Blog da Ana Maria Bahiana

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Uma conversa com Frank Darabont, episódio 2: “Para mim zumbis são como políticos…”
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Ana Maria Bahiana

No episódio anterior , Frank Darabont (Um Sonho de Liberdade, `A Espera de um Milagre, O Nevoeiro) enterra um zumbi no jardim de seu escritório, dá detalhes de sua coleção de action figures, explica como fez Steven Spielberg sentar numa cadeira elétrica e conta as origens da série The Walking Dead (que estréia amanhã nos EUA e dia 2 no Brasil).

Nesta segunda parte, Darabont nos leva para o set de filmagem… e além:

Qual foi sua principal preocupação na realização de The Walking Dead?

_ Os zumbis tinham que ser verdadeiros e assustadores. O que as platéias tinham visto recentemente eram mortos vivos muito engraçados, em dois filmes que amo, Shaun of the Dead e Zombieland. Mas estamos contando uma história séria, trágica mesmo, e nossos zumbis não podem, em nenhum momento, ser engraçados. Essa foi a primeira discussão que tivemos com o elenco e com os maravilhosos, maravilhosos, figurantes que recrutamos.  Todos – os que fazem o papel de mortos-vivos e os que não – precisam estar o tempo todo imbuídos da seriedade da proposta. Sem essa convicção interior a história não se sustenta.

Onde vocês acharam tantos candidatos a zumbi?

_ Em Atlanta, onde filmamos. E o problema foi de fartura, e não de escassez! Tínhamos mais candidatos a zumbi do que precisávamos. Vou ser sincero: não tenho a menor ideia de onde saiu tanta gente talentosa e disposta a trabalhar duro. Eu não tinha noção de que havia toda uma subcultura de zumbis, que existiam Zombie Walks pelo mundo afora… Quando abrimos os testes, apareceram essas multidões, muita garotada, já prontos, vestidos, maquiados…. E eles diziam: que bom que  você está fazendo essa série, sou super fã de zumbis, participo de Zombie Walks…

A que você atribui tanto interesse em zumbis?

_ É uma metáfora muito poderosa, não é? É um ser monstruoso, mas é um ser humano. Somos nós. Acho que muita gente, como eu, ainda vive sob a impressão de  Noite dos Mortos Vivos, de George Romero  _ eu vi pela primeira vez aos 14 anos e fiquei apavorado durante semanas. O excelente filme que Zack Snyder fez , mais recentemente (Madrugada dos Mortos, 2004) deve ter alguma coisa a ver, assim como Extermínio, o maravilhoso filme de Danny Boyle. Mas sobretudo, como tudo aquilo que é realmente bom e forte no gênero fantástico, os zumbis permanecem  porque falam aos nossos medos mais profundos. Cada um encontra o significado que quiser.

O que os zumbis de The Walking Dead representam para você?

_ Os meus zumbis? Eu sempre acho que eles se parecem com políticos _ não tem finalidade alguma a não ser se alimentar dos vivos! (ri muito)

Toda a série foi rodada em locação em Atlanta? Ou você fez algo em estúdio?

_ Foi tudo feito em locação, em película,  16mm. Aprendi com The Shield (Darabont dirigiu o episódio Chasing Ghosts, em 2007) o quanto o 16mm  evoluiu e a qualidade de imagem que se pode obter com ele. Usamos pequenos sets para alguns interiores, mas lá mesmo. Era importante manter a veracidade da história, e os quadrinhos se passam em Atlanta em arredores.

E como foi?

_ Uma bênção e uma maldição. Uma bênção porque  Atlanta é um lugar excelente para filmar, ótimos técnicos, todas as facilidades possiveis, fechamos quarteirões inteiros, rodovias… E tivemos, como disse, aquela fartura de zumbis (ri).

Maldição porque fazia um calor insuportável, em torno de 40 graus todos os dias. Todo mundo suava em bicas. Nas sequências que filmamos no teto do prédio (e que estão no episódio 2. Guts) a temperatura devia ser de quase 50 graus. Não sei como os atores aguentaram. O  suor que você vê neles todos não é maquiagem, é de verdade!

Você só dirigiu o primeiro episódio,  Days Gone Bye, mas se manteve envolvido com toda a série?

_ Completamente. Trabalhei em todos o roteiros, e tive a felicidade de contar com um grupo de ótimos diretores para cuidar dos outros episódios enquanto eu montava o material, aqui em Los Angeles e Gale Ann Hurd permanecia no set.

