Blog da Ana Maria Bahiana

Almoço do Oscar, 2013: a festa antes da batalha final
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Ana Maria Bahiana

O Presidente da Academia, Hawk Koch, põe Steven Spielberg no devido lugar na ''foto de turma'' dos indicados ao Oscar 2013.

Quando a Academia inventou o Almoço dos Indicados, 32 anos atrás,  a ideia era promover um congraçamento entre rivais, à sombra do inevitável: os votos já estavam lançados, os contadores faziam seu trabalho, nada mais podia ser mudado, por que não celebrar? Nas palavras da então presidente Fay Kanin, “ é apropriado que a Academia crie um evento que possa homenagear individualmente o talento de cada um dos indicados ao Oscar.”

Isso foi nas priscas eras de março de 1982,  antes das mudanças de data, antes da queda de audiência de shows de premios e, é claro, muito antes de internet, midias socias e etc.  Em 2013, o Almoço dos Indicados  está  quatro dias ANTES do encerramento dos votos – não vou jurar, mas me parece que é a primeira vez na história do premio que isso acontece—e cumpre outras funções.

A principal delas: aquecer o interesse de midia e do público. O Oscar  alterou todo o seu calendário mas continua sendo o último prêmio a ser entregue na temporada. Em outros tempos, isso era o equivalente a ser o show principal depois que um monte de bandas tinham aquecido a plateia. Numa era de informação abundante e constante como agora, estar no fim da temporada implica em ter que estar sempre lembrando que está vivo,  que é importante e que merece mais atenção do que, digamos, o mais recente video de gatos no You Tube.

As coadjuvantes: Sally Field, Amy Adams, Jackie Weaver, Anne Hathaway e Helen Hunt no Almoço dos Indicados

Não é a toa que, este ano, a Academia só não fez streaming do almoço (e acho difícil que algum dia faça – este é um dos poucos momentos de privacidade que esta elite de indicados tem durante todo o processo). Teve twitter, instagram, posts no Facebook e live blogging, focalizando bastante na presença das estrelas, detalhes do cardápio, piadas, pequenos incidentes.

 

Altos papos: Jennifer Lawrence e Hugh Jackman…

..Bradley Cooper e Christoph Waltz.

Não é a toa também que, ao contrário do que acontecia nas duas primeiras décadas do almoço, as estrelas – 17 dos vinte indicados nas categorias dramáticas!,  a Academia divulgou, orgulhosa–  compareceram em peso: este é o momento de re-aquecer também suas campanhas, lembrar ao público que, além de todos aqueles outros premios, eles estão no olho do furacão do maior de todos. E também , é claro- por favor votantes, não se esqueçam de mim.

E este também é o momento em que, ansiosamente, a cada vez maior comunidade de prognosticadores do Oscar tenta ler as entranhas da festa para lançar seus penúltimos pronunciamentos oraculares. A verdade é que os aplausos durante o almoço – no qual os indicados se levantam, um a um, para tomarem seu lugar na “foto de turma” que celebra  os escolhidos de cada ano – representam muito mais os gostos da midia presente do que os dos 6 mil votantes que, em sua maioria, não estão no International Ballroom do Beverly Hilton (ironicamente, sede dos Globos de Ouro), onde cabem, no máximo, 1.200 pessoas.

O que minha experiência me mostrou é uma ideia plantada na cabeça de alguém na hora certa pode acabar virando fato, mais adiante. Os estrategistas de campanha sabem disso muito bem e nunca tiveram uma janela mais perfeita do que esta – semear “tendências” de votos meros cinco dias antes do começo das votações!

Outra tradição do Almoço dos Indicados é o discurso dos produtores pedindo – sempre, sempre, sempre-  que os vencedores encurtem seus agradecimentos. Este ano as coisas estão indo mais adiante: os produtores Craig Zadan e Neil Meron estão investindo firme na ideia da “descontração”, e insistindo que os oscarizados não preparem discursos, sejam espontâneos, façam dancinhas, joguem beijos, chorem, tudo menos aquela lista que em geral começa com a esposa ou esposo e o agente, mais ou menos nessa ordem.

