Blog da Ana Maria Bahiana

Arquivo : Telluride

O festival de Telluride anuncia: o fim de ano promete
Comentários Comente

Ana Maria Bahiana

 

Este fim de semana é o feriadão do Dia do Trabalho nos Estados Unidos e Canadá _ e embora oficialmente o verão no hemisfério norte só termine com o equinócio, dia 21 de setembro, este é, para todos os efeitos, o final das férias e da temporada pipoca do meio de ano.

O que quer dizer duas coisas: a ansiosa contabilidade da bilheteria da pipocada (previsão: sujeita a tempestades de ira e ranger de dentes) e a chegada do grande oráculo da temporada-ouro- o Festival de Telluride.

Todo ano eu falo dele aqui (podem procurar nos arquivos) porque todo ano cresce minha admiração por este evento pequeno, altamente curatorial, movido unicamente por uma enorme paixão pelo cinema. Não há mercado, não há grandes festas, lançamentos, tapetes vermelhos, badalações. Completando 40 anos neste fim de semana e inteiramente apoiado pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, tudo o que Telluride oferece é cinema da maior qualidade, numa cidadezinha histórica com arquitetura do Velho Oeste, no alto das Montanhas Rochosas.

E sempre, todos os anos, as escolhas do festival antecipam as escolhas dos prêmios da virada do ano. Antes mesmo dos Globos de Ouro – os primeiros a anunciar seus indicados, em meados de dezembro – a seleção de Telluride aponta claramente quais os títulos de peso na segunda metade do ano. E um índice muito alto deles acaba colecionando indicações e estatuetas lá no final da temporada-ouro…

Por isso, vale a pena sempre ver quem vai subir a montanha neste final de semana.

De imediato, acho muito interessante ver dois filmes que exploram basicamente o mesmo tema – a absoluta solidão de um ser humano diante de forças infinitamente maiores – com destaque em Telluride. All Is Lost, de J.C. Chandor (Margin Call), que foi sucesso em Cannes,  é um projeto com quem tenho uma relação pessoal, e que amei desde que li o roteiro: é O Velho e o Mar, de Hemingway, numa dimensão mais íntima, com Robert Redfotrd como o Velho e o Mar como o infinito com o qual não há negociação, apenas aceitação.

É esse mesmo o tema de Gravidade, de Alfonso Cuarón, que, neste momento, está arrasando em Veneza. Sandra Bullock é a astronauta à deriva no oceano do espaço, num desempenho que, suspeito, vai colocá-la na mesma lista onde já está Cate Blanchett por Blue Jasmine

Olho vivo também em Nebraska, de Alexander Payne (foto), que, aposto, vai fazer de Bruce Dern um indicado entre os atores, e Inside Llewyn Davis, que foi Grand Prix em Cannes.

Um punhado seleto de filmes não-americanos estará em Telluride, aumentando sua exposição na temporada ouro. Destaque principalmente para Blue Is The Warmest Color, o vencedor de Cannes que está sendo agressivamente divulgado aqui e em Nova York, desde já; The Past, de Ashgar Farhadi; o chileno Gloria, de Sebastian Lelio, e o britânico The Invisible Woman, sobre a amante secreta de Charles Dickens, estrelado e dirigido por Ralph Fiennes.

E assim vai terminando um verão de sustos e surpresas, já desenhando um outono bem mais interessante…


Telluride clareia as apostas para os prêmios. E tem gosto de Brasil.
Comentários Comente

Ana Maria Bahiana

 

Glenn Close em Albert Nobbs

Tilda Swinton, Glenn Close, George Clooney e Michael Fassbender acabaram de garantir a pole position para a largada da Corrida do Ouro 2011: seus filmes – We Need to Talk About Kevin, de Lynne Ramsey; Albert Nobbs, de Rodrigo Garcia; The Descendants, de Alexander Payne; A Dangerous Method, de David Cronenberg e Shame, de Steve McQueen- estão na seleção do super exclusivo Festival de Telluride que começa amanhã.

São quatro dias do melhor cinema  do mundo todo, sem prêmios e sem badalações, numa cidadezinha no alto das Montanhas Rochosas. E porque tem uma curadoria rigorosa, um clima relax e sem pressão (ao contrário dos grandes festivais), acesso ao mesmo tempo exclusivo e popular e posicionamento ideal no começo do outono norte-americano, Telluride está se tornando o melhor primeiro indicador do que vem por aí na temporada de prêmios.

Note-se, por exemplo, que Albert Nobbs foi escolhido, mas seu principal rival na “batalha das divas”, The Iron Lady, com Meryl Streep, ficou de fora (segundo a organização do festival, o filme ainda estava em pós produção e os produtores não queriam arriscar uma cópia inacabada, como Paul Thomas Anderson fez com Sangue Negro alguns anos atrás.)

George Clooney em The Descendants

O Clooney diretor de Tudo pelo Poder também não foi considerado pelo festival (e de fato o filme é fraco), mas o Clooney ator está na linha de frente, agora, com The Descendants, o independente-de-luxo que mais tem crescido em zum-zum de bastidor, nestas últimas semanas do verão.

Carey Mulligan e Michael Fassbender em Shame

Gostei de ver We Need To Talk About Kevin e Shame na lista: dois filmes com propostas intrigantes por dois diretores britânicos que vem na contramão do britânico-de-exportação tão comum nas temporadas de prêmios. Kevin põe Tilda de novo nas cercanias dos prêmios, e Shame pode finalmente aumentar a popularidade de Steve Mc Queen, um interessantíssimo diretor inglês (que não se parece nem um pouco com seu homônimo astro dos anos 1960) cujo filme de estreia em 2008, Hunger, ainda está na minha lista como um dos melhores, mais originais e perturbadores títulos da primeira década do século 21. Além do mais, Shame tem três ótimos atores que, imediatamente, entram para as pré-listas: Michael Fassbender (que tem o reforço do filme de Cronenberg), Carey Mulligan (que também tem Drive no seu currículo 2011) e James Badge Hale (que pode ser um dos coadjuvantes do ano).

E agora ao que eu acho mais lindo de Telluride este ano: o Brasil. O Brasil está nas Montanhas Rochosas tanto na presença de Transeunte, de Eryck Rocha, na mostra principal quanto na mostra paralela organizada pelo curador convidado, Caetano Veloso. Não sei o que amei mais: o fato de Caetano ter escolhido Se Meu Apartamento Falasse, do mestre Billy Wilder, ou o documentário Nordeste: Cordel, Repente e Canção, de minha amiga Tânia Quaresma, cujo maravilhoso trabalho documentando a música do Brasil eu ainda espero ver devidamente reconhecido. Do Norte ao Sul.

 


< Anterior | Voltar à página inicial | Próximo>