E quando vocês começam a filmar a segunda temporada?

_ Quando a AMC disser que a primeira foi bem… E posso garantir que estou torcendo…

To be continued…


Uma tarde entre monstros ilustres: uma conversa com Frank Darabont
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Ana Maria Bahiana

Tem um zumbi no jardim do escritório de Frank Darabont. É um sujeito relativamente jovem para quem aparenta estar morto e enterrado há algum tempo. Aliás, nem uma coisa nem outra: seus braços se estendem, ansiosos, seu corpo semi-sepultado até o peito, a boca aberta num grito mudo. A grama muito bem cuidada cobre o canteiro à sua volta, até as roseiras plantadas junto ao muro, mas imediatamente ao seu redor há um círculo, limpo e deliberado, de terra batida.

“Êle não é simpático?”, Darabont comenta, depois de contemplá-lo  com uma mistura de satisfação e orgulho. “Achei numa loja de enfeites para jardim, bem a tempo para o Halloween. Mas vai ficar aí o ano todo, claro.”

Não sei onde Darabont compra seus adereços de jardim. Imagino a estátua de gesso do morto-vivo entre anõezinhos, flamingos, begônias, margaridas….  Mas com certeza o zumbi combina com o restante do escritório, uma espaçosa casa em estilo mediterrâneo nas colinas de Hollywood onde Darabont mantém sua produtora Darkwoods, decorada  com parte de uma invejável coleção de action figures, miniaturas,  props de filmes, posters e fotos. O exterminador-esqueleto de Exterminador do Futuro 2 (“Presente de Gale Ann Hurd”); as máscaras dos fantasmas da Casa Mal Assombrada da Disneylândia (“minha primeira memória apavorante”); uma réplica do Nosferatu de Max Schreck e da Criatura de Frankenstein de Boris Karloff (“nunca superados”); uma foto de Steven Spielberg sentado na cadeira elétrica de À Espera de um Milagre (“era uma tradição no set. Todo visitante tinha que sentar na cadeira. Fiquei com a cadeira, está guardada na garagem da minha casa, acho que vou por aqui no escritório…”).

“O restante da minha coleção está em casa e num depósito. Eu já assusto demais os funcionários com o que tenho aqui”, Darabon admite. “Só Guillermo del Toro e Peter Jackson tem mais objetos de terror e fantasia do que eu.”

É uma tarde amena de outono em Los Angeles. Dentro de algumas horas Darabont estará na premiere de The Walking Dead, a série baseada nos comix de  Robert Kirkman, que estréia na TV norte-americana domingo ( no Brasil, dia 2) e que Darabont produziu juntamente com Gale Ann Hurd. (O Exterminador do Futuro I e II, Segredo do Abismo, Aliens) Por enquanto, Darabont e eu nos sentamos entre o Exterminador e Boris Karloff para conversar sobre zumbis, pesadelos, cinema, televisão e o eterno poder do terror sob controle numa sala escura.

Nesta primeira parte, Darabont conta um pouco dos bastidores do nascimento da série:

Houve alguma dificuldade para realizar The Walking Dead na TV? Afinal, terror de verdade não é algo muito comum no horário nobre de canais por assinatura…

_ Na verdade, foi mais fácil que levantar a produção de um filme. Bastante rápido, também, sem obstáculos. A AMC mostrou desde o começo que estava apoiando e investindo no projeto. Normalmente você tem que fazer um piloto primeiro, testar as águas, a reação do público. Os executivos da AMC viraram para nós e disseram _ por que não fazemos uma mini-série com seis episódios, para realmente dar tempo de mostrar a proposta ao público,  dar tempo para a série encontrar sua platéia? Isso é uma raridade hoje em dia tanto na TV aberta quanto no cinema.

Qual a trajetória da narrativa nestes seis episódios?

_ O primeiro episódio, de uma hora e meia, que eu dirigi, é exatamente o roteiro que escrevi para o que seria o piloto. A partir daí minha preocupação  foi introduzir os personagens e estabelecer o mundo que êles habitam. Desde o começo, desde minhas primeiras conversas com Robert Kirkman , concordamos que íamos ampliar o material, deixar que ele expandisse, que respirasse, que nos sugerisse novas situações.

