Blog da Ana Maria Bahiana

O bom, o mau e o feio da indicações do Globo de Ouro
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Ana Maria Bahiana

 

Olivia Wilde anuncia os indicados ao Globo de Ouro 2014, hoje de manhã.

Olivia Wilde anuncia os indicados ao Globo de Ouro 2014, hoje de manhã.

Indicações Globos 2013: até que não demos vexame. Sempre espero uma escorregada tipo O Turista (ou coisa pior) porque meus colegas tem esses momentos de delírio quando vêem muita gente famosa junto. Mas este ano as escolhas tem uma coerencia que me agradou.

Vamos por etapas. Primeiro, o que mais me agradou:

  •  Ninguém caiu nas armadilhas de O Mordomo da Casa Branca ou A Vida Secreta de Walter Mitty, filmes bem intencionados mas que, de longe não estão entre os melhores desta safra.
  •  O reconhecimento de Rush e Daniel Bruhl. Ambos estavam nos meus votos, e gostei de ver os colegas compreendendo um filme que os americanos, suspeito, vão esnobar.
  •  As escolhas em filme estrangeiro. Quase todos os meus votos entraram, exceto um- o belga Alabama Monroe  (The Broken Circle Breakdown) que era minha quinta escolha. As opções este ano eram muitas e excelentes, uma safra muito forte de onde eu tiraria sem esforço 10 indicados – e onde senti muita falta do Brasil.
  •  A consistencia no reconhecimento dos dois filmes que definem a disputa este ano: Gravidade e 12 Years A Slave.
  •  Na TV, o reconhecimento a Liev Schreiber e Ray Donovan, uma série que os locais aparentemente detestaram, mas que é uma das minhas favoritas; e as indicações gerais a Breaking Bad (que, salvo algum susto, deve levar todas…)

Agora, o que surpreendeu/irritou/entristeceu:

  •  Como assim nenhuma menção a Fruitvale Station? Nem mesmo ao excelente trabalho de Michael B. Jordan no papel principal?
  •  All Is Lost é um tremendo feito de direção e roteiro (e fotografia, e montagem….). Mas só se lembraram do Robert Redford…
  •  American Hustle é Scorsese diet. É David O. Russell querendo ser Scorsese. Gostei dele, adorei sobretudo os atores, mas temos também o produto genuíno na parada – O Lobo de Wall Street. Como indicar Russell na categoria direção e esquecer Marty?
  •  E já que estamos na mesma categoria: cadê Spike Jonze? Se ele ficasse no lugar do Paul Greengrass eu ia ficar muito mais feliz…
  •  Great Gerwig? Seriously? Eu sei que Frances Ha tem fãs. Eu não estou entre eles: prefiro minha nouvelle vague no original. A moça foi muito simpática na entrevista conosco. Acho que ganhou a indicação ali.
  •  Admito que as opções na categoria animação não eram das melhores este ano, já que tiveram a insana ideia de retirar todos os longas de animação não-americanos e por em “filme estrangeiro”. Mas The Croods e Meu Malvado Favorito 2? Não.
  •  Aliás, quando recebi meu listão fiquei intrigadissima com as classificações de muitas filmes. Em qual planeta Álbum de Família é uma comédia, por exemplo?
  •  A divisão de TV, pra mim, foi quase um desastre. AINDA indicando Modern Family e The Good Wife? Só pode ser cacoete. Brooklyn Nine-Nine? Jura? Num ano em que tínhamos Enlightened e o desempenho divino de Laura Dern, completamente esquecidos, aliás? E Orange is The New Black, fenomenal, ousada, superbem escrita, com um elenco maravilhoso de mulheres, coisa tão rara neste indústria? Nem vou falar da gema perdida que tínhamos a chance de catapultar para o alto, Getting On, adaptação americana de uma cáustica, linda, série inglesa, feita pelo mesmos produtores de Enlightened. Será que comédia muito inteligente tá dando surto nos meus colegas?  E vamos continuar: nada de The Bridge ou The Americans? Ou Walking Dead, excelente nesta temporada? Ou Game of Thrones, que é tudo o que aquela pobreza de White Queen queria ser? Ah… vou parar por aqui pra pressão não subir…

Enfim… torcendo por bons e justos resultados dia 12 de janeiro. Estarei lá no salão captando tudo pra vocês…


Hollywood sem Paul Walker: chocada, triste
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Ana Maria Bahiana

fast

Tão cedo esta cidade não vai parar de falar sobre a morte estúpida de Paul Walker. Ontem à noite numa pré-pré estreia de O Lobo de Wall Sreet, na Paramount, o assunto não era nem Scorsese nem DiCaprio, apenas Paul Walker, Paul Walker, Paul Walker.

