Blog da Ana Maria Bahiana

Sorte, história, memória: as boas ofertas da nova temporada da TV
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Ana Maria Bahiana

Jeffrey Dean Morgan em Magic City

Dustin Hoffman em Luck

As ofertas desta época do ano, no cinema, são anoréxicas. Vê-se por honra do ofício, mas, sinceramente, é melhor passar batido. Já na TV… cada vez melhor, e a segunda de Game of Thrones e a quinta de Mad Men ainda nem começaram.

Há alguma coisa no arco longo da narrativa televisiva que oxigena a história, dá espaço para conhecermos os personagens sem a pressa e a enxurrada de clichês que o cinema (principalmente o cinema estritamente de mercado), comprimido em suas duas horas de tela, joga em cima da gente.

É um formato que cada vez mais atrai vida inteligente – em grande parte, ainda, por conta do verdadeiro big bang que foi Familia Soprano, que criou e depois espalhou pelo mercado uma nova geração de roteiristas, diretores e show runners.

Duas estréias me chamaram especialmente a atenção:

Magic City (Starz, estréia 6 de abril) é a resposta do canal Starz à febre-saudade deflagrada por Mad Men. A Starz tem um perfil interessante _ começou como canal pago só de filmes e hoje abriga, entre outras, a bem sucedida Spartacus (a fraca e cara Camelot não teve tanta sorte…) Seu atual diretor é o mesmo Chris Albrecht que deu o ok para Sopranos na HBO ; e , pelo que me contam  as cabeças coroadas da cidade, voltou, com a Starz, a ser um dos mais ativos armadores meio de campo do jogo de conetúdo de qualidade para telas menores (e portáteis).

O criador e show runner Mitch Glazer, que nasceu e cresceu em Miami, criou um universo que é metade história, metade memória _ e quando Magic City funciona, ela está exatamente no perfeito ponto de equilíbrio entre as duas coisas. A história, condensada no universo do fictício hotel Miramar Playa, é a soma das forças que definiram o perfil da cidade de Miami: glamour tropical, hedonismo, crime organizado, imigração. A época é cuidadosamente escolhida: Magic City começa na noite de ano novo de 1958 para 1959, com um show de Frank Sinatra, a revolução cubana reportada na TV, piquetes de greve nas ruas, e os tentáculos da Mafia misturando-se com a expansão da indústria do turismo. Há também muita praia, charutos, cha cha cha, twist e um concurso de miss, completando o clima.

No papel de Ike Evans, o dono do Miramar, Jeffrey Dean Morgan (mais conhecido como o  Comedian de Watchmen ou o namorado eternamente moribundo de Izzie em Grey’s Anatomy) ancora um elenco repleto de gente bonita espetacularmente bonita . Uma grande parte desse povo não tem muito que fazer além de caras, bocas e muito sexo (mas esse é o clima da série, de todo modo).   Felizmente o filé da narrativa é o tango entre Ike e Ben Diamond (Danny Huston, ótimo), o cappo mafioso que é ao mesmo tempo seu aliado e seu inimigo.

É no ambiente – que, como Glazer explica, é tanto um trabalho de reconstrução quanto de memória afetiva – que Magic City triunfa mais rapidamente, transportando o espectador/espectadora imediatamente para um mundo muito além da Miami nova-rica de hoje. É um dos grande trunfos de sua competição mais clara, Mad Men. Mas,ao contrário de Mad Men, Magic City ainda não encontrou a segurança de ritmo e a profundidade psicológica que pode leva-la além de uma deliciosa excursão turística aos trópicos made in USA. Mas promete _ vale dar tempo ao tempo.

Confesso que fiquei passada quando as primeiras críticas de Luck (HBO, no ar desde 29 de janeiro) foram mornas ou negativas. Eu me apaixonei de cara pela série criada e escrita por David Milch (NYPD Blue, Deadwood e outra que acho que só eu gostei, John From Cincinnati) e produzida por Michael Mann e Dustin Hoffman. E não é só porque pega completamente o jeito, o gosto e a aura de Los Angeles e explora com precisão a subcultura das corridas de cavalos e seus habitantes: amei porque imediatamente fiquei intrigada por todos os personagens, curiosa para saber mais sobre eles, de onde eles tinham vindo, como tinham chegado aquela encruzilhada da vida, para onde iriam.

Como a agência de Mad Men ou o hotel de Magic City, Luck tem um universo preciso: Santa Anita Park, em Arcadia, a leste de Los Angeles, que existe mesmo e é considerado (com justiça) um dos mais belos hipódromos do mundo. Com as vidas entrelaçadas às de seus habitantes mais importantes, os puro-sangues (e dois deles são, de direito e de fato, personagens principais da série),um universo de jóqueis, apostadores, treinadores, agentes, funcionários e proprietários oscila na maré entre sorte, escolha e destino, onde cada pequeno passo pode mudar tudo.

