Blog da Ana Maria Bahiana

Categoria : TVland

As séries de TV mais bem escritas da história (segundo a WGA)
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Ana Maria Bahiana

Qual a série de televisão mais bem escrita da história?  Segundo a Writers Guild of America, Família Soprano. Seinfeld vem logo a seguir e um favorito da minha infância, Além da Imaginação, em terceiro.

A ideia de que estaríamos vivendo uma era de ouro do roteiro de TV não tem o apoio das escolhas do sindicato: os top 10 são dominados por séries dos anos 1950- 1980. Mad Men está em sétimo lugar, West Wing em décimo, Breaking Bad em décimo terceiro, Arrested Development em décimo sexto, Daily  Show em décimo sétimo, A Sete Palmos em décimo oitavo, 30 Rock em vigésimo primeiro e Game of Thrones em quadragésimo ( na frente de Downton Abbey, Law and Order e Homeland…)  Um renascimento da dramaturgia televisiva, então?

O que mais gostei: ver Os Simpsons lá em cima, entre The West Wing e I Love Lucy, devidamente creditados por terem mudado completamente as regras do jogo da comédia, abrindo caminho para a sátira social surrealista que hoje domina o gênero na TV. Doh!

As Top 20:

1. Família Soprano

2.Seinfeld

3.Além da Imaginação

4. All in the Family

5. M*A*S*H

6. Mary Tyler Moore

7. Mad Men

8. Cheers

9. The Wire.

10. The West Wing

11. Os Simpsons

12. I Love Lucy

13. Breaking Bad

14. The Dick Van Dyke Show

15. Hill Street Blues

16. Arrested Development

17. The Daily Show with Jon Stewart

18. A Sete Palmos

19. Taxi

20. The Larry Sanders Show

A lista completa aqui. Vocês concordam?

 


Vai chover em Westeros…
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Ana Maria Bahiana

A tradição dos penúltimos episódios mais a estrutura da adaptação dos livros de George R. R. Martin garantem: o episódio de amanhã de Game of Thrones vai ser AQUELE episódio onde tudo muda. Quem leu A Tormenta de Espadas sabe exatamente do que estou falando. Quem não leu… prepare-se. Tudo indica que seu mundo vai cair. Como referência:

– na primeira temporada o penúltimo episódio foi Baelor, onde Ned Stark entrou para a macabra coleção que adorna os muros de King’s Landing.

– na segunda temporada, o penúltimo episódio foi Blackwater, onde uma boa parte das tropas de Stannis Baratheon virou churrasquinho.

– E agora…. The Rains of Castamere. E alguns brevíssimos instantes  em torno dos 0:28, aqui:  


Começar de novo: as novas temporadas de Arrested Development, The Killing
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Ana Maria Bahiana

 

A máxima “ não existem segundos atos em vidas americanas” (do escritor da hora, F. Scott Fitzgerald) não tem muita tração no mundo do entretenimento. Julgando pelas ofertas da temporada-pipoca, quase todos os títulos são segundos  atos(ou terceiros, ou até sextos, como Velozes e Furiosos) ou reboots ou segundos atos de reboots.

Melhor citar o químico francês Antoine-Laurent de Lavoisier: “Na natureza nada se cria, nada de perde, tudo se transforma.”

Nos domínios de TV e companhia, isso nunca foi tão verdadeiro.

 Arrested Development, a série super cult criada por Mitchell Hurwitz em 2003, foi cancelada pela Fox em 2006, depois de três temporadas premiadas, aclamadas pela crítica mas fracas de audiência. A Imagine de Ron Howard e Brian Grazer, produtora da série, tentou durante anos, transformar Arrested em filme (algo mencionado até nos últimos momentos do último episódio da terceira temporada), sem sucesso.

Corte rápido para o admirável mundo novo o conteúdo on demand, onde empresas que, dez anos atrás, ou não existiam ou eram meras locadoras/vendedoras de produtos alheios – Netflix, Amazon, YouTube—tornaram-se os novos mini-estúdios, a continuação da revolução da TV por assinatura dos anos 1980.

O filme não veio, mas a quarta temporada de Arrested Development estreou na Netflix neste domingo passado, com o mesmo formato de House of Cards, sua antecessora no departamento conteúdo original: todos os 15 episódios  disponíveis ao mesmo tempo, em todos os principais mercados (inclusive o Brasil), esperando que os fãs dediquem o maior tempo possível à série, vendo todos os episódios em seguida (e assim, de certa forma, criando eles mesmos o filme que não chegou a ser produzido.)

