Blog da Ana Maria Bahiana

Categoria : TVland

Tá chovendo zumbi: quarta temporada de The Walking Dead promete
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Ana Maria Bahiana

Enquanto escrevo este post o grande debate da cidade é se a “linha invisível” que separa a TV por assinatura da TV paga foi ou não rompida com o mega sucesso do episódio de estreia de The Walking Dead, ontem: mais de 16 milhões de espectadores, sem contar os estimados 500 mil que baixaram o episódio informalmente pelo mundo afora.

A questão é a seguinte: ficou estabelecido que a TV por assinatura tem mais liberdade, mais qualidade, mais ousadia e, em tese, atinge um público mais reduzido e , por definição, segmentado.; a TV aberta não tem direito a nenhuma dessas regalias, mas atende uma massa de público muitas vezes maior.

Só que os zumbis da AMC acabam de quebrar esse conceito: 16 milhões é audiência de um NCIS, CSI da vida. Os cálculos ainda estão sendo feitos, mas parece que ontem o programa de maior audiência na TV norte americana foi mesmo The Walking Dead. Não da TV por assinatura, vejam bem: da TV.

Não é pouca coisa, principalmente considerando os percalços no caminho, com trocas sucessivas de showrunners (e, por consequencia, de pontos de vista…) e aquilo que muitos analistas consideravam um obstáculo irremovível para alcançar o grande público em casa: violência e sangueira.

Mudou a TV ou mudou o público? Ou ambos?

Com essa dúvida na cabeça, acrescento – Vi os dos primeiros episódios desta quarta temporada e ainda não sei se sei para que lado o novo showrunner, Scott M. Gimple vai levar a narrativa e a atmosfera da série.  Há uma desaceleração clara – “30 Days Without An Accident” se permite o luxo de explorar a bizarra paz da prisão, quase bucólica com suas hortas, refeitórios comunitários e horas de lazer para crianças (lembrem-se que a população aumentou consideravelmente com a chegada dos refugiados da terra do Governor…)… e com a mesma calma nos lembrar que esse condomínio campestre tem altas cercas de arame farpado cercadas por todos os lados por zumbis furiosos…

É um ritmo interrompido apenas quando é preciso com o habitual combate humanos/walkers (eu chamaria a do episódio de abertura de “Chuva de Zumbi”… com os devidos parabéns a Greg Nicotero – que dirige o episódio -e sua equipe, que está cada vez mais arrasando com os prostéticos..) e com uma trama secundária que vem vindo para o primeiro plano com grande força, trazendo novos obstáculos e novos zumbis (se eu entrar em mais detalhe será SPOILER…).

 

Mas de tudo o que vi nos dois episódios o que mais me impressionou foi esta cena aqui em cima – o encontro de Rick com uma sobrevivente, na mata em torno da prisão. Ali está Walking Dead no que tem de melhor – prendendo a atenção pelo suspense emocional, nos envolvendo em algo ao mesmo tempo terrível e misterioso, do tipo que não suportamos ver mas não resistimos não olhar. Palmas para a irlandesa Kerry Condon, irreconhecível como a mulher faminta que vagueia pelo mato, a verdadeira morta que caminha – como Rick, que perambula pela vida como um sonâmbulo nos braços da morte.


A perfeita tragédia de Albuquerque: Breaking Bad e o poder das escolhas
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Ana Maria Bahiana

A definição aristotélica de tragédia é: uma narrativa dramática concentrada num grupo de personagens, em um lugar e período definidos, cuja ação é deflagrada pelas escolhas equivocadas de um protagonista complexo, com consequências que ecoam em todos à sua volta e fazem a plateia refletir sobre a condição humana.

Aristóteles teria adorado Breaking Bad. Possivelmente estaria, como eu, pulando do sofá ao final de mais de um episódio para aplaudir de pé (se a toga não atrapalhasse). E isso incluiria “Felina”, o episódio final,  exato em tom e conteúdo, que foi ao ar ontem pela AMC, e foi visto por mais de 10 milhões de espectadores, apenas nos Estados Unidos.

Vou tentar falar da série e do final com o máximo cuidado para evitar SPOILERS mas se você for ultra-sensível, pode parar aqui.

