Blog da Ana Maria Bahiana

Arquivo : outubro 2011

Minha conversa com Steven Spielberg, parte 2: “Andy Serkis é um gênio.”
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Ana Maria Bahiana

No set com Jamie Bell e Andy Serkis: "Mocap liberta o ator e o diretor"

No capítulo anterior de As Aventuras de Steven Spielberg: O Segredo do Segredo do Licorne, aprendemos como Indiana Jones levou nosso herói até Hergé, e como um bilhão de pessoas viram o nascimento da parceria com Peter Jackson.

Na segunda parte desta conversa – realizada no Hotel George V de Paris, no dia seguinte à estréia mundial de As Aventuras de Tintim : O Segredo do Licorne, no fim de semana passado – Spielberg fala do processo criativo atrás do filme  e conta qual seu tipo favorito de cachorro.

 

Uma vez que você e Peter acertaram a parceria, qual foi o elemento mais complicado de resolver no projeto Tintim?

_Fora a parte financeira? Porque a parte financeira foi muito, muito difícil, principalmente porque queriamos um comprometimento para uma série de no mínimo três filmes, e queríamos roda-los um depois do outro, como Peter tinha feito em Senhor dos Anéis. Isso não foi possível mas, dividindo custos e riscos entre Paramount e Sony nós conseguimos finalmente um compromisso para três filmes, de forma que, enquanto rodávamos o primeiro, já podíamos estar desenvolvendo e fazendo story boards do segundo.

Criativamente, precisamos inventar nosso próprio sistema de trabalho. Com tudo o que o próprio Peter já tinha feito e tudo o que eu mesmo tinha feito como produtor de animação na Amblin e na DreamWorks, ninguém tinha feito algo assim. Fomos aprendemos com 60 animadores incríveis, mais 300 ilustradores e artistas visuais e os três roteiristas, durante dois anos de preparação e três de produção.

Você definiria Tintim como animação?

_ Sim. Ele é 85% animação e 25 % de alguma outra coisa meio mágica que começa com  a captura de performance. É animação, mas é uma outra categoria de animação. O estilo, o traço, a visão de Hergé foi nossa inspiração básica e predominante. Tínhamos grandes ampliações de alguns dos quadrinhos dele – aqueles grandes ambientes que ele desenhava como ninguém – e aquilo nos guiava tanto no planejamento das sequências quando no próprio roteiro.

"O Capitão Hadoque É Andy Serkis"

Você acha que é preciso mais reconhecimento para o trabalho dos atores em filmes de captura de performance?

_Com toda certeza. Para os diretores é uma tecnologia que liberta a imaginação. E para os atores é, com certeza, uma experiência ainda mais libertadora : eles podem ser qualquer coisa, e a tecnologia está inteiramente a serviço do seu talento, do desempenho pessoal, único, de cada um. Não é possível que esta tecnologia substitua os atores _ o que torna esses personagens interessantes é que eles SÃO os atores. Tintim É Jamie Bell. O Capitão Hadoque É Andy Serkis. Aliás: Andy Serkis é um gênio. Não há outra palavra para descrever o controle que ele tem sobre cada nuance de sua performance, e como ele sabe atuar em sintonia com a tecnologia. Ele se transforma. Ele é uma pessoa tranquila, doce, simpática. Mas quando ele se transformava em Hadoque… dava medo! Eu não queria ter que ficar na frente dele num daqueles acessos de fúria…

Tintim e Milu, "o melhor cachorro com quem trabalhei"

E evita problemas como, por exemplo, ter que dirigir um cachorrinho…

_ Milu foi o melhor cachorro com quem já trabalhei. Uma maravilha! Fazia tudo o que pedíamos, nunca tinha crises e saía correndo para seu canil, não pedia biscoitos, não fazia xixi no equipamento… Ele foi inteiramente animado, é claro. Em pequenas coisas assim você pode ver porque estou sorrindo tanto com esta experiência _  porque esta tecnologia é a grande aliada do diretor, o modo mais exato de dar controle completo ao diretor.

Qual seu livro favorito da série Tintim?

_Humm…. Não vou dizer não. Porque quero que seja o terceiro da trilogia e prometi a  Peter que não falaríamos publicamente sobre ele. Nem sobre  o segundo, aliás. Me pergunte daqui a dois anos.

E quanto à reputação de Hergé como racista e anti-semita?