Este ano, além de descontração, talvez tenhamos um show a toda velocidade: durante o Almoço Zadan informou que ele e Meron passaram horas vendo tapes das festas anteriores do Oscar e chegaram à conclusão de que o evento tem muito tempo morto. “O show tem pausas demais quando nada acontece”, disse Zadan. “Cortamos todas elas para dar mais tempo para homenagear os indicados e vencedores. E, é claro, para os outros grandes momentos, como a homenagem a James Bond e os números musicais de Barbra Streisand, Norah Jones e Adele.”


Em fim de semana de definições, Argo toma a dianteira
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Ana Maria Bahiana

Ben Affleck aceita premios por Argo no PGA…

… e, 24 horas depois, por conjunto de elenco, no SAG

Encerrado este fim de semana de definições, duas coisas ficaram claras: já temos algumas dianteiras firmes na corrida do ouro 2013; e já sabemos quem será o quindim independentes da corrida do ouro 2014.

Ao mais imediato, primeiro: seja qual for a urucubaca/ confusão/ momento de privação de sentidos que fez com que a Academia esquecesse de indicar Ben Affleck na categoria Melhor Diretor, Argo já é o filme da vez na disputa 2013. Confirmando a escolha nos Globos de Ouro, duas semanas atrás, a Producers Guild of America, no sábado, e Screen Actors Guild, no domingo, escolheram Argo como seu melhor filme.

Matematicamente, não há como negar que o filme de Ben Affleck tem a vantagem: nesta etapa dos Oscars, toda a Academia vota em todos os premios; com 1.178 integrantes, o departamento de atores é o mais numeroso da Academia; com 462, o de produtores é o segundo mais numeroso.  Como praticamente todos os membros deste departamentos também são votantes em suas Guilds, só aí já está uma vantagem clara.

Mas há algo além da simples soma de possíveis votos no Oscar: para alcançar esta dupla vitória, Argo teve de convencer mais de 100 mil votantes das duas Guilds. Como bem lembrou um twitter de Steve Pond, o que impressiona cem mil pessoas de gostos e lealdades tão diferentes muito mais facilmente vai impressionar os seis mil acadêmicos.

Confirmada essa vantagem, Argo seria uma exceção na escrita da Academia, onde apenas filmes cujos diretores são indicados acabam levando o prêmio maior. Nessa área de sombra os fãs de Lincoln ainda torcem pela vitória mas quanto mais escuto os sons ao redor, mais me convenço que apenas Daniel Day Lewis, que também levou SAG e Globos, é uma certeza. Tommy Lee Jones (outro vitorioso do SAG) como coadjuvante e Steven Spielberg como diretor são possibilidades. As outras vantagens: Jennifer Lawrence para melhor atriz, Anne Hathaway (Os Miseráveis) como coadjuvante.

De todo modo, a briga este ano envolve grandes estúdios – a Warner de um lado, com Argo; a dobradinha DreamWorks/Fox de outro, com Lincoln. Depois de tantas vitórias, o time Weinstein este ano tem que se contentar com Jennifer Lawrence e talvez mais alguns biscoitinhos por O Lado Bom da Vida.

Mas não chore por eles, Brasil. A outra definição deste fim de semana veio no sábado também, com o encerramento do festival de Sundance. O grande vitorioso, de público e crítica, foi Fruitvale, um drama inspirado em fatos reais – o assassinato de um jovem negro por um policial, numa estação do metrô de Oakland, California, em 2008—escrito e dirigido por um jovem (26 anos) realizador estreante, Ryan Coogler, feito em regime cooperativo por uma bagatela, e, desde o começo do festival, o título mais quente da serra de Utah. A Weinstein Company, rapidamente, já comprou Fruitvale. Alô, 2014!

 

 


Entre o fascismo e a compaixão: O Mestre por Paul Thomas Anderson
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Ana Maria Bahiana

Muitos e muitos anos atrás, quando Paul Thomas Anderson era o inacreditavelmente jovem (29 anos) diretor lançando seu terceiro longa- o poderoso Magnolia, até hoje um dos meus filmes favoritos de qualquer época – eu lhe fiz uma pergunta que teve um resultado inédito em minha longa carreira de conversas com pessoas criativas: ele desatou a chorar.