Vocês viram? E, se viram, viram assim?

Eu, que sou fã da série original, achei difícil emendar os 15 episódios. Há algo no humor de Hurwitz, veloz, sarcástico, satírico, denso, que pede uma pausa digestiva entre uma dose e outra. Por exemplo: a narração off de Ron Howard, perfeita em um episódio, talvez dois, torna-se quase insuportável se consumida sem pausa, seguidamente.

Fora isso, entendo e não entendo por que os críticos daqui torceram o nariz para esta nova temporada. Entendo porque, a esta altura, e com uma pausa de sete anos no meio, o frescor da novidade se foi; o tom pseudo realista/ totalmente absurdista de Arrested foi incorporado em doses diversas em outras séries; muitos de seus atores subiram em status e popularidade – Michael Cera, Jason Bateman, Will Arnett, Portia de Rossi.

Não entendo porque Arrested Development continua muito, completa, ferozmente engraçada, exata na compreensão dos modos e costumes dos Estados Unidos no século 21 e – o que para mim foi o melhor achado – incorporando na trama os sete anos de sua ausência, e tudo o que aconteceu neles.

Para uma série cujo ponto de partida foi profético – a queda iminente de um mercado imobiliário hiper inflacionado – a crise financeira de 2008 é um prato cheio do qual Hurwitz se serve fartamente. Não quero estragar a alegria de quem ainda vai curtir esta quarta temporada, mas entre os negócios de Michael (Jason Bateman), o julgamento de Lucille (Jessica Walter), as explorações místicas de George (Jeffrey Tambor) e as ambições do casal Lindsay-Tobias (Portia de Rossi. David Cross) a derrubada do poderio econômico norte americano está amplamente explicado – e nós podemos rir muito com ele.

 

A situação de The Killing é diferente. A série começou muito bem no AMC, traduzindo com impacto o clima sombrio e existencial do original dinamarquês. E então, no último episódio da primeira temporada, pisou na bola ao negar à plateia a resolução do caso que tinha sido o gancho de todos os episódios. A segunda temporada arrastou-se à sombra desse passo em falso, eclipsando tudo de bom e promissor com que a série tinha acenado.

O cancelamento, inevitável, veio logo. Mas…

Pensando na possibilidade de ainda haver alguém interessado nos poderes investigativos de Sarah Linden (Mireille Enos) e Stephen Holder (Joel Kinnaman), AMC, Fox e (olha ela aqui de novo) Netflix se uniram para, somando recursos de produção e distribuição, bancar o experimento de criar não um segundo, mas um terceiro ato para a série.

A estreia é neste domingo, dia 2 de junho, mas vi o episódio duplo de estreia e não me decepcionei. The Killing voltou ao ponto de partida, reapresentando Sarah, Holden e seu mundo, algum tempo depois dos acontecimentos das duas primeira temporadas. Holden foi promovido, Sarah foi demitida. Ambos tem novos companheiros, novas vidas mas, aparentemente, os mesmos fantasmas interiores de antes. Uma menina de rua aparece assassinada. É o bastante para abrir os porões da memória de Sarah.

O risco de tecer uma nova temporada com as mesmas pistas falsas e becos sem saída da primeira ainda é alto, mas achei encorajadora a coerência do perfil dos personagens, e o surgimento de um vilão capaz de dar aulas de como ser sinistro a todos os seus colegas atualmente na telinha: Ray Seward, um assassino condenado à morte, interpretado por  Peter Sarsgaard com uma precisão apavorante.

Agora é ver o que vão fazer com tudo isso..


A aposentadoria de Soderbergh não deu certo
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Ana Maria Bahiana

Soderbergh no set (e na câmera) de Behind The Candelabra. Adoro o detalhe da página do roteiro, toda rabiscada, no bolso…

E por falar na “aposentadoria” de Steve Soderbergh: coloquem mais aspas, por favor. Aparentemente o que ele não aguenta mais é o ritual cada vez mais frustrante e humilhante de tentar posicionar um projeto autoral no mercado de cinema. Trabalhar para TV não tem o menor problema: o próximo projeto de Soderbergh será a série The Knick, para o canal por assinatura Cinemax, divisão da HBO. Clive Owen, que vem desenvolvendo o projeto há tempos, será o astro e co-produtor executivo da série.

