação para Christopher Plummer (o pai) é mais do que provável, mas eu gostaria de ver o sempre excelente e sempre esquecido Ewan McGregor  (o filho) ser nomeado, também.

O primeiro semestre viu dois filmões-pipoca que podem, sim, ir para a briga no final do ano: Super 8 e Harry Potter e as Reliquias da Morte II. O primeiro seria o reconhecimento do valor do cinemão comercial norte americano da geração Goonies; o segundo seria a última oportunidade para saudar todo o extraordinário ciclo de adaptações da obra de J.K. Rowling, seu elenco, diretores e equipe.

E, finalmente, animação? Seria este o primeiro ano sem Disney ou Pixar entre os indicados? Até agora os dois favoritos pertencem respectivamente à Paramount – Rango, de Gore Verbinski – e 20th Century Fox – Rio, de Carlos Saldanha. Agora é ver as chances de Happy Feet 2 , Arthur Christmas (da Aardvark) e Gato de Botas neste combate…


A pré-corrida do ouro, parte II: independents day
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Ana Maria Bahiana

Se formos julgar pelos últimos anos quem realmente dá as cartas e impõe o ritmo da Temporada Ouro são os independentes. Principalmente os chamados independentes-de-luxo, as divisões especializadas dos estúdios que trabalham com orçamentos baixos, levantam financiamento no exterior e realizam projetos de autor. Olhem os últimos vencedores do Oscar: nos últimos cinco anos, todos eles vieram de independentes de luxo. E mesmo Os Infiltrados, de 2007, foi realizado por um produtor independente de vastos recursos, Graham King; a Warner levou a láurea, mas entrou na festa lá pelo meio.

Este é um fato que dá muita dor de cotovelo à Academia, onde a maioria dos integrantes sonha com triunfos como os de Titanic, filmão de estudião levando um monte de estatuetas. E que revela um paradoxo interessante: parte substancial dos acadêmicos passa o ano fazendo um tipo de filme e, na hora de escolher, vota em outro tipo…

Por essas e outras é essencial acompanhar as escolhas dos independentes. Mais até que os grandes estúdios os independentes-de-luxo passam o pente fino em suas aquisições e produções, e pré-selecionam para o segundo semestre os títulos com mais chances de cair no gosto dos votantes. Grandes estúdios tem bolsos fundos e podem se dar ao luxo de gastar dinheiro até com filmes sem chance, apenas para agradar estrelas, diretores e produtores. Independentes, não: orçamentos restritos obrigam a uma seleção rigorosa, e só vai pro fogo do segundo semestre quem tem alguma chance de emplacar alguma coisa.

Eis como está o panorama indie:

A Fox Searchlight deu uma sorte danada em 2009 quando repescou Quem Quer Ser um Milionário das ruínas da falecida Warner Independent e levou-o até os Oscars. Este ano ela está colocando suas fichas do segundo semestre em  The Descendants (dezembro nos EUA, janeiro no Brasil). É um roteiro delicioso que tive o privilégio de ler, adaptando o livro de Kaui Hart Hemmings sobre um havaiano ha’ole (branco) em crise de meia idade. George Clooney lidera um ótimo elenco e o sempre bom Alexander Payne  (Sideways-Entre Umas e Outras,  As Confissões de Schmidt) dirige.  Bom pedigree.

A vitória de O Discurso do Rei, este ano, deu novo alento à Weinstein Company, que passava por apuros sérios. Os apertos financeiros continuam, mas Harvey Weinstein mostrou que não esqueceu seu talento de estrategista. O abre-alas da WC este ano é, sem dívida, The Iron Lady (dezembro nos EUA, sem data no Brasil), a cinebio da primeira e única Primeira Ministra da Grã Bretanha, Margareth Thatcher. Meryl Streep se dissolve na Dama de Ferro com o tipo de transfiguração que platéias e votantes adoram. Mais questionável é a diretora Phyllida Lloyd, cuja obra anterior é o felizmente esquecido Mamma Mia!