Como alguns colegas, eu também vi em “Felina” grande buracos de credibilidade. Não é a primeira vez: em muitos momentos dos 62 episódios de Breaking Bad Vince Gilligan e seus roteiristas armaram situações que desafiam a plausibilidade e/ou a lógica. Mas isso nunca me incomodou, nem na série nem no final porque:

1. A realidade consistentemente consegue ser mais absurda que a ficção, e quase tudo que se pode imaginar pode acontecer- e talvez já tenha acontecido.

2. Não é isso que importa na série. O que importa é a exatidão da trajetória de dois arcos exatos e opostos que se cruzam, se encontram e finalmente se separam: o de Walter White, o “homem bom” que nunca foi tão “bom” assim, e o de Jesse Pinkman, o “homem mau” que nunca foi tão “mau” assim.

Sempre coloquei os soluços de trama de Breaking Bad numa categoria entre a metáfora, o sonho e o “estado de fuga” – verdadeiro ou fake, não importa. Eles nunca me perturbaram porque o importante – a coerência interior do mundo criado pelas ações do protagonista, a clareza do traço da dupla trajetória de Walter e Jesse- sempre esteve lá. Breaking Bad sempre foi uma calma, clara, violenta, profunda, perturbadora, divertida e intensa meditação sobre certo e errado, bem e mal, legal e ilegal, o que nos faz feliz e o que nos faz sofrer, até onde nossa consciência e nossos desejos nos dizem o que fazer, e até onde nós seguimos essas ordens.

Quando  subiu o som de “Baby Blue”, do Badfinger (uma escolha absolutamente perfeita), nos segundos finais, enquanto a câmera deslizava lentamente para cima, naquele movimento amplo e eufórico conhecido como “o ângulo dos anjos”, Walter e Jesse haviam encontrado a meta justa da jornada que haviam iniciado 62 episódios atrás.

Jesse, o bandidinho de terceira, passara pelo crivo das reais provações da bandidagem em grande escala e perdera nesse fogo, camada por camada, a fina capa de safadeza que um dia achou que tivesse. Em seu lugar, às custas de muita porrada e muitas perdas irreparáveis, ele encontrou algo que nunca achou que tivesse: um firme centro moral, uma imensa compaixão, uma profunda humanidade. Jesse sempre foi o Grilo Falante do Pinóquio de Walter, esse boneco que ganhou vida ao quebrar a lei (“eu fiz por mim mesmo. Eu me sentia vivo”, ele diz no episódio final).

Walter, o bom sujeito classe média, fizera a escolha que, em outros mitos, já havia arruinado outros indivíduos brilhantes –como o favorito de Aristóteles, Édipo: optar pelo que não é permitido, arriscar-se pela sombra. E na sombra ele teve a sua provação, cada escolha sombria levando a uma mentira, cada mentira levando a uma nova, maior, escolha sombria, despertando nele o Outro com o qual, imagina-se, ele sempre dançara – seu Batman, seu Mr. Hyde, Heisenberg.

O x de Walter White está logo num dos primeiros episódios da série, quando ele diz “eu nunca tive controle sobre minha vida, nunca pude fazer minhas próprias escolhas.” O que não sabemos sobre o passado de Walter White é muito, mas o que importa é isto: ele foi parar em Negra Arroyo Lane, Albuquerque, e no laboratório de química do ginásio do bairro por escolhas que deixou de fazer. O que veremos a seguir é seu fantástico “erro de alvo”, tão caro a Aristóteles: as escolhas que ele, finalmente, fez.

Tudo se resolve, clara e elegantemente, em “Felina” – palavra que oculta “finale” e que referencia a personagem da canção “El Paso” do ídolo country/western Marty Robbins, que Walter acha no cassete de um dos carros do episódio,  e cujo refrão diz “acho que ganhei o que eu merecia”. A cada um a coerência de suas escolhas, inclusive os que foram tragados pelo redemoinho da progressiva divisão dos átomos de Walter White, partido entre Mr. White e Heisenberg.

Além da imensa satisfação de acompanhar uma obra tão excelente em todos os seus aspectos – roteiro, direção, interpretação, fotografia, música, som – Breaking Bad deixou grandes lições para a indústria do audiovisual. A Variety listou algumas, importantes, e concordo com todas – especialmente “nem tudo está no piloto” e “Netflix é um aliado, não um inimigo”.

A todos essas lições eu acrescentaria mais uma: confie na inteligência do público. Somos inteiramente capazes de acompanhar, entender e apreciar um drama complexo em tema e tom. 2438 anos atrás Aristóteles já sabia disso.