A pergunta era sobre algo que, para mim, parecia claro como o dia: que sua obra tinha como um de seus temas fundamentais a familia, fosse ela por sangue, escolha ou acaso. A explosão emocional se explicava pela intensidade de Magnolia, na qual, entre outros fios narrativos, ele comentava a morte recente (por câncer) de seu pai, Ernie Anderson, uma estrela menor mas super cult do rádio e da TV, e um homem com uma vida tão intensa e multi-facetada quanto qualquer personagem dos filmes de seu filho.

Ernie Anderson

Pais e filhos, familias consanguíneas ou inventadas continuaram a povoar a obra de Paul Thomas Anderson, e são um dos riffs centrais de O Mestre, que estreia hoje no Brasil. Além do comentário sobre a criação de uma “tecnologia psicológica”  que, como PTA confirma aqui, é inspirada no nascimento da Cientologia e seu “mestre”, o escritor de ficção científica L. Ron Hubbard, O Mestre é mais uma história de familias reais e inventadas : um homem à deriva (Joaquin Phoenix), vagando por um país onde não consegue se ancorar, em busca de algum sol que possa orbitar; e uma figura carismática (Philip Seymour Hoffman), um pater familias por excelência, cada vez mais fracionado pelo peso de suas múltiplas responsabilidades.

Numa ensolarada tarde de outono em Los Angeles, PTA conversou (sem lágrimas) sobre familias, música, os anos 1950 e Cientologia.

 O que inspirou você a fazer um filme sobre o início dos anos 1950?

_Foi um período inebriante na história dos Estados Unidos, uma época de grande prosperidade e poder como o país ainda não tinha visto. Os anos 1950 são como uma força da gravidade para mim : eles me atraem, prendem minha atenção.  Eu não sinto a mesma coisa por, por exemplo, filmes que se passam na Inglaterra medieval. Eu gosto de ver filmes assim, me divirto,mas eles não me prendem como qualquer coisa que se passe nos anos 1950 me prende. Alguma coisa nessa era, a música, os automóveis, o modo como as pessoas se vestiam… isso é como um alimento para mim. É lindo, é adorável. É a época do meu pai, ele cresceu ouvindo muito da música que usei no filme. Os detalhes desse tempo me parecem mais ricos.  As músicas também.

 

Em todos os seus filmes a música tem um papel muito importante. Como você escolheu as canções que fazem parte de O Mestre?

_Escolhi cada canção do filme com enorme cuidado, exatamente pelo que elas acrescentavam a cada cena. As canções dos anos 1950 são quase todas sobre ‘vamos nos ver novamente’, ‘um dia você vai voltar’, ‘vejo você nos meus sonhos’, ‘vamos nos encontrar algum dia’.  São letras elegantes de um modo como letras de canções não são mais. São canções de guerra, de tempos de separação, e me pareceram extremamente adequadas ao que, para mim, é o caso de amor sem saída entre o Mestre e Freddie. Especialmente “Slow Boat to China”, que é uma escolha muito importante do Mestre. Eu ajudei o Mestre a escolher, é claro mas… a letra faz tanto sentido para mim.

 

O Mestre é uma figura extremamente contraditória. Como você o concebeu?

_ Existem duas ideias que são atraentes para mim na figura do Mestre. Há uma tensão entre essas duas ideias que foi a base de todo o roteiro. Uma é a ideia do pavor do fascismo, consequencia direta da guerra. Qualquer grupo de pessoas em torno de alguém carismático era visto como uma ameaça em  potencial, um perigo. A outra é a natureza complexa do próprio Mestre. Eu não acho que, pelo menos no princípio, ele seja egoísta. Acho que ele está genuinamente interessado em ajudar as pessoas, mas na medida em que essa ideia se torna cada vez maior e maior e maior fica cada vez mais difícil controlar o que ele está realmente fazendo. As pessoas não querem mais apenas que ele proponha perguntas interessantes, mas que dê as respostas. E quando ele começa  a dar respostas, ele mentalmente vai para um outro lugar muito mais perigoso, onde ele acha que precisa controlar tudo à sua volta…e sem que ele perceba ele cai no modelo fascista de líder.

