Blog da Ana Maria Bahiana

Arquivo : Cannes

Este é, possivelmente, o filme mais interessante de Cannes 2013
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Ana Maria Bahiana

The Congress,de Ari Folman, explica o que o realizador de Valsa Com Bashir esteve fazendo nos últimos quatro anos e meio: é mais uma engenhosa, perturbadora, maravilhosa colagem/colisão de animação e ao vivo, atacando com unhas, dentes e coração mais um tema que só vale a pena ser visto por todos os lados. No caso, o poder de criar mitos e o que fazemos com ele. Elenco de sonho: Robin Wright, Jon Hamm, Harvey Keitel, Paul Giamatti. Está estreando mundialmente na Quinzena dos Realizadores em Cannes. E já é, oficialmente, o filme da Croisette que mais quero ver.

 


Cannes 2013: a minha lista
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Ana Maria Bahiana

Embora Cannes tenha se tornado uma proposta financeiramente inviável para mim, todo ano sigo com maior interesse o que se passa na Croisette e arredores. Durante mais de 10 anos deixei sangue, suor e lágrimas entre o Palais e o Hotel du Cap, e tive algumas das mais maravilhosas experiências cinematográficas  da minha vida (combinadas com alguns dos momentos mais surreais, fora das salas de exibição…)

Mas estou sempre de olho em Cannes, por vários motivos. Um deles é porque dali saem sempre títulos que vão longe, marcando, influenciando e, ocasionalmente, acumulando prêmios pelo mundo afora. Os prêmios podem ser a parte mais visível (alô, O Artista!) mas o mais importante é como esses filmes dialogam com plateias e realizadores pelo mundo afora, a partir do impulso em Cannes.

Estes são os que estou acompanhando este ano:

Only God Forgives (em competição, Nicolas Widing Refn) Estou exagerando quando digo que Refn e o britânico Steve McQueen são dois dos realizadores mais interessantes neste momento? Vejo em ambos uma nova abordagem da violência que foge da noção de entretenimento e espetáculo e vai fundo nas causas e consequencias de atos que infelizmente nos acostumamos a ver como banais. Ryan Gosling como um traficante no submundo de Bangkok me interessa, também.

The Bling Ring (Un Certain Regard, Sofia Coppola) O caso foi manchete aqui em LA entre outubro de 2008 e agosto de 2009 _ casas de celebridades estavam sendo invadidas e roubadas. Quando finalmente os responsáveis foram apreendidos – depois de roubar 50 mansões e mais de três milhões de dólares – veio a surpresa maior: eram todos adolescentes ricos e mimados de um condomínio fechado numa região caríssima da cidade.  Há uma oprtunidade enorme, aqui, para Sofia Coppola exercitar sua sensibilidade em comentário social e seu mordaz senso de humor.

 

Soshite Chichi Ni Naru (em competição, Hirokaru Kore-eda) Sou fã de Kore-eda desde Além da Vida, um filme que me comoveu profundamente. Sua preocupação com a natureza humana e os laços de família estão todos aqui, na história de um homem de negócios ambicioso que descobre que o filho que criou não era, de fato, seu filho.

 

Inside Llewyn Davis (em competição, Joel e Ethan Coen) Mergulhar fundo e recriar micro-universos e subculturas – vagabundos profissionais em LA, família judaicas dos subúbrios, moradores de pequenas cidades do meio oeste- é algo que os irmãos Coen fazem como poucos. Neste caso, o microcosmo é a cena folk de Nova York nos anos 1960 e o elenco tem Carey Mulligan, Justin Timberlake e John Goodman. Já me interessei.

