Blog da Ana Maria Bahiana

Glen Mazzara, de Walking Dead para o Hotel Overlook
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Ana Maria Bahiana

Glen Mazzara e uma amiga, nos bons tempos de The Walking Dead

Agora sabemos porque o Glen Mazzara não choramingou muito quando foi saído  como showrunner de The Walking Dead: ele está desenvolvendo o projeto do prequel de O Iluminado, com a Warner, que detém os direitos cinematográficos da obra de Stephen King.

Pausa para um momento de silêncio em desagravo a Stanley Kubrick.

Muito trabalho sem diversão…

Retomando: Mazzara está trabalhando em cima de um texto inédito de King, Before the Play, que é, de fato, o prólogo de O Iluminado, focando no hotel Overlook e o que aconteceu nele antes da família de Jack Torrance/Jack Nicholson chegar lá e no próprio passado do personagem de Nicholson, sofrendo nas mãos de um pai abusivo.

O projeto, por enquanto, chama-se The Overlook Hotel, e Mazzara está ligado a ele apenas como roteirista. Num acordo separado, Mazzara fechou com a Fox TV para desenvolver projetos de série para TV por assinatura.

Em setembro deste ano sai Dr. Sleep, a continuação de O Iluminado que Stephen King anunciou em 2009. Dr. Sleep conta a história de Dan, o menino vidente de O Iluminado, agora um homem de meia idade lutando contra as forças do mal. Embora nenhum deal tenha sido oficialmente anunciado, é inevitável que esta obra também será opcionada para o cinema. Com a Warner no começo da fila.

 

 


Tema do novo filme de José Padilha: corrupção na polícia (de Nova York)
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Ana Maria Bahiana

José Padilha não consegue se livrar do mundo de policiais e bandidos mas, pelo menos, seu próximo projeto vai levá-lo a um universo que conhece bem: policiais corruptos. Padilha está em negociações finais para dirigir The Brotherhoods, uma adaptação do livro homônimo de William Oldham e Guy Lawson, assinada por Bill Dubuque (que também escreveu o novo filme de Robert Downey Jr., The Judge). O estúdio é a Warner, que adquiriu os direitos do livro ano passado, e a produção é de Dan Lin ( o mesmo da franquia Sherlock Holmes e, como executivo do estúdio, supervisor de Os Infiltrados).  

 

The Brotherhoods segue a trajetória (verdadeira) de Oldham, um policial de Nova York que se torna agente secreto da Procuradoria de Brooklyn, Nova York, investigando dois colegas acusados de trabalhar para a máfia. As semelhanças com Os Infiltrados, como vocês podem ver, não são mera coincidência.

 

Ainda não há nem data para início da produção, nem elenco anunciado – mas as expectativas do estúdio são altas. Isso é muito bom – Robocop , filme anterior de Padilha aqui nos EUA, teve uma jornada tortuosa e difícil na MGM/Sony e, neste momento, tem lançamento marcado, aqui nos EUA, numa data muito ruim, 7 de fevereiro de 2014.


Picadinho de Hollywood: a crise, os FX e a Academia
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Ana Maria Bahiana

Esta época do ano é sempre devagar por aqui _ ainda não é a pipocada do verão, e a temporada-ouro parece estar longe (só parece… como veremos a seguir). As coisas mais interessantes estão acontecendo na TV ….e nos bastidores da indústria. Como por exemplo:

A Entertainment Weekly desta semana saiu com uma matéria sobre o mesmo assunto que abordei aqui no blog três semanas atrás: a aparentemente contraditória crise na indústria dos efeitos especiais num momento em que cinema e TV  estão mais do que nunca utilizando FX. O básico é o que expus naquele post, mas o artigo me lembrou duas coisas importantes: que a ilustríssima Digital Domain, fundada por James Cameron e Stan Winston em 1993 e pioneira em vários aspectos dos FX (Titanic, Benjamin Button, Transformers, o holograma do Tupac Shakur…) , também pediu concordata em setembro de 2012, e acaba de fechar completamente seu departamento de produção, que estava criando o longa de animação The Legend of Tembo; e que uma das razões da crise é o atual sistema de operação entre os estúdios e produtores e as empresas de FX – os realizadores pedem várias versões de um efeito, mas pagam apenas pelo que escolheram; e se não aprovam nenhum a casa de FX cai num buraco maior ainda (porque arcou sozinha com o custo da mão de obra, equipamento, etc. das versões que não foram aprovadas…)