O Mestre é L. Ron Hubbard (o criador da Cientologia)?

_ Ele tem muita coisa de Hubbard. Não tenho o menor receio de dizer isso. Muita coisa mesmo. Mas é engraçado que, quando eu fiz Sangue Negro, que era inspirado numa pessoa, Edward Doheny, ninguém me perguntou sobre a conexão, ninguém se importou, ninguém conhecia Doheny. E lá como neste filme há muitas semelhanças e um monte de diferenças, mas este tópico desperta a atenção das pessoas. No caso de O Mestre, há muita semelhança física entre Philip Seymour Hoffman e L. Ron Hubbard. Muitas das ideias que Hubbard divulgou no início de seu trabalho com Dianetics estão no filme ,  principalmente a ideia de que é possível acessar vidas passadas onde ocorreram traumas que podem estar prejudicando sua vida no presente. Suas atividades com seus primeiros seguidores também são muito semelhantes.  Por outro lado, Hubbard não bebia. E eu não tenho a menor ideia de como era sua vida privada _ nessa hora é preciso que o escritor em mim assuma controle da narrativa e crie meu próprio personagem.

 

 Você pertence à Cientologia?

_ Não.  Não é meu jeito me filiar a coisa alguma. Tenho medo de me ligar a uma única coisa, uma ideia. Sou feito um ladrão – gosto de pegar ideias e conceitos aqui e ali que podem me ajudar. Mas li Dianetics e, numa época da minha vida, o livro me ajudou muito. Uma ideia especialmente me agrada muito: de que somos espíritos eternos movendo-nos de um corpo para outro. Acho uma ideia incrivelmente repleta de esperança. Quer dizer que quando você morre você não está morto, apenas indo para outro lugar.

 

Foi por isso que você fez este filme?

_ Foi uma das razões, sim. Na verdade toda vez que começo a trabalhar num filme eu tenho essa  vontade de que o projeto seja algo inteiramente novo, algo que nunca fiz antes. E você termina o projeto e vê que na verdade todas as suas preocupações estão lá, de um modo ou de outro. Eu não faria um filme sobre algo que eu achasse banal. Obviamente a ideia de uma figura carismática como o Mestre, a dinâmica entre suas ideias e o mundo à sua volta é algo que me interessa. Minha curiosidade sobre as ideias que inspiraram Hubbard e seu tempo guiou o projeto. Eu só consigo escrever sobre algo que me deixa curioso.

 

Muitos anos atrás, na época do lançamento de Magnolia, eu fiz uma pergunta a você que o deixou muito emocionado. Posso repeti-la?

(Sorrindo)_ É, eu me lembro. Pode sim.

 

Então lá vai: a familia parece ser um tema central de sua obra. Por que?

_ Eu mesmo estou nesta busca. Como disse, toda vez que me proponho a começar um novo trabalho, eu quero fazer algo que nunca fiz antes. E toda vez que concluo o projeto eu vejo que alguns temas são constantes. E eu ainda não sei por que. O que sei é que familias são um excelente condutor para uma história. É um tema que está em toda a história da dramaturgia, familias em luta, familias em crise…. É sempre um assunto apetitoso. Eu venho de uma familia muito, muito numerosa e esse universo sempre foi uma parte essencial de quem eu sou. O que exatamente, que parte é essa… ainda é um misterio para mim. Mas um mistério que vale a pena explorar…


J.J. Abrams vai dirigir o sétimo Star Wars
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Ana Maria Bahiana

Um dia cheio de novidades: a Disney fechou com J.J. Abrams para dirigir o sétimo filme da franquia Star Wars. Num dos mais importantes deals de 2012, em outubro a Disney adquiriu, por quatro bilhões de dólares, todas as propriedades intelectuais de George Lucas contidas em sua empresa LucasFilm.Imediatamente o estúdio anunciou que a prioridade era a reativação da marca Star Wars através de um sétimo filme a ser lançado em 2015, re-iniciando o ciclo com novos lançamentos a cada dois anos. Michael Arndt (Pequena Miss Sunshine) está trabalhando no roteiro desde o final de 2012.