Le Passé (em competição, Asgar Farhadi) Para todo mundo (eu, inclusive) que queria saber o que Farhadi faria depois da perfeição de A Separação, esta é a resposta: um drama romântico em Paris, em Berenice Bejo (de O Artista) e  Tahar Rahim (Un Prophète). Pra mim já basta…

Behind the Candelabra (em competição, Steve Soderbergh) O fato deste ser, na verdade, um filme feito para TV já diz muita coisa sobre o nível da produção de TV, especialmente da TV por assinatura. Este também é o último filme de Sodebergh, pelo menos por algum tempo (se formos acreditar nas promessas dele de se aposentar da “narrativa formal”). Como se sabe, é a história do estranho amor entre Liberace (Michael Douglas), pianista e astro de Las Vegas, e seu motorista muito mais jovem, Scott (Matt Damon). Precisa dizer mais?

Nebraska (em competição, Alexander Payne) Como seus companheiros de geração, Alexander Payne tem a precisão do olhar necessária para compreender e compartilhar o universo individual de cada personagem e a sociedade à sua volta. Aqui, ele centra sua história num tema recorrente nesta safra de Cannes, a relação entre pais e filhos,mais especificamente um pai alcóolatra e o filho que ele perdeu de vista. E o elenco de Bob Odenkirk, o “Saul” de Breaking Bad!!!

 

All is Lost (fora de competição, J. C. Chandor) Li este roteiro muito cedo no processo de criação deste filme e quase me envolvi com ele. Fiquei absolutamente intrigada: a história tem apenas um personagem, um homem do lado de lá da meia idade, sobrevudendo a um naufrágio em alto mar, e não tem diálogo. Não, não é nem As Aventuras de Pi nem Náufrago, mas é uma pequena gema de estrutura e composição. Quero muito saber o que aconteceu com ele, agora que Robert Redford é o homem e Chandor (Margin Call) é o diretor…


Cannes 2013: entre “Gatsby” e “Zulu”
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Ana Maria Bahiana

A lista final de Cannes será anunciada apenas dia 18, mas duas coisas já sabemos: O Grande Gatsby, de Baz Luhrmann, vai abrir o festival, e Zulu, de Jerome Salle, vai encerrar.

 Gatsby, é claro, é muito esperada (e adiada) adaptação do livro de F. Scott Fitzgerald, com Leonado di Caprio no papel título, Carey Mullingan como Daisy e Tobey Maguire como Nick Carraway, o jovem escritor que se deixa fascinar pelo mundo glamouroso do milionário nos loucos anos 1920.

Luhrmann, que teve que ir à luta para levantar os recursos necessários para terminar o filme como ele queria (o que atrasou o lançamento para maio deste ano), diz que, além da trilha contemporânea para um drama de época (como ele faz sempre), ele se permitiu  a liberdade de “criar uma novidade” na famosíssima trama: “Não vou usar Nick apenas como o narrador da história, uma voz sem corpo. O processo de criação do livro está no filme… mas é só isso que vou dizer agora…”

Hummm…

Zulu, o filme de encerramento, tem Forrest Whitaker e  Orlando Bloom como policiais na Cidade do Cabo, África do Sul, investigando a morte de duas mulheres no que o diretor define como “um policial noir com ecos da época do apartheid”.

Steven Spielberg, como se sabe, é o presidente do júri e o festival este ano vai de 15 a 26 de maio.


Cannes 2012: quem será O Artista deste ano?
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Ana Maria Bahiana

Começa hoje o festival (e mercado) de Cannes. E este ano ele vem acompanhado de uma tremenda expectativa: quantos títulos o festival vai catapultar para os prêmios de fim de ano?

Nem sempre foi assim. Muito pelo contrário. Cansei de ver sensacionais filmes premiados (e até vencedores, como o genial Underground, de Emir Kusturica, em 1995) demorar uma eternidade para conseguir –  ou não conseguir de jeito nenhum –  distribuição em mercados além dos seus países de origem, especialmente o cobiçado mercadão norte americano.