Nenhum personagem é pequeno demais. O arrogante treinador Escalante (John Ortiz, excelente), os jovens jóqueis ambiciosos (Kerry Gordon e Tom Payne), o quarteto de apostadores tão viciados que mora num motel ao lado do hipódromo (Kevin Dunn, Jason Gedrick, Ritchie Coster, Ian Hart) são todos igualmente importantes e fascinantes.

Mas estou particularmente impressionada por um quarteto de homens de meia idade interpretados por mestres, cada sutileza de suas interpretações um testemunho do poder da maturidade: o agente de jóqueis Joey Rathbun (Richard Kind), uma bomba existencial prestes a explodir; o treinador Walter Smith (Nick Nolte), curvado sob o peso de uma culpa imensa, capaz de criar laços de verdade apenas com seu cavalo; e a sensacional dupla de amigos e confidentes Chester Bernstein (Dustin Hoffman) e Gus Dimitrou (Dennis Farina), cujos planos e estratégias são o motor da trama (embora só eles mesmos saibam como).

Espero que Luck dure muito. A cada novo episódio ela me vicia mais…


E agora com vocês… os Oráculos do Oscar 2012!
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Ana Maria Bahiana

Foi uma batalha, entre os torpedos da “melhor montagem” e sucessivas contagens e recontagens noite adentro… Mas valeu: aqui estão, em toda a sua glória, os Oráculos do Oscar 2012! Palmas para eles!

(Dê “refresh” regularmente- novos nomes serão acrescentados à medida em que eles aparecerem aqui neste Hollywood & Highland virtual…)

Fazendo honra às oráculos da antiga Grécia, Nathally da Silva Carvalho, 25 anos, de Macaé, RJ,  foi a única mulher na tropa de elite dos acertadores. Cinéfila desde a adolescência, Nathally estuda Ciências Sociais na Uenf.

''Sou cinéfila desde o começo da minha adolescência, quando minha percepção se tornou mais aguçados para a sétima arte: queria saber mais sobre os atores, suas filmografias, os diretores, e como os filmes eram feitos.

A partir de então comecei a pesquisar sobre a indústria, a alugar 4, 5 até 6 filmes por fim de semana e a ver com as grandes premiações como o Globo de Ouro e o Oscar. Fiquei muito feliz em saber que estou entre os Oráculos 2012. Fiz minhas apostas observando muito as críticas, (principalmente as categorias ‘bombas’ como documentário e curta), já que não tive muito tempo para ver os filmes indicados esse ano. Como disse uma grande amiga, acho que meus 20 acertos são creditados muito a um misto de sorte, instinto e conhecimento sobre o Oscar (muito pelas dicas que a própria Ana dá, todos os anos, de como são os mecanismos de votação). Acho que meu grande trunfo esse ano foi apostar sem ressalvas na Meryl Streep como Melhor Atriz, tinha certeza que esse ano era dela!

Gostaria de agradecer a Deus pela dádiva de ser uma cinéfila; a Ana pela oportunidade de exercitar minha paixão pelo cinema, não só vendo – e lendo sobre a sétima arte, mas também participando do Oráculo do Oscar; agradeço a Jairo Souza meu grande amigo cinéfilo, com quem troco grandes experiências e dicas sobre cinema e séries (minha vitória é sua também!) e agradeço a Nathália Fernandes que acompanhou a noite do Oscar comigo, via internet, e vibrou com cada acerto meu. Agradeço a todos os grandes homens e mulheres da indústria, que trabalham com afinco para trazer um mundo de sonhos, reflexões e aprendizado para todos aqueles que se propõem a ver no cinema muito mais do que algumas horas de diversão.

Parabéns a todos os outros oráculos de 2012, e que 2013 tenha uma safra de filmes encantadoramente surpreendentes.''

 

 

O advogado Francisco de Assis Nóbrega, 28 anos, é recifense mas mora em Caruaru, PE, onde é Defensor Público Federal.

''Desde criança adoro ir ao cinema e colecionar filmes. Antes videoteca, atualmente DVDoteca, tenho filmes de todos os gêneros, estilos e nacionalidades, atualmente são mais de 600 títulos. Vidrado no Oscar, desde o ano 2000 organizo um bolão para amigos e faço uma pequena festa para receber os mais cinéfilos e loucos pelo Oscar feito eu, já é tradição! A estatueta em miniatura ao lado da TV dá o toque especial da festa! rs Após chegar perto em várias edições, estou muito feliz em ser um dos oráculos deste ano! Muito obrigado por organizar com tanto carinho o oráculo!''

Lucas Lôbo Takahashi é, na verdade, colega de Angelina Jolie  e George Clooney : todos eles trabalham para a mesma entidade,a Agência para Refugiados das Nações Unidas. A diferença principal é que Lucas está em Brasilia,DF, onde também estuda Relações Internacionais.