Abrams inicialmente disse que não ia encarar o projeto – o que pode ter sido 1. verdade; 2. um conhecido movimento estratégico para valorizar seu passe. Ele  fazia parte de uma curta e seleta lista de diretores em consideraçao pela Disney que incluia  também Christopher Nolan, Alfonso Cuarón, Guillermo del Toro e Peter Jackson. Conflitos de agenda dos demais candidatos e a habilidade de Abrams em tratar material com vastas implicações míticas levaram à escolha final. O mais recente filme de Abrams, Além da Escuridão- Star Trek estreia mundialmente em maio.


Paul Thomas Anderson e Joaquin Phoenix: juntos de novo
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Ana Maria Bahiana

Enquanto preparo o post com minha (longa) entrevista com Paul Thomas Anderson a respeito de O Mestre, recebo uma boa noticia: Joaquin Phoenix acaba de ser adicionado à ''companhia PTA de atores'' (onde já estão Philip Seymour Hoffman, William H. Macy, John C. Reilly). Phoenix vai trabalhar com Anderson mais uma vez, no papel principal de Inherent Vice, uma adaptação do livro de Thomas Pynchon sobre um detetive chegado a uma maconha, tentando resolver um crime na Los Angeles de 1969 (auge do rock, contracultura e Charles Manson, todos presentes na trama). Phoenix será o detetive-doidão Larry ''Doc'' Sportello, um papel que originalmente estava com Robert Downey Jr. Charlize Theron está se oferecendo para o papel de Shasta, a ex-namorada de Doc que deflagra a narrativa.

Tudo nesse mix me parece irresistível e perfeito para a sensibilidade tanto de PTA quanto de Phoenix – o livro tem um tom de comédia sinistra, quase apocalíptica, que é exato para o realizador. E, depois de Punch Drunk Love, é a primeira incursão de PTA pela comédia e sua primeira adaptação de material alheio desde Sangue Negro. As filmagens estão previstas para começar em breve, para lançamento em 2014.


Por que os Globos de Ouro são importantes. (E os Oscars também.)
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Ana Maria Bahiana

O produtor George Clooney, cercado pelo elenco de Argo, reage à vitoria do filme nos Globos de Ouro 2013, minutos depois de receber seu troféu.

 

Algumas coisas são sempre importantes de serem lembradas quando se fala de temporada de prêmios, especialmente quando se está no auge desta fogueira de vaidades:

  • Como disse antes, todo prêmio é, em essência, a expressão da opinião de um grupo de pessoas num determinado momento.
  • Para quem é indicado ou vence, prêmios são importantes como: reconhecimento de seus pares; ferramenta de marketing; upgrade ou viabilização de carreira. Mas quem dá o devido valor a qualquer obra são o tempo e a história. Que o digam Kubrick, Chaplin, Hitchcock, Altman e Kurosawa, entre muitos outros.
  • Para quem escolhe, prêmios são importantes como: ferramenta para estabelecimento e ampliação de sua posição no meio; ritual de consolidação de seus integrantes; fonte de renda.
  • Desde 1953, quando o Oscar foi televisionado pela primeira vez nos Estados Unidos, os prêmios evoluíram de uma festa entre colegas para um show de mídia. Uma entidade que  tem um prêmio televisionado sabe que ali está sua principal fonte de renda para o ano todo, viablizando suas atividades, programas, doações e apoios. Uma entidade que tem seu prêmio televisionado está constantemente preocupada com a qualidade e popularidade de seu evento _ seria muito irresponsável de sua parte  não faze-lo.

Quando, 70 anos atrás, um grupo de correspondentes estrangeiros em Los Angeles criou o que viria a ser a Hollywood Foreign Press Association, seu primeiro objetivo era por um ponto final à xenofobia e paranoia que dominavam o país em plena Segunda Guerra Mundial. A ideia de criar um prêmio que expressasse as preferências desse grupo – o Golden Globe, Globo de Ouro, enfatizando o aspecto universal das artes visuais – era uma forma de usar de outro modo a moeda corrente que a Academia, fundada 16 anos antes, já tinha descoberto: o prêmio como bilhete de entrada e afirmação no meio.