_Eu não faria este filme se comprovasse que ele foi anti-semita. Pesquisei muito e hoje tenho certeza de que não, ele nunca foi anti-semita. É claro que há um de seus livros- Tintin no Congo– que ele mais tarde repudiou, pediu desculpas e que nem eu nem Peter temos a menor intenção de chegar perto. Ele era um ser humano e, como qualquer ser humano, fez erros. Mas nem por isso deixa de ser genial.


Minha conversa com Steven Spielberg: “Às vezes estou na platéia, às vezes atrás da câmera”
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Ana Maria Bahiana

Em 1993 Steven Spielberg pôde mostrar ao mundo os dois lados do seu trabalho: o de mestre do universo pipoca com O Parque dos Dinossauros, e, com A Lista de Schindler o de realizador preocupado com questões de importância em sua vida.

Este ano o fenômeno se repete _ em rápida sequência, as platéias verão o Spielberg pop de As Aventuras de Tintim: O Segredo do Licorne e o Spielberg “sério” de Cavalo de Guerra. “São dois pontos de vista”, Spielberg diz numa ensloarada manhã de outono em Paris, depois da dupla estréia internacional de Licorne, em Paris e em Bruxelas. ” No Parque, nos Indiana Jones e em Tintim eu estou sentado na plateia. Em filmes como Schindler, Amistad, Resgate do Soldado Ryan e, agora, Cavalo de Guerra eu estou atrás da câmera e nem estou pensando se alguém vai aparecer para ver o filme.”

Um ponto de vista não é mais importante que outro, Spielberg diz _ apenas diferentes e complementares.

Na primeira parte desta conversa – que se estendeu além dos 20 minutos regulamentares, a pedido do próprio Spielberg- ele fala sobre Hergé, a parceria com Peter Jackson e a importância de ser pai .

Dá para compreender por que você esperou tanto tempo para finalmente realizar Tintim – ainda não existia a tecnologia necessária. Mas por que você nunca desistiu?

_Porque comecei a ter filhos. E pude ver, um após outro, como as histórias de Hergé, que eu tinha começado a colecionar em 1983, tinham o mesmo apelo para eles que para mim. Isso manteve minha fé no trabalho de Hergé.

Mesmo levando em consideração que as crianças mudaram muito nestes  quase 30 anos?

_ Crianças estão sempre abertas para novas experiências. Eles gostam de videogames, certo, mas também gostam de ir ao cinema. E eu também! Aprendi com eles – adoro videogames e continuo apaixonado por cinema…. Acho que há espaço para tudo, hoje…

 

Hergé e Tintim, no Centro de Histórias em Quadrinhos de Bruxelas

Como foi seu primeiro contato com as histórias de Hergé?

_ Quando o primeiro Indiana Jones foi lançado eu não parava de ouvir  e levar comparações com um tal de Tintim, Tintim… Fui ver o que era, comprei meu primeiro livro – As 7 Bolas de Cristal– e me apaixonei instantaneamente. Nem tinha acabado de ler e já estava comprando todos os outros. Em 1983, Hergé e eu conversamos longamente ao telefone. Eu me lembro que fiquei impressionado com o vigor e o entusiasmo na voz dele, ele parecia alguem muito mais jovem…. Combinamos de nos ver em Bruxelas dentro de duas semanas… e jamais nos encontramos, porque ele faleceu antes do nosso encontro… E qual não foi minha supresa, quando estava em Londres filmando Indiana Jones e o Templo da Perdição, de receber uma ligação de Fanny, sua viúva, me convidando para ir a Bruxelas. Passei um fim de semana inesquecível, conhecendo o estúdio de Hergé, tocando os originais de Tintim… eu soube naquele momento que, de um modo ou de outro, um dia eu faria um filme com aquela inspiração…

Dupont e Dupond: no set, Spielberg e Jackson

E como você e Peter Jackson firmaram a parceria que ia tornar isso realidade?