O segundo título da WC para o final do ano é outra aposta em anglofilia e interpretações carismáticas: My Week With Marilyn (novembro nos EUA, sem data no Brasil), a narrativa das tensas filmagens de O Príncipe Encantado, na Londres de 1957. Michelle Williams é Marilyn , Kenneth Branagh é Laurence Olivier e o diretor, Simon Curtis, vem da TV…. Como Tom Hooper…

A Sony Classics, veterana da corrida do ouro, tem  três apostas fortes para o páreo 2011. A primeira é Carnage (novembro nos EUA, sem data no Brasil) adaptação de Roman Polanski para a peça God of Carnage, sucesso de Paris a Londres, Nova York e Los Angeles). Como a peça, o filme é uma obra de câmara para quatro atores – Kate Winslet, Jodie Foster, John C. Reilly e Christoph Waltz – no papel de dois casais que resolvem conversar cordialmente sobre um incidente entre seus filhos…. Até , como em Em Quem Medo de Virginia Woolf, reverterem a um estado pré-civilização.

O outro peso-pesado da SC é A Dangerous Method (novembro nos EUA e no Brasil), com David Cronenberg analisando a relação entre Sigmund Freud (Viggo Mortensen) e Carl Jung (Michael Fassbender).

Michael Shannon e a onipresente Jessica Chastain estão no terceiro filme da SC, Take Shelter (setembro nos EUA, sem data no Brasil), um estudo de personagem que fez sucesso em Sundance e Cannes, sobre um pacato pai de familia que pode (ou não) estar enlouquecendo.

Outros independentes tem títulos de peso. A Roadside Attractions vem com Albert Nobbs (ainda sem data nos EUA e no Brasil), com Glenn Close repetindo o tour-de-force que lhe valeu prêmios no teatro: uma mulher que se faz passar por homem na Irlanda do século 19. Rodrigo Garcia dirige e o resto do elenco é de responsabilidade: Jonathan Rhys Meyers, Mia Wasikowska, Brendan Gleeson.

A Focus Features espera que a Academia reacenda seu amor por Colin Forth com O Espião Que Sabia Demais (Tinker Taylor Soldier Spy, novembro nos EUA, janeiro no Brasil), a adaptação de Tomas Alfredson (Deixe Ela Entrar) para a semi biografia dos primeiros anos de Ian Fleming, o homem que inventou James Bond, por John  Le Carré.

A Lionsgate aposta em outro sucesso de Cannes, Coriolanus (dezembro nos EUA, sem data no Brasil): Ralph Fiennes é o general renegado de Shakespeare e o diretor desta atualização da peça, transposta para um universo extremamente contemporâneo de mercenários e guerras lucrativas. Elenco de primeira: além de Fiennes, Gerard Butler, Brian Cox, Vanessa Redgrave e a onipresente Jessica Chastain.

Na parte III e final da nossa aventura, um apanhado dos filmes do primeiro semestre que podem chegar até a reta final.

 


Alegrias e mistérios dos Emmys 2011
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Ana Maria Bahiana

Peter Dinklage em Game of Thrones

 

Interrompo brevemente a sequencia de posts sobre os candidatos a indicados (nos próximos: os independentes e os filmes do primeiro semestre) para comentar as indicações para os Emmys, anunciadas hoje.

Para entender (ou tentar entender) algumas indicações e alguns desaparecimentos, é bom explicar um detalhe importante no modo como os Emmys são escolhidos: ao contrário dos Globos, que levam em consideração toda a temporada de uma série ou mini-série, os Emmys  baseiam suas escolhas em episódios específicos, que são submetidos pelos produtores  aos mais de 15 mil votantes. Eu, pessoalmente, sempre achei o sistema estranhíssimo, uma adaptação não muito adequada das normas da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. Um filme se expressa no espaço contido de seu tempo de tela. Um título de TV frequente se expressa ao longo de vários episódios, uma qualidade que a torna mais semelhante aos folhetins da literatura ou aos “serials” da primeira metade do século 20, com seus longos arcos de trama e a possibilidade de desenvolver personagens e situações ao longo de um tempo maior.