A Academia, em 1927, tinha um problema: a disputa entre produtores e estúdios e os sindicatos e entidades de classe por melhores salários e condições de trabalho. A HFPA, em 1943, tinha outro: não ser mais discriminada como “um bando de estrangeiros” que talvez estivesse espionando para o inimigo.

Acho incrível que, 70 anos depois, ainda tenha gente que continue nos chamando de “um bando de estrangeiros”, denegrindo nosso trabalho, insultando a mim e a meus colegas.  Xenofobia é uma erva daninha difícil de exterminar.

Felizmente, esta turma é uma minoria cada vez menor. Quando cheguei a Los Angeles em 1987, passei muitos anos ouvindo coisas como “esta entrevista só está disponível para territórios importantes, você não pode fazer” ou “ não temos mais lugar neste evento, é apenas para imprensa norte americana”. Ou recebendo  — depois de muita insistência– copias xerocadas das notas de produção enquanto os coleguinhas norte-americanos – muitos dos quais são os que ainda dizem todas essas coisas acima – eram mimados com luxuosas encadernações, camisetas e lugares reservados nos cinemas.

Ah, como isso mudou! A bilheteria internacional representa hoje 70% da renda combinada de todos os grandes estúdios e principais distribuidores. Carreiras inteiras – Tom Cruise que o diga – dependem dos mercados internacionais. Projetos são escolhidos e aprovados baseados em suas perspectivas internacionais.

A evolução, a popularidade e o prestígio crescentes dos Globos de Ouro devem ser entendidos, em primeiro lugar, à luz desse fenômeno. Os colegas norte americanos podem dizer que somos um “bando misterioso” de jornalistas que “ninguém conhece”, mas estúdios, produtores, divulgadores, atores e qualquer pessoa que lide com mídia internacional nos conhece muito bem: nós somos a voz dos BRICs, a ponte com a Europa, a Ásia, o Oriente Médio. Nossa presidente, a extraordinária  Aida Takla O’Reilly, nascida no Egito, escreve para Dubai, um dos maiores financiadores atuais do cinema. Da França à Coréia, da Australia ao México, o  que reportamos repercute nos mercados que, hoje, mais interessam aos realizadores de todos os tamanhos.

E – o que na verdade pode ser ainda mais interessante – as escolhas que fazemos, nos Globos, são as da platéia, de certa forma as nossas plateias, as culturas, os idiomas e os países que representamos. Vemos e consumimos cinema como o mundo vê e consome. Isso, hoje, vale mais do que qualquer outra coisa. (Inclusive, segundo este estudo, mais do que um Oscar, como ferramenta de marketing – uma vitória nos Globos adiciona, em média, mais 14 milhões de dólares à bilheteria de um filme, enquanto um Oscar traz em média mais 3 milhões de dólares.)

Tina Fey e Amy Poehler nas coxias do palco do International Ballroom, durante os Globos de Ouro 2013

O mito de que “os Globos influenciam os Oscars” começou na mesma salada de especulações e “experts” que hoje assolam a mídia. Por conta de nosso calendário profissional – ei, somos jornalistas, temos que acabar logo com essa farra para voltar a trabalhar! – e da agenda das emissoras que transmitem o evento, os Globos há muitos e muitos anos estão firmemente no segundo domingo de janeiro. O resto do nosso calendário se prende a isso.

Como bem aponta este artigo da Variety, nossas escolhas são de natureza diversa da dos Oscars. São escolhas de quem, sim, viu praticamente todos os filmes lançados no ano (porque é nosso dever profissional) e está lançando indicações como tal. Estamos na plateia. Uma plateia privilegiada, mas uma plateia.

O que acredito que fazemos, para os Oscars e os demais prêmios,  é exatamente isso: criar um balaio, uma lista preferencial de quem realmente importa a cada ano. Isso não mudou. As listas de indicados aos Globos e aos Oscars é praticamente a mesma. As escolhas finais são sempre marcadamente diferentes, porque estamos olhando e selecionando de modo diferente.

Este ano tivemos a nosso favor um planejamento rigoroso do evento do dia 13 de Janeiro, que tomou praticamente o ano inteiro e envolveu as escolhas das hosts Tina Fey e Amy Poehler, o prêmio especial a Jodie Foster e um vasto trabalho online e em midias sociais do qual, digo sem falsa modéstia, participei ativamente (mas não aqui, é claro – não seria correto. No site da Associação). O resultado foi nossa melhor audiência em seis anos – 20 milhões de espectadores —  tornando os Globos o show de prêmios mais visto desta temporada, até agora.