_ Você viu quando eu e Peter nos encontramos pela primeira vez… você e mais um bilhão de pessoas! Foi quando eu entreguei o Oscar a ele por Senhor dos Anéis- O Retorno do Rei. Nossa amizade começou ali… e quando ele me disse que era fã de Tintim, vi logo que ali estava a parceria ideal _ eu tinha ficado impressionadíssimo com o que a WETA tinha feito no Senhor dos Anéis. O que eu não sabia é que, além de talentosíssimo, ele é a pessoa mais interessante que conheci na minha vida, ao mesmo tempo distraidíssimo e super concentrado, inteligente, culto e vivendo num mundo só dele, com um senso de humor super agudo. Em todo o tempo em que trabalhamos juntos, jamais discutimos, jamais divergimos. A maioria de nosso trabalho se dava numa janela de duas horas diárias em nos falávamos pela tela do computador. Eu ficava ansiosíssimo por aquelas duas horas, das três às cinco, horário de LA. Era a hora mais divertida e produtiva do meu dia: duas horas com algumas das mentes mais originais e criativas do mundo discutindo como criar algo novo. Desde ET – que foi minha produção favorita- eu não me divertia tanto.

No próximo capítulo: aventuras em mocap e por que Andy Serkis dá medo.

 

 

 

 

 


Tintim e o Segredo do Licorne: em pleno milênio, a era da inocência
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Ana Maria Bahiana

No cinema Grand Rex, em Paris, transformado numa réplica do galeão Unicórnio (por fora) e um palácio marroquino (por dentro), a apresentadora chamou Milou de Snoopy enquanto VIPs de várias nacionalidades se engalfinhavam pelos melhores lugares e a premiére mundial de Tintim e o Segredo do Licorne, ontem à noite, começava meia hora atrasada.

Mas Steven Spielberg – liderando um time , recém chegado da outra premiere, em Bruxelas, terra natal do herói, que incluía o ator Jamie Bell e a produtora Kathleen Kennedy,  – foi aplaudido entusiasticamente quando subiu ao palco para apresentar o filme e, mais uma vez, quando O Segredo do Licorne terminou. E não foram essas as únicas ovações _ duas sensacionais sequencias de ação (uma envolvendo um avião monomotor e um navio, e outra, uma motocicleta com sidecar, um tanque e uma enchente) foram aplaudidíssimas com o filme ainda na tela.

Spielberg e Milou na estréia em Paris, ontem

Merecidamente: utilizando a motion capture de primeira linha praticada pela Weta do produtor Peter Jackson, Spielberg faz uma justa homenagem à iconografia, ao entusiasmo e ao espírito de aventura da série Tintim. As comparações com Indiana Jones são inevitáveis, e tem algo de verdade: quando Spielberg imaginou Indiana Jones ele estava inspirado em grande parte  por O Homem do Rio, de Philippe de Broca (1964).. que, por sua vez, era um fã apaixonado dos quadrinhos de Hergé. Foi de tanto ouvir as comparações entre os dois – Indy e Tintim- que Spielberg foi à fonte, descobrindo, em primeira mão, o mundo de aventuras internacionais, mensagens cifradas e personagens misteriosos imaginado por Hergé nos anos 1930, 1940 e 1950.

É um mundo perigoso mas inocente _ na tela como nos livros a violência é mais figurativa que explícita, ação e heroísmo são sempre recompensados e vilões, punidos. Em seu filme Spielberg manteve a trama nos anos 1930, simplificando a vida e as ambições de seus personagens; os roteiristas Edgar Wright, Steven Moffat e Joe Cornish  (adaptando três diferentes obras de Hergé) se preocuparam em dar mais dimensão emocional aos personagens que, nas histórias de Hergé, simplesmente impulsionavam a trama.

Desempenhos maravilhosos de todo o elenco – com destaque para a fisicalidade de Jamie Bell como o herói, e Andy Serkis mais uma vez extraordinário como o Capitão Hadoque –  uma apresentação que faz homenagem aos quadrinhos bi-dimensionais (e depois se abre para o 3D, magicamente) e uma aparição carinhosa de Hergé em pessoa completam o charme do filme.

Mas é sobretudo o visual, a transposição 3D do detalhado universo traçado pela ligne claire de Hergé – seu estilo característico, marcado pelo detalhe e pela simplicidade dos traços – que encanta em O Segredo do Licorne. Como numa boa HQ, a narrativa é intensamente plástica, e, curiosamente, intensamente fílmica, com cada plano cuidadosamente pensado, repleto de referências a clássicos da história do cinema (inclusive Tubarão…)

A saga de Tintim, Milou e do Capitão Hadoque em busca da nau perdida do título tem, muitas vezes, conotações de sonho, e as gags  são puramente visuais – a graça está no movimento, no que se vê. É, ao mesmo tempo, um filme pipoca à moda antiga, como nossos pais viam nas matinês do cinema do bairro e, ao mesmo tempo, uma obra milenar da mais alta tecnologia.