Meu foco sempre foi abraçar esses personagens e me deter sobre eles, em vez de disparar com a história _ o que seria mais simples, já que Robert tinha nos dado toda a planta-baixa da trama em seus comix. O primeiro episódio é Rick Grimes ( Andrew Lincoln) entrando nesse mundo apocalíptico. A partir do segundo episódio começamos a fazer esses desvios mais e mais… e é uma delícia! Queremos surpreender o público, inclusive o público que conhece os quadrinhos, queremos que êle reconheça aquilo que ama mas também nunca saiba o que vai acontecer. E no episódio 6 vamos por atalhos realmente inesperados…

Robert Kirkman está então completamente envolvido no processo?

Robert Kirkman e alguns amigos no set de The Walking Dead

_ Completamente. É uma das grandes alegrias deste projeto. Ele estava na primeira reunião comigo, em todos os trabalhos de roteiro, estava presente na sala dos roteiristas para criar cada episódio. Eu disse a êle que queria me deter sobre coisas sugeridas nos quadrinhos e criar novas situações a partir delas. E êle apoiou inteiramente, aliás adorou a ideia de ir nessa jornada pegando desvios, fazendo o jogo do “e se…” Para Robert é como fazer um riff novo sobre um tema que êle conhece muito bem.

Os comix levam a trama numa direção super sombria e terrível_ você vai levar a série nessa direção também? Ou existe algum tipo de pressão da AMC para abrandar o material?

_ Não há interferência alguma. Nunca houve, em nenhum momento, qualquer tipo de sugestão, temos liberdade completa para tratar o material.  Imagino que a série vai mesmo ser sombria e assustadora, provavelmente mais sombria e assustadora que qualquer outra coisa que já se viu na TV. Por exemplo: adoro o Governor, é um personagem fantástico e com certeza quero chegar até êle.

Em algum momento você pensou em adaptar The Walking Dead para o cinema?

_ Não. Uma das coisas que amei no material original é seu longo arco narrativo, o modo como a trama se desenvolve gradualmente. E isso é perfeito para TV. É o tipo de história que a TV nasceu para contar. Você pode contar um tipo de história nas duas horas de um filme _ é um foco mais restrito, que você tem que manter se vai fazer a coisa direito, sem alienar a platéia. Na TV você tem essa maravilha que é o tempo para desenvolver uma trama.

To be continued…

Fotos:Theo Kingma; Two Productions/AMC


Em Hereafter, o além é muito chato
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Ana Maria Bahiana

A primeira pergunta que me ocorreu assim que os créditos de Hereafter/Além da Vida começaram a rolar na tela, ao final do filme, foi: como é possível que dois realizadores deste nível – o roteirista Peter Morgan, o diretor Clint Eastwood- tenham conseguido fazer um filme tão chato? O tema é fascinante, intrigante, emocionante: como as vidas de três pessoas tocadas por experiências de perda e morte podem se entrelaçar num plano que, na realidade, transcende tudo isso. Morgan é o brilhante autor dos roteiros de A Rainha e Frost/Nixon, claramente capaz de controlar uma narrativa e  criar nuances em seus personagens. E Clint é…. Clint (e eu ainda não me conformo com a esnobada que Gran Torino recebeu. Creio que a história vai corrigir isso…)

E no entanto… Hereafter/Além da Vida (que está em cartaz em algumas telas neste fim de semana, expandindo seu circuito sexta que vem; no Brasil, dia 7 de janeiro) começa maravilhosamente bem, recriando com perfeição e intensidade o tsunami que arrasou o Sudeste Asiático em 2004. É ali que a jornalista Marie (Cecile de France) tem seu encontro “além da vida”, momento decisivo que vai levá-la a uma jornada de autoconhecimento. A segunda história que a dobradinha Morgan/Eastwood nos apresenta  já vem com menos embalo : em Londres, dois gêmeos (vividos adoravelmente por gêmeos de verdade, George e Frankie McLaren) são separados em circunstâncias trágicas (e, como Morgan não consegue resistir a um fato histórico, os atentados ao metrô de Londres, em 2005, são incorporados à narrativa mais adiante).

Por fim, conhecemos o médium menos carismático da história da parapsicologia: George (Matt Damon), um sensitivo de extraordinários poderes que abandonou esse tipo de trabalho porque, como ele diz à guisa de explicação, “viver em contato com a morte não é vida.”. George, como interpretado por Damon sob a orientação de Eastwood, é um enigma, mas não dos bons. Seus poderes de contato com o além, quando praticados, não parecem perturbá-lo ou sequer emocioná-lo. É mais fácil acompanhar sua paixão por Charles Dickens do que entender o que deveria ser o coração da história: por que ele se sente tão perturbado/assombrado/desencantado com o seu dom de entrar em contato com os que se foram deste mundo.