Muita coisa mudou desde então:

  •  Os mercados internacionais, fora de EUA/Canadá, tornaram-se muito mais importantes tanto como fonte de receita quanto como geradores de produção com possibilidades além de suas fronteiras.
  •  A recessão levou os grandes estúdios a abandonar a produção do que não fosse estritamente comercial, com retorno o mais garantido possível dentro da indústria louca do cinema, criando uma lacuna importante.
  •  Os prêmios de fim de ano assumiram uma importância além da vaidade dos concorrentes e interesse dos fãs: são cada vez mais as principais ferramentas de marketing para qualquer filme que não seja um arrasa-quarteirão apoiado por um milionária campanha de divulgação.

Ano passado, o poder combinado da Croisette e dos irmãos Weinstein  conseguiu um fato inédito: tornou um filme francês, mudo, preto e branco e com atores desconhecidos o grande vencedor do Oscar e um sucesso de bilheteria pelo mundo afora. Além de O Artista, outros filmes premiados/destacados em Cannes foram para os prêmios de fim de ano e conseguiram uma visibilidade muito maior do que poderiam esperar: Meia Noite em Paris (a maior bilheteria da carreira de Woody Allen), Árvore da Vida, Drive.

O que pode acontecer este ano? Algumas apostas:

The Paperboy: o novo filme do diretor de Preciosa tem Mathew McConaughey e Zac Ephron como dois irmãos que tentam provar que John Cusack é inocente de um crime pelo qual foi condenado. Nicole Kidman é a apetitosa namorada do bandido.

Mud: Matthew McConaughey de novo (este pode ser seu ano, afinal…) neste drama com elementos fantásticos assinado por Jeff Nichols, diretor de uma sensação de Sundance, o ótimo Take Shelter.

 On the road: Tudo no projeto – a expectativa, o material de origem, a assinatura de Walter Salles, o elenco – promete. A IFC/Sundance Selects  pegou o filme para os cinemas nos EUA (HBO na TV) _ ano passado eles emplacaram Pina

Rust and Bone: Jacques Audiard em seu primeiro filme desde Un Prophete : um drama inspirado em fatos reais, sobre uma treinadora de baleias (Marion Cotilliard) envolvida num acidente medonho.

 

Beasts of the Southern Wild: a grande sensação de Sundance deste ano foi esta fábula mágica e quase abstrata sobre uma família numa comunidade isolada numa ilha da costa sudeste dos Estados Unidos. Ecos de Terrence Malick e muita promessa para o diretor estreante Behn Zeitlin

Killing them Softly: Brad Pitt volta a trabalhar com o diretor de O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford, Andrew Dominick, num policial sobre um caçador de recompensas com a máfia em seu encalço. Elenco da pesada: Ray Liotta, James Gandolfini, Richard Jenkins. Os Weinstein já puseram a mão e… já ouvi tanto zum zum sobre este filme que, espero, as expectativas não estejam altas demais…

 

Lawless: Outro que já está na mão dos Weinstein _ John Hillcoat (A Estrada) dirige Tom Hardy, Shia LeBeouf , Guy Pearce, Gary Oldman e Jessica Chastain num drama da época da Lei Seca nos EUA. Mais um que já tem zum-zum por aqui…

 Post Tenebras Lux : O novo cinema mexicano a todo vapor na mais recente obra de Carlos Reygadas (Luz Silenciosa, Batalla en el Cielo), um drama fantástico sobre universos paralelos.

 Cosmopolis: David Cronenberg adapta o livro de Don DeLillo sobre um  dia na vida de um jovem executivo (Robert Pattinson) enquanto ele atravessa Manhattan. Paul Giamatti e Juliette Binoche no elenco.

 

Antiviral: Brandon Cronenberg (sim, filho de David) estreia na direção voltando às raízes da familia com um thriller de terror sobre um  super vírus assassino.

Amour : Michael Haneke explora o que acontece numa familia sob o peso da idade avançada e da doença. Com Jean Louis Trintignant e Isabelle Hupert.

 

Agora é ver como esses (e outros..o melhor de Cannes são as supresas) títulos vão se comportar na Croisette e além dela…


Cannes 2011: os filmes que eu quero ver (e o filme que eu já vi)
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Ana Maria Bahiana

Fiquei animada com a lista de Cannes, este ano: mínima ocorrência de “mais do mesmo”,  bom índice de novos nomes, principalmente mulheres, e uma mistura de pop e cabeça altamente interessante.