Não creio que isso tenha impacto algum sobre os Oscars. Os Oscars tem sua própria, longa e ilustre história e vão fazer sucesso ou não, este ano, dependendo de seus próprios méritos, do quanto Seth McFarlane vai funcionar como host, e o quão dinâmico for seu telecast.

Suas escolhas finais serão, tenho certeza, absolutamente diferentes, porque o olhar do pool de votantes é necessariamente diferente.  (Por exemplo: os Globos escolheram Brokeback Mountain e os Oscars ficaram com Crash-No Limite. Para dar um exemplo.) Os Globos apontaram Argo e Os Miseráveis. Vejo Lincoln e O Lado Bom da Vida despontando nos Oscars. E seria assim não importa em que dia Globos ou Oscars acontecessem.

Falo tudo isso com absoluto conforto. Meu filme favorito  (e de Ben Affleck também), O Mestre, não ganhou nem biscoitinho de polvilho nem da minha Associação, nem da Academia.

Mas esse é o mistério e o fascínio dos prêmios – o contraponto entre nossas escolhas e paixões e as escolhas e paixões dos outros.

 

 


Indicações Oscar 2013: deu a louca na Academia?
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Ana Maria Bahiana

O primeiro resultado imediato dos sustos da madrugada do Oscar foi uma briga feroz entre a multidão de experts e oráculos profissionais de prêmios que multiplicaram-se nos últimos anos com a velocidade da internet.  Dá para entender: esse povo ganhou fama e seguidores apregoando poderes quase paranormais de compreender a possível “alma coletiva” da indústria tal qual ela se manifesta em seus prêmios anuais.

O que menos gente comenta é que esses oráculos se tornaram, na verdade, instrumentos da cada vez maior manipulação da opinião dos votantes através de “tendências” cuidadosamente plantadas pelos estrategistas  em suas “previsões”. Quando fatores além dos sistemas que eles criaram – baseados na verdade em cacoetes e nas “tendências” alimentadas pelos estrategistas – bagunçam suas previsões… é o caos!

A principal briga é entre David Poland do Movie City News, que fez uma análise bem balanceada das estranhas escolhas deste ano, e Sasha Stone da Awards Daily, que está choramingando na linha “injustiça!”. Mas em volta deles, amigas e amigos, parece a sequencia de abertura de O Resgate do Soldado Ryan, uns chamando os outros de incompetentes, arrogantes, cegos e coisas piores.

E no entanto…

Qualquer prêmio, inclusive o Oscar (ou qualquer festival) é o resultado da expressão da opinião de um grupo de pessoas num determinado momento.  É divertido especular em torno da forma que essa opinião vai tomar,  e imaginar que haja uma “vontade coletiva” atrás desta ou daquela escolha. Mas no fim das contas são fatores muito concretos que acabam  sendo os mais fortes.

Lembram quando eu disse que a antecipação dos prazos poderia resultar em escolhas desiguais e potencialmente injustas, especialmente para os filmes que estrearam no final do ano? Este, creio, é um grande fator no sumiço de Kathryn Bigelow, Tom Hooper e Quentin Tarantino dos indicados a melhor diretor.

Mas não explica porque Ben Affleck, indicado pela DGA, sumiu dos Oscars com um filme que estreou em outubro. A matemática não apoia nenhuma especulação. Existem  mais de 15 mil votantes na entidade de classe dos diretores. Existem 371 membros no departamento de diretores da Academia. 95%  deles são votantes da DGA. O que aconteceu?

Cair na choradeira do “ah, mas o filme é tão bom, por que?!! Por que?!!” não resolve nada. Depois de passar uma tarde de domingo bebendo cinema da mais alta ordem na exposição Kubrick do Museu de Arte de Los Angeles, caí na real ao perceber que este gigante da sétima arte recebeu um único Oscar- por efeitos especiais, por 2001 Uma Odisseia no Espaço.