''Eu nasci e cresci em uma cidade pequena, que não tinha cinema. Quando eu ia pra capital, assistia quatro ou cinco filmes no mesmo dia, e nunca me cansava. Sempre fui apaixonado por cinema, e o Oscar era umas das únicas maneiras de ter contato com aquele mundo, em uma época em que internet não era tão popular. Assim, vejo a cerimônia desde os sete ou oito anos, e nunca deixei de ver. Por isso, mesmo depois ter deixado de achar que o Oscar é um parâmetro de qualidade, eu ainda me importo com ele. E ganhar esse bolão e todos os brindes que você está dando me traz muito satisfação!  Obrigado! Espero lhe conhecer um dia!''

Eduardo Azeredo Salgado, 31 anos, de Pindamonhangaba, SP, trilha o caminho de muitos realizadores ilustres: desde os 14 anos trabalha numa locadora de filmes. E mesmo não tendo cinema na cidade, não perde sua paixão pela Sétima Arte:

''Cinema sempre fez parte da minha vida, a primeira lembrança que tenho de ver um filme quando criança foi o filme A Missão com meus pais e de lá pra cá essa paixão pela Sétima Arte só aumentou. Por isso já faz muito tempo que vejo o Oscar e dou meus palpites, que desta vez deram resultado!''

Rodrigo Santiago,  23 anos, doutorando de Ciência Política em Recife,PE, é fã de Meryl Streep… e de Bette Davis também.

“É um prazer ser um Oráculo 2012! Há algum tempo, as atuações da Bette Davis e da Meryl Streep fizeram-me ver o cinema como uma forma de arte que vai além do entretenimento. A força das atuações dessas atrizes, bem como a direção e filmes do Ingmar Bergman, transformaram-me em um ávido apreciador da sétima arte. A partir do momento que tive contato com essas figuras, em especial, tornei-me um leigo que busca ler sobre a temática e, que de vez em quando, arrisca escrever algumas críticas sobre películas. Acho que essa bagagem, juntamente, com o acompanhamento das temporadas de premiação ajudaram a alcançar esse posto (o que não é fácil, principalmente, quando se tenta prever as categorias técnicas, documentários e curtas). Em síntese, eu agradeço ao cinema, por ele ser capaz de transformar a fantasia em realidade, e, ao mesmo tempo, mostrar as várias facetas do caráter humano. O cinema, quando nos faz refletir, cumpre o seu objetivo mais fundamental enquanto arte, ele propicia ao espectador o sentimento de estar vivo. “

Rafael Susin Baumann, 19 anos, estudante de arquitetura em Caxias do Sul, RS, participou pela primeira vez do Oráculo e já saiu na dianteira:

“Gostaria de lhe agradecer pela oportunidade, agradecer a aqueles que ainda suportam ir ao cinema comigo e, claro, agradecer a todos que tornam o cinema algo possível. Desde os 9 anos lembro de ir atrás de informações relacionadas ao cinema, principalmente comprando revistas relacionadas ao assunto. As idas à locadora e ao cinema tornaram-se frequentes e comecei a fazer uma lista com todos filmes que assistia (e até hoje não deixei de marcar). Aos poucos, já não havia mais lançamentos para alugar e comecei a ir atrás do cinema de verdade. Foi aí que descobri diretores como Hitchcock (meu favorito). Assim, o cinema tornou-se indispensável.  Não lembro exatamente a partir de que ano comecei a acompanhar o Oscar, mas lembro perfeitamente de Chicago ganhando como melhor filme (e tenho que admitir, não considero uma injustiça como a maioria acredita ser). Quanto ao Oscar desse ano, a maior surpresa da noite para mim foi montagem para Millenium. Uma mistura de satisfação (por ser realmente o filme merecedor do prêmio, e, na verdade, merecia uma indicação para melhor filme) e tristeza (por ser um ponto a menos nas apostas). Foi difícil conciliar favoritos com as apostas na hora da torcida, mas, fiquei satisfeito principalmente com roteiro para Meia-Noite em Paris, Rango como animação e os prêmios para Hugo.”

 Lucas Mateus, 27 anos, é pedagogo em Natal, RN e não perde uma premiação desde que Steven Spielberg ganhou com A Lista de Schindler:

''É uma honra poder ter superado tanta gente boa no Oráculo do Oscar 2012. Acompanho a festa do Oscar desde criança, nos tempos em que Steven Spielberg ganhara seu tão aguardado prêmio de Diretor em 1994 por Schindler's List. Desde então, não tenho perdido uma premiação, sempre testemunhando as vitórias e as injustiças que fazem parte do espetáculo. Acredito que o cinema seja a forma de arte que melhor retrata uma era da sociedade e o Oscar expõe, de alguma maneira, essas transformações que nós protagonizamos de tempos em tempos.''

