Blog da Ana Maria Bahiana

Arquivo : Oscar 2014

Quem vai ficar com Oscar? (Quase) todas as possibilidades, aqui.
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Ana Maria Bahiana

Primeiro as más notícias: não vai ter Oráculo este ano. Sinto muitíssimo _ é uma coisa que adoro e que aguardo com prazer todos os anos. Mas este ano não vai ser possível por conta de… esta boa notícia: capa-Almanaque-1964   Meu novo livro, Almanaque 1964, que sai neste mês de março, pela Companhia das Letras, e que vou lançar em pessoa, no Brasil (tem Kubrick! Glauber! My Fair Lady! A Hard Day’s Night! James Bond!).  Os preparativos para a viagem e o lançamento, mais o fato do Oscar ser mais tarde, este ano (culpa das Olimpíadas de Inverno…) não me dão o tempo que preciso para coordenar e apurar o Oráculo, este ano.. Mas como eu sei que vocês vão com certeza fazer suas apostas, e como estou devendo resenhas de um monte de filmes na disputa deste ano, aqui vai um combinado opinião/perspectivas dos principais títulos da safra 2013-2014. slaveabre 12 Anos de Escravidão. Já disse aqui que para mim é o filme do ano. Não é, contudo, uma obra fácil. O acadêmico que reagiu ao filme de Steve McQueen como “violence porn” se equivocou espetacularmente: violence porn são os filmes – tantos, tantos- que usam a violência, a tortura e o sofrimento como espetáculo e entretenimento. McQueen faz o oposto aqui: seu olhar desassombrado sobre os 12 anos em que Solomon Northup, um homem livre, viveu como escravo é apavorante exatamente porque mostra a famosa banalidade do mal, a naturalidade como, em nosso passado como seres humanos, achávamos perfeitamente normal que um de nós pudesse ser dono de outro como se é dono de um objeto qualquer. É um filme poderoso, de enorme beleza – uma contradição estética que só faz acentuar o imenso abismo moral no seu centro- repleto de desempenhos notáveis. Meu único, diminuto problema (diante da enormidade da qualidade do restante) são as aparições de Brad Pitt no final (mas ele é um dos produtores do filme, o que explica talvez porque, entre tantas opções, McQueen ficou com ele mesmo para o papel do marceneiro canadense…). A campanha: Depois de um trabalho focado nas qualidades individuais dos talentos do filme e em seu desempenho em outras premiações, a Fox pegou pesado nos últimos dias da votação (que terminou ontem) com cartazes de rua e anúncios que apelam para a consciência dos votantes. “Está na hora”, é o tema – insinuando que está na hora de uma virada, do reconhecimento de um filme que tem diretor, elenco e tema negros. slave As chances: Apesar de suas nove indicações e da força de sua qualidade, 12 Anos pode ser um filme árduo demais para ser vitorioso como merece. Lupita Nyong’o e Chiwetel Ejiofor (atriz coadjuvante , ator), e John Ridley (roteiro adaptado) tem as melhores chances, e a direção de arte é uma possibilidade.   gravity Gravidade Minha resenha está aqui e não mudei meu ponto de vista. É um belo filme, sobretudo por algo que a Academia adora: a audácia técnica. Numa segunda visão, a forma ultrapassa largamente o conteúdo, mas há bons filmes assim – em que o modo como se conta a história É a história. A campanha: Desde sua estreia em Veneza ( em agosto de 2013) o filme de Alfonso Cuarón  se firmou como o franco favorito da safra 2013. E o que acontece com um franco favorito, especialmente numa temporada-ouro excepcionalmente longa como esta? Lá pelo meio do caminho, na reta final quando os votantes estão fazendo suas últimas escolhas e os indecisos são mais influenciáveis, começam a aparecer, “não se sabe de onde” gritos e sussurros desmontando o filme. O principal argumento contra dessa anti-campanha tem sido a “inexatidão científica” do filme. Vai fazer danos? Pequenos, creio. O filme ainda permanece na pole. As chances: Ainda é o filme que os demais tem que derrotar. Cuarón como melhor diretor é uma certeza. Muito boas probabilidades em filme, fotografia, montagem, efeitos e som. Sandra Bullock? Não creio. Esse é de Cate Blanchett, este ano. ahustle Trapaça: Não sei sobre vocês, mas ainda não entendi o que as pessoas por aqui vêem em David O. Russell. E não é porque ele é uma pessoa desagradável (no mínimo): é porque, como realizador, numa geração que tem, por