Blog da Ana Maria Bahiana

Arquivo : Oscar

85 anos de Oscar celebrados num poster icônico
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Ana Maria Bahiana

Como vai seu conhecimento do Oscar? Os 85 filmes vencedores do prêmio supremo — melhor filme — estão iconizados neste poster comemorativo dos 85 anos da estatueta, obra do designer britânico Olly Moss: cada estatueta “encarna” o espírito do filme que a recebeu.

O cartaz, uma edição especial, faz parte da exposição For Your Consideration, que começa dia 14 na Galeria 1988 aqui de Los Angeles, e está também disponível para venda (durante pouco tempo) através do site da Academia ou pelo telefone 1-877-335-8936

E então, sem colar: que filme ganhou em qual ano?


Analisando a pré-lista do filme estrangeiro no Oscar
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Ana Maria Bahiana

Kon Tiki, da Noruega, um dos nove filmes pré-selecionados para o Oscar

E o balaio do filme estrangeiro do Oscar, hein? Sinto muito não ver o Brasil– com O Palhaço, de Selton Mello –  na lista mas sinceramente não me surpreendo. Há muita coisa que precisa ser feita para realmente termos chance de comprar essa briga, e que vai da escolha do representante no Oscar até uma verdadeira estratégia de campanha, aqui. Infelizmente não tenho visto nenhum desses passos estratégicos  nos últimos anos.

A lista repete muita coisa da seleção dos Globos de Ouro, mais uma vez afirmando a importância desse passo na trajetória de um filme estrangeiro por aqui — algo que o Brasil tem ignorado com uma teimosia que se reflete proporcionalmente na sua ausência. (Atualizo a informação: no final, tivemos três filmes inscritos para o Globo de Ouro: Xingu, Heleno e O Som Ao Redor. Mas todos entraram na última hora, literalmente. E com isso não tiveram tempo para fazer  a campanha que é essencial para se destacar na selva dos prêmios).

Dos nove do balaio do Oscar, quatro são também indicados ao Globo de Ouro:o grande favorito Amour que, acho, vai ganhar ambos; o noruegues Kon-Tiki, uma bela lição de como transformar uma cinebio de aventura num exercício de reflexão existencial; o dinamarquês A Royal Affair, da estrela ascendente da Zentropa (e roteirista original da série Millenium), Nikolaj Arcel; e Os Intocáveis, que joga descaradamente para a arquibancada, e tem ainda por cima a força da pressão dos irmãos Weinstein.

Outros três do balaio eram francos favoritos e por pouco não foram indicados aos Globos: o chileno No ( nota pessoal: me encantou profundamente e me deu saudade do que não vivi) que tornou-se o representante da América Latina na disputa; o romeno Beyond The Hills, de Cristian Mungiu, um favorito pessoal meu, todo em planos-sequência e luz natural; e o islandês The Deep, uma espécie de Náufrago nas águas geladas do Mar do Norte,e que já rendeu ao seu ótimo diretor, Baltasar Kormákur, dois projetos aqui em Los Angeles.

Surpresas mesmo foram o suíço Sister, sobre a complicada relação entre irmãos num resort de luxo, e o canadense Rebelle/War Witch, que tem um diretor de origem vietnamita e se passa inteiramente num país da África Central estraçalhado pela guerra civil.

Ausências notáveis: o coreano Pietá, vitorioso em Veneza; o maravilhoso italiano Caesar Must Die, dos irmãos Taviani, vencedor em Berlim; o alemão Barbara, outro favorito meu, mais um poderoso perfil de mulher vindo da Europa; e o holandês Kauwboy, que tem dois elementos normalmente irresistíveis para os acadêmicos _ criança (um menino) e bichinhos (no caso, uma gralha).

Agora é pensar quais desses nove vão de fato tornar-se indicados, dia 10 de janeiro.


