Blog da Ana Maria Bahiana

CinemaCon 2011: o cinema morreu, viva o cinema

Ana Maria Bahiana

Apostas da temporada pipoca: Cowboys & Aliens...

... e Super 8

Começou ontem à noite em Las Vegas o ritual da primavera dos exibidores, Cinema Con (que se chamava Showest até que a diretoria mudou e eles resolveram correr atrás de um clima ComicCon…) É um evento reservado apenas a exibidores, distribuidores, donos de cinema e profissionais da midia especializada (como eu).

É divertido mas repetitivo depois de alguns anos inspecionando diferentes tipos de poltronas e fazedores de pipoca, e ouvindo os executivos prometendo que dessa vez sim, as plateias irão se multiplicar, o público vai disparar para os cinemas para ver nossos maravilhosos filmes…

De uns três anos para cá o tom dessas fanfarras tem sido cada vez mais desesperado: salva brevemente pelo fenômeno Avatar em 2009, a situação da bilheteria norte-americana está cada vez mais crítica , caindo aos poucos mas sem parar, de ano para ano.

Este ano, a crise crônica está atingindo níveis agudos. A bilheteria do primeiro trimestre foi patética, com uma queda de mais de 20% comparado com 2010. E, olhando para o que vem a ser temporada mais gorda do ano – o festival de pipoca entre maio e agosto – muitos executivos duvidam que haja volume suficiente de filmes atraentes para garantir uma reviravolta.

As apostas estão em alguns títulos, todos eles continuações e franquias: o derradeiro Harry Potter, Carros 2, Transformers Dark of the Moon, X Men First Class, Kung Fu Panda 2, The Hangover part II. Há uma carencia grande de títulos originais, e os poucos que se aventuram são, neste mercado instável, incógnitas: Cowboys & Aliens, Lanterna Verde, Capitão America, Super 8. Pessoalmente, aposto em Cowboys  & Aliens e Super 8. Mas a verdade é que, numa industria em que “ninguém sabe nada”, como já dizia o sábio e oscarizado roteirista William Goldman, agora sabe-se menos ainda. Se isso fosse possivel.

O primeiro dilema que está se debatendo na CinemaCon é, nas palavras do diretor da CinemaCon à Variety, se os hábitos do público mudaram de vez devido à “abundancia de outras avenidas adicionais competindo pelo dinheiro do consumidor.” É o velho dilema TV X cinema, VHS x cinema, DVD/Blu Ray X cinema, só que agora muito pior: mais opções, menos incentivos para sair de casa, com todas as chateações, e gastar uma nota preta por um filme que pode ou não satisfazer o consumidor.

O segundo dilema é:  o que fazer com o mercado externo? Os apetitosos novos mercados – China, especialmente, mas nosso Brasil também (ou vocês acham que Rio e Fast 5 foram por acaso?) – tem problemas proprios: regulamentação estrita (caso da China), falta de telas, pirataria. E no entanto parecem ser a única saída para o congestionamento do mercado norte americano.

E se você já está se perguntando o que isso tem a ver com você, a resposta é : tudo. Ansiedade quanto à resposta do mercado leva `a retranca na produção: mais sequels, mais franquias, mais fórmulas, menos risco, menos aquisições de projetos independentes, menos oportunidades para novas ideias, temas e realizadores (Sucker Punch, por exemplo, deveria ter sido um meta-filme comentando a propria cultura do entretenimento, especialmente a estética gamer/anime. Snyder admite ter sido “desencorajado” pela Warner a prosseguir nessa trilha. Prestando atenção, nota-se que  exatamente uma cena do velho roteiro permaneceu. Eu gostaria de ter visto esse outro filme.)

Por outro lado,  cortejar o mercado internacional pode representar mais lançamentos simultâneos, prazos menores para saída de títulos em DVD/BluRay/TV e, sobretudo, muito mais interesse em parcerias e co-produções com realizadores locais e mais portas abertas para talento além das fronteiras norte-americanas. Ano passado, 10 dos 20 filmes com maior retorno internacional foram dirigidos por não-americanos.  A tendencia é vermos esse tipo de aproximação ficar cada vez mais intensa.