A conversa não é por aí.  (Se a conversa fosse por aí eu estaria aqui vociferando porque O Lado Bom da Vida, um filme que me irritou profundamente no mau sentido, pela auto-complacência e preguiça, conseguiu ser indicado em todas as categoria nobres. E como é possível que O Mestre tenha ficado de fora das categorias filme, diretor e roteiro original.) A conversa é sobre números, estatísticas e um corpo votante de idade avançada que reage a qualquer novidade.

Dois fatos me levam a pensar que houve um pepinaço na votação em geral, mais dramática na categoria “melhor direção”:

1. a inclusão de Benh Zeitlin (Indomável Sonhadora) e Michael Haneke (Amor) entre os melhores diretores,  duas indicações incrivelmente ousadas para um corpo votante tão conservador;

2. a imediata profusão de entrevistas de Hawk Koch,  presidente da Academia, garantindo que nunca tantos membros tinham enviado seus votos e comparecido às sessões dos filmes concorrentes. Lembrei de cara daquela cena maravilhosa de Argo, em que Alan Arkin diz para Ben Affleck: “Então, nesta cidade onde as pessoas mentem profissionalmente, você quer criar um filme de mentira?” (Que bom que, nesta confusão, tanto Arkin quanto o maravilhoso roteiro de Chris Terrio foram lembrados).

Pois é.

O que acho, até prova em contrário: as indicações anunciadas na manhã do dia 10 foram o resultado do menor número de votos já lançados numa escolha do Oscar; muita gente não soube ou não conseguiu votar no novo sistema online; muita gente deixou linhas em branco porque, com os novos prazos, não teve tempo de ver os filmes ou se guiar pelas indicações das sociedades de classe; muito voto foi anulado.

É tudo hipótese. Mas faz sentido.

Uma única unanimidade emergiu da madrugada do Oscar: a correria deseperada atrás do público jovem inventou um sub-Rick Gervais na figura de Seth McFarlane. Seus promos foram tão sem graça quanto suas piadas no anúncio das indicações. E que triste a Academia ter que debochar de si mesma para se mostrar “moderna”…

 

 

 


Globos: uma prévia
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Ana Maria Bahiana

Eis o que sei: Adele estará lá. Mas não vai cantar nem apresentar: vai apenas curtir a festa, como uma das indicadas (e favorita) na categoria Melhor Canção por ''Skyfall''. Sim, será sua primeira aparição pública (pelo menos por estes lados) desde a chegada do baby. Taylor Swift, outra indicada (por ''Safe and Sound'', de Jogos Famintos) também estará no International Ballroom do Beverly Hilton, mas só como indicada e convidada – nada de cantoria.

Em compensação, George Clooney, Meryl Streep, Jennifer Garner , Debra Messing, Kerry Washington, Nathan Fillion, Jason Statham, Jennifer Lopez, Kristen Wiig, Jeremy Renner, Amanda Seyfried e Will Ferrell estão confirmados como apresentadores — e mais vão aparecer em breve. Fiquem ligados.

Também posso dizer que o jantar vai consistir de um cardápio ''Colheita de inverno na California'': entradas de alcachofra grelhada, queijo de cabra ao mel, mini quiche de  tomate seco e abóbora japonesa grelhada; prato principal com opção para badejo grelhado ou filé marinado; e sobremesa com uma montagem de mousses de chocolate. Tudo de baixo carboidrato e açúcar mínimo, para que, nas palavras do chef Suki Sugiura, as estrelas possam ''comer sem receio''.

Arranjos de rosas vermelhas adornarão as mesas, e um champagne especial, safra 2004 trazido especialmente da França, será servido durante a noite toda, começando no tapete vermelho com mini-Moets de canudinho dourado.

O palco segue o mesmo esquema simples e funcional de outras noites, com predominância de formas elípticas. E a Miss Golden Globe (a que entrega as estatuetas aos vitorisosos) é Francesca Eastwood, filha de Clint, auxiliada por um Mister Golden Globe, Sam Fox, filho de Michael J. Fox.

Vou contando mais assim que souber…

 

Os chefs Thomas Henzi (sobremesas) e Suki Sugiura apresentam o cardápio dos Globos 2013.