As Aventuras de Tintim: O Segredo do Licorne está em cartaz na Europa desde 22 de outubro , estréia nos EUA dia 23 de dezembro e, no Brasil, dia 20 de janeiro.


Rumo à Tintinlândia
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Ana Maria Bahiana

 

Estou em trânsito…. A partir de amanhã e até segunda feira, sigam minha cobertura do lançamento de Tintin e o Segredo do Licorne no UOL Entretenimento. A bientôt!


Na segunda temporada de Walking Dead, o equilíbrio entre horror e solidariedade
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Ana Maria Bahiana

Como se continua uma série de enorme e inesperado sucesso, sem um dos seus idealizadores e com milhões de fãs de olhos bem abertos e grudados na telinha?

Com muito cuidado.

Segundas temporadas são arriscadas por natureza. O impacto da novidade já se desfez, os fãs exigentes já estão criados, as expectativas são altas. O público espera ter, ao mesmo tempo, mais do mesmo que o atraiu em primeiro lugar e alguma coisa nova que possa empolgá-lo.

Julgando pelo primeiro episódio da segunda temporada de The Walking Dead (AMC, estréia domingo passado, dia 16, nos EUA), a série conseguiu este delicado equilíbrio, mesmo sem a presença de uma de suas principais mentes criativas, Frank Darabont.

Reunindo numa estréia de 90 minutos o material do que deveriam ser os dois primeiros episódios da nova temporada, What Lies Ahead (o episódio número um)  coloca o grupo de sobreviventes liderados pelo xerife Rick Grimes (Andrew Lincoln) fora de Atlanta, numa caravana destinada à base militar de Fort Benning, centenas de milhas ao norte. Grimes carrega consigo a informação sussurrada pelo solitário médico do Centers for Disease Control no episódio final da primeira temporada – um elemento importante para a mitologia da série, e que o criador Robert Kirkman garante que vai ser resolvido “no tempo certo, de modo satisfatório” .

O equilibrio entre o horror inspirado pelos zumbis e a solidariedade e empatia provocados pela luta do grupo de sobreviventes é o elemento que mantém WD num nível acima da mera reciclagem do gênero, e a principal via  de comunicação da série com seu público. No episódio de estréia, uma longa e sensacional sequência  numa estrada repleta de carros abandonados estabelece, logo de cara, o nível de suspense que podemos esperar desta segunda temporada.  A complicação dos relacionamentos entre os sobreviventes, com revelações graduais de suas vidas pré-apocalipse e, neste episódio,  situações dramáticas envolvendo duas crianças, é o cimento que vai nos manter grudados na tela, vendo em cada um deles um pouco de nós, diante de momentos, literalmente, de vida e morte.

A qualidade da produção continua impecável – mesmo com a redução dos orçamentos que tanto irritou Darabont – e os zumbis mantém  a mesma perturbadora mistura de humanidade e horror que nos fascinou ano passado. Outras séries querendo competir no segmento terror – e penso aqui, é claro, na muito badalada American Horror Story – deviam aprender com WD como se faz a dosagem de elementos narrativos, ritmo de cena e som para realmente criar um universo onde o medo é catártico e, portanto, liberador.

Espero muito desta segunda temporada.


Corrida do Ouro 2011: Os primeiros favoritos de um ano sem favoritos
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Ana Maria Bahiana

Meados de outubro: dois meses para o anúncio dos indicados aos Globos de Ouro, três para sabermos os indicados ao Oscar. Ano passado, a esta altura, Inception-A Origem já tinha maravilhado plateias e críticos, e A Rede Social já tinha deixado bem claro que entrava na briga para disputar com tudo. Este ano, sento-me a uma mesa de jantar com alguns colegas votantes e o papo é o mesmo: “Mas que ano, hein? O que tem para a gente escolher?”