Rafael Melo Feitosa, 23 anos, é carioca e blogueiro:

''É clichê, mas palavras não podem definir a minha relação com o cinema. É algo extremamente sensorial e que existe desde que me entendo por gente. O Oscar tem, para mim, a importância de uma Copa do Mundo. Sinto-me envolvido como se fizesse parte da indústria cinematográfica… torço, vibro, reclamo, discordo. Meu obrigado: à minha mãe por ter me apresentado ao Oscar quando eu tinha 7 anos; aos cineastas brilhantes que mantêm sempre acesa a minha paixão pelo cinema; e àqueles que disponiblizam os filmes na Internet, que fazem com que a cultura não tenha mais barreiras e que nos possibilitam assistir a todos os indicados. E, claro, muito obrigado à Ana Maria Bahiana por nos propiciar essa promoção espetacular com prêmios maravilhosos.


Temos Oráculo!
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Ana Maria Bahiana

Lisbeth Salander massacrou muita gente boa: a categoria ''melhor montagem'' foi a responsável pelo maior número de erros, mais até do que a habitual carnificina de curtas e documentário. Muita gente torceu pelo Brasil com seu voto, com tristes consequencias. E, é claro, Meryl Streep fez um belo estrago….

No final, vocês bateram um recorde : 587 apostadores do Japão ao Maranhão, do Canadá a Curitiba. A média de acertos foi alta – 17 das 24 categorias- e 8 acertaram 20 categorias: Lucas Mateus,  Rafael Melo Feitosa (que, sabiamente, incluiu abraços para Isis e Lady Orlando; não sei se elas tem tamanho poder, mas enfim…) Francisco Nóbrega, Nathally Carvalho, Eduardo Azeredo Salgado, Lucas Takahashi, Rodrigo Santiago e Rafael Susin.

Na prata, com 19 acertos ficaram  Michel Moraes, Renato Verizini, Guanali Taquini Deolindo, João Paulo, Breno Ricardo, Joseilton Lima Filho, Vinicius de Oliveira,Heyda Corado, Rodrigo Santiago, Paulo Debom,Alexandre Anan, Bruno Litvak, Bells Aleixo, Patrick Muraro, Nilson Jr., Ana Mary P.Lima e Daguito Rodrigues.

E, vocês sabem: não sou a Price Waterhouse… se você enviou seu voto, votou em todas as categorias, acertou 21, 20 ou 19 delas e seu nome não está aqui, dispare um email para uma recontagem. Isis e Lady Orlando estão a postos!

Parabéns aos novos Oráculos, que receberão as devidas honras e emails de desculpas pelos meus repetidos erros. Não é mole contar quase 600 votos (acho que vou demitir Isis e Lady Orlando e contratar a Price Waterhouse, ano que vem).

E, sobretudo, muito obrigada a todos vocês que participaram! Sem vocês esta brincadeira não faria sentido…

 


As perguntas e reflexões do Oscar da saudade
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Ana Maria Bahiana

Billy Crystal e o palco art deco do Oscar 2012...

..e uma das inspirações.

Hoje (segunda feira) Los Angeles amanheceu nublada e chuvosa. A frente fria, estacionada sobre o Pacífico, devia estar esperando o ok da Academia para só se instalar sobre a cidade depois dos Oscars (como reza a escrita aqui, o jabá dos produtores com os deuses do clima é poderoso).

O que se fala na cidade depois de um Oscar previsível:

 

A perna de Angelina Jolie, o bico do seio de Jennifer Lopez (que teria saltado do seu profundo decote e levado àquela apresentação inusitada, centrada na derriere…)

Como foi sem graça a pegadinha de Sacha Baron Cohen jogando as “cinzas de Kim Jong Ill” em Ryan Seacrest.

Com oito indicações convertidas em estatuetas os Weinsteins estão de volta mesmo. Conseguiram vender o peixe de um filme mudo e preto e branco, francês e com atores desconhecidos. E quebrar o encanto das 17 indicações infrutíferas de Meryl Streep. (O inferno não tem fúria como uma mulher desprezada, já dizia Shakespeare. Não subestimem a frustração de Meryl com estes anos todos na plateia, que alimentou, e muito, a arrancada de divulgação das duas semanas anteriores ao Oscar.)

Os discursos de Meryl e de Christopher Plummer, classudos, levando a sério o trabalho mas não a si mesmos;  a delicadeza de Meryl com o marido Don Gummer e o fiel colaborador J. Roy Helland, seu maquiador desde A Escolha de Sofia.