Com essa explicação, é possível pelo menos achar uma desculpa para a mini-série The Kennedys, bastante tosca, ter recebido quatro indicações, inclusive para melhor mini-série; Glee ter ocupado um espaço que poderia ter ido, com mais equilibrio, para Community (Gwyneth Paltrow por Glee? Jura?!! E nada de John Noble por Fringe? Mesmo?!) ; a falta de Nick Offerman (Parks and Recreation) ou mais gente de Mad Men. The Killing e Game of Thrones entre os atores e atrizes indicados;o  sumiço absurdo de Breaking Bad e a Bryan Cranston . (Ok, esta temporada não era elegível por questão de datas. Mas fica registrada minha indignação, de todo modo…) E a aparição da inacreditavelmente cafona The Pillars of the Earth entre as mini-séries só pode ser explicada pela idade avançada da média dos votantes da Academia de TV…

Agora vamos ao que gostei: a merecida lavada da HBO, com mais uma safra espetacular _ Mildred Pierce, Game of Thrones, Boardwalk Empire, Too Big to Fail, His Way, Cinema Verité. Terem destacado Peter Dinklage em Thrones, e registrado Mireille Enos por The Killing, Elizabeth Moss por Mad Men, Kate Winslet por Mildred Pierce, Katy Bates for Harry’s Law, e Cloris Leachman por Raising Hope.  A inclusão de Downton Abbey, uma perfeita gema do melhor da produção britânica tradicional.

E vocês, o que acharam?

 


A pré-corrida do ouro já começou: quem está no páreo para os prêmios 2011-2012, parte I
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Ana Maria Bahiana

Muito cedo para falar de temporada de prêmios? Não mesmo. A calmaria que reina sobre Los Angeles – crianças de férias, turistas pelas ruas de Beverly Hills, engarrafamento de ónibus de excursão – esconde uma atividade frenética: as primeiras movimentações que vão determinar quem está dentro ou fora da corrida do ouro 2011-2012.

De um lado, a Academia, que já anunciou as mudanças de regras para esta temporada, ungiu uma nova leva de integrantes e elegeu os diretores dos departamentos para  o próximo biênio. Todas medidas fundamentais para estabelecer o perfil de quem vai votar _ e como vai votar.

A preocupação com o a festa também está fervendo neste caldeirão oculto. O fiasco do ano passado ainda está muito presente na lembrança e na mídia, especialmente depois da entrevista de James Franco na Playboy norte americana deste mes, chamando os textos do evento “sem graça” e sua  própria atuação como “restrita, aprisionada pelos textos”.

Sim, Oprah Winfrey está no topo da lista dos candidatos a apresentador de 2012, e muita gente na indústria acha que seria a escolha certa, trazendo ao mesmo tempo classe e popularidade ao evento, e, possivelmente, aumentando sua audiência … e dando uma força à nova rede de TV de Oprah que, conta-se, quer transmitir com exclusividade os bastidores da festa, em troca da presença de sua fundadora/CEO na frente das câmeras.

Algumas das decisões mais importantes, contudo, estão sendo tomadas em ambientes menos glamourosos: as salas de reunião dos departamentos de marketing e distribuição dos estúdios e independentes. Eis a verdade dos prêmios: por mais que, individualmente, os votantes possam querer,em sua opinião pessoal, peneirar os melhores do ano, o voto médio será sempre influenciado pelo modo como os títulos são apresentados ao mercado. É um processo de pré-seleção que fica nas mãos dos distribuidores e produtores, e começa com a decisão de quais filmes merecem a (custosa) atenção extra que pode posicioná-los “para sua consideração”.

O primeiro passo dessa estratégia é determinar quando o filme será lançado. Só de olhar o calendário do segundo semestre já é possível fazer especulações razoavelmente informadas sobre quem está em campo, pelo menos.

Na primeira parte deste levantamento de quem está no listão da temporada-ouro 2011-2012 vamos ver quem, entre os lançamentos do segundo semestre, os grandes estúdios pré-escolheram para entrar na disputa:

The Help ( agosto nos EUA, entre setembro e novembro internacionalmente) Há um mês a Disney vem trabalhando incansavelmente este filme, adaptação do best seller de Kathryn Stockett sobre a vida diária no sul dos Estados Unidos durante a campanha pelos direitos civis. A aposta é menos no diretor de primeira viagem, Tate Taylor, e mais no conjunto de elenco, onde despontam Emma Stone, Jessica Chastain, Viola Davis, Mary Steenburgen, Octavia Spencer, Cicely Tyson e Sissy Spacek.