Tudo pelo Poder

Ter, tem, mas, até agora, nada que arrebate, que apaixone, que leve a discussões, campanhas furtivas, argumentos e contra-argumentos. Meus filmes mais queridos, até agora – Planeta dos Macacos-A Origem e Drive – não tem chance de ganhar nem um boa noite (embora o filme de Nicholas Winding Refn tenha um contigente passional dentro dos votantes dos Globos… mas me parece um contingente pequeno…) Árvore da Vida, que é lindo e exasperante em doses iguais, pode, igualmente, cativar e alienar número igual de votantes. Tudo pelo Poder é uma opção, assim como – para representantes de países onde há beisebol – Moneyball. O Artista deixou muitos colegas intrigados – “com certeza vimos um dos filmes mais originais dos últimos tempos “ – mas isso não significa, necessariamente, favoritismo.

Meia noite em Paris

Entre as comédias, Missão Madrinha de Casamento e Meia Noite em Paris estão na pole, e meu favorito, Amor a Toda Prova, é outra possibilidade bastante real, assim como outro querido meu, Beginners (no caso de ser considerado comédia…).

Enfim, este pode ser o ano em que se premia não o completamente excepcional, mas o melhor dentro de uma safra nada espetacular. Tem anos assim. Pode ser um momento bom para filmes como Harry Potter e as Relíquias da Morte –parte II. O gênero fantástico parece ter mais chances no derradeiro episódio de uma franquia, e o ano bamboleante pode abrir uma brecha, especialmente nos Oscars.

Estou falando, é claro, de filmes que já foram vistos, e de possibilidades pelo ângulo de quem tem que escolher indicados. Listas de favoritos feitas por gente que não tem que votar, incluindo filmes que ninguém viu,  estão dando sopa na internet.

Mia Wasikowska em Jane Eyre

As categorias dramáticas, por outro lado, vão dar congestionamento. Considerando, mais uma vez, apenas o que já foi visto, podem incluir no páreo, entre atrizes/atores principais: Glenn Close (Albert Nobbs), Michelle Williams (My Week With Marilyn), Emma Stone e Viola Davis (Histórias Cruzadas), Carey Mulligan (Drive), Mia Wasikowska (Jane Eyre), Jodie Foster e Kate Winslet (Carnage), Kristen Wiig (Missão Madrinha de Casamento), Julianne Moore (Amor a Toda Prova), Elizabeth Olsen (Martha Marcy May Marlene); Ryan Gosling (Drive e Tudo Pelo Poder), Brad Pitt (Moneyball), George Clooney (The Descendants), Jean Dujardin (O Artista), Ewan McGregor (Beginners), Steve Carell (Amor a Toda Prova), Michael Shannon (Take Shelter), Michael Fassbender (Shame), Paul Giamatti (Win Win), Christoph Waltz e John C.Reilly (Carnage).

Christopher Plummer em Beginners

Coadjuvantes? Fartura, também: Janet McTeer (Albert Nobbs), Octavia Spencer (Histórias Cruzadas), Melissa McCarthy (Missão Madrinha de Casamento), Berenice Bejo (O Artista), Evan Rachel Wood (Tudo pelo Poder), George Clooney (Tudo Pelo Poder), Albert Brooks (Drive), Christopher Plummer (Beginners), Ryan Gosling (Amor a Toda Prova).

E isso, repito, levando em conta apenas os títulos que já foram exibidos “para sua consideração”.

Ainda vem por aí J. Edgar, Hugo, O Espião Que Sabia Demais, War Horse e Os Homens que Não Amavam as Mulheres.

E, é claro supresas de última hora sempre são possíveis. Aliás, este ano serão mais que bem vindas, e podem dar sabor de real competição a uma disputa que cada vez mais está ficando previsível.

 

 


Adeus, José Vasconcelos, que fez o Brasil rir
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Ana Maria Bahiana

José Thomaz da Cunha Vasconcellos Neto, 20 de março de 1926- 11 de outubro de 2011

“Na oficina mecânica, empregado encontra um carrapato no cabelo e pergunta ao português seu patrão:

– Ó seu Manél, isso aqui é um carrapato?

O português que estava deitado debaixo de um automóvel e não podia ver o empregado:

– Só se for um tipo de carro novo, porque eu só conheço carro à álcool, carro a diesel, carro a gasolina.”


Numa safra decepcionante, o poder de um jogo de espelhos mortal
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Ana Maria Bahiana

Depois do fantástico episódio final de Breaking Bad – tão perfeito que poderia muito bem ser o final de toda a série, como já foi dito aqui (não leia se não viu o episódio, todos os SPOILERS estão lá)- duas coisas ficam claras: a vontade de rever toda esta temporada para sacar cada fio narrativo, cada detalhe, cada passo na direção desta resolução final, a completa danação de Mr. White; e a constatação de que a nova safra de séries está mesmo muito, muito pálida.