exemplo, Paul Thomas Anderson, Spike Jonze e Wes Anderson, ele é o diretor mais sem personalidade que conheço. Tendo dito isto, Trapaça é a melhor coisa que ele fez desde Três Reis. O que não quer dizer muita coisa. O roteiro – baseado em fatos reais acontecidos durante uma investigação do FBI nos anos 1970- é bem montado, tem estrutura sólida. Pena que Russell cismou que dessa vez queria ser Scorsese. Cópia já é ruim, com talento reduzido fica pior  – o resultado é essa quase-sátira do olhar scorseseano, com todo mundo representando over e um festival de perucas. É um mistério pra mim como conseguiu chegar tão longe. A campanha: Trapaça fez uma das campanhas mais agressivas, talvez a mais agressiva desta temporada. Mimos, jantares, celebrações, anúncios diários, aparições dos atores em talk shows, festas, desfiles. Só faltou batizado e inauguração de supermercado. Suspeito que o pico do favoritismo tenha sido em janeiro, quando meus colegas do Globo de Ouro caíram no engodo. Agora… não sei. As chances: Se o Oscar fosse mais cedo este ano Trapaça seria um rival sério para Gravidade e 12 Anos de Escravidão como melhor filme, embora esteja numa galáxia muito, muito distante desses dois. Agora vejo oportunidades para Amy Adams (atriz) e, menos, Jennifer Lawrence (atriz coadjuvante). capitao Capitão Phillips: Confesso – fui ver com o pé atrás. Não aguento mais filme sobre heroísmo americano e suas consequentes ações bélicas. Também acho os acontecimentos que o inspiraram – o ataque pirata a um cargueiro norte americano nas costas da Somália, em 2009 – recentes demais para serem digeridos numa narrativa ficcionalizada. Mas Paul Greengrass me ganhou bonito, com um plano que, logo no começo do filme, diz sobre o que Capitão Phillips realmente é: aquela imagem poderosa de um barquinho minúsculo praticamente esmagado, visualmente, pelo gigantesco cargueiro. Nem tanto “piratas” contra “heróis”: mais sobre quem tem demais contra quem não tem nada, e as visões de mundo que essas vidas forjam. Ao fechar o foco no duelo de visões e coragens de Phillips e  Muse, dois capitães com diferentes perspectivas sobre suas respectivas missões, Greengrass criou um drama que, ao contrário de uma patriotada, vale a pena ver. A campanha: O filme tem crescido nesta etapa final, apresentando-se como uma opção para os indecisos. E por isso ganhou a necessária anti-campanha, com matérias “espontâneas” sobre as imprecisões factuais do filme. As chances: A grande surpresa da temporada é Barkhad Abdhi, um desconhecido não-ator (era motorista de limusine até fazer o teste para o papel) nascido na Somália e morador de Los Angeles. É o principal rival de Jared Leto para ator coadjuvante. Montagem e som são possibilidades também, assim como o roteiro adaptado de Billy Ray. her Ela. Que delicia de filme! Que presente inesperado numa época em que a opção estética dominante oscila entre a ironia e a amargura! Spike Jonze poderia ter feito algo irônico ou amargo com a premissa do escritor solitário e tímido que se apaixona por seu sistema operacional falante. Mas não foi assim que o filme me falou. Do otimismo de um futuro próximo humano, numa cidade habitável (torço para que Los Angeles do futuro seja assim mesmo… menos as calças de cintura alta…) à palheta de cores vital e saturada Jonze está me dizendo que toda maneira de amar vale a pena. E que estamos às vésperas de ingressar numa era em que noções restritas de “pessoa”, “afeto”, “desejo” e “dimensão” vão definitivamente para o espaço. Ou para onde Ela mora. A campanha: Ela sempre foi o xodó cult, dos votantes mais jovens e menos impressionáveis pelas campanhas. Permaneceu estável nesse patamar, consistentemente, durante toda a temporada. As chances: É o franco favorito para roteiro original, com justiça. Direção de arte também é uma possibilidade. E também: philo O Lobo de Wall Street. Minha resenha também não mudou nada com o tempo. Pelo contrário. Cresceu em popularidade nas últimas semanas (espero que com a turma que se decepcionou com Trapaça…) e está sendo vítima de uma das mais violentas anti-campanhas da temporada (súbitas críticas de que o filme é “vil” e “enaltece a desonestidade”). Leonardo di Caprio tornou-se um candidato real ao Oscar de melhor ator. Mas será que leva?