Há muitos motivos para isso: o inesperado da tragédia, ceifando uma vida de 40 anos e cortando uma carreira em ascensão; o cruel paralelo com os filmes que fizeram a fama de Walker, a franquia Velozes e Furiosos; a violência do acidente, acrescentando mais uma camada de lenda e luto a uma linhagem de tragédias sobre rodas que incluem James Dean, Jayne Mansfield e, mais recentemente, Ryan Dunn, da franquia Jackass.

Além de tudo isso, Walker era uma pessoa legitimamente querida no meio (não confundir com pessoas que todo mundo tem obrigação de gostar para manter uma carreira…) Como me lembrou um amigo produtor que trabalhara com ele nos dois primeiros Velozes e Furiosos, Walker era  pontual, super profissional , gentil com todos no set, e sempre disposto a ajudar os colegas. “Além de tudo, era um ser humano legal.”, me disse o produtor. “E um grande pai, o que poucas pessoas sabem.”

Walker tinha uma filha de 15 anos , Meadow Rain, com uma ex-namorada e os dois se viam muito, sempre. Meadow estava, inclusive, no evento beneficente organizado por Walker e seu amigo, sócio e companheiro de infortúnio, Roger Rodas, na oficina de carros ultra potentes Always Evolving.

A Polícia de Valencia, no vale de Santa Clarita, ao norte de Los Angeles, ainda está investigando as causas do acidente – e a identificação  dos corpos de Walker e Rodas, através da arcada dentária. Uma trilha de fluido deixada pelo Porsche Carrera GT 2005 nos meros dois quilômetros rodados da oficina até o local do desastre está levantando suspeitas de falha generalizada dos controles do veículo.

Um informante anônimo teria indicado à policia que Walker e Rodas estavam apostando corrida – um hobby ilegal e comum na região de Valencia, e mais uma nota de coincidência trágica com a carreira do ator. (Esta hipótese está sendo descartada pelos investigadores que agora estão focando na velocidade e nos possíveis problemas estruturais e mecânicos do Porsche).

 

Walker numa cena de Hours.

Walker numa cena de Hours.

Resta saber também o que será da franquia Velozes e Furiosos, uma das propriedades intelectuais mais valiosas da Universal, especialmente pelo enorme apelo que tem nos mercados internacionais. O sétimo filme da série estava sendo rodado quando Walker morreu – as filmagens estavam suspensas para o feriado do Dia de Ação de Graças e seriam retomadas em breve, em locação em Dubai.

Walker deixou dois filmes completos: Hours, sobre Nova Orleãs durante e depois do furacão Katrina, que será lançado aqui nos Estados Unidos, como previsto, semana que vem; e o policial Brick Mansions, produzido por Luc Besson e dirigido pela estreante Camille Delamarre, que tem estreia prevista para novembro de 2014.


Adeus, Paul Walker, cedo demais
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Ana Maria Bahiana

paul_walker

Paul William Walker IV, 12 de setembro de 1973 – 30 de novembro de 2013

''Tudo na vida é equilibrio, certo? Não quero nunca me esquecer disso. Que tudo é importante: o trabalho, certo, mas também a familia, os relacionamentos, coisas nas quais a gente acredita. Quero aprender a por minha energia igualmente em tudo.''

Tags : Paul Walker


Temporada ouro: primeiros sinais
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Ana Maria Bahiana

globes ballot

Esta semana, por mais incrível que pareça, é quando começam a se definir as disputas da corrida dos premios. Explico: esta semana, feriadão do Dia de Ação de Graças, meus colegas da Hollywood Foreign Press Association estarão com tempo para ver as verdadeiras montanhas de DVDs que chegaram com os filmes e séries de TV elegíveis para os Globos de Ouro – mais um catálogo de 220 páginas com os dados de todos eles e as respectivas categorias em que cada um (e  seu elenco e equipe) concorre.

