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D23 Expo: o futuro da Disney é previsível, lucrativo e às vezes poético
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Ana Maria Bahiana

Passei  três dias intensos no coração do mundo Disney e vivi para contar a história para vocês. Mais sorte que a do meu computador, que faleceu em algum ponto entre Buzz Lightyear e Maleficent e ainda não ressuscitou (o que explica em grande parte o meu sumiço daqui).

No passado, a Disney fazia encontros modestos com a midia, uma vez por ano, para mostrar seus novos projetos. Lembro com carinho de um em particular, numa sala alugada em West Hollywood, onde Jeffrey Katzenberg anunciou A Bela e a Fera, mostrando croquis da animação e um trecho ainda em lápis de “Be Our Guest” com acompanhamento ao vivo de Alan Menken ao piano. Meninas e meninos, eu vi.

Há quatro anos, contudo, a Disney resolveu transformar o anúncio em um grande evento: a D23 Expo, espécie de versão exclusiva da Comic Con. Criada em 2009, o D23 (D de Disney, 23 de 1923, ano da fundação do império) é o fã clube oficial de todas coisas Disney, inventado e implementado pelo chefão Bob Iger. A Expo, no hiper mega gigantesco Centro de Convenções de Anaheim, o subúrbio de Los Angeles que também abriga a Disneylândia,  tem tudo o que a Comic Con tem – cosplay, shows, exibições,  dezenas de stands com produtos e serviços – só que com um único tema: Disney.

O ponto alto desta festança vagamente assustadora são as duas apresentações de futuros projetos, uma dedicada à animação, a outra aos filmes. A plateia – 99% fãs enlouquecidos – adora tudo. Eu, que pertenço ao 1% de observadores razoavelmente isentos, me senti engolida por um tsunami de informação, nem toda muito útil ou sequer divertida.

Duas coisas que muita gente – eu, inclusive – queria saber foram abordadas de razante: o sétimo episódio de Star Wars (o primeiro da era Disney) e Tomorrowland, a nova incursão na seara atração-de-parque-que- se transforma em filme. A expressão usada por Bob Iger para descrever os dois foi “estamos muito empolgados (excited)”, mas isso quer dizer muito pouca coisa – ele usou exatamente os mesmos termos para descrever todos os outros projetos do estúdio.


O que me empolga  (ou tranquiliza) um pouco mais com Tomorrowland é a presença de Brad Bird como diretor, desenvolvendo o roteiro com Damon Lindelof (ter George Clooney e Hugh Laurie no elenco também ajuda…). Bird tem, além de uma fina sensibilidade ,uma visão muito interessante das ideias e estética de meados do século passado, de onde nasceu a  Tomorrowland, a Terra do Futuro dos parques da Disney (confiram The Iron Giant e Os Incríveis e vocês vão ver).

Aperitivo: a app que explora as referências visuais e conceitos de “futuro” como era visto em 1952…

E acho que, no departamento filmes, essas ausências me animaram mais que as presenças. Angelina Jolie foi aclamada quando apareceu para plugar Maleficent – o visual é bacana, os chifrinhos foram a marca registrada entre os fãs. Mas, como Saving Mr. Banks, temo que seja mais do mesmo, a milionésima iteração da mesma história, sem a menor possibilidade de um olhar novo ou sequer irônico.

O que me leva à animação, que foi apresentada por um empolgado John Lasseter, mudando de camisa a cada novo título. Embora todas as histórias sejam, de fato, a mesma história – protagonista descobre algo novo sobre si mesmo/a, encontra um coadjuvante fofinho que, depois de algum conflito, se torna seu/sua melhor amigo/a e os dois partem numa fantástica aventura – quatro me chamaram a atenção, de cara:

Zootopia (previsão: 2016) , o projeto ultra-secreto que a Disney Animation verm desenvolvendo há dois anos (“vamos ter que matar todos vocês depois desta apresentação”, disse o diretor Byron Howard), tem grandes achados conceituais e visuais: um mundo desprovido de seres humanos, povoado apenas por animais que desenvolveram todas as nossas características, manias e necessidades. “Nós sempre quisemos fazer um filme de animais humanizados, continuando uma tendencia tradicional da Disney”, disse Lasseter, anunciando o projeto. Vi ecos de Madagascar e, no protagonista, muita coisa de O Fantástico Sr. Raposo (menos a ironia…) mas… o projeto é para 2016, ainda tem muito chão…

Inside Out (previsão: 2015) , outro projeto ultra secreto, dessa vez da Pixar (tão secreto que não tinham nem título até ser batizado pelo departamento de marketing nas vésperas da D23 Expo) traz a assinatura de Peter Docter (Toy Story, Wall-E, Up), o que para mim já é uma tranquilidade. Mas foi seu tema que me intrigou: o filme todo se passa no mundo interior de uma familia que se muda de uma cidadezinha do meio oeste norte-americano para a metrópole de San Francisco. Seus protagonistas não são a mãe,o pai e a filha adolescente, mas suas principais emoções: Raiva, Tristeza, Alegria, Nojo e Medo. É uma espécie de Bergman à moda da Pixar e a sequencia  que foi exibida, em rascunho, com os conflitos interiores da família em torno da mesa de jantar, foi pura perfeição. É claro que em algum momento alguém se junta com alguém e parte em uma aventura mas….

Big Hero 6 (dezembro de 2014). Don Hall, que dirigiu o lindo Winnie The Pooh de 2011, inspirou-se numa série HQ da Marvel, cult ao ponto de ser obscura, para criar o fabuloso mundo de Sanfranstokyo, a grande metrópole pan-pacífica de algum universo paralelo. Gostei da história, que mostra adolescentes inteligentes, articulados,, plausíveis — inclusive o herói, um gênio precoce da robótica – que se transformam numa espécie muito especial, talvez hesitante, de super-herói. Mas foi o visual que me encantou _ paixão pura, pura imaginação.

Get a Horse! (novembro 2013). Guardei o melhor para o final. Produto da divisão “pobre” da Disney, a Disney Toons, dedicada ao trabalho sem glória de criar curtas e médias metragens para o mercado de TV e home entertainment, este curta pode ser a grande gema da Disney desta temporada. E quanto menos eu falar sobre ele, melhor. A inspiração veio de um par de croquis  de Mickey e Minnie encontrados nos arquivos da Disney, datados de 1928. Mais não digo. Nele está o coração daquilo que, hoje, é uma commodity enlatada – a magia Disney. É em parte imaginação, em parte molecagem, em parte inocência, e , completamente, a pura alegria, a embriaguez de criar, de contar uma história com o desenho em movimento. Get a Horse! Vai ser exibido antes de A Rainha da Neve, a super-previsível aventura-com-princesas deste ano. Considerem ir ao cinema, ver o curta e ir embora. Depois que ele estrear eu conto o resto da história…

 


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