Esse tom gelado e monótono impera durante todo o filme, depois que as águas do tsunami recuam. Abordar a possibilidade de vida depois da morte, no cinema, é escolha que pode ir pelo viés do terror, do suspense, do drama e até do romance e da comédia. Mas é algo sempre impactante, que exige e merece nossa atenção. O além de Morgan/ Eastwood não tem emoção alguma.

Fiquei intrigada quando Morgan disse que a inspiração para seu roteiro veio da perda súbita de um amigo e a sensação de vazio que sua morte deixou. É material forte, emocionalmente rico, perfeito para um mergulho profundo. Teria Morgan tentado não se envolver mais com a dor da perda? Ou ele é do tipo de escritor que só consegue se expressar através e a partir de fatos reais?

No final – que aliás, é uma das coisas mais forçadas e previsíveis que já vi no filme de um diretor respeitado – uma única pessoa no cinema aplaudiu. Muita gente se virou para ver quem era a alma penada. “Deve ser da família”, o jornalista ao meu lado comentou.


Só para os fortes: vem aí o cinema-claustrofobia
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Ana Maria Bahiana

Não sei se poderíamos chamar de sub-gênero, mas dois filmes de alta visibilidade que estarão em cartaz en breve nos EUA tem tanto em comum que não resisto a chamá-los de cinema claustrofobia: Buried (Enterrado Vivo), que estreia neste fim de semana (12 de novembro no Brasil) e 127 Hours (127 Horas), que vai para as telas, aqui, dia 5 de novembro (18 de março no Brasil). Um é cem por cento ficção, o outro baseia-se em fatos reais. Ambos são criaturas da produção globalizada de hoje,  co-produções entre estúdios independentes de luxo norte americanos e empresas europeias. Ambos têm um único protagonista em, praticamente, um único cenário, foram dirigidos por europeus- o espanhol Rodrigo Cortés e o inglês Danny Boyle- trabalhando com orçamentos reduzidos e tecnologia de ponta, capaz de suplantar os apertos financeiros com engenho e arte.

Os dois se seguram em fiapos de narrativa, às vezes titubeiam e muitas vezes alcançam  momentos de alto brilho . Mas, mais importante, ambos são muito bons _ embora não aconselháveis para pessoas impressionáveis, como se dizia antigamente.

Enterrado Vivo é meu favorito.  A espoleta da narrativa é tão absoluta que, muitas vezes, parece forçada – mas outros filmes já gastaram muito mais dinheiro e tempo de nossas vidas com muito menos… Paul Conroy (Ryan Reynolds) é um motorista de caminhão trabalhando no Iraque  na entrega de suprimentos. Quando seu comboio é atacado, Paul é nocauteado e acorda num caixão  enterrado em algum ponto da área de conflito, com um celular, um isqueiro e um cantil. Vozes diversas, ao telefone, alternam-se ao longo dos concentrados 90 minutos do filme (o tempo que Paul  tem de oxigênio em seu cativeiro) .  Algumas, ameaçadoras, explicam que ele é um refém cuja libertação custa, em princípio, muitos dólares  (as exigências aumentam com o passar do tempo); outras, indiferentes ou compassivas, vão compondo a reação do mundo da superfície à tragédia de Paul.

O diretor Rodrigo Cortés – que filmou Enterrado Vivo na Espanha pelo ínfimo orçamento de 3 milhões de dólares – mantém o olhar do filme estritamente dentro dos limites do caixão. É um feito que daria orgulho a Alfred Hitchcock e que, para muitas pessoas da plateia, causa acessos muito reais de falta de ar. A espetacular fotografia de Eduard Grau (cujo talento vimos recentemente em A Single Man) explora cada ângulo possível para manter a composição ao mesmo tempo clara e opressiva. E como o roteiro (do americano Chris Sparling) é fictício e define Paul como um civil sofrendo as consequencias da guerra alheia, a conexão com a plateia é muito fácil, ultrapassando posturas políticas e indo direto ao coração humano da trama – e Ryan Reynolds trabalha esses contornos com enorme talento.