Nebraska. Alexander Payne engana. Você acha que está vendo uma coisa que já conhece e que sabe o que vai acontecer e aí… Quando você vê o filme cravou as garras no seu coração e te pegou por lados completamente inesperados. Nebraska é exatamente assim: um bilhete de amor à ríspida paisagem – física e humana- do centro-norte americano, onde Payne nasceu e cresceu. E uma meditação sobre gerações, e como seremos aquilo que nossos pais são. Bruce Dern, num desempenho precioso de um papel muito difícil, é querido por muita gente na Academia. Eu queria muito ver mais um prêmio para Nebraska, mas acho que vai ficar por aí.

 

Clube de Compras Dallas vale pelo tema; a complicada história de sua produção deve encantar os votantes, assim como os desempenhos carismáticos de Matthew McConaughey e Jared Leto, os favoritos para melhor ator e melhor ator coadjuvante.

 

Philomena saiu-se muito melhor do que eu estava esperando – temia que Stephen Frears fosse sair pelo lado “engraçado” do choque cultural entre o jornalista cínico e a senhora de poucos recursos em busca do filho que foi forçada a entregar para adoção. Pelo contrário: a profundidade e delicadeza da trama são tocantes, e Judi Dench conta toda a história com um olhar. Mas não vejo o que possa ganhar.   Bom carnaval pra quem é de carnaval, bom Oscar pra quem é de Oscar. Vejo vocês lá no Teatro Dolby. Segunda a gente conversa…


Como fica a disputa do Oscar depois dos prêmios dos produtores
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Ana Maria Bahiana

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O empate de ontem nos prêmios da Producers Guild – o primeiro na história do prêmio – confirmou uma teoria que lancei aqui faz tempo: a de que todo ano a disputa do Oscar, reta final da Corrida do Ouro, se dá entre dois filmes que polarizam as opiniões dos votantes e significam, muitas vezes, realizações diferentes do mesmo tema.

O tema deste ano sendo “sobrevivência”, 12 Anos de Escravidão e Gravidade  se encaixam perfeitamente. A questão agora é – o que vai acontecer com Trapaça, que vem correndo por fora com grande ânimo?

Temos seis semanas pela frente até o Oscar, e as campanhas, agora, vão partir com tudo para a briga. Frozen já está bem estabelecido como o vitorioso da animação. Entre os atores, Cate Blanchett, Matthew McConaughey e Jared Leto são os donos da bola, mas eu ainda não descartaria Amy Adams, Chiwetel Ejiofor e Michael Fassbender. Entre as atrizes coadjuvantes, a disputa é entre Lupita Nyong’o e Jennifer Lawrence, e, por enquanto, as duas estão empatadas.

Temos ainda,até 2 de março (contando apenas os premios das Guildas, que tem impacto direto sobre os Oscars, por incluirem os mesmos votantes):

  •  Directors Guild, dia 25 (diretores). Ajuda a definir a preferëncia entre diretores e reforça as possibilidades do filme que o vencedor dirigiu. Cuaron e McQueen (Gravidade e Escravidão respectivamente) não são americanos… será que isso vai desempatar para David O. Russell (espero que não).
  •  Annie Awards, dia 1 de fevereiro (animadores). Frozen vai levar mais esse.
  •  Writers Guild, 1 de fevereiro (roteiristas) Nem  John Ridley (Escravidão)  nem os Cuaron pai e filho estão for a dessa graças à antipaticíssima regra que só permite o voto em membros da WGA. A vantagem é de Trapaça, mas a exclusão dos dois outros favoritos pode diminuir o peso da premiação na hora de definir tendências.
  •  VES Awards (efeitos especiais), 12 de fevereiro. Gravidade tem a vantagema aqui – independente de ganhar ou não, Cuarón receberá um troféu especial como “visionário”.
  •  ACE Eddie Awards (montadores), 15 de fevereiro. Os três principais competidores estão na briga, e dois deles podem ser premiados – a ACE tem categorias separadas para drama e comédia.

E lembrem-se: em qualquer um desse prêmios que tenha categoria “TV”, podem cravar Breaking Bad. É a única unanimidade certa deste ano. E com razão.


Indicações ao Oscar 2014: o que eu gostei, o que detestei
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Ana Maria Bahiana

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Não é porque eu vi de relance as palavras “Jackass” e “Jonah Hill” no press kit das indicações ao Oscar 2014 que fiquei brevemente em choque – afinal, Jackass estava indicado na categoria cabelo e maquiagem, onde apenas o trabalho técnico é apreciado (O Cavaleiro Solitário também está lá…) e por menos que eu goste de Jonah Hill, Scorsese extraiu dele um desempenho excelente (que eu mesma destaquei na minha resenha para o Just Seen It).

