Blog da Ana Maria Bahiana

Arquivo : agosto 2013

O festival de Telluride anuncia: o fim de ano promete
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Ana Maria Bahiana

 

Este fim de semana é o feriadão do Dia do Trabalho nos Estados Unidos e Canadá _ e embora oficialmente o verão no hemisfério norte só termine com o equinócio, dia 21 de setembro, este é, para todos os efeitos, o final das férias e da temporada pipoca do meio de ano.

O que quer dizer duas coisas: a ansiosa contabilidade da bilheteria da pipocada (previsão: sujeita a tempestades de ira e ranger de dentes) e a chegada do grande oráculo da temporada-ouro- o Festival de Telluride.

Todo ano eu falo dele aqui (podem procurar nos arquivos) porque todo ano cresce minha admiração por este evento pequeno, altamente curatorial, movido unicamente por uma enorme paixão pelo cinema. Não há mercado, não há grandes festas, lançamentos, tapetes vermelhos, badalações. Completando 40 anos neste fim de semana e inteiramente apoiado pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, tudo o que Telluride oferece é cinema da maior qualidade, numa cidadezinha histórica com arquitetura do Velho Oeste, no alto das Montanhas Rochosas.

E sempre, todos os anos, as escolhas do festival antecipam as escolhas dos prêmios da virada do ano. Antes mesmo dos Globos de Ouro – os primeiros a anunciar seus indicados, em meados de dezembro – a seleção de Telluride aponta claramente quais os títulos de peso na segunda metade do ano. E um índice muito alto deles acaba colecionando indicações e estatuetas lá no final da temporada-ouro…

Por isso, vale a pena sempre ver quem vai subir a montanha neste final de semana.

De imediato, acho muito interessante ver dois filmes que exploram basicamente o mesmo tema – a absoluta solidão de um ser humano diante de forças infinitamente maiores – com destaque em Telluride. All Is Lost, de J.C. Chandor (Margin Call), que foi sucesso em Cannes,  é um projeto com quem tenho uma relação pessoal, e que amei desde que li o roteiro: é O Velho e o Mar, de Hemingway, numa dimensão mais íntima, com Robert Redfotrd como o Velho e o Mar como o infinito com o qual não há negociação, apenas aceitação.

É esse mesmo o tema de Gravidade, de Alfonso Cuarón, que, neste momento, está arrasando em Veneza. Sandra Bullock é a astronauta à deriva no oceano do espaço, num desempenho que, suspeito, vai colocá-la na mesma lista onde já está Cate Blanchett por Blue Jasmine

Olho vivo também em Nebraska, de Alexander Payne (foto), que, aposto, vai fazer de Bruce Dern um indicado entre os atores, e Inside Llewyn Davis, que foi Grand Prix em Cannes.

Um punhado seleto de filmes não-americanos estará em Telluride, aumentando sua exposição na temporada ouro. Destaque principalmente para Blue Is The Warmest Color, o vencedor de Cannes que está sendo agressivamente divulgado aqui e em Nova York, desde já; The Past, de Ashgar Farhadi; o chileno Gloria, de Sebastian Lelio, e o britânico The Invisible Woman, sobre a amante secreta de Charles Dickens, estrelado e dirigido por Ralph Fiennes.

E assim vai terminando um verão de sustos e surpresas, já desenhando um outono bem mais interessante…


Perdidos na reality: o mundo falso brilhante de Bling Ring
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Ana Maria Bahiana

Entre o final de 2008 e meados de 2009, Los Angeles, uma cidade que já viu praticamente tudo o que de bizarro a humanidade pode inventar (e é capaz de inventar mais coisas quando não há oferta suficiente…), ficou absolutamente fascinada com um fenômeno novo: as mansões de ricos e famosos , nas colinas de Hollywood, estavam sendo sistematicamente invadidas por bandidos que não arrombavam, não quebravam e algumas vezes não roubavam coisa alguma.

Primeiro Paris Hilton, depois a estrela reality Audrina Patridge, e em seguida os atores Rachel Bilson , Megan Fox, Lindsay Lohan e Orlando Bloom foram vítimas da estranha nova categoria de ladrões, que pareciam não tomar precaução alguma, davam adeuzinho para as eventuais câmeras de segurança e, quando roubavam, se interessavam apenas pelos itens fashion: roupas, sapatos, relógios, bijuterias e acessórios de griffe.