Tinha altas esperanças para Person of Interest (Warner Brothers/ CBS; estréia no Brasil dia 18/10). Afinal, era criação de Jonathan Nolan (irmão de Chris e seu parceiro nos roteiros de Amnésia, Cavaleiro das Trevas , O Grande Truque), estrelada por dois excelentes atores: Jim Caviezel e, em seu primeiro papel contínuo desde Lost, Michael Emerson.

Além disso, a série tinha um ponto de partida super interessante: a paranóia pós- 11 de setembro, e a cultura de vigilância perpétua e erosão das liberdades individuais que o ataque gerou. Emerson é um nerd transformado em mega-bilionário graças a um software que analisa imagens captadas por câmeras de segurança e cria “perfis” de bandidos e terroristas em potencial. Caviezel é um ex-agente especial da CIA traumatizado por perdas pessoais durante os atentados, que Emerson recruta para um projeto especial, super secreto: usando seu software, identificar não atacantes mas vítimas em potencial e, assim, impedir que crimes aconteçam.

É material suculento, com ecos de coisas tão díspares e deliciosas quanto Janela Indiscreta – a agonia do observador, a atração do observado – quanto Minority Report-A Nova Lei – a luta do saber contra o mal-fazer, a possibilidade de esvaziar o mal pela prática vigorosa, preventiva, do bem. No piloto , dirigido por David Semel (não por acaso responsável pelo melhor episódio de American Horror Story, até agora) estes temas eram expostos com clareza e a dose certa de mistério, com uma elevação da narrativa em geral simplificada das séries de TV aberta. O uso de imagens de câmeras de rua, lojas e sinais de trânsito aumentava o clima de paranóia mas não interferia na apresentação dos personagens, com a dose certa de revelação e mistério.

Os episódios seguintes não foram tão bons. O segundo, especialmente, se parecia com qualquer outro policial do horário das 20h na TV aberta norte-americana, incrementado pela presenças de dois atores de alto nível e por um visual mais ousado, cortesia das imagens granuladas.

Ainda não desisti da série, ainda acho que promete, mas a TV paga acaba de contra-atacar com uma abordagem muito mais brilhante do mesmo tema – o ver e o ser visto – e clima – a paranóia pós 11 de setembro: Homeland, da Showtime.

Numa interessante viagem de mão dupla, Homeland começou como uma série _ Prisoners of War– da TV israelense, criada e realizada por um diretor nativo mas educado e treinado em Los Angeles, Gideon Raff. Re-inventada pelos produtores e roteiristas Alex Gansa e Howard Gordon (24 Horas, Arquivos X), Homeland manteve o núcleo essencial, o motor que impulsiona toda a narrativa para um outro plano: o personagem central, um prisioneiro de guerra (no caso, no Afeganistão) miraculosamente resgatado depois de oito anos de cativeiro. Quem ele é, realmente, depois da medonha experiência? Um veterano heróico? Um soldado aos pedaços, destruído pela tortura? Ou um agente do inimigo, virado do avesso por inimagináveis pressões físicas, emocionais e existenciais?

Sua contrapartida no outro lado da trama é uma analista da CIA determinada a provar seu valor depois de uma missão arriscada mas desastrosa no Iraque. O enigma do prisioneiro é sua bússola, sua obsessão, e ela o segue com todas as armas de seu ofício _ “olhos e ouvidos”, câmeras e microfones que acabam gerando, nas palavras de um colega, um “estranho reality show”.

Desempenhos maravilhosos – Claire Danes como a agente, Mandy Patinkin como seu chefe, Damian Lewis como o ex-prisioneiro, Morena Bacarin como a mulher dele – e roteiros perfeitos criam um universo hermeticamente fechado de vigias e vigiados entrelaçados numa dança mortal onde tudo é espelho e todos tem vidas duplas, identidades secretas e lugares onde nem câmeras nem microfones conseguem chegar (para o ex- prisioneiro, a garagem de sua casa; para a analista, os bares onde ela ouve jazz e corteja parceiros para rápidos romances).

