Blog da Ana Maria Bahiana

Indicações ao Oscar 2014: o que eu gostei, o que detestei

Ana Maria Bahiana

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Não é porque eu vi de relance as palavras “Jackass” e “Jonah Hill” no press kit das indicações ao Oscar 2014 que fiquei brevemente em choque – afinal, Jackass estava indicado na categoria cabelo e maquiagem, onde apenas o trabalho técnico é apreciado (O Cavaleiro Solitário também está lá…) e por menos que eu goste de Jonah Hill, Scorsese extraiu dele um desempenho excelente (que eu mesma destaquei na minha resenha para o Just Seen It).

Não, não foi isso: foi quando eu fiz as contas e vi que Trapaça tinha dez indicações e 12 Anos de Escravidão tinha nove.

Vamos então dizer logo de cara: amigas e amigos, 12 Anos de Escravidão é o filme mais importante da safra 2013. Mesmo com os dez minutos de Brad Pitt e seu sotaque bizarro (ator-produtor tem seus privilégios…) o filme de Steve McQueen já está na história do cinema como a mais profunda, exata e poderosa visão de  um assunto que os americanos preferem empurrar para baixo do tapete.

Ei! Acho que acabei de descobrir o porque da diferença de indicações.

Sim, Gravidade e Trapaça são filmes muito mais confortáveis de serem indicados e premiados.

Não me levem a mal: gosto muitíssimo de Gravidade e acho Trapaça o melhor filme de David O. Russell desde Three Kings. Mas 12 Anos de Escravidão é o filme do ano. Ponto. Parágrafo.

Então vamos ao que gostei nas indicações de hoje de madrugada:

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  •  Chris Hemsworth ao lado da presidente Cheryl Boone Isaacs apresentando os indicados. Colírio de manhã cedo é sempre bom.
  •  Da Academia não ter caído no engodo de O Mordomo da Casa Branca. O filme é ruim, é muito ruim. A histeria da mídia norte-americana praticamente cobrando uma indicação para Oprah me faz imaginar as dimensões da campanha de relações públicas correndo solta por baixo dos panos…
  •  Da inclusão do meu querido Alabama Monroe entre os indicados a melhor filme estrangeiro. Meus colegas não fizeram o mesmo, e agora a injustiça foi corrigida.
  •  De Ela, Nebraska e Philomena estarem entre os indicados a melhor filme, além de outras indicações. Pequenas, gloriosas gemas que merecem todo reconhecimento.
  •  De terem se lembrado de Leonardo DiCaprio por Lobo de Wall Street. Leo merece, e seus colegas da Academia tem o hábito de esquece-lo.
  •  Ver The Wind Rises e Ernest & Celestine entre os longas de animação. As manobras dos estúdios conseguiram tirar os dois da categoria nos Globos. Agora, justiça é feita (vocês já sabem por qual estou torcendo).

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Agora, vamos ao que não gostei de jeito nenhum:

  •  Clube de Compras Dallas não é um dos melhores filmes do ano. Mas de jeito nenhum. Queriam honrar um independente? Que tal Fruitvale Station, que vocês ignoraram por completo?
  • Terem ignorado Rush e Daniel Bruhl. Ao menos por essa eu já esperava – os americanos não entenderam aquilo que faz o filme, e o desempenho de Bruhl, absolutamente espetaculares.
  • Eu entendo que vocês gostam de Bradley Cooper. Vocês caíram nessa ano passado também. Mas ele super-atua. Sempre, e no mesmo, único tom. (A não ser em Place Beyond the Pines, onde o Cianfrance deu um jeito nele… mas esse vocês não viram, certo?)
  • Aliás, todo mundo em Trapaça super-representa. Mas agora vocês todos aí no departamento de atores estão querendo trabalhar com o mito que vocês mesmos inventaram, David O. Russell – é isso?
  •  Como assim Blackfish fora dos indicados a documentário? Não  é apenas excelente, é um dos docs que está causando mais repercussão real. Além disso a diretora, Gabriela Cowperthwaite, é brasileira- seria um modo de se torcer pelo país, certo? Torçamos então por The Square, igualmente ótimo e editado por um brasileiro, Pedro Kos.
  •  Ver Oscar Isaac e Joaquin Phoenix de fora.
  •  Ver Robert Redford e All is Lost de fora. Nem a trilha, minha gente? Aquela trilha do John Williams para A Menina Que Roubava Livros é pura sacarina. Cadê a modernidade, pessoal?
  •  E Thelma Schoonmacher pela montagem de Lobo de Wall Street? Nada? Como assim?

No balanço final tenho que admitir que a média não foi ruim. A Academia está mesmo rejuvenescendo, ficando mais atual e mais internacional. Agora é ver como vai ser essa longa, longa temporada de campanhas e estratégias – os Oscars são dia 2 de março este ano. Até lá, muita coisa pode acontecer….

Tags : Oscar 2014