A batalha pelas estatuetas de metal, parte II: fantasia, cantoria e Tarantino
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Ana Maria Bahiana

E saga da Batalha pelas  Estatuetas continua…. Este ano os votantes vão se ver diante de muitos elementos fantásticos: além de O Cavaleiro das Trevas Ressurge – que, me contaram, vai mesmo fazer uma investida firme “para sua consideração” na temporada de prêmios – teremos O Hobbit-Uma Jornada Inesperada, de Peter Jackson, e As Aventuras de Pi, de Ang Lee.

São, obviamente, criaturas completamente diferentes. Com toda seriedade que Nolan imprimiu à sua trilogia, Cavaleiro das Trevas Ressurge ainda é um filme de super herói, para o qual muita gente entre os votantes torce o nariz. Neste momento, ainda vejo Ressurge como um fortíssimo candidato em todas as categorias técnicas. O que vai acontecer além disso vai depender muito da estratégia e perseverança da Warner.

A primeira exibição de cenas de O Hobbit, na CinemaExpo de Las Vegas, quatro meses atrás, não foi exatamente bem recebida. Uma das descrições menos agressivas que ouvi dizia que as imagens em ultra-alta-resolução pareciam “de cenas de uma novela muito ordinária” e que “tiravam o aura de mistério do cinema”. Pode-se argumentar que a plateia da CinemaExpo é predominantemente de proprietários de cinemas e executivos de distribuição. Mas também pode-se contra-argumentar que havia muita gente de outras áreas em Las Vegas, e que um bocado dessa plateia vota para algum prêmio importante – inclusive os Oscars. O enigma aqui é: poderão os votantes vencer a dupla antipatia por cinema de fantasia e visual em altíssima resolução?

As Aventuras de Pi tem elementos que com certeza remetem ao cinema de fantasia—é essencial para a história do náufrago que se vê no meio do oceano na companhia de um tigre e outros animais selvagens, e que conta sua história de vários modos diferentes, um deles claramente extraordinário. Trata-se de algo que votantes aceitam com maior facilidade, como aceitaram (com toda razão) O Tigre e o Dragão, mais de uma década atrás.

 

A estética de Quentin Tarantino é um grande ponto de interrogação em termos de prêmios. Pulp Fiction e Bastardos Inglórios emplacaram, todos os outros, não. Django Livre está na linha da reinvenção de gênero destes dois, e tem um elenco de peso – Jamie Foxx, Leonardo di Caprio, Samuel L. Jackson,  Christoph Waltz. Olho nele, pode ser a grande corrida por fora desta temporada.

 Les Miserables é outro com um pedigree que torna sua presença entre os indicados quase inevitável. O diretor de O Discurso do Rei dirigindo a adaptação de um mega-sucesso teatral que ainda por cima é de época e tem Anne Hathaway, Russell Crowe, Hugh Jackman, Helena Bonham Carter e Amanda Seyfried no elenco. Na eterna discussão “ o que aconteceu aos musicais?” há sempre uma vaga para um – e apenas um—representante do gênero entre os escolhidos do final de ano. E em 2012 não tenho a menor dúvida que será Les Miserables.

Restam, além dos meus muito queridos independentes Beasts of the Southern Wild e Moonrise Kingdom – e espero e torço para não serem esquecidos—filmes menores que podem render muita coisa especialmente para seus atores: Anna Karenina (Keira Knightley), The Sessions (John Hawkes, Helen Hunt), Silver Linings Playbook (Jennifer Lawrence, que já está fazendo campanha para isso em todo evento que comparece).

E, finalmente, The Master, de Paul Thomas Anderson. Mas desse só falo depois de ver, segunda feira agora. Se me deixarem…


A batalha pelas estatuetas de metal, parte I: presidentes, ayatolás e terroristas
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Ana Maria Bahiana

 

Vocês estão ouvindo esse silêncio? É o mes de agosto. Férias aí, férias aqui. Os estúdios descarregam seus abacaxis, e até os independentes dão um tempo. A Paramount está num descanso tão grande que deu férias coletivas a vários departamentos e há três meses não lança um filme.

De certa forma é a calmaria antes da tempestade. Assim que as temperaturas baixarem (o que aqui na California demora um pouco) e as crianças voltarem às aulas vai começar uma batalha pior que a disputa pelo Trono de Ferro _ a briga pelas Estatuetas de Metal.