Não sei se conseguirei ir à Croisette este ano, infelizmente. Mas se eu fosse, estes seriam os filmes que eu não perderia de jeito nenhum:

 

  • The Tree of Life, Terrence Malick. Pelo mistério e a sempre bem-vinda ambição do seu olhar.  Curiosa com o modo como ele usou Brad Pitt, Sean Penn e… dinossauros?
  • Drive, Nicolas Winding Refn. Refn é um dos diretores que mais me fascinam, hoje – um verdadeiro aventureiro visual, com completo controle de sua linguagem. Muito curiosa para ver como ele se saiu numa produção norte americana (independente, é certo) sobre um motorista-dublê (Ryan Gosling) que faz biscates para assaltantes.
  • Le Havre, Aki Kaurismaki. Desde o lirismo absurdista de The Man Without a Past, em 2002, estou me devendo uma nova dose do humor psicodélico de Kaurismaki.
  • La Piel que Habito, Pedro Almodovar. Porque é Almodovar, e não perco nenhum dele. Como sexo e pizza, mesmo quando é ruim é bom. Interessada em saber se Antonio Banderas encontrou, afinal, a redenção que merece.
  • We Need to Talk About Kevin, Lynne Ramsay . A estreia da escocesa Ramsay em Cannes, em 1999, com Ratcatcher, foi arrebatadora. A Croisette tinha os peso-pesados de sempre, os Dardenne (que ganhariam a Palma),Atom Egoyan, Takeshi Kitano. David Lynch estava lá com Straight Story. Mesmo assim só se falava em Lynne. Kevin é uma produção britânica com um elenco interessantissimo – John C. Reilly e  Tilda Swinton- baseado num livro maravilhoso sobre uma familia que começa a intuir que o filho está em vias de se tornar um assassino.
  • This Must Be The Place, Paolo Sorrentino. Sean Penn de batom e  delineador, tocando guitarra? Me inclua nessa… Melhor ainda: saber o que Sorrentino, diretor do excelente Il Divo, fez com Penn – no papel de um astro de rock aposentado – e a sempre divina Frances Mc Dormand.
  • Sleeping Beauty, Julia Leigh. Só me lembro de um filme com credenciais parecidas – estreia de jovem diretor australiano em obra com elementos de sonho e sensualidade – causando semelhante burburinho : Almas Gêmeas, de Peter Jackson. E seria maravilhoso ver Emily Browning (Sucker Punch) atacando um roteiro substancial.
  • Restless, Gus Van Sant. Van Sant tem duas vertentes, os filmes que faz para os outros e os filmes que faz para si mesmo. Este me parece do segundo tipo, com um estranho eco de Ensina-me a Viver na  história da adolescente (Mia Wasikowska) qeu se apaixona pelo menino que passa o tempo indo a enterros (Henry Hopper).
  • Trabalhar Cansa, Juliana Rojas, Marcos Dutra. Porque são poucos os filmes brasileiros que chegam do outro lado do mundo, e porque as carreiras deles me parecem muito interessantes.

Um filme da lista eu já vi e não sei o que fazer com ele: The Beaver, de Jodie Foster, pronto desde o ano passado mas engavetado por conta das estrepolias de seu astro , Mel Gibson. Há coisas muito interessantes no filme, entre elas o desempenho devastador de Gibson na pele de um homem em completa queda livre emocional, claramente alimentado pelo que estava se passando em sua vida. Mas o filme é tão tortuoso, tão em busca de um tom, tão incerto de que  filme ele é – as vezes comédia, às vezes drama, as vezes thriller, as vezes algo tão bizarro que não tem nem nome – que é dificil recomendá-lo sem reservas. Estou muito, muito curiosa para saber como será a repercussão na Croisette…

 


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