Quando finalmente a quadrilha foi presa, os queixos caíram ainda mais: eram todos moças e rapazes de famílias de alta classe média, moradores dos luxuosos condomínios fechados do subúrbio super exclusivo de Calabasas, nas montanhas acima das praias de Malibu. Uma das dificuldades para apreender a turma era justamente o fato de nenhum deles ter antecedentes criminais – foi preciso um deles fazer a besteira de tentar vender os relógios roubados para um atravessador e traficante conhecido para que a estranha aventura tivesse fim.

Essa história pode ser contada de várias maneiras, e uma delas é a excelente reportagem da revista Vanity Fair, assinada por Nancy Jo Sales, que inspirou o Bling Ring: A Gangue de Hollywood, de Sofia Coppola. Há na matéria uma quietude repleta de curiosidade  (e, lá bem pelo meio, compaixão) voltada não para os feitos mas para o perfil dos jovens ladrões e os mecanismos que inspiraram suas incursões pelas colinas de Hollywood.

É uma sintonia boa. A história das meninas e meninos de boa família que se tornam ladrões por tédio casa perfeitamente com a estética e as preocupações de Coppola. Aqui está Los Angeles, a cidade onde ela cresceu à sombra da cultura da celebridade, sua sedução e desencanto – que ela explorou em Um Lugar Qualquer – habitada por uma nova geração cuja ideia de “busca de identidade” envolve griffes e estrelas de reality shows.

Sofia conhece e desconhece essa cidade, e seu olhar sobre ela tem ao mesmo tempo a distância de quem não mais reconhece nela nenhum sinal familiar e a intimidade de quem jamais se esqueceu o que é ser jovem cercada de fama e glamour por todos os lados.

O jovem elenco tem uma cara muito conhecida – Emma Watson, excelente como a líder intelectual, por assim dizer, do bando – mas vale pelo conjunto, uniformemente ótimo, com pelo menos duas grandes revelações: Israel Broussard como o solitário (em todos os sentidos) rapaz da gangue e Katie Chang, como a ponta de lança da quadrilha.

Quando Sofia situa esses jovens personagens – fictícios, mas seguindo de perto os verdadeiros integrantes do “bling ring” de 2008 – em seus habitats naturais, com suas familias, na escola, ela é crítica: aqui está o vazio onde essas pessoas, mal saídas da infância, devem buscar suas referências.

Quando eles estão à solta no mundo absurdo dos clubes e aventuras noturnas pelas casas dos famosos, o filme adquire uma dimensão de sonho, todo cores extremas, azuis, roxos, vermelhos, o verde bizarro da câmera noturna contrastando com a névoa neon da cidade. Em uma tomada em especial, que começa na casa de Paris Hilton e vai abrindo para mostrar tanto os inusitados ocupantes da mansão quanto a vastidão da cidade à sua volta, Sofia sintetiza toda a absoluta solidão de uma existência sem amarras num universo sem eixo. É um momento que remete tanto a Encontros e Desencontros quanto a Um Lugar Qualquer e a um tema central da filmografia de Coppola: quem somos de verdade quando não temos mais a bússola do habitual para nos formatar?


Woody Allen: voando para o Rio?
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Ana Maria Bahiana

Estava eu bem feliz acabando minha resenha de Bling Ring quando esta momentosa notícia atravessou minha tela: Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro, teria oferecido “100% de financiamento” para que Woody Allen vá fazer um filme no Rio de Janeiro.

Existem alguns aspectos curiosos nessa notícia. A primeira é o modo como a oferta teria sido feita – de acordo com a matéria, os recados de Paes teriam sido enviados ao diretor através da irmã e do vizinho dele, o arquiteto espanhol Santiago Calatrava. Não exatamente o modo como essas coisas são  acertadas, em geral.

Em segundo lugar, não sei bem como uma cidade pode financiar 100% de um filme. Allen contou com grande apoio, serviços e descontos fiscais em Barcelona, Roma, Paris, Londres e, agora, San Francisco, mas isso cobre apenas parte do custo de produção. Até porque dinheiro público, nesses lugares, é dinheiro público e não algo que possa ser desembolsado livremente segundo os caprichos do poder executivo.