Lição de casa para a Academia: repensar, reimaginar, re-energizar a festa. O evento não foi exatamente um espetáculo de dinamismo e inovação (montagens demais, muitas gracinhas sem graça, clima ''velho'') mas pelo menos a audiência melhorou um tiquinho, comparada com 2011 (mas piorar ia mesmo ser muito difícil). Mas o Oscar 2012 ainda está abaixo do indice de 2010 e, apesar da piadinha com Justin Bieber na montagem de abertura, perdeu ainda mais a cobiçada fatia entre 18 e 24 anos. Em termos de eventos de prêmios, os Grammys ainda são o melhor show e a melhor audiência – mas tem a seu favor o próprio material que premiam, a música, bem mais fácil de se traduzir em espetáculo. Entre a segurança do evento deste domingo (que, vocês se lembram, foi organizado às pressas depois de crises e demissões de seus cabeças originais, o produtor Brett Ratner e o apresentador Eddie Murphy) e a novidade-pela-novidade de 2011, há espaço para muita coisa. Dois apresentadores, aliás, pareciam estar fazendo teste para um convite ano que vem: Emma Stone e Chris “a fim de voltar” Rock.

Aliás: os atores especializados em dublar animação estão furiosos com Chris e seu discurso “dublar animação é moleza”.

Como esta é uma industria de redundâncias não esperem muitos filmes preto e branco e mudos (em 3D?) no futuro imediato, mas o tema “era de ouro do cinema” não vai morrer tão cedo.

Jean Dujardin, o beijoqueiro, entre o Oscar...

..e a esposa, no Governors' Ball.

O que todo mundo quer saber: o que tantos “primeiros” (França, melhor filme, ator e tudo mais; Irã, melhor filme estrangeiro; Paquistão, melhor longa documentário) vão fazer agora, depois de suas vitórias históricas. Não esperem ver Asghar Farhadi batendo em portas em Century City (onde ficam as grandes agências da cidade) : seu compromisso com o cinema iraniano é firme, comprovado por suas declarações nos bastidores (“Minha vitória não é uma mensagem para o povo do Irã além do fato de que continuo acreditando que a cultura é o que o mundo mais deve cuidar e produzir. Se pudermos nos ver uns aos outros pelo prisma da cultura, vamos nos ver melhor, mais nitidamente.”) Saving Face, o curta documentário do Paquistão, vai ao ar pela HBO em março, e esperem ver sua diretora Sharmeen Obaid-Chinoy em outros projetos não-ficção do canal. A dúvida maior é quanto a Jean Dujardin – que teve grandes dificuldades no início de sua carreira porque os diretores de elenco achavam seu visual “antiquado” – e Michel Hazanavicius – cujos filmes anteriores passaram em brancas nuvens pelo mercado internacional. As armadilhas desta cidade são muitas e tentadoras…

E no fim das contas o Oscar da saudade do que não foi vivido se resumiu a um grupo de franceses re-imaginando o que teria sido a primeira hora de Hollywood, e um diretor norte-americando sonhando com o que teria sido a primeira hora do cinema em seu berço francês…


Oscar 2012: os meus palpites
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Ana Maria Bahiana

Sábado 25 de fevereiro, Hollywood & Highland: tudo pronto

Enquanto vocês pensam em seus palpites, aqui vão os meus.

A questão, este ano, não é se O Artista vai ganhar _ é quantas das 10 indicações ele vai converter em estatueta. Meu palpite: no mínimo 5 _ filme, diretor, figurino, montagem, trilha.

Por que? Leiam os posts anteriores. E lembrem-se também de que este é um filme distribuído e divulgado pelos irmãos Weinstein, que não costumam ser derrotados, e cuja pressão por O Artista foi absolutamente esmagadora na última semana de votação (Jean Dujardin apareceu em TODOS os talk shows na TV americana, e fez até uma ponta no Saturday Night Live).

Levando tudo isso em conta, eis o que eu acho que vai acontecer, nas principais categorias (não incluí canção. É meio a meio, não tem graça.)

 FILME

Quem vai ganhar: O Artista

Quem pode ganhar: A invenção de Hugo Cabret

Quem eu gostaria que ganhasse: Os Descendentes

DIRETOR

Quem vai ganhar: Michel Hazanavicius

Quem pode ganhar: Martin Scorsese

Quem eu gostaria que ganhasse: Alexander Payne

 