O “Knick” do título é o hospital Knickerbocker de Nova York, cenário da série em seu período pioneiro, a alvorada do século 20. Trata-se, portanto, de um drama hospitalar de época, sem desfribiladores, antibióticos e atores berrando “code blue!” … Com certeza uma opção interessantíssima.

A situação das finanças do mercado de produção audiovisual, hoje, está cada vez mais complicada, exigindo uma paciência e um acesso a fontes alternativas de investimento que Soderbergh, a esta altura de sua carreira, tem todo o direito de não ter e não procurar. Enquanto isso, a TV, que resolve de cara um dos maiores problemas de qualquer projeto audiovisual , a distribuição, está, aqui, investindo cada vez mais em talento de primeira linha e conceitos originais. Num passado não muito distante, um filme como Behind The Candelabra, com o nível de qualidade, valores de produção e elenco que tem, estaria automaticamente nos cinemas do mundo todo. Agora…

Ganha, de lavada, a telinha doméstica. Enquanto isso, confiram a outra série de TV de Soderbergh , K Street, de 2003,  co-produzida com George Clooney.


Bem-vindo de volta, Jack Bauer
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Ana Maria Bahiana

No meio da habitual chacina do mês de Maio, uma notícia pelo menos inusitada _ 24  Horas vai voltar. Condensada (o que equivale a um upgrade na TV aberta) em 12 episódios no que a Fox caracteriza como uma “edição limitada” da série, 24 Horas vai estrear em Maio de 2014 com o título 24: Live Another Day.

Quatro coisas interessantes sobre a volta de Jack Bauer:

  1.  A  Fox acaba de cancelar Touch, série que deveria ter mostrado o “lado suave “ de Kiefer Sutherland como pai de um menino autista com poderes extraordinários. Parece que o público prefere mesmo o Sutherland não-suave.
  2. Howard Gordon, que saiu de 24 Horas para tocar Homeland, vai voltar como showrunner de Live Another Day.
  3. A nova série nasceu do impasse gerado pelo projeto de filme baseado em 24 Horas. Como sempre nos dias de hoje,  os co-produtores (Fox e Imagine) não conseguiram chegar a um acordo quanto ao orçamento… Reconfigurado, o roteiro do que viria ser o filme será Live Another Day, a série.
  4. A série “edição limitada” , uma espécie de mini-série que tomou anabolizantes, está se tornando uma opção interessante especialmente na TV aberta e nas emissoras por assinatura não–premium. É uma forma de dar um upgrade nos valores de produção sem ter que gastar (muito) mais. Só a Fox tem, no forno, as “séries edição limitada” Wayward Pines, de M. Night Shyamalan, com Matt Dillon; Blood Brothers, de um dos produtores de Band of Brothers, da HBO; Shogun, mais uma versão do best seller; e The People vs O. J. Simpson, sobre o famoso caso que abalou Los Angeles na década de 90.

Bem-vindos à quarta temporada de Walking Dead
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Ana Maria Bahiana

Oi, Rick, tem alguém atrás de você: primeira imagem liberada da quarta temporada de The Walking Dead

Neste momento elenco e equipe de The Walking Dead estão na Georgia, nos arredores de Atlanta, filmando a quarta temporada da série: 16 episódios que estreiam em outubro, aqui. Primeira temporada com o novo showrunner, Scott Gimple, que substitui Glen Mazzara, que por sua vez substituiu o criador da série, Frank Darabont.

Confusos? A produtora Gale Ann Hurd – que permanece à frente da série desde o começo — me deu sua visão da coisa, alguns dias atrás: “Essas coisas acontecem em todos os projetos – a diferença é que nós mantemos sempre  tudo dentro de casa. Glen e Scott trabalharam juntos durante muito tempo, e ambos fazem parte da primeira equipe reunida por Frank Darabont, que é um grande e velho amigo meu. Scott escreveu alguns dos episódios mais importantes da série — Clear, Pretty Much Dead Already, 18 Miles Out— e tenho certeza que ele compreende profundamente o espírito do material.”

Veremos em outubro.