Nota importante: embora os filmes de Allen custem pouco para os padrões daqui,eles ainda saem a um custo entre 15 e 25 milhões de dólares….

Há pelo menos cinco anos o Rio tenta atrair Woody Allen. Já houve uma negociação ao vivo, no Rio, entre a RioFilme e representantes do diretor. Ano passado perguntei a Allen como ele via essa possibilidade. Ele respondeu: “É claro que gosto muito da ideia. Sempre tive vontade de filmar na América do Sul, que é uma presença importante na minha formação como fã de cinema. Mas preciso achar a história certa. Uma história que tenha a cara do Rio.”

Perguntei o que, para ele, era “a cara do Rio” . Resposta: “Algo sensual, passional,exótico. Infelizmente não tenho nada assim na minha gaveta.”

 

Tags : Woody Allen


D23 Expo: o futuro da Disney é previsível, lucrativo e às vezes poético
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Ana Maria Bahiana

Passei  três dias intensos no coração do mundo Disney e vivi para contar a história para vocês. Mais sorte que a do meu computador, que faleceu em algum ponto entre Buzz Lightyear e Maleficent e ainda não ressuscitou (o que explica em grande parte o meu sumiço daqui).

No passado, a Disney fazia encontros modestos com a midia, uma vez por ano, para mostrar seus novos projetos. Lembro com carinho de um em particular, numa sala alugada em West Hollywood, onde Jeffrey Katzenberg anunciou A Bela e a Fera, mostrando croquis da animação e um trecho ainda em lápis de “Be Our Guest” com acompanhamento ao vivo de Alan Menken ao piano. Meninas e meninos, eu vi.

Há quatro anos, contudo, a Disney resolveu transformar o anúncio em um grande evento: a D23 Expo, espécie de versão exclusiva da Comic Con. Criada em 2009, o D23 (D de Disney, 23 de 1923, ano da fundação do império) é o fã clube oficial de todas coisas Disney, inventado e implementado pelo chefão Bob Iger. A Expo, no hiper mega gigantesco Centro de Convenções de Anaheim, o subúrbio de Los Angeles que também abriga a Disneylândia,  tem tudo o que a Comic Con tem – cosplay, shows, exibições,  dezenas de stands com produtos e serviços – só que com um único tema: Disney.

O ponto alto desta festança vagamente assustadora são as duas apresentações de futuros projetos, uma dedicada à animação, a outra aos filmes. A plateia – 99% fãs enlouquecidos – adora tudo. Eu, que pertenço ao 1% de observadores razoavelmente isentos, me senti engolida por um tsunami de informação, nem toda muito útil ou sequer divertida.

Duas coisas que muita gente – eu, inclusive – queria saber foram abordadas de razante: o sétimo episódio de Star Wars (o primeiro da era Disney) e Tomorrowland, a nova incursão na seara atração-de-parque-que- se transforma em filme. A expressão usada por Bob Iger para descrever os dois foi “estamos muito empolgados (excited)”, mas isso quer dizer muito pouca coisa – ele usou exatamente os mesmos termos para descrever todos os outros projetos do estúdio.


O que me empolga  (ou tranquiliza) um pouco mais com Tomorrowland é a presença de Brad Bird como diretor, desenvolvendo o roteiro com Damon Lindelof (ter George Clooney e Hugh Laurie no elenco também ajuda…). Bird tem, além de uma fina sensibilidade ,uma visão muito interessante das ideias e estética de meados do século passado, de onde nasceu a  Tomorrowland, a Terra do Futuro dos parques da Disney (confiram The Iron Giant e Os Incríveis e vocês vão ver).

Aperitivo: a app que explora as referências visuais e conceitos de “futuro” como era visto em 1952…

E acho que, no departamento filmes, essas ausências me animaram mais que as presenças. Angelina Jolie foi aclamada quando apareceu para plugar Maleficent – o visual é bacana, os chifrinhos foram a marca registrada entre os fãs. Mas, como Saving Mr. Banks, temo que seja mais do mesmo, a milionésima iteração da mesma história, sem a menor possibilidade de um olhar novo ou sequer irônico.