Anonymous (outubro nos EUA e no Brasil). A Columbia espera que os nomes “Roland Emmerich” e “Shakespeare” não se excluam mutuamente neste intrigante lançamento. O mestre dos arrasa-quarteirões apocalípticos explora a teoria de que “Shakespeare” seria meramente um pseudônimo, e o estúdio saliva com o elenco britânico e as possibilidades da anglofilia dos prêmios _ David Thewlis, Rhys Ifahns, Vanessa Redgrave (como a Rainha Elizabeth) e Joely Richardson.

J. Edgar (outubro nos EUA, janeiro no Brasil). Se você perguntar a qualquer pessoa do meio qual é o filme que ninguém viu mas é o favorito da temporada ouro, este título vai aparecer em 9 de 10 respostas. O pedigree é impecável: Clint Eastwood na direção, roteiro de Dustin Lance Black (Milk) , Leonardo di Caprio como J. Edgar Hoover, o complicado e controvertido criador do FBI. É a grande aposta da Warner neste segundo semestre.

The Ides of March (outubro nos EUA e no Brasil) O fracasso de um astro (Tom Hanks) comod diretor pode ser um mau presságio para o novo filme de outro astro – George Clooney- como diretor. Mas a Sony está posicionando esta comédia dramática sobre a perda da inocência como uma possibilidade de indicações, nem que seja apenas para o elenco de notáveis: Ryan Gosling, Paul Giamatti e o próprio Clooney.

Hugo Cabret (Hugo,  novembro nos EUA, janeiro no Brasil) Prestem atenção nesta dobradinha de datas – segundo semestre aqui, janeiro no Brasil. Isso é  sinal claro de que o estúdio – no caso, a Paramount- acredita firmemente que o filme vai para as cabeças. A estréia de Martin Scorsese no 3D é um dos mais aguerridos representantes do gênero fantástico na disputa deste ano (sim, Harry Potter e as Relíquias da Morte II é outro…)

Homens Que Não Amavam as Mulheres (The Girl With the Dragon Tattoo, dezembro nos EUA, janeiro no Brasil) A Sony vem elaborando cuidadosamente a campanha desta refeitura do filme sueco com a griffe vitoriosa de David Fincher. E a possibilidade de um filme comercial com credenciais para prêmios faz estúdio e Academia babarem. Meryl, Glenn, olho em Rooney Mara…

As Aventuras de Tintin: O Segredo do Licorne (The Adventures of Tintin: The Secret of the Unicorn, novembro no Brasil, dezembro nos EUA) A Paramount, que tem os direitos de distribuição nos EUA, acredita que Steven Spielberg pode concorrer consigo mesmo e levar alguma coisa do ouro. A Sony, que distribui Tintin internacionalmente, aposta mais no impacto do filme entre os fãs dos quadrinhos de Hergé.

Young Adult (ainda sem data) Será que a dupla Jason Reitman/Diablo Cody emplaca de novo? A Paramount está estudando as possibilidades antes de tentar um repeteco de Juno com esta comédia romântico-dramática estrelada por Charlize Theron e Patrick Wilson.

We Bought a Zoo (dezembro nos EUA e no Brasil) Será que Cameron Crowe recuperou seu mojo? A Fox sonha com o retorno do toque de midas que levou Jerry Maguire, uma raridade – uma comédia romântico-esportiva – aos prêmios em 1996.

War Horse (dezembro nos EUA, janeiro no Brasil) A peça é um sucesso estrondoso; Spielberg volta ao drama de guerra; a Disney precisa desesperadamente de prestígio e impacto na temporada-ouro..

Extremely Loud and Incredibly Close (dezembro nos EUA, sem data no Brasil) O prestígio do aclamado livro de Jonathan Safran Foer, a temática que mistura elementos de realismo mágico com o trauma do 11 de setembro, o elenco liderado por Tom Hanks e Sandra Bullock e a direção de Stephen Daldry garantem o peso que Paramount/Warner (co-distribuidoras) estão dando a este lançamento e campanha.