Como sempre digo – não é que os Globos antecipem os Oscars ou outros prêmios. O pool de votantes é completamente diferente, levando a escolhas muito diferentes. O que os Globos fazem, especialmente nas indicações, é estabelecer quem está e quem não está no páreo. Olhem para os anos anteriores e vejam se não tenho razão.

Temos até dia 10 de dezembro para entregar os votos – os indicados serão anunciados dia 12 – e esta pausa vem logo a calhar. Por isso os divulgadores, estrategistas e adjacencias passam esta semana enchendo nossas caixas com emails e nossas salas com posters, cartões, caixas de bonbons e, este ano, até um poster com nossos nomes (para um filme muito ruim, infelizmente…)

Last Vegas poster

A esta altura da disputa, apenas quatro filmes não foram exibidos para os votantes: Lone Survivor,  Trapaça (American Hustle), O Lobo de Wall Street  e O Hobbit – A Desolação de Smaug. Todos estão no nosso calendário das próximas duas semanas, com screeners vindo no rebote. É uma tática radical e um pouco suicida – os estrategistas acreditam que filme que é visto por último tem mais chances de ser lembrado e indicado.

Tem também, na verdade, mais chances de não ser visto. Espero que os estrategistas saibam disso.

Até porque tivemos um bom segundo semestre e já posso contar em ver alguns títulos entre as escolhas finais: Blue Jasmine (que entrou como drama) e Cate Blachett; Gravidade; Antes da Meia  Noite; All is Lost (especialmente para Robert Redford); 12 Years a Slave (pra mim, o melhor filme do ano até agora, e o único que eu vi meus colegas verem e reverem em exibições diferentes).

Não subestimem de jeito nenhum: Saving Mr. Banks;  Mandela:The Road to Freedom; O Mordomo da Casa Branca (e Oprah e Forest Whitaker); A Vida Secreta de Walter Mitty (que está entre as comédias), Philomena . São todos amplos, cheios de apelo sentimental e (o que, eu sei, é um fator decisivo para meus colegas) estrelas.

Álbum de Familia (August:Osage County) está entre as comédias e embora não tenha muitos fãs entre meus colegas, possui estrelas o bastante para ter chances  (Meryl Streep, lead; todo o resto, inclusive Julia Roberts, coadjuvante). Nebraska e Inside Llewyn Davis (ambos entre as comedia), não tenho tanta certeza. Enough Said e Frances Ha, por incrível que possa parecer, tem mais chances, especialmente para James Gandolfini, Julia Louis-Dreyfuss e Greta Gerwig. Her (também entre as comédias) é, por enquanto, um grande ponto de interrogação.

Deixei o filme estrangeiro para o final. Não, nenhum filme brasileiro está concorrendo. Flores Raras, de Bruno Barreto, está concorrendo como drama na categoria principal, onde tem que brigar com esse povo todo aí em cima.

Não me perguntem porque o pessoal no Brasil não inscreve seus filmes. O resto do mundo parece estar completamente  ligado – só na América Latina temos filmes do México, Peru, Argentina, Chile. Nem vou falar de Europa e Asia porque nem tem nem graça – tem até um filme da Moldavia, pais simpático que tive que procurar no mapa, e onde, segundo a brochura que veio junto com o filme, produz-se bons vinhos.

O Azul é a Cor Mais Quente, A Caça e O Passado são os favoritos, mas muita coisa ainda pode acontecer. Eu queria muito que o Brasil estivesse nessa briga. Quem sabe, ano que vem…

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Seis ou sete coisas que aprendi semana passada
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Ana Maria Bahiana

scrapbook

Durante 10 dias, terminando neste final de semana, tive o  prazer e o privilégio de guiar um grupo de cerca de 20 produtores, diretores, executivos e autoridades de cinema, TV e publicidade do Brasil por alguns dos lugares onde se forjam e se definem os caminhos da industria do audiovisual, aqui: estúdios, produtoras independentes de todos os tipos, organizações de classe, agências e – cereja no sundae – a Lucasfilm.