O que me leva à animação, que foi apresentada por um empolgado John Lasseter, mudando de camisa a cada novo título. Embora todas as histórias sejam, de fato, a mesma história – protagonista descobre algo novo sobre si mesmo/a, encontra um coadjuvante fofinho que, depois de algum conflito, se torna seu/sua melhor amigo/a e os dois partem numa fantástica aventura – quatro me chamaram a atenção, de cara:

Zootopia (previsão: 2016) , o projeto ultra-secreto que a Disney Animation verm desenvolvendo há dois anos (“vamos ter que matar todos vocês depois desta apresentação”, disse o diretor Byron Howard), tem grandes achados conceituais e visuais: um mundo desprovido de seres humanos, povoado apenas por animais que desenvolveram todas as nossas características, manias e necessidades. “Nós sempre quisemos fazer um filme de animais humanizados, continuando uma tendencia tradicional da Disney”, disse Lasseter, anunciando o projeto. Vi ecos de Madagascar e, no protagonista, muita coisa de O Fantástico Sr. Raposo (menos a ironia…) mas… o projeto é para 2016, ainda tem muito chão…

Inside Out (previsão: 2015) , outro projeto ultra secreto, dessa vez da Pixar (tão secreto que não tinham nem título até ser batizado pelo departamento de marketing nas vésperas da D23 Expo) traz a assinatura de Peter Docter (Toy Story, Wall-E, Up), o que para mim já é uma tranquilidade. Mas foi seu tema que me intrigou: o filme todo se passa no mundo interior de uma familia que se muda de uma cidadezinha do meio oeste norte-americano para a metrópole de San Francisco. Seus protagonistas não são a mãe,o pai e a filha adolescente, mas suas principais emoções: Raiva, Tristeza, Alegria, Nojo e Medo. É uma espécie de Bergman à moda da Pixar e a sequencia  que foi exibida, em rascunho, com os conflitos interiores da família em torno da mesa de jantar, foi pura perfeição. É claro que em algum momento alguém se junta com alguém e parte em uma aventura mas….

Big Hero 6 (dezembro de 2014). Don Hall, que dirigiu o lindo Winnie The Pooh de 2011, inspirou-se numa série HQ da Marvel, cult ao ponto de ser obscura, para criar o fabuloso mundo de Sanfranstokyo, a grande metrópole pan-pacífica de algum universo paralelo. Gostei da história, que mostra adolescentes inteligentes, articulados,, plausíveis — inclusive o herói, um gênio precoce da robótica – que se transformam numa espécie muito especial, talvez hesitante, de super-herói. Mas foi o visual que me encantou _ paixão pura, pura imaginação.

Get a Horse! (novembro 2013). Guardei o melhor para o final. Produto da divisão “pobre” da Disney, a Disney Toons, dedicada ao trabalho sem glória de criar curtas e médias metragens para o mercado de TV e home entertainment, este curta pode ser a grande gema da Disney desta temporada. E quanto menos eu falar sobre ele, melhor. A inspiração veio de um par de croquis  de Mickey e Minnie encontrados nos arquivos da Disney, datados de 1928. Mais não digo. Nele está o coração daquilo que, hoje, é uma commodity enlatada – a magia Disney. É em parte imaginação, em parte molecagem, em parte inocência, e , completamente, a pura alegria, a embriaguez de criar, de contar uma história com o desenho em movimento. Get a Horse! Vai ser exibido antes de A Rainha da Neve, a super-previsível aventura-com-princesas deste ano. Considerem ir ao cinema, ver o curta e ir embora. Depois que ele estrear eu conto o resto da história…

 


Quando os humildes herdaram a Terra: todo o poder de Elysium
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Ana Maria Bahiana

A melhor ficção científica não é sobre o futuro: é sobre o presente, e tudo aquilo que nos assusta, angustia, empolga e intriga no presente. Dois alicerces do gênero no cinema – Le Voyage Dans La Lune, de Georges Méliès, 1902, e Metropolis, de Fritz Lang, 1927 -falavam, na aurora do século 20, dos medos do que a muito recente revolução industrial poderia fazer com o planeta e seus habitantes.  Chaminés fumegantes inspiram os cientistas de Voyage Dans La Lune a buscar novos horizontes na Lua. Uma sociedade radicalmente dividida entre  operários oprimidos, vivendo em miséria, e oligarcas opressores, vivendo no luxo, gera uma revolução em Metropolis.