Até agora o ano nos deu três filmes com grande potencial para chegarem até a batalha final: os independentes Moonrise Kingdom e Beasts of the Southern Wild e, é claro, O Cavaleiro das Trevas Ressurge. Falo deles num próximo post. Vamos dar uma olhada primeiro no que nos aguarda nos próximos meses.

Posso falar primeiro do que NÃO nos aguarda? A Warner decidiu relocar O Grande Gatsby para meados do ano que vem. Há quem diga que isto faz parte de uma estratégia maior para não dividir as atenções e recursos do estúdio em sua quixotesca missão de emplacar O Cavaleiro das Trevas ressurge pelo menos entre os indicados – e além das categorias técnicas, onde o filme de Christopher Nolan já é o favorito. Mas também pode ser porque Baz Luhrmann é famoso por se atrasar em pós-produção… A Fox até agora não esqueceu dos custos e demoras de Australia, que estourou todos os prazos e obrigou o estúdio a contratar um pequeno exército de montadores para que o filme conseguisse chegar às telas.

Descontado Gatsby—que tem pelo menos pedigree para entrar nas listas de candidatos a candidatos de 2013—o que temos?

Para começar, dois presidentes norte-americanos: o Lincoln de Steven Spielberg e o Roosevelt de Hyde Park on Hudson, de Roger Michell. Ambos  tem todo o pedigree de “isca de prêmio”. Daniel Day Lewis em mais uma transmutação paranormal para encarnar um dos presidentes mais adorados e carismáticos dos Estados Unidos, com Spielberg na direção. (Eco do passado: Amistad.) Bill Murray arriscando-se em mais uma nova direção, interpretando  Franklin Roosevelt, outro presidente querido, carismático e – votantes adoram isso!—deficiente físico, dirigido por Roger “Um Lugar Chamado Notting Hill” Michell. (Eco do passado: O Discurso do Rei.) O que esperar: indicações a melhor ator para os dois, no mínimo.

Continuando no tema azul-vermelho-e-branco, temos duas incursões pelas intervenções no Oriente Médio, ambas baseadas em casos reais: Argo, de Ben Affleck e Zero Dark Thirty, de Kathryn Bigelow.

Argo, de Ben Affleck

Affleck, vocês se lembram, teve aquela estreia bombástica com Gênio Indomável em 1997, emplacando supreendentes prêmios pelo roteiro. Ele vem se revelando um diretor seguro, que compreende o trabalho dos atores e tem uma visão propria. Argo tem produção de outro que votantes de prêmios amam, George Clooney, e se baseia numa dessas histórias tão incriveis que só podem ser verdadeiras – o plano mirabolante inventado por um agente da CIA (o próprio Affleck) para resgatar seis americanos refugiados na residencia do embaixador canadense, em plena revolução islâmica no Irã, em 1979. Bryan Cranston também está no elenco. Repetição do melhor coadjuvante Jeremy Renner de Atração Perigosa?

Zero Dark Thirty, de Kathryn Bigelow

Atravessando território muito parecido Bigelow tirou os Oscars de debaixo do nariz de James Cameron, três anos atrás. Zero Dark Thirty é, de muitos modos, Guerra ao Terror 2.0: a narrativa de como a tropa de elite Navy Seal Team 6 localizou e assassinou Osama Bin Laden em maio de 2011. É o tipo de filme arrancado das manchetes de jornais que se encontra mais facilmente nas TVs do que nos cinemas, e isso pode funcionar contra e a favor de Zero Dark Thirty, que por enquanto ninguém viu mas que já está criando zum zum.

Existe uma outra questão, também: filmes com essa temática não vão muito adiante no interesse das plateias – nem mesmo o ótimo Zona Verde, nem mesmo o premiado Guerra ao Terror quebraram essa barreira. Estou muito curiosa para saber o que vai acontecer com esses dois, tanto entre as elites que premiam quanto entre as massas que compram ingresso.