Emmys 2013: a TV morreu! Viva a “TV”!
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Ana Maria Bahiana

O host Neil Patrick Harris e Sarah Silverman no número musical dos Emmys 2013.

Se você não assistiu os Emmys, ontem, não perdeu nada. Aqui vai o mais importante: Behind the Candelabra e Breaking Bad saíram triunfantes (Breaking Bad com seu primeiro Emmy de melhor série/drama que, na minha imodesta opinião, lhe era devido faz tempo…). Modern Family levou os prêmios de comédia porque, como se sabe, os acadêmicos de TV não tem imaginação e/ou lutam com unhas e dentes para manter pelo menos alguns troféus na TV aberta. E, numa vitória histórica e pioneira, David Fincher levou para  casa um Emmy de direção por uma série que ninguém viu nem na TV aberta nem por assinatura: House of Cards, da Netlflix.

Imagino que o tom funéreo/retrospectivo do evento de ontem tenha surgido, na cabeça dos produtores, do desejo ser “sério” no momento em que os Emmys completam 65 anos. Ser levado a sério numa industria que , até recentemente, privilegiava a tela grande sobre a pequena, vista como um primo pobre do cinema, onde carreiras iam para morrer, está na raiz da fundação da Academia de Artes e Ciências da Televisão, em 1946.

A péssima escolha de tom tornou deprimente um espetáculo que poderia ser simplesmente chato, interrompendo os festejos a toda hora para ou memorializar alguém ou recordar um grande momento do passado da TV. A ironia suprema dessa escolha foi ancorar no passado, na saudade, na noção de  “somos importantes porque somos antigos” uma mídia que está passando por sua maior revolução desde que foi inventada e se tornou bem de consumo de massa em meados do século passado.

Como seus primos do século 20, o disco e o rádio, a TV surgiu primeiro como hardware, como uma novidade, um eletrodoméstico. E até o advento do videocassete, na década de 70, não se imaginaria separar hardware de software, conteúdo de suporte – a linguagem da TV era a da audiência com hora marcada, em narrativas interrompidas regularmente para uma mensagem dos nossos patrocinadores, com narrativas emprestadas do rádio e uma estética tirada, com grande simplificação e redução, do cinema.

E agora ,como seus parentes, a TV desencarnou. O que era indústria do disco hoje é indústria da música. A julgar pelos textos e a auto-importância do evento de ontem, a TV ainda acha que é TV, mas está cada vez mais se tornando um espírito livre, desacoplado da tela em que, por acaso e transitoriamente, está sendo visto.  Dêem mais uma década – talvez nem isso – e provavelmente haverá um novo nome para definir esse conteúdo portátil, volante, cuja história terá tanto a ver com os marcos solenemente descritos e celebrados nos Emmys quanto nós, hoje, com os pintores dos cavalos e bisões das cavernas.

Aqui nos EUA a ironia se tornava ainda maior porque, nos intervalos comerciais, entrava um anúncio de um novo televisor Samsung no qual uma familia via vários tipos de conteúdo – You Tube, Facebook, Netflix, Instagram – equanto a mãe mandava “parar de ver tanta TV”, e os filhos (e o marido) respondiam: “Mas não estamos vendo TV…”

Involuntariamente, a chatura saudosista da cerimônia de ontem ficou parecendo o in memoriam da própria TV.

O que não é de todo mau. Que se abram os caminhos para o que está por vir, para o que já está vindo, para o que já está.

 


À luz das sombras: a (extraordinária) temporada final de Breaking Bad
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Ana Maria Bahiana

Você lembra a primeira vez que viu Breaking Bad? Eu lembro _  estava procurando outra coisa na AMC e peguei os minutos finais do episódio  da primeira temporada em que Jesse e  “Heisenberg” encontam-se com Tuco e seus comparsas no depósito de sucata. Eu não tinha contexto algum para compreender o que se passava, não sabia sobre o que cada personagem estava falando, ou, mais importante ainda, a história atrás de cada palavra e cada silêncio. Mas fiquei imediatamente hipnotizada. O que estava acontecendo ali naquele cemitério de automóveis, entre as coisas não ditas? Que história secreta e imprevisível se contava ali, num pequeno mundo estranho completamente vazio dos bandidos e mocinhos da TV?

Hipnotizada. Essa é uma palavra que eu e muitos fãs usaríamos muito nas próximas semanas, meses e anos, enquanto seguíamos a jornada de danação do prosaico professor de ginásio transformado em senhor da droga.  Como era possível uma série tão emocionalmente complexa, tão absurdamente bem escrita, com personagens completamente humanos, revertendo com tanta calma tantos clichês num universo narrativo onde super-explicar, ser óbvio e abusar dos clichês são a norma?