Há um tanto de ambos, Metropolis e Le Voyage Dans La Lune, em Elysium, o arrasa-quarteirão mais inteligente desta (fraquíssima) temporada pipoca.  Porque seu realizador, Neil Blomkamp, não deixa o cérebro na prateleira quando cria, todo o poder do sci-fi, sua capacidade de especular sobre o que estamos vivendo agora, com a liberdade de ver os problemas na distância do futuro, passa, intocado, da tela para a plateia.

Em seu sensacional filme de estreia, Distrito 9, Blomkamp refletia profundamente sobre os conceitos de raça, espécie e a infinita arrogância dos humanos, colocando em nossas mãos um novo tipo de ET – o ET das comunidades carentes, dos marginalizados, dos segregados.

De muitos modos Elysium continua o raciocínio de Distrito 9, adicionando boas doses das ideias dos prioneiros da sci fi. Como em Voyage, a Terra em Elysium é um planeta devastado e, como em Metropolis, quem a herdou foram de fato os humildes _ todos aqueles pobres demais, marginalizados demais para se mudar para o novo paraíso celeste, Elysium, uma espécie de mega-condomínio fechado, exclusivo para ricos e bem nascidos, valsando acima da Terra como uma perversão sinistra da estação espacial de 2001 Uma Odisséia no Espaço, imune a pobreza, violência e doença.

Os melhores achados de Elysium estão em sua abordagem do que foi feito da Terra, pelo microcosmo de Los Angeles. No século 22, LA terá se transformado, dependendo do ponto de vista, numa imensa Tijuana ou num interminável Complexo do Alemão, hiper-poluída, desprovida de serviços  públicos  e controlada ou por um sortimento de gangues e mercenários, ou por robocops que chamam todo mundo de “cidadão” enquanto baixam o sarrafo.

É uma vida em círculos, onde quem tem sorte, como Max (Matt Damon) trabalha , por trocados , em condições precaríssimas, em grandes fábricas de bens de luxo e segurança, ganhando tempo até que alguma trivialidade – um encontro mais brusco ou com os robocops ou com os mercenários, uma doença – ponha um ponto final. Uma das melhores cenas desse primeiro ato envolve Max e um robojuiz, que vai fazer a delícia (ou a agonia) de qualquer pessoa que algum dia teve que resolver um caso complicado com um burocrata.

Sobre esse inferno terrestre paira Elysium, acessível apenas aos seus cidadãos, e governado com elegante mão de ferro por uma Jodie Foster em seu melhor modo vilanesco,bebendo champanhe e falando francês enquanto ordena ataques mortais a dezenas de pessoas, à distância e sem elevar o tom de voz.

Eu só lamentaria uma coisa, mas ao mesmo tempo compreendo o que aconteceu. Enquanto Distrito 9 deixava que os personagens contassem a história – e nós nos envolvíamos a partir do que íamos descobrindo sobre eles – Elysium, a partir do meio, apoia-se no velho modelo das repetidas cenas de ação e enfrentamento para tocar a narrativa.

Mas eu entendo: ao contrário de Distrito 9, este é um filme de grande orçamento, com grandes expectativas de um grande estúdio – a Sony – que teve uma temporada pipoca atribulada. Posso imaginar perfeitamente o quanto de interferência o roteiro original sofreu para incluir “mais efeitos!”, “mais ação!”, “mais perseguições!”, “mais explosões!”.

 

A presença de Alice Braga e Wagner Moura num ótimo elenco multicultural que inclui também Diego Luna e  Sharlto Copley merece uma conversa à parte. Ambos estão excelentes e tenho certeza de que, bem administrada, essa exposição pode ser um salto quântico em suas já luminosas carreiras. Eu espero apenas que Alice faça, em breve, um papel num grande projeto internacional onde ela não seja a boa moça em perigo. Sei, sabemos, que ela é capaz de muito, muito mais. Wagner criou seu líder bandido Spider com impressionante presença e fisicalidade _ agora é só esperar as próximas ofertas (e escolher bem).

Elysium estreia aqui nesta sexta feira, dia 9, e no Brasil dia 20 de setembro.


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