Foi uma iniciativa do Sebrae em parceria com a Apro e o Film Brasil, com curadoria minha e produção da Boathouse Row Productions. Muito do que vimos, ouvimos e discutimos infelizmente não pode ser compartilhado – são informações confidenciais que ainda não estão prontas para chegar a público. Só o que vimos na Lucasfilm – o desenvolvimento da tecnologia que vai ser empregada no novo ciclo Star Wars – já dava para deslocar a mandíbula várias vezes. Mas se eu contar acho que vou receber a visita imediata de um batalhão de Storm Troopers…

Parte dos integrantes do Sebrae Media Experience (e eu) aos pés de Yoda, na Lucasfilm, San Francisco

Parte dos integrantes do Sebrae Media Experience (e eu) aos pés de Yoda, na Lucasfilm, San Francisco

Mas estes foram alguns dos temas recorrentes das visitas:

  1. O modelo do blockbuster não vai durar muito mais. Nem mesmo a força dos mercados internacionais – entre eles o Brasil – é capaz de sustentar, a longo prazo, o esquema de  produzir e lançar apenas um punhado de títulos caríssimos que precisam fazer o PIB de um pequeno país para dar lucro.
  2. O filme de pequeno orçamento está fazendo uma volta triunfal. “O sonho, a meta de todo grande estudio agora é acertar com um título que tenha custado muito pouco mas ache rapidamente sua plateia”, me disse um terno Armani muitissimo bem informado.
  3. O que se chamava “cinema independente” agora se chama “TV”. Os projetos que ficam entre o pequeno orçamento e o blockbuster estão rapidamente se transformando em séries, mini-séries e filmes de TV. A era de ouro da TV norte americana, hoje, é resultado direto do extermínio do filme de médio orçamento e do êxodo de talento – roteiristas, diretores, atrizes, atores – que veio com ele.
  4. O que se chamava “TV” agora se chama… o que você quiser. Netflix. Hulu. Amazon. You Tube. Em muito pouco tempo não serão mais o rabo que abana o cachorro… serão o totó inteiro.
  5. O segredo do sucesso está em quatro palavras. Criatividade. Paixão. Colaboração. Sorte. Perdi a conta de quantas vezes isso foi dito, de diversas maneiras. ''Fórmulas e repetições funcionam até certo ponto'', me disse outro terno Armani dos mais poderosos. ''Mas no fim das contas as carreiras só se fazem mesmo com convicções e com a capacidade de colaborar.''
  6. A realidade é algo cada vez mais relativo. As empresas de ponta em pesquisa e desenvolvimento – visitamos duas, a House of Moves em Los Angeles e a  Industrial Light and Magic em San Francisco – estão caminhando para um modo de produção que desafia o próprio conceito de realidade como algo separado da percepção.  Apavorante. Lindo.

 

E uma outra conclusão, que  me deixa muito feliz: o Brasil está na mira de todo mundo, aqui. Eu sempre disse que havia um lugar reservado para nós no grande sarau que são as trocas e parcerias do audiovisual internacional. Agora é mais que a hora de sentar-se à mesa.

Cartaz na porta da sala de reuniões da Writers Guild of America.

Cartaz na porta da sala de reuniões da Writers Guild of America.


Robocop, novo trailer
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Ana Maria Bahiana

robocopQuero saber as opiniões de vocês. Para mim, três coisas se sobressairam:

– a fidelidade ao filme original, aquele um de Paul Verhoeven, de 1987

– a atualidade do tema, 25 anos depois

– Michael Keaton. Todos os momentos com ele me pareceram os mais interessantes.

Robocop estreia no Brasil dia 7 de fevereiro e aqui dia 12 de fevereiro (bem a tempo para o Dia dos Namorados…)

Divirtam-se!


Minha estreia na TV… dos Estados Unidos
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Ana Maria Bahiana

Aqui vai, como combinado, minha estreia no programa de TV Just Seen It, que vai ao ar semanalmente pelo canal PBS, o equivalente à TV Cultura daqui. Just Seen It é criação do showrunner David Freedman, um admirador do clássico programa de Ebert & Siskel, At the Movies. Ele modernizou a fórmula colocando os resenhistas num ambiente mais informal, aumentando o número para três pessoas e incluindo profissionais de cinema – como minha companheira de comentário, Brenna Smith, atriz.