Moneyball ( setembro nos EUA,  novembro no Brasil) _ Filmes de esporte não costumam “viajar” bem, mas a Columbia está mais preocupada em emplacar com votantes e críticos norte-americanos  esta cinebio de Billy Beane, o cartola do time de beisebol Oakland As que trouxe os computadores para o esporte. O fato de Brad Pitt estar encabeçando o elenco faz a Columbia  sonhar com um Blindside só seu.

No próximo post, os independentes  – simples e de luxo – com esperanças de ouro.

 


No adeus de Harry Potter, o poder da vida e a magia do cinema
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Ana Maria Bahiana

 

 

A morte e os mortos tem um papel de destaque no derradeiro Harry Potter, parte II do último livro da saga concebida por J.K.Rowling, Harry Potter e as Reliquias da Morte. É um tema apropriado para o fim de um ciclo, a jornada de  mais de uma década de um herói que influenciou e povoou os sonhos de uma geração.

Como algumas gerações anteriores – as que cresceram à sombra do ciclo O Senhor dos Anéis, de J.R.R. Tolkien, obra que com certeza é uma influência no trabalho de Rowling – os contemporâneos da jornada de Harry foram levados a debater a importância das escolhas individuais, o sentido da amizade e da lealdade e, em última análise, a natureza do bem e do mal. Como Frodo em Senhor dos Anéis, Harry não é excepcionalmente forte, inteligente ou poderoso _ seu destino foi selado pela mão do acaso, e sua natureza heróica deve ser provada ou rejeitada pelas opções que fará nas encruzilhadas de sua trajetória. E, como Frodo, seu chamado não é para obter algo, mas para destrui-lo: a recusa de um tipo de poder para que se possa, amplamente, abraçar seu avesso.

Todos esses temas estão expressos e sintetizados em Harry Potter e As Relíquias da Morte – parte II, fecho perfeito para o ciclo de  oito filmes que, consistentemente, adaptou a obra de Rowling para a tela. Alguns foram melhores que outros,  mas mesmo o primeiro, Harry Potter e a Pedra Filosofal, que hoje parece ainda mais tosco, tem o mérito de ter escalado, brilhantemente, o elenco essencial que deu corpo a Harry, Ron, Hermione, seus colegas, adversários e mestres.

Reliquias II pode ser lembrado como um dos melhores. Mais uma vez, fãs do texto de Rowling podem estranhar as simplificações e liberdades que Steve Kloves –roteirista de sete dos oito filmes, escolhido pessoalmente pela autora – tomou com a obra. Mas é sempre bom repetir o mantra: livro é livro, filme é filme.

O essencial- o confronto entre Harry e Voldemort, que é, basicamente, o encontro de Harry com seu destino – precisa ser expressado visualmente dentro de um período limitado de tempo. Imagens e gestos precisam ser conjurados para concretizar o que, na página, são descrições e adjetivos.

Kloves e o diretor David Yates – que se desincumbiu bravamente dos quatro últimos títulos da série – ancoraram o episódio final de Harry Potter numa série de sequências de ação empolgantes, um contraste com o ritmo mais lento da primeira parte: a invasão das caixas fortes do banco Gringotts, o ataque a Hogwarts, o confronto final entre Harry e Voldemort.

O clima aqui é de urgência e resolução – com um poderoso interlúdio na estação de King’s Cross do metrô de Londres, perfeito em espírito e realização, que ilustra bem um outro ponte forte da série, a integração excepcional entre desenho de produção, fotografia e efeitos.

Este talvez seja o mais emotivo de todos os Harry Potters, provando o quanto vale a qualidade de um elenco de primeira linha, encabeçado por mestres como Alan Rickman (Severus Snape), Ralph Fiennes (Voldemort) e Michael Gambon (Dumbledore).

E no final estamos de volta a Hogwarts, encerrando um ciclo e começando outro, como a vida, que se estende sempre além da morte.

Precisava ter sido dividido em duas partes? Provavelmente não. Precisava ser em 3D? A não ser para espectadores que realmente apreciam cobras avançando em sua direção e objetos mágicos voando sobre as poltronas, não faz muita diferença. A magia de Harry Potter é obra de suas ideias e não de seus truques.

Harry Potter e as Reliquias da Morte Parte II teve pré-estreia  dia 7 na Grã Bretanha e entra em circuito mundial a partir de 14 de julho. Nos EUA e no Brasil,a estréia é dia 15 de julho.