127 Horas baseia-se numa história verdadeira : em maio de 2003 o engenheiro civil e  alpinista Aron Ralston, de 28 anos, sofre um acidente num remoto canyon do Utah, e se vê aprisionado no fundo de uma ravina, a mão direita esmagada por uma enorme rocha. Aron sobrevive cinco dias – as 127 horas do título – nessas condições, até , em desespero, sem víveres e sem água, tomar uma decisão excruciante para salvar sua vida. Se você não sabe o que é, não vou contar – basta dizer que é dramático o bastante, no filme, para enviar pessoas mais sensíveis direto para o banheiro.

Boyle faz o que pode para elevar a narrativa acima do desesperador tédio de cinco dias solitários no fundo de um cânyon – Aron (James Franco) monologa, alucina, relembra. Como Boyle e seu co-roteirista Simon Beaufroy estão trabalhando com fatos reais, eles não têm a liberdade de Enterrado Vivo para armar tramas paralelas nos momentos cruciais, de forma a segurar o espectador. O foco precisa se manter inteiramente em Aron – e seu estoicismo, típico de alguém com grande preparo físico e íntimo conhecimento da natureza, muitas vezes parece indiferença ou até mesmo arrogância. Crédito a Boyle e aos DPs Enrique Chediak e Dod Mantle por criarem mini-poemas visuais de intensa beleza pontuando as 127 horas da provação de Aron, e por se recusarem a levar o filme para a apelação. Quando acidente e solução final acontecem, é com a exata simplicidade e até rispidez com que essas coisas realmente têm.

Para espíritos fortes, recomendo ambos.


George Clooney, produtor: “O segredo é manter o controle criativo e as portas abertas”
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Ana Maria Bahiana

Converso com George Clooney, o que é sempre um prazer. Meu ex-vizinho, cuja carreira acompanho desde as priscas eras de ER e The Peacemaker (sem falar em Batman & Robin…) continua o mesmo cavalheiro, centrado, simples, sem atitude, com uma clara consciência dos perigos e responsabilidades de sua fama e poder. Tão grandes, ambos, que Clooney conseguiu abrir The American –no qual é ator e produtor – em primeiro lugar na bilheteria dos EUA, apesar do filme (dirigido por Anton Control Corbijn) não ser nenhum espetáculo.

Quero saber como andam os planos de Clooney, o produtor e diretor, nestes tempos de crise. “Eu consigo realizar meus projetos porque mantenho os custos bem baixos”, ele diz, sem hesitar. “É a única maneira. Mantenho os orçamentos entre 15 e 20 milhões de dólares e com isso consigo fazer os projetos que quero, com as pessoas que quero. Não são, com certeza, os tipos de filmes nos quais os grandes esúdios investiriam, mas tudo bem. Eles também não precisam fazer enormes bilheterias para se pagarem. O mais importante, o segredo de tudo, é manter ao mesmo tempo o controle criativo e as portas abertas.”

O próximo projeto de Clooney como diretor/produtor deve ser Farragut North, uma adaptação da peça teatral homônima de Beau Willimon sobre um entusiasmado voluntário trabalhando na campanha eleitoral de um fictício candidato a presidente, e sua gradativa perda de fé e inocência. “Começamos a trabalhar neste projeto uns dois anos atrás,e aí Obama foi eleito… achei que não seria a época certa para sair com um filme assim. O roteiro é todo sobre as baixarias e as tramas que acontecem durante uma eleição, as jogadas…. É muito divertido, mas é cínico, e achei que aquele não era o momento certo para um filme cínico.” E agora, é certo? Clooney baixa o rosto com seu famoso meio-sorriso: “O mundo rodou, rodou e estamos todos um pouco mais cínicos, não? Agora já dá para fazer…”

Clooney será o candidato (Democrata, aliás) e Chris Pine, o Kirk do Star Trek de J. J. Abrams, o voluntário cheio de disposição. As filmagens devem começar em janeiro.

Na TV a Smokehouse, produtora de Clooney com o sócio Grant Heslov, está trabalhando para a TNT com a série Memphis Beat , sobre um policial de Memphis que também é fã e impersonator de Elvis. E Clooney não desistiu de fazer outro especial de TV ao vivo, como Fail Safe, em 2000. “O plano agora é fazer Rede de Intrigas ao vivo, numa TV aberta”, Clooney conta. “A primeira tentativa de armar o projeto não deu certo mas eu não desisti. Desistir de fato não é comigo.”