Se você se sente como eu, trago boas novas _ a temporada final de Breaking Bad, que começa dia 11 de agosto aqui nos Estados Unidos, não vai decepcionar em nada. Muito pelo contrário _ a julgar pelos primeiros episódios desse lote final (oficialmente chamado de s5B) Breaking Bad vai acabar exatamente como começou, com o mesmo gume subversivo e a mesma qualidade excepcional.

Tentando ao máximo não criar SPOILERS, digo que o primeiro episódio da s5B é uma obra prima. Dirigido pelo próprio Bryan Cranston (por favor, dêem mais coisas pra esse homem dirigir!!!) e escrito por Peter Gould ( mestre roteirista, autor de 34 episódios de Breaking Bad, inclusive o que me seduziu de forma tão dramática nos idos de 2008), Blood Money continua exatamente do ponto onde, no final da temporada passada, o cunhadão Hank (Dean Norris, sensacional) teve uma epifania envolvendo uma visita ao banheiro, um livro de poemas de Walt Whitman e as iniciais WW.

Antes, há um breve e sinistro prólogo no qual realizamos o quanto os cenários aparentemente banais de Breaking Bad – a pasteurização arquitetônica do contentamento classe média, a paz semimorta dos condomínios de subúrbio – contam histórias em si mesmos. E que histórias!

Há uma tensão quase insuportável latejando através de todo esse episódio. Mas ela é mantida sob rígido controle, sem os estardalhaços que, em outras séries ou filmes, seriam a opção para sublinhar a situação absurda que todos os personagens estão vivendo. Esse rigor – desenhado no roteiro, realizado plenamente na direção- tem como efeito manter nossa atenção, o tempo todo, nos personagens e na riqueza de seu mundo interior: Hank, um touro furioso, ferido nem tanto em seu zelo de homem da lei, mas em seu orgulho próprio; Jesse (Aaron Paul, cada vez melhor, se isso é possível) devastado pela culpa;  Skyler (Anna Gunn, cujo trabalho ainda precisa ser mais reconhecido) em queda livre; Walter (Cranston, o que mais dizer?) numa resoluta embriaguez de poder, a completa entrega ao lado sombrio da força.

Vai ser uma tremenda viagem, esses próximos episódios até Felina, o final da série, escrito e dirigido por seu criador Vince Gilligan. Não esperem nada. Esperem tudo.


A plateia no poder: o que querem dizer as vitórias da Netflix nos Emmys
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Ana Maria Bahiana

Sobre os Emmys: em primeiro lugar, calma. Respirem fundo. As nove indicações para House of Cards, e a solitária (injustamente) indicação para Jason Bateman por Arrested Development são, de fato um marco. Mas não exatamente o marco que tenho lido/ouvido por aí.

Repitam comigo: Netflix não é “a internet”. Netlflix é um sistema de distribuição de conteúdo audiovisual que apenas recentemente começou a usar prioritariamente a internet ou melhor, os meios digitais de transmissão, para que  esse conteúdo chegasse a seus assinantes.

Entre 1997, quando a Netflix foi fundada num subúrbio de Santa Cruz, California,  e  julho de 2011, quando separou as assinaturas entre “apenas online” (mais barata) e “apenas DVD”, a Netflix competia em primeiro lugar com locadoras como a Blockbuster, que distribuiam conteúdo através de mídias físicas. O sistema on demand ou instant watch – visão instantânea- não funcionava muito bem nem quando se navegava numa rede de alta velocidade, como DSL ou cabo.

A partir de 2008, quando a Netflix fechou seu primeiro contrato de exclusividade – com o Starz, um canal “tradicional” de TV por assinatura – para distribuição de conteúdo, a empresa acelerou sua decolagem na rampa online. O acordo era, na verdade, uma parceria entre duas empresas que estavam pensando além dos canais disponíveis até então. Starz e Netlflix eram, até então, versões só um pouco mais modernas da locadora de bairro: ambas  distribuíam conteúdo produzido por terceiros, ou através de DVDs, ou de um pacote de TV por assinatura.