  1. Silvio

    07/04/2011 16:07:24

    quais seriam então, para alguém querendo ampliar o seu escopo profissional no segmento, os eventos e atividades? tenho interesse em ampliar meu lado profissional e gostaria de algum insight seu.\GratoSilvio

  2. Ana Maria Bahiana

    07/04/2011 14:25:45

    Não me animei.... vi alguns dos reels promocionais antes e achei perda de tempo. ShowEast continua lá em Miami, em outubro... Não vou mesmo...

  3. Silvio

    07/04/2011 12:53:10

    Ana, você foi a CinemaCon? Estive lá enquanto era Showest e agora, e parece que vai crescer ainda mais! Gostaria de poder encontrá-la por lá, se possível, para conversar sobre Brasil, Cinema e o lado profissional e entretenimento.E a Showeast? Estará por lá?

  4. Max de Belém

    01/04/2011 10:47:27

    Ana,Acredito que a falta de criatividade existente hoje em hollywood esteja realmente vinculada a questão financeira, porém, você percebe que existem fórmulas interessantes que podem gerar ótimas bilheterias/histórias, vide A ORIGEM, A ILHA DO MEDO, CAVALEIRO DAS TREVAS, e até mesmo AVATAR. O que está faltando realmente é talento de alguns diretores e roteiristas, que não conseguem vender as suas idéias. Acredito no potencialde gente como CHRISTOPHER NOLAN, que conhece bem esta fórmula. Espero que outros se juntem a ele.Um grande abraço!

  5. Carlos

    01/04/2011 09:59:39

    Filmes Pipoca quase nunca são pensados pras gartotas, Debbie. O público feminino, de acordo com o lado mais pop de Róliudi, é apenas, quando muito, companhia, apêndice. Não é sintomático que nessa indústria as atrizes, de forma geral, tenham vida profissional mais curta que jogador de futebol? Enquanto ainda são gostosas, são requisitadas...

  6. Filipe Rodrigues

    31/03/2011 23:58:17

    Ana, esses executivos de hollywood tem as cabeças de vento, cadê a criatividade?Nos anos 60, o cinema americano viveu uma crise brava, na época o vilão era o crescimento da televisão, enquanto hoje é a Internet, em 1963 a maioria dos filmes exibidos nos EUA eram estrangeiros (vale lembrar que o James Bond (Goldfinger) era uma produção britânica e o Western Spaghetti da dupla Eastwood/Leone filmado na Itália). Foi aí que a geração sexo, drogas e rock and roll sepultou o moralismo da era dos grandes estúdios e passou a ditar as regras, reiventando o cinema estadunidente, que viveu nos anos 70 sua época mais criativa, nos anos 80 multiplicam os blockbusters.Jamais imaginei que iria ver os filmes brasileiros com roteiros melhores que os filmes dos EUA.

  7. debbie

    31/03/2011 18:15:29

    Agora é que eu não vou sair de casa MESMO. Super heróis, bruxos, vampiros e desenhos animados? Pffff...Por mim essa indústria pode morrer qualquer hora. Já vai tarde aliás.

  8. Carlos

    30/03/2011 21:58:29

    Ano que vem tem Batman 3 e Vingadores. Reboot de Homem-aranha. Talvez Wolverine. Superman provavelmente no fim do ano. Os super-heróis irão salvar Róliudi... Ainda tem Madagascar 3, Era do Gelo 4, Star Trek 2. Parece que vai ser divertido.Esse ano, a coisa tá parecendo meio "verde". Trailer de Lanterna Verde fora de hora? Verde mesmo... Quanto amadorismo pra uma empresa como a Warner. E o pior é que agora tem ponto de comparação - porque a Marvel - Disney tá fazendo um belo trabalho - divulgação, produto final, etc.Me parece que a Warner é refém de uma NolanDependência - se o cara sair, o castelo desmorona em um segundo... E Róliudi é refém dos velhos hábitos do público. E esse castelo já ruiu faz um tempinho...