O papo aqui é sobre Uma Questão de Tempo (About Time), do simpático Richard Curtis, roteirista de, entre muitos outros,  Quatro Casamentos e um Funeral Um Lugar Chamado Notting Hill e diretor de Simplesmente Amor (que eu adoro) e Pirate Radio. Aqui, no entanto….

Uma Questão de Tempo estreia amanhã aqui nos Estados Unidos e dia 6 de dezembro no Brasil.

 


“As pessoas não tem mais que ir ao cinema”, e outros sinais da revolução
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Ana Maria Bahiana

 

netflix

Três ecos do fim de semana ilustram uma industria em absoluta transformação:
_ Falando a profissionais de efeitos especiais no fim de semana, Chris Meledrandi, CEO da Illumination Entertainment, responsável por fazer uma ponte importante entre animadores europeus e o mercado internacional com os dois Meu Malvado Favorito, repetiu exatamente o que Steven Spielberg e George Lucas disseram meses atrás: os estúdios estão canibalizando a si mesmos com a obsessão do mega-mega-blockbuster. “Eles ainda não compreenderam que há uma geração que simplesmente não precisa ir ao cinema.”, ele disse. “Há uma variedade de outras formas de entretenimento audiovisual competindo com o ir ao cinema.”. Meledrandi condenou a “resposta de pânico” dos estúdios a essa realidade criando apenas lançamentos gigantescos que o mercado não tem condição de absorver. “Um super filme evento devora a plateia de outro super evento. E isso acontece com filmes de ação e de animação, do mesmo modo.”

_ Curiosamente, no mesmo evento (mas numa outra palestra), o diretor Henry Selick  (Coraline, O Estranho Mundo de Jack) desceu o pau na franquia Meu Malvado Favorito, colocando os filmes da Illumination num bolo de “desenhos feitos em fórmula, todos parecidos uns com os outros, onde não é possível distinguir o estilo ou a criatividade de quem fez”. A saída? “As outras midias”, Selick disse. “Ponho mais fé na TV por assinatura e em opções como Netflix, Amazon e Google.” Dois dias depois, Selick fechou com a independente FilmNation para dirigir um filme com atores, adaptando o livro infantil A Tale Dark and Grimm.

_ Num outro evento, promovido pela Film Independent, que reúne produtores e diretores independentes,  Ted Sarandos, o presidente de conteúdo da Netflix, resumiu tudo e foi um passo adiante: não são só os grandes estúdios os responsáveis por um apocalipse iminente – os exibidores são até piores.  Novamente, Sarandos lembrou que ir ao cinema é algo cada vez mais remoto para as novas gerações – e para todas as pessoas, de qualquer idade, que moram em locais sem um cinema próximo.  “O cinema não é o único lugar onde se pode ver um filme'', disse Sarandos. '' Os produtores precisam se conscientizar disso, e os distribuidores precisam parar de se deixar intimidar pelos donos de cinemas e lançar os filmes simultaneamente em todas as plataformas- inclusive a Netlflix.”

Isso vai render…


Notícias da não-TV: Netflix, Amazon aumentam poder de fogo
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Ana Maria Bahiana

 

John Goodman e um amigo numa cena da série Alpha House, da Amazon

Enquanto os canais “tradicionais” debatem que séries continuam e quais vão pro além, as notícias quentes da semana vem da outra TV, aquela que baixa em qualquer lugar onde haja uma tela de qualquer tamanho e acesso à internet.

* Em seu relatório anual para os acionistas, a Netflix anunciou que tem mais de 40 milhões de assinantes nos Estados Unidos – ou seja, muito mais que a HBO que, segundo analistas do mercado, tem cerca de 28. 7 milhões de assinantes (o canal não revela oficialmente quantos assinantes tem). É um marco: um serviço de distribuição de conteúdo fora do sistema tradicional (TV aberta/TV paga) com um volume de público maior que seus antepassados.