Não, não foi isso: foi quando eu fiz as contas e vi que Trapaça tinha dez indicações e 12 Anos de Escravidão tinha nove.

Vamos então dizer logo de cara: amigas e amigos, 12 Anos de Escravidão é o filme mais importante da safra 2013. Mesmo com os dez minutos de Brad Pitt e seu sotaque bizarro (ator-produtor tem seus privilégios…) o filme de Steve McQueen já está na história do cinema como a mais profunda, exata e poderosa visão de  um assunto que os americanos preferem empurrar para baixo do tapete.

Ei! Acho que acabei de descobrir o porque da diferença de indicações.

Sim, Gravidade e Trapaça são filmes muito mais confortáveis de serem indicados e premiados.

Não me levem a mal: gosto muitíssimo de Gravidade e acho Trapaça o melhor filme de David O. Russell desde Three Kings. Mas 12 Anos de Escravidão é o filme do ano. Ponto. Parágrafo.

Então vamos ao que gostei nas indicações de hoje de madrugada:

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  •  Chris Hemsworth ao lado da presidente Cheryl Boone Isaacs apresentando os indicados. Colírio de manhã cedo é sempre bom.
  •  Da Academia não ter caído no engodo de O Mordomo da Casa Branca. O filme é ruim, é muito ruim. A histeria da mídia norte-americana praticamente cobrando uma indicação para Oprah me faz imaginar as dimensões da campanha de relações públicas correndo solta por baixo dos panos…
  •  Da inclusão do meu querido Alabama Monroe entre os indicados a melhor filme estrangeiro. Meus colegas não fizeram o mesmo, e agora a injustiça foi corrigida.
  •  De Ela, Nebraska e Philomena estarem entre os indicados a melhor filme, além de outras indicações. Pequenas, gloriosas gemas que merecem todo reconhecimento.
  •  De terem se lembrado de Leonardo DiCaprio por Lobo de Wall Street. Leo merece, e seus colegas da Academia tem o hábito de esquece-lo.
  •  Ver The Wind Rises e Ernest & Celestine entre os longas de animação. As manobras dos estúdios conseguiram tirar os dois da categoria nos Globos. Agora, justiça é feita (vocês já sabem por qual estou torcendo).

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Agora, vamos ao que não gostei de jeito nenhum:

  •  Clube de Compras Dallas não é um dos melhores filmes do ano. Mas de jeito nenhum. Queriam honrar um independente? Que tal Fruitvale Station, que vocês ignoraram por completo?
  • Terem ignorado Rush e Daniel Bruhl. Ao menos por essa eu já esperava – os americanos não entenderam aquilo que faz o filme, e o desempenho de Bruhl, absolutamente espetaculares.
  • Eu entendo que vocês gostam de Bradley Cooper. Vocês caíram nessa ano passado também. Mas ele super-atua. Sempre, e no mesmo, único tom. (A não ser em Place Beyond the Pines, onde o Cianfrance deu um jeito nele… mas esse vocês não viram, certo?)
  • Aliás, todo mundo em Trapaça super-representa. Mas agora vocês todos aí no departamento de atores estão querendo trabalhar com o mito que vocês mesmos inventaram, David O. Russell – é isso?
  •  Como assim Blackfish fora dos indicados a documentário? Não  é apenas excelente, é um dos docs que está causando mais repercussão real. Além disso a diretora, Gabriela Cowperthwaite, é brasileira- seria um modo de se torcer pelo país, certo? Torçamos então por The Square, igualmente ótimo e editado por um brasileiro, Pedro Kos.
  •  Ver Oscar Isaac e Joaquin Phoenix de fora.
  •  Ver Robert Redford e All is Lost de fora. Nem a trilha, minha gente? Aquela trilha do John Williams para A Menina Que Roubava Livros é pura sacarina. Cadê a modernidade, pessoal?
  •  E Thelma Schoonmacher pela montagem de Lobo de Wall Street? Nada? Como assim?

No balanço final tenho que admitir que a média não foi ruim. A Academia está mesmo rejuvenescendo, ficando mais atual e mais internacional. Agora é ver como vai ser essa longa, longa temporada de campanhas e estratégias – os Oscars são dia 2 de março este ano. Até lá, muita coisa pode acontecer….

Tags : Oscar 2014


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