  9. Carioca

    30/03/2011 20:11:02

    Eu boto muita fé em Super 8. JJ Abrams está indo muito bem em sua carreira no cinema e acho que deveriam prestar atenção em Hanna. Acho que esse filme já é uma realidade. Você ainda não viu Ana ?

  10. Otavio Almeida

    30/03/2011 18:29:22

    Eu acho que "Sucker Punch" reflete sim a cultura do entretenimento. Só não acho que tenha sido intencional: http://migre.me/48TuY

  11. andre

    30/03/2011 10:48:21

    eles tem de ser mais criativos...cisne negro gastou pouco e bombou...atividade paranormal idem...Sugestao de post12 curiosidades divertidas sobre a cervejahttp://naoacredito.blog.br/2011/03/humor-conheca-12-curiosidades-divertidas-sobre-a-cerveja/

  12. Daniel Braga

    30/03/2011 08:15:09

    Sou fã do J.J Abrams e torço para que Super 8 tenha todo o sucesso que ele merece, mas acho isso meio difícil. O fato dos Transformers já estarem no terceiro filme é a prova q o público ainda quer explosões sem mt história. Mas tomara q eu esteja enganado.

  13. Roger

    30/03/2011 00:54:16

    Uma coisa me parece salutar nessa crise toda: filmes que seguem a linha oscarizável parecem ter sido muito bem sucedidos financeiramente, pelo custo mais baixo e retorno a longo prazo, vide Cisne Negro, A Rede Social e O Discurso do Rei.Ao contrário dos pobres blockbusters, que passam anos em desenvolvimento, torrando centenas de milhões e que têm apenas 3 dias - seu final de semana de estréia - para que possam se comprovar como um investimento de sucesso.Essa mentalidade cruel é que está minando o cinema norte-americano.P.S.: Sou do interior paulista, moro perto de um cinema de bairro e tenho adorado ver as grandes filas diárias que atualmente se formam para assistir Cisne Negro. ;)

  14. Roger

    30/03/2011 00:53:28

    Uma coisa me parece salutar nessa crise toda: filmes que seguem a linha oscarizável parecem ter sido muito bem sucedidos financeiramente, pelo custo mais baixo e retorno a longo prazo, vide Cisne Negro, A Rede Social e O Discurso do Rei.Ao contrário dos pobres blockbusters, que passam anos em desenvolvimento, torrando centenas de milhões e que têm apenas 3 dias - seu final de semana de estréia - para que possam se comprovar como um investimento de sucesso.Essa mentalidade cruel é que está minando o cinema norte-americano.P.S.: Sou do interior paulista, moro perto de um cinema de bairro e tenho adorado ver as grandes filas diárias que atualmente se formam para assistir Cisne Negro. ;)

  15. João Oliveira

    30/03/2011 00:05:09

    Investir em bons roteiros de baixo orçamento, é uma saída para a crise financeira. No ano passado tivemos vários exemplos de filmes com orçamento baixo para os padrões americanos q renderam alto nas bilheterias. E acho tb q a tendência é Hollywood se globalizar de vez. E talvez mudar tb a mentalidade de achar q todo filme precisa render 800 milhões para ser sucesso. Pode ser uma utopia pensar isso, mas uma hora o mercado entra em colapso, e a única saída seja dar alguns passos para trás.

  16. Filipe Pinheiro

    29/03/2011 23:19:02

    Acho que o problema maior é, como você disse, a falta de coisas novas. O mundo inteiro assistiu AVATAR porque era diferente (ok, o roteiro trazia sim algumas referências) mas a maneira como o filme foi conduzido, o 3D, a ótima direção, o elenco, a trilha sonora... Tudo contribuiu para o sucesso do filme. Esse ano, eu aposto em Super 8 e Cowboys & Aliens como os filmes de ação interessantes e inteligentes, mas não posso me esquecer de Piratas 4, Thor e Capitão América, que parece que serão os filmes de ação que não revolucionam em absolutamente nada, mas funcionam como entretenimento.E no finalzinho do ano, tem o novo filme do Scorsese e em 3D. O que esperar disso?Hummmmmm...Abraços, Ana.=]

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