Mais uma série histórica, sobre a guerra que inspirou Game of Thrones
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Ana Maria Bahiana

Rebecca Ferguson, a Rainha Branca

Continuando no tema de ontem – vem aí, via Starz (nos EUA) e BBC (na Grã Bretanha) mais uma série histórica _ e com pedigree e uma interessante conexão com uma série (de ficção) de muito sucesso: The White Queen (A Rainha Branca), uma adaptação do primeiro livro da série The Cousins’ War (A Guerra dos Primos) da ilustre autora britânica Philippa Gregory.

O pedigree: além do nome de Philippa Gregory, sinônimo de ficção histórica de alta qualidade (A Outra,  The Virgin’s Lover, A Respectable Trade), o roteiro assinado por Emma Frost (Shameless) , a direção de Jamie Payne (The Hour, Da Vinci’s Demons), Colin Teague (Being Human) e James Kent (Inside Men) e música de John Lunn (Downton Abbey). No elenco: Max Irons, James Frain e a sueca Rebecca Ferguson, no papel título. E um orçamento de filme: 22 milhões de dólares, com filmagens em locação na Bélgica.

A conexão: The White Queen é o primeiro olhar de Gregory sobre a Guerra das Rosas, o conflito entre duas casas da mesma família – os Lancaster e os York – pelo trono da Inglaterra, entre 1455 e 1485. Se você ainda não pensou em Game of Thrones, acorde. A Guerra das Rosas foi uma das principais inspirações de George R. R. Martin, e os traços da história sobre a ficção são claramente visiveis: famílias se matando por um trono, incesto, traições, brasões (a rosa branca de York, a rosa vermelha dos Lancaster). Em The White Queen há até crianças aprisionadas e feitas de refém e um personagem chamado Tyrell (e… Lancaster não lembra nada?).

A série estreia ainda este ano e vale pelo menos uma conferida _ arrisca vir coisa boa aí…


Sucesso na TV: história, com uma pitada de fantasia
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Ana Maria Bahiana

O verdadeiro Lawrence da Arábia…

…e Peter O’Toole no filme de David Lean, 1962.

 

E a lista de diretores tela-grande migrando para a tela pequena continua…

Roland Emmerich fechou com a Fremantle – uma das maiores vendedoras mundiais de formatos e conteúdo para TV—uma minissérie sobre a vida do T.E. Lawrence, o oficial britânico que unificou as tribos do deserto contra os turcos, durante a Primeira Grande Guerra, e que entrou para a história como Lawrence da Arábia. Sim, é o mesmo do maravilhoso, épico e oscarizado filme de David Lean que lançou mundialmente a carreira de Peter O’Toole, por isso neste momento é bom respirar fundo e pensar nas implicações dos nomes “Roland Emmerich” e “Lawrence da Arábia” juntos no mesmo projeto.

Rod Lurie, um ex-coleguinha jornalista transformado em realizador (A Conspiração, A Última Fortaleza, Sob o Dominio do Medo versão 2009) com o inglês Clive Bradley (da série da BBC Waking The Dead). Ainda não há noticias sobre escolhas de elenco nem início de produção.

A minissérie vai fazer comanhia a vários outros projetos da mesma escala no catálogo da Fremantle: The Drivers, sobre a corrida de Le Mans nas décadas de 50 e 60, produzida pela Scott Free de Ridley Scott e sendo escrita por Michael Hirst (The Tudors, Vikings, Rome); Hitlerland, a história da ascensão do nazismo pelos olhos dos correspondentes e diplomatas estrangeiros na Alemanha dos anos 39, sendo adaptada por Marshall Herskovitz (O Último Samurai); e The Maid, a biografia de Joana D’Arc, sendo escrita por Craig Pearce, velho colaborador de Baz Luhrmann, roteirista de O Grande Gatsby, Moulin Rouge!, Romeu + Julieta e Vem Dançar Comigo.

E não se esqueçam que Vikings já ganhou uma segunda temporada e que Michael Bay está produzindo a série Black Sails, sobre pirataria no século XVII, para a Starz…

Há uma conclusão interessante nesta história: a TV está assumindo um lugar de importância na manutenção e desenvolvimento de um gênero que era o pão com manteiga da tela grande em idos tempos: o drama histórico.  O gênero se tornou caro demais para os estúdios (quando tratado como história e não como aventura fantástica) e agora, graças à multiplicação de plataformas e aumento do poder de gasto das produtoras de conteúdo doméstico, faz sucesso com as plateias que ficam em casa . Que o digam Tudors, Borgias, Spartacus, Vikings, Da Vinci’s Demons, Magic City e, de certa forma, Game of Thrones.