E isto é apenas o começo. Na segunda parte de nossa trilogia (é a moda, não é?), cantorias, fantasia e um mestre. Fiquem ligadas e ligados.

 


Um crime abala Hollywood: quem mataria uma estrategista de prêmios? E por que?
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Ana Maria Bahiana

Ronni Chasen com Danny Boyle, na festa do Oscar por Quem Quer Ser Um Milionário

Na noite de segunda feira Ronni Chasen, divulgadora veterana, uma das pioneiras em estratégia da temporada de prêmios e pessoa muito querida na indústria, chegou cedo ao tapete vermelho em frente ao Chinese Theater. Como fazia sempre em suas três décadas de trabalho em Hollywood, Chasen acompanhou um a um os executivos e astros de um dos projetos para esta temporada de prêmios, a trilha do musical Burlesque, estrelado por Cher e Christina Aguilera., em premiere no Chinese.

Encerrada a exibição, Chasen rumou para o recém inaugurado hotel W, a  cinco quarteirões do Chinese, para a festa no badaladíssimo Drai’s, na cobertura (cenário de vários episódios de Entourage). Chasen trocou histórias e piadas com amigos e conhecidos até um pouco depois da meia noite, quando desceu sem que ninguém visse _ coisa nada difícil numa festa dominada por Cher…

O que aconteceu depois tem poucas certezas: Chasen pediu no valet seu Mercedes preto, rumou para Westwood, onde morava e, cerca de 15 minutos depois de partir de Hollywood, telefonou do carro para seu escritório, deixando na caixa de mensagens uma longa mensagem com instruções para seus funcionários, cobrindo tarefas para o dia de terça. Mais ou menos aos 28 min da madrugada de terça os moradores do pacatíssimo e milionário cruzamento da famosa Sunset Boulevard com a rua Whittier, no coração de Beverly Hills, ouviram um som absurdo: uma rápida sucessão de tiros. Quando saíram de casa, encontraram o Mercedes de Chasen preso a um poste de luz, sua motorista inconsciente e ensanguentada, o peito cravado por cinco tiros. Chasen ainda estava viva, mas chegou morta ao hospital, para onde foi transportada logo depois.

Chasen no tapete vermelho da premiere de Burlesque, horas antes de sua morte

Ao longo do dia de hoje, a indústria sacudiu coletivamente a cabeça. A sensação de perda – agravada pelo fato de ontem ter sido o enterro de Dino de Laurentiis, um dos últimos produtores visionários da cidade – mistura-se com espanto, descrença, horror, paranóia. Cinco tiros? Em Beverly Hills (onde, em 2009, não se registrou um homicídio sequer)? E por que Ronni Chasen, pessoa de currículo notável e vasto círculo de amigos de peso? E por que agora, no primeiro patamar da temporada de prêmios, onde Ronni era uma personagem importantíssima?

Ronni Chasen começou sua carreira na prestigiosa empresa de marketing e divulgação Rogers & Cowan, foi vice presidente de marketing da MGM nos anos 1990 e há duas décadas pilotava divulgação e marketing especializado em sua própria empresa. Era uma fera do marketing estratégico de  prêmios _ entre muitos outros, os premiados Quem Quer Ser um Milionário, Guerra ao Terror e Coração Louco devem muito a ela.

Este ano, além da trilha de Burlesque, Chasen estava trabalhando nas campanhas de Alice no País das Maravilhas 3D, de Michael Douglas por Wall Street 2, e, como há tempos, divulgando seu amigo e velho cliente Hans Zimmer  _ devo a Ronni a intermediação que rendeu a entrevista aqui para o UOL Cinema, sobre a trilha de Inception-A Origem. E embora não possa dizer que ela seja minha amiga, tínhamos uma longa e produtiva relação de trabalho e respeito mútuos _ era uma super profissional, incansável e correta.

Estou, como tanta gente na cidade, em choque. As investigações estão indo a toda velocidade – como vocês podem imaginar, há pressão para que seu assassino ou assassinos sejam descobertos o mais rápido possível. E, sobretudo, que a grande pergunta possa ser respondida: por que?