ATRIZ

Quem vai ganhar: Viola Davis

Quem pode ganhar: Meryl Streep

Quem eu gostaria que ganhasse: Meryl Streep

ATOR

Quem vai ganhar: George Clooney

Quem pode ganhar: Jean Dujardin

Quem eu gostaria que ganhasse: George Clooney

ATRIZ COADJUVANTE

Quem vai ganhar: Octavia Spencer

Quem pode ganhar: Melissa McCarthy

Quem eu gostaria que ganhasse: Janet McTeer

ATOR COADJUVANTE

Quem vai ganhar: Christopher Plummer

Quem pode ganhar: Christopher Plummer

Quem eu gostaria que ganhasse: Nick Nolte

FILME ESTRANGEIRO

Quem vai ganhar: A Separação

Quem pode ganhar: In Darkness

Quem eu gostaria que ganhasse: A Separação

LONGA DE ANIMAÇÃO

Quem vai ganhar: Rango

Quem pode ganhar: Rango

Quem eu gostaria que ganhasse: Rango

ROTEIRO ORIGINAL

Quem vai ganhar: Meia Noite em Paris

Quem pode ganhar: O Artista

Quem eu gostaria que ganhasse: Meia Noite em Paris

ROTEIRO ADAPTADO

Quem vai ganhar: Os Descendentes

Quem pode ganhar: Tudo Pelo Poder

Quem eu gostaria que ganhasse: Os Descendentes

FOTOGRAFIA

Quem vai ganhar: Árvore da Vida

Quem pode ganhar: O Artista

Quem eu gostaria que ganhasse: Árvore da Vida

TRILHA

Quem vai ganhar: O Artista

Quem pode ganhar: O Artista

Quem eu gostaria que ganhasse: A Invenção de Hugo Cabret

MONTAGEM

Quem vai ganhar: O Artista

Quem pode ganhar: O Artista

Quem eu gostaria que ganhasse: Milênio: Os Homens Que Não Amavam as Mulheres

EFEITOS VISUAIS

Quem vai ganhar: A Invenção de Hugo Cabret

Quem pode ganhar: Harry Potter e as Reliquias da Morte parte 2

Quem eu gostaria que ganhasse: Planeta dos Macacos- A Origem

DIREÇÃO DE ARTE

Quem vai ganhar: A Invenção de Hugo Cabret

Quem pode ganhar: O Artista

Quem eu gostaria que ganhasse: Harry Potter e as Reliquias da Morte parte 2

 

A gente se vê no Hollywood & Highland ! (Peguem o metrô. O engarrafamento vai ser dose.)

Tags : Oscars


Senhoras e senhores, está lançado o Oráculo do Oscar edição 2012
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Ana Maria Bahiana

É oficial: está lançado o internacionalmente famoso e absolutamente insubstituível Oráculo do Oscar 2012.

O sistema é simples: envie, até o meio dia (hora de Brasilia) de domingo, dia 26 de fevereiro, seus palpites para oraculooscar2012@bol.com.br.

Facilita muito minha vida de apuradora (não sou a PriceWaterhouseCoppers e minhas únicas assistentes são minhas gatas Isis e The Lady Orlando) se você seguir a ordem oficial do prêmio, como está na cédula da Academia, que você pode baixar aqui.

Lembre-se de:

  • Votar em todas as categorias. Ganha quem acertar mais categorias.
  • Mandar apenas para o email oficial.
  • Mandar apenas até o meio dia de domingo. Votos enviados depois desse horário não serão contados.

 

O que você ganha? Em primeiro lugar, a glória . Ser, por um ano, um Oráculo Oficial do Oscar  não é pouca coisa, como podem atestar vitoriosos de idos Oscars.

Em segundo lugar, um pacote de super exclusivos mimos da temporada de prêmios, daqueles que chegam aqui ao meu escritório e eu guardo cuidadosamente para esta ocasião. Os deste ano estão particularmente apetitosos, e incluem, pela primeira vez, uma bela seleção de roteiros, alguns deles assinados por seus autores!

Os Oráculos 2012 serão contactados individualmente por email assim que a apuração for concluída (lembre-se de que pode ser um processo demorado) e anunciados aqui no blog, com um post especial e exclusivo.

Boa sorte e bom Oscar!!!


Semana do Oscar: como funciona a cabeça dos votantes?
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Ana Maria Bahiana

Mr.Oscar chega ao Hollywood/Highland. Foto de Richard Harbaugh/AMPAS

Os Oscars foram criados para “destacar e honrar qualidade e excelência na arte cinematográfica”. Junte três pessoas e peça que cada uma defina “qualidade e excelência”. Agora junte 6 mil.

Pois é.

Não é possível fazer um estudo estatístico preciso sobre o que os votantes do Oscar –em sua maioria homens brancos com mais de 50 anos, semi-aposentados, como se viu ontem – pensam quando escolhem os vitoriosos, mas alguns traços aparecem com clareza durante os mais de 80 anos do prêmio:

1. Complexo de inferioridade. Há anos digo isso e fiquei feliz ao ver o Los Angeles Times concordar comigo _ a Academia prefere sempre o que menos se parece com aquele filmão feito em massa, especificamente para atender o mercado. É um estranho processo de baixa auto-estima que funciona mais ou menos assim: adoramos ganhar tubos de dinheiro com um monte de filmes mais ou menos, mas sabemos que a maioria deles não presta mesmo; portanto, qualquer coisa que não seja este modelo tem que ser premiado.

Ou seja: tem filme ''pra ganhar dinheiro'' e filme ''pra ganhar prêmio''. As duas coisas ao mesmo tempo… aí complica.

Isso explica a  aversão a comédia, ficção científica e fantasia e a cisma com diretores que trafegam com grande facilidade entre o comercial e o artístico, como Steven Spielberg e Christopher Nolan: seu trabalho bate de frente com a percepção de que há algo profunda e essencialmente errado em fazer um filme sobre, digamos, um extra terrestre perdido na Terra ou um milionário que se torna super herói, e querer que ele seja reconhecido como algo mais além de uma fonte de  dinheiro. Spielberg só conseguiu vencer esse preconceito com A Lista de Schindler (leia o item 3). Nolan…. Acho que vai ter que esperar mais um pouco.