Atrás do candelabro, com Soderbergh, Damon e Douglas
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Ana Maria Bahiana

Simplesmente não resisti ao trailer de Behind the Candelabra. O possível adeus de Steve Soderbergh ao cinema narrativo vai para a competição de Cannes e poucas vezes vi dois atores consagrados se divertindo tanto com papéis tão próximos do absolutamente surreal:


Sexta temporada de Mad Men: passando pelo portal
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Ana Maria Bahiana

Como o perfume das flores do Havaí, que serve de moldura  ao primeiro episódio da sexta temporada de Mad Men, a morte é uma presença constante e sutil nas vidas dos publicitários da Sterling Cooper Draper Pryce. O episódio de duas horas se chama “O Portal” (“The Doorway”), e começa subitamente com imagens tensas do que pode (ou não) ser uma pessoa tendo uma grave emergência médica.

Corte súbito para o Havaí , onde  Don Draper foi, com Megan, tirar umas “férias” pagas por um grande hotel, a pretexto de se inspirar para a próxima campanha publicitária do estabelecimento.  Em cores de cartão postal dos anos 1960, enquadrada entre azuis e flores tropicais, o vulcão adormecido Diamond Head ao fundo, a praia de Waikiki e seu luxuoso resort sugerem uma versão de consumo do paraíso _ Don e Megan estão suspensos numa outra realidade, longe dos “eus” que deixaram em Nova York, abertos, quem sabe, a outras possibilidades. Vai um baseado? Vai um confronto com a crise da meia idade? Há também drinques exóticos, um casamento e um eco do passado de Don, que volta à Avenida Madison mais bronzeado mas tão insatisfeito quanto antes.

Os screeners de “O Portal” vieram acompanhados da cartinha mais enjoada que o famosamente enjoado Matthew Weiner já mandou para nós, pobres vassalos da imprensa. Nela ele “pede” (ordena, na verdade) que não se diga o ano em que a nova temporada se passa, qual a decoração da agência, não diga se há novos personagens e se os personagens antigos tem novos relacionamentos.  Sou de paz, mas digo: levando em conta as referências a livros, programas de TV, capas de revista, vocabulário (“hippies”) e o abundante maconhal que pontua várias cenas, Weiner está sendo muito bobo – é claro que a sexta temporada se passa entre o final de 1967 e um bom trecho de 1968, o período dos grandes terremotos culturais, políticos, sociais e existenciais que sacudiram os Estados Unidos e o mundo. O que farão, neste mundo em ebulição, os quarentões da chefia, os trintões que eram jovens ambiciosos no início da série, as mulheres cujo espaço se amplia, trazendo mais oxigênio e mais veneno, também?

Por enquanto, neste episódio de abertura, estamos no portal. Há uma bebedeira homérica, uma interessante festa de ano novo e duas mortes, não tão súbitas e trágicaa como as anteriores, mas com intensas repercussões emocionais. Sally avança pela adolescência e Betty tem um vislumbre do que é a tal da contracultura. Megan faz o papel de empregada numa novela ( e assina autógrafos para fãs); Peggy não tem mais nenhum receio de impor sua autoridade; Roger experimenta a psicanálise, e Don , num de seus momentos de brilhantismo, tem um ato falho que mostra exatamente por onde anda sua cabeça.Num dos momentos definidores do episódio, um fotógrafo diz a ele, inocentemente: “Seja você mesmo”. É a pergunta-tema da noite…

Como Os Sopranos -escola de treinamento de Weiner – antes dela, Mad Men é uma série que marcou e mudou a TV americana, abrindo uma clareira de criação de dramaturgia num momento que parecia entregue inteiramente aos realities. Esta é sua penúltima temporada, e Weiner e sua equipe tem agora do desafio da alta expectativa, da capacidade – ou não – de manter a qualidade, a calma que impos ao seu ritmo, explorando (nas palavras do seu criador) não a época, mas as pessoas que, pela roleta do tempo, casaram de viver na época. “O Portal”, abrindo essas vidas para o momento em que, mais uma vez, elas tem que se definir, promete. E muito.

A sexta temporada de Mad Men estreia hoje, domingo dia 7 de abril, na AMC, nos  EUA, e dia 22 de abril na HBO, no Brasil.