É , sem  dúvida, a melhor série da safra 2011. Olho nela nos prêmios…

 


American Horror Story é…. um horror?
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Ana Maria Bahiana

Como fã do gênero e apreciadora da efervescência de criatividade da TV, agora, fiquei bem animada quando soube que Ryan Murphy e Brian Falchuk, os co-criadores de Glee e Nip/Tuck, estavam desenvolvendo uma série de terror para a FX.

E animada  fiquei até por pra tocar o DVD do piloto de American Horror Story – que estreia hoje, dia 5 de outubro, nos EUA.

Com uns 15 minutos de tela, minha impressão foi a de estar vendo uma espécie de X-tudo audiovisual, onde absolutamente todos os elementos do gênero tinham sido jogados sem atenção a coisa alguma – narrativa, integridade dos personagens, as regras mesmo do gênero – a não ser a vontade de assustar o espectador a cada minuto.

E aqui está o primeiro problema essencial de AHS: para que a gente se assuste é preciso um ritmo, um crescendo com momentos de pausa, de ocultamento, de sutileza. A mente humana se assusta mais com o que antecipa do que com o que vê, coisa que o mestre dos mestres, Hitchcock, sabia dominar completamente.

Em AHS você tem (e tenho certeza de que vou esquecer alguma coisa): (sim, contém SPOILERS!!!)

1. Uma casa hiper mal assombrada onde, aparentemente, aconteceram exclusivamente crimes hediondos.

2.A casa inclui: um porão repleto de: fotos fúnebres, potes de vidro com pedaços de animais e fetos, ferramentas ensanguentadas, uma banheira e um traje de fetiche sado-masô, completo;

3. paredes cobertas por pinturas monstruosas;

4. e pelo menos sete diferentes assombrações assustadoras, que não sossegam momento algum.

5. Seus vizinhos são uma estrela de cinema decadente e sua filha vidente, portadora  de síndrome de Down.

6. Seus novos ocupantes são uma família em crise composta por: pai psicanalista e sonâmbulo, em crise de consciência depois de um caso com uma aluna, e que trata apenas candidatos a serial killer; mãe angustiada depois de perder um bebê; filha adolescente revoltada, que namora, escondido, um dos pacientes sociopatas de papai.

7. Por motivos não explicados (mas que qualquer fã do gênero rapidamente conclui…) a família é visitada constantemente por uma misteriosa arrumadeira/governanta (que a mãe vê como uma senhora madura e o pai,como uma jovem gostosa) e um sujeito deformado por extensas queimaduras e com um tumor incurável no cérebro.

E isso tudo só no piloto!!!

Some-se a isso uma fotografia que desconhece o que seja luz (pensem que O Iluminado, um dos filmes mais apavorantes que conheço, é banhado na mais clara luz, praticamente em todas as cenas) e uma trilha incessante, chupada na veia de Bernard Herrman, e vocês vão compreender minha decepção.

Isoladamente, há bons momentos – o affair entre a dona da casa e alguém no traje-fetiche é genuinamente arrepiante – e o elenco inclui nomes de primeira categoria: Jessica Lange como a vizinha-diva; Frances Conroy, de Six Feet Under, como a misteriosa governanta de meia idade; o sempre brilhante Denis O’Hare (True Blood, Brothers and Sisters) como o visitante deformado; Connie Britton (Friday Night Lights) como a dona da casa; Taissa Farmiga (irmã de Vera) como a adolescente revoltada.

Mas o pirão é tão grosso, tão transbordante que, muitas vezes, dá vontade de rir e não de pular – como se sabe, a fronteira entre o assustador e o cômico é muito tênue.

As coisas melhoram no segundo episódio, dirigido com competência e clareza  por Alfonso Gomez-Rejon, e com um roteiro onde Murphy e Falchuk parecem ter controlado sua ânsia de um-pulo-por-minuto.

Agora é torcer para que a série encontre seu tom certo _ afinal, no gênero, Walking Dead já vem aí…

 

PS: Vi mais três episódios depois do malsinado piloto. A série finalmente progride, e se livrou do desespero de tudo-ao-mesmo-tempo-agora. As interpretações continuam exageradas e a música, frenética, mas agora finalmente as tramas se enraizaram na cidade (Los Angeles e seus horrores próprios) e nos personagens. Conselho: vejam o piloto com uma dose  de paciência, e continuem que lá na frente melhora.