As mudanças começaram aí. Em 2010, quando a Starz começa a lançar seu balão de ensaio em conteúdo próprio, a Netflix muda completamente sua infra-estrutura digital. Um ano depois, com seu sistema on demand funcionando plenamente, a Netlflix não muito sutilmente começa a instigar seus assinantes a optarem por receber conteúdo exclusivamente por streaming, seja ele em sua TV, computador, tablet ou smatphone.

O lógico passo seguinte – que a Starz, aliás, também dá nessa época – é investir com tudo em conteúdo próprio.

Aqui é preciso fazer dois esclarecimentos importantes:

  1. A “TV” como ela é usada no Brasil é uma criatura em vias de extinção nos Estados Unidos, esperando apenas o impacto de um meteoro cultural /tecnológico para ir fazer companhia aos dinossauros.  O segmento de público que “assiste TV”, ou seja, liga seu aparelho em determinados horários, para ver programas, notícias ou filmes segundo a grade de programação, está diminuindo a passos largos. Uma estimativa (que eu acho conservadora) diz que em 2020 77% do público de conteúdo audiovisual doméstico não “verá TV” nesse sentido. Em 2012, cinco milhões de lares nos Estados Unidos não tinham nenhum tipo de transmissão “normal” de TV, embora tivessem telas de TV _ estão recebendo conteúdo audiovisual através de streaming em aparelhos como BluRay players, computadores, tablets, consoles de games ou AppleTV.  E mesmo os que tem TV por assinatura não seguem mais a grade – programam seus aparelhos (que podem ser Blu Ray players, consoles, computadores ou hardware específico, como o TiVo) para gravar o que querem, e vêem quando querem.  Uma das grandes sacadas da Netflix foi perceber de imediato o potencial dessa mudança do mercado e começar a oferecer variedade de conteúdo para uma platéia que não tinha mais paciência para deixar que programadores lhe dissessem o que assistir, e quando.
  2. O modo como esse conteúdo é distribuído não altera sua forma ou  estética , a não ser em dois pontos: maior liberdade para exibir cenas realistas de sexo, conflito e violência, e a possibilidade do público controlar o modo como vê, segundo seus horários e disponibilidades. Fora isso, a oferta segue os formatos estabelecidos na TV tradicional: seriados dramáticos com 13 episodios de 50 minutos cada, seriados de comédia de 13 episódios de 22 minutos cada.

A Netflix não produz conteúdo, apenas licencia e distribui on demand. Seu fundador e CEO, Reed Hastings, sempre viu a empresa como uma “programadora, uma distribuidora de licenciamentos”.  A Netflix não é dona do conteúdo que disponibiliza – ela compra uma licença para distribui-lo em seu sistema durante um período X. A premiada House of Cards foi produzida inteiramente pela produtora Media Rights Group. Seu licenciamento foi um leilão, uma verdadeira guerra entre HBO e Netflix pela compra dos direitos (valor final, pago pela Netflix: 100 milhões de dólares por 26 episódios em duas temporadas).

Essa é uma diferença fundamental entre ela e o modelo HBO, com quem a Netflix gosta muito de ser comparada. A HBO é uma produtora, e é dona da imensa maioria do conteúdo original que exibe porque produz, investe nele desde o começo, em muitos casos ainda na fase de desenvolvimento. É mais parecida com um estúdio, envolvendo-se, arriscando-se e bancando projetos.

A Netflix é uma compradora astuta: House of Cards, Arrested Development, Hemlock Grove, Orange is the New Black. Mas ainda está na dependência do que o mercado pode oferecer, já pronto – e é claro que, agora, o mercado está se atropelando mais que os zumbis de Guerra Mundial Z para oferecer conteúdo. E compreendeu até onde vai o desejo de controle por parte da plateia, oferecendo as temporadas de cada um de seus títulos em pacotes com todos os 13 episódios, um procedimento impensável, até hoje, no que estamos chamando de “TV convencional”. A “TV convencional” vende tempo – o tempo que  o anunciante tem para passar a mensagem dele para os olhos, espera-se, cativos dos espectadores. A Netflix não precisa de anunciantes porque tem assinantes e compradores diretos- ela vende, estritamente, o acesso ao conteúdo.

As vitórias  da Netflix nos Emmys não querem dizer que uma nova estética foi subitamente endossada pelo establishment da TV (é isso que todo prêmio é, certo?). Quer dizer que o establishment da TV sabe muito bem que os sistemas de produção, programação e distribuição que foram inventados no século passado estão acabando de vez.