 2. Anglofilia. Um desdobramento comum do complexo de inferioridade é achar que, em princípio, qualquer coisa feita na Grã Bretanha é melhor do que qualquer coisa feita em qualquer outro lugar do mundo, especialmente nos Estados Unidos. Isso explica porque Carruagens de Fogo bateu Indiana Jones (um filme pipoca! E de Spielberg!) em 1981, O Paciente Inglês derrotou Fargo em 1996, a vitória de Shakespeare Apaixonado em 1998 (e Judi Dench levando um Oscar por cinco minutos de tela) etc etc etc. Este ano Sete Dias com Marilyn , se produzido nos EUA, seria talvez um bom filme de TV sem maiores ambições. Mas é britânico! Com Kenneth Branagh! E Judi Dench! Como vamos ignorá-lo?!

3.Fixação com o Holocausto. Aqui o sempre agudo J. Hoberman apresenta uma estatística impressionante nos Los Angeles Times: nos 83 anos do Oscar 20 filmes indicados tinham o Holocausto como tema e pano de fundo; apenas dois não converteram em estatueta a indicação. Este ano, preparem-se : A Separação é o filme a ser batido na categoria filme estrangeiro. Mas abram o olho para In Darkness, de Agniezska Holland, sobre judeus poloneses refugiados nos esgotos da cidade de Lvov. Até porque, no passado, Holland dirigiu um dos dois filmes sobre o Holocausto que foi indicado mas não levou _ Colheita Amarga, de 1985.

4. Saudosismo. É curioso como um prêmio que nasceu destacando o ousado – Asas, um filme adiante de seu tempo em muitos níveis – rapidamente começou a ter saudade de tudo. Culpe-se a chacoalhada dos anos 1970 e da geração sexo drogas e rock n roll? A engorda do blockbuster nos anos 1980-90? O fato é que, desde Titanic, tudo o que lembra “os  bons tempos” àqueles senhores brancos de meia idade cai no paladar. A ideia de que “os filmes eram melhores naquela época” é uma fantasia que põe os votantes num estado de transe…. E este ano vai premiar, pela primeira vez na história, uma produção da França… onde o cinema começou. Salut, Lumiére!


Semana do Oscar: quem é o votante do prêmio mais cobiçado do cinema?
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Ana Maria Bahiana

Tom Sherak, presidente da Academia, recepciona os Oscars, recém chegados em Los Angeles, direto da fundição em Chicago

 

Ele é homem, branco, com aproximadamente 62 anos. Jamais foi indicado para um Oscar e há dois anos não produz/dirige/supervisiona/divulga/trabalha/atua em um filme. Mora muito bem, em alguns dos bairros mais caros e luxuosos de Los Angeles, e há uma grande chance de estar aposentado.

Estes, caras e caros, é o eleitor-padrão do Oscar, segundo uma fascinante pesquisa do Los Angeles Times . Em outras palavras, olhe para a foto – Tom Sherak, presidente atual da Academia, é literalmente a cara do corpo votante dos Oscars.

A  detalhada pesquisa do LA Times põe um rosto num perfil que, até agora, só podia ser desenhado pelas escolhas que faz e pela quase paranormal atividade de adivinhar seus gostos ouvindo o zum zum de suas conversas nos meses entre o Dia de Ação de Graças ( última quinta feira de novembro) e a data de entrega dos votos finais (cinco dias antes da festa).

Os números são fascinantes e um pouco assustadores: 77% dos 6 mil votantes são homens; 94% são brancos; 64% jamais foram indicados para o prêmio que escolhem; 42% fizeram seu projeto mais recente em 2010; 79% tem mais de 50 anos.

E o mais interessante é que nada disso se deve ao fato da Academia ser, conscientemente, discriminadora _ esse é o perfil da indústria que a Academia representa. Um milhão de questionamentos nascem desta constatação. E igual número de constatações suportam esses questionamentos : em 83 anos de Oscar, apenas 4% dos prêmios de atores/atrizes foram para não-brancos; Kathryn Bigelow é única mulher a receber um Oscar por direção; os 43 membros da diretoria da Academia incluem apenas seis mulheres e uma pessoa negra; há departamentos – principalmente direção de fotografia e roteiristas – com um contingente 90% masculino.

“Não vejo por que devemos representar todas as facetas da população”, o roteirista (oscarizado por Um Dia de Cão) Frank Pierson disse ao Times. “Para isso existem os prêmios People’s Choice.”