* Como consequência de sua base de audiência, aliada ao que o relatório chama de  “análise do comportamento de consumo de nossos espectadores”, a Netflix anunciou que vai dobrar  seu investimento em séries originais, aumentado e diversificando a oferta, acrescentando longa-metragens ao mix e alocando orçamentos “modestamente” mais generosos. Este é um ponto de divergência na competição: a HBO gasta 40% de seus recursos em produção original, enquanto a Netflix prevê, para 2014, a reserva de 10% de seus recursos para o mesmo fim. “Ainda temos muito espaço para crescer”, disse o diretor de produção Ted Sarandos.

* Tem espaço e mais competição:  depois de alguns balões de ensaio a Amazon está entrando firme na distribuição de conteúdo próprio. A sátira política Alpha House, estrelada por John Goodman e criada e escrita pelo cartunista Garry Trudeau, a série de comedia Betas, sobre a vida nas start ups do Vale do Silício, e três seriados infantis estreiam em novembro . E  a Amazon já anunciou que a próxima leva trará séries de drama na próxima leva…


A prisão de cada um: Os Suspeitos e o desafio de rever o thriller
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Ana Maria Bahiana

Um dos principais problemas dos thrillers de crime, no cinema – especialmente os que envolvem serial killers – é o quanto a TV, especialmente a TV aberta, esvaziou o gênero. A competição de séries de arco narrativo longo, como The Killing e The Bridge, é o menor dos problemas. O pior são esses duzentos mil e oitenta seriados que a cada semana apresentam um novo monstro “como nunca foi visto na história “ ou coisa parecida e, em 48 minutos, resolvem o caso, acham o criminoso (depois de exatamente 2 e ½ pistas falsas) e pegam o dito cujo, dramaticamente.

Uma consequencia importante desse desgaste é dessensibilizar o público, tornando crueldade e  violência coisas banais, que precisam ser amplificadas cada vez mais para atrair e manter a atenção das pessoas.

Para mim uma das qualidades centrais de Os Suspeitos (Prisoners, 2013) é exatamente subverter esse princípio. Há violência, e muita, no filme do canadense Denis Villeneuve (que nos deu o maravilhoso Incendies em 2010) mas ela é mostrada com  a clareza e a dureza de algo que não é espetáculo, mas horror. E – o que mais nos perturba e nos obriga a um olhar diferenciado – a violência é cometida não pelos personagens que enquadraríamos como “vilões” numa narrativa mais previsível, e sim por aqueles que somos levados a ver como “heróis”.

Há outras qualidades em Os Suspeitos – a fotografia do mestre Roger Deakins, a música de Johán Johánnson, os desempenhos de todos os atores, incluindo Hugh Jackman num papel fora do comum em sua trajetória – mas fiquei marcada especialmente pelo modo cuidadoso, deliberado, preciso, com que Villeneuve conduz e enquadra a narrativa, tocando exatamente em nossos cacoetes de plateia e revertendo nossas expectativas. É perturbador e é bom, como um jorro de água fria no rosto, de manhã, pode ser bom : para estimular, acordar.

O título original, Prisoners, encerra melhor essa ideia. Ao longo da história, diversos personagens serão retirados de suas vidas habituais e confinados, restritos, aprisionados. A trama, em si, é simples. Duas meninas desaparecem misteriosamente no dia de Ação de Graças, num subúrbio classe media dos Estados Unidos. O pai de uma delas – Hugh Jackman – convence-se de que sabe quem é o raptor – Paul Dano, o rapaz que dirigia uma van pela vizinhança no dia – e resolve tomar as medidas que acha apropriadas, à revelia do policial – Jake Gyllenhaal – encarregado do caso.

A questão, contudo, não é nem quem fez o que (embora essa parte seja muito interessante) mas quem é, de fato, prisioneiro – e de que. Quem está absolutamente aprisionado, abrindo mão de sua capacidade de escolher e decidir? E até onde violência é o instrumento desse aprisionamento?

O roteiro original de Aaron Guzikowski (Contrabando) tem lá seus furos, mas a clareza com que Villeneuve conduz nosso olhar, e o quanto ela nos faz pensar, vale tudo.

Os Suspeitos está em cartaz nos EUA e  estreia hoje no Brasil.