Novidades de Game of Thrones: vem aí The Red Viper
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Ana Maria Bahiana

Pedro Pascal

As filmagens da quarta temporada de Game of Thrones  começam semana que vem, e já podemos ter uma boa ideia de onde a história vai nos levar com esta novidade no elenco: o chileno Pedro Pascal (Graceland, Nikita, Burn Notice) foi escalado para ser o príncipe Oberyn Martell de Dorne, também conhecido como The Red Viper. Quem leu o livro sabe  ( e para quem não leu, isso pode ser SPOILER) que Oberyn entra na história descontente com as tramóias de King’s Landing e dos Lannisters, especialmente a morte de sua irmã nas mãos de The Mountain. E aí… bom, vou parar por aqui…

A quarta temporada de Game of Thrones – que inclui um terço do terceiro livro, Tormenta de Espadas, e um bom pedaço do quarto,O Festim dos Corvos – estreia no começo de 2014.


Starz abraça fantasia com Outlander
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Ana Maria Bahiana

 

Depois de fazer sucesso (em níveis variados) com séries de época,a rede por assinatura Starz está investindo firme no gênero fantasia com a nova série Outlander. Ronald D.Moore, de Battlestar Gallactica (e Deep Space Nine, Next Generation, etc) vai adaptar a série de livros de Diana Gabaldon sobre  uma enfermeira que, ao retornar do serviço na Segunda Guerra Mundial, descobre que tem uma vida paralela na Escócia do século 18.

Nessa hora é bom lembrar que o atual presidente da Starz, Chris Albrecht, foi, durante muitos anos, chefão da HBO, e continua de olho vivo acompanhando a trajetória do canal. Qualquer semelhança com Game of Thrones não é mera coincidência..

Ah! Não confundir com o filme do mesmo nome , de 2008, estrelado pelo Jim Caviezel…

Outlander é uma parceria entre a Sony TV e a Starz, e estreia em 2014.


Jonathan Demme adere à TV
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Ana Maria Bahiana

Enquanto isso, no cada vez mais interessante mundo da TV, mais um diretor de responsa adere à tela doméstica: Jonathan Demme, que já fez muitos documentários para TV e dirigiu um episódio da infelizmente cancelada, maravilhosa Enlightened, acaba de fechar com a AMC para produzir e dirigir o piloto do que pode vir mais uma série campeã do canal, Line of Sight. Blake Masters (Brotherhood) é o roteirista do que ele define como “um sci-fi cheio de twists” sobre um investigador especialista em desastres de avião que, miraculosamente, sobrevive a um deles. (Humm… Lost?)

Depois de ter ressuscitado The Killing das garras da execração pública, graças a uma parceria com a Netflix, o AMC está cheio de energia e projetos – a nova série policial Low Winter Sun estréia aqui em agosto, e em breve teremos Turn, história de espionagem no século 18, durante a guerra de independência dos Estados Unidos, e Halt & Catch Fire, sobre o boom dos computadores domésticos nos anos 1980.

Line of Sight, uma co-produção com a Fox, será filmado no segundo semestre, para estréia no início de 2014.


J.J.Abrams produz texto inédito de Rod Serling
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Ana Maria Bahiana

Rod Serling apresentando um dos episódios de Além da Imaginação

Rod Serling, um dos gênios da dramaturgia de TV e autor de uma das três séries mais bem escritas da história, segundo a Writers Guild – Além da Imaginação, 1959-1964- está de volta. J. J. Abrams, fã do pioneiro da TV, vai produzir e adaptar o último roteiro de Serling, a mini-série The Stops Along the Way.

Abrams vem há tempos negociando com a viúva de Rod, Carol Serling, não apenas com relação a Stops mas também quanto a outros textos e roteiros que seu marido deixou incompletos ou não-produzidos, ao falecer subitamente, de uma série de ataques cardíacos, em 1975, aos 50 anos. Em sua última entrevista, feita em março de 1975 num bar na Sunset Strip de Los Angeles, Serling menciona vários projetos em curso, e demonstra principal carinho por Stop, “um texto bem bonito”. Sua última frase, na entrevista, é profética: “Espero que se lembrem de mim como um escritor. Isso já é bastante. Todos nós temos um desejo de imortalidade.”

Já imortal pelo tanto que contribuiu em temas e linguagem para a evolução da TV, Serling agora será formalmente apresentado a uma nova geração de espectadores. The Stops Along the Way será produzido pela Bad Robot de Abrams em parceria com a Warner Brothers TV.