As regras de acesso à Academia não mudaram em seus mais de 80 anos de existência: é preciso ser profissional da indústria há pelo menos 5 anos, ter endosso de pelo menos dois membros ou ter sido indicado ao Oscar. Mas nos anos 1990 a Academia fez um esforço concentrado de recrutamento para aumentar números e qualificações de seus integrantes. E de fato mais profissionais jovens, mais mulheres e mais pessoas de outros grupos étnicos e culturais  tornaram-se votantes. Mas nem assim o perfil mudou  substancialmente _ a idade média baixou de 64 para 62 anos (onde está agora), e em vez de 96% brancos, seus integrantes tornaram-se “apenas” 94% brancos.

Para mim  prêmios são apenas decisões tomadas por um grupo de pessoas num determinado período de tempo sob determinadas condições.  Os Oscars ganham uma dimensão mítica porque tem uma longa história e envolvem, dos dois lados da equação, nomes com dimensões universais.

Entender quem é o grupo que decide para quem vão as estatuetas mais cobiçadas do cinema pode ajudar a antecipar seus votos _e ,muito mais importante, colocá-los em sua devida perspectiva.


Sparkle, o filme que Whitney Houston não chegou a lançar: “teria sido um grande triunfo”
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Ana Maria Bahiana

 

Jordin Sparks e Whitney Houston numa cena de Sparkle_ "Ela sempre se viu como coadjuvante"

 

Uma das muitas ironias trágicas da morte de Whitney Houston, sábado à tarde aqui em Los Angeles, é que (como Michael Jackson, uma comparação que tenho ouvido sem parar nos últimos dia) é que 2012 deveria ter sido o ano de uma grande volta por cima. Novamente como MJ, Houston vinha planejando um reposicionamento geral de sua complicada carreira.

Mas, ao contrário de Michael Jackson, Houston estava mais em controle de sua estratégia _ pelo menos nos momentos de lucidez, sem a turbulência da bebida e dos ansiolíticos. Na música, ela voltara a trabalhar com seu mentor e descobridor Clive Davis . Davis planejava começar a campanha da volta de Whitney exatamente na festa pré-Grammys da noite de sábado, para a qual ela se preparava quando morreu.

Mas Houston sabia muito bem que  o cinema era um elemento essencial para a re-energização de sua carreira . Em 1992 sua estréia na tela em O Guarda Costas foi um dos maiores sucessos do ano, com mais de 410 milhões de dólares apurados em todo o mundo, e uma trilha que, impulsionada por hits como “I Will Always Love You” e “I’m Every Woman”, vendeu 45 milhões de cópias e emplacou duas canções indicadas ao Oscar, “I Have Nothing” e “Run to You”. (Num detalhe curioso, o roteiro original de Lawrence Kasdan, tinha sido escrito em 1976 sob encomenda para Diana Ross e Seve McQueen, mas foi parar na gaveta por ser “muito controvertido” para a época).

Três anos depois, Falando de Amor foi um sucesso um pouco menor mas mais do que respeitável, com 81 milhões de dólares de bilheteria mundial, a maior parte no mercado norte-americano.  Mas é a partir daí que a vida pessoal de Whitney se complica, com o casamento com Bobby Brown e a pressão da fama trazendo a reboque a bebida e as drogas.

Mas há quatro anos Whitney e a produtora Debra Chase Martin trabalhavam no desenvolvimento de seu retorno também à tela. A oportunidade surgiu em 2001, quando a Warner, que há tempos vinha desenvolvendo o projeto da refeitura de Sparkle, um drama musical de 1976 estrelado originalmente por Irene Cara (que mais tarde estouraria com Fama), desistiu de ir adiante. O motivo era trágico: Aaliyah, que deveria encarnar o papel título criado por Cara, morrera num desastre de avião.

Houston e Martin rapidamente negociaram os direitos do filme e da trilha, chamaram o casal  de realizadores Salim e Mara Akil – respectivamente diretor e roteirista -para dar novo ânimo ao projeto e começaram a escalar o elenco.  Whitney sempre se viu como coadjuvante, diz Martin. A história, afinal, é sobre três jovens irmãs, lideradas pela Sparkle do título, que formam um grupo vocal na linha das Supremes, cuja carreira é destruída pelas drogas. Whitney escolheu para si o papel da mãe das cantoras, uma mulher complicada e nada simpática. Sparkle ficou com Jordin Sparks, a jovem estrela surgida do programa American Idol.

Martin acredita que teria sido a virada de Whitney: “Ela estava sensacional”. Na véspera de sua morte Whitney e Debra viram uma cópia de trabalho de Sparkle e aprovaram o trabalho de Salim Akil e a data escolhida pela Sony para o lançamento, 12 de agosto.

A súbita morte de Houston não deve mudar os planos _ a data de lançamento permanece, assim como a do lançamento da trilha, na qual Houston canta o gospel “Eyes on the Sparrow” e faz duetos com Jordin Sparks em duas canções.

“Teria sido um grande triunfo para Whitney”, diz Martin. “Mas lançar o filme é o mínimo que podemos fazer por sua memória.”