O prédio executivo dos estúdios Disney, em Burbank

Um outro reflexo da crise – ou, melhor dizendo, das transformações profundas que estão sacudindo a indústria, hoje – são as demissões em massa na Disney, esta semana. Semana passada, a Disney acabou de liquidar a LucasArts, a divisão de games da LucasFilm – uma decisão que afetou também a Industrial Light and Magic, gerando muitas demissões de profissionais que trabalhavam para as duas empresas. Agora, a Disney está pondo na rua 150 funcionários nos departamentos de marketing, entretenimento doméstico e animação, no quartel general aqui de Burbank. E no entanto… ao contrário das empresas de efeitos, a Disney está indo muitissimo bem de finanças, e reportou  5.7 bilhões de dólares em lucro no exercício 2012. O que está acontecendo? Acionistas querendo ainda mais lucro. E para fazer a magia, é preciso diminuir os custos… ou seja, baixar cada vez mais os gastos de produção, apostar ainda mais no que pode dar certo (e apenas nisso) e… demitir muita gente.

O futuro Museu da Academia

Enquanto isso, na Academia… Vem aí a primeira reunião geral dos mais de seis mil integrantes ativos da Academia. Dia 4 de maio, ao vivo no teatro Samuel Goldwyn aqui de Beverly Hills, e via skype para Nova York e a sede da Pixar no norte da Califórnia (vejam como a Pixar tem peso…), os acadêmicos vão receber notícias sobre: o projeto do Museu da Academia, que está sendo construído ao lado do Museu de Arte de Los Angeles, o LACMA (e cujo teatro já foi batizado em honra de David Geffen, que doou 25 milhões de dólares para o projeto); a votação eletrônica para o Oscar, ano que vem; e, nas palavras do presidente Hawk Koch, “o impacto da tecnologia nos Oscars e na Academia em geral”. Hummm… Isso promete… Estou de olho….


Adeus às musas de muitas juventudes: Sarita Montiel, Annette Funicello
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Ana Maria Bahiana

Maria Antonia Alejandra Vicenta Alpidia Isadora Abad Fernandez/Sara (Sarita) Montiel, 10 de março 1928 – 8 de abril 2013

''Como aves precursoras de primavera,
en Madrid aparecen las violeteras
que pregonando… parecen golondrinas''

Annette Joanne Funicello, 2 de outubro de 1942 – 8 de março de 2013

''É engraçado, toda vez que estou triste ou tenho um problema eu penso: O que Mr.Disney faria se estivesse aqui?''


Sexta temporada de Mad Men: passando pelo portal
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Ana Maria Bahiana

Como o perfume das flores do Havaí, que serve de moldura  ao primeiro episódio da sexta temporada de Mad Men, a morte é uma presença constante e sutil nas vidas dos publicitários da Sterling Cooper Draper Pryce. O episódio de duas horas se chama ''O Portal'' (''The Doorway''), e começa subitamente com imagens tensas do que pode (ou não) ser uma pessoa tendo uma grave emergência médica.

Corte súbito para o Havaí , onde  Don Draper foi, com Megan, tirar umas “férias” pagas por um grande hotel, a pretexto de se inspirar para a próxima campanha publicitária do estabelecimento.  Em cores de cartão postal dos anos 1960, enquadrada entre azuis e flores tropicais, o vulcão adormecido Diamond Head ao fundo, a praia de Waikiki e seu luxuoso resort sugerem uma versão de consumo do paraíso _ Don e Megan estão suspensos numa outra realidade, longe dos “eus” que deixaram em Nova York, abertos, quem sabe, a outras possibilidades. Vai um baseado? Vai um confronto com a crise da meia idade? Há também drinques exóticos, um casamento e um eco do passado de Don, que volta à Avenida Madison mais bronzeado mas tão insatisfeito quanto antes.

Os screeners de ''O Portal'' vieram acompanhados da cartinha mais enjoada que o famosamente enjoado Matthew Weiner já mandou para nós, pobres vassalos da imprensa. Nela ele “pede” (ordena, na verdade) que não se diga o ano em que a nova temporada se passa, qual a decoração da agência, não diga se há novos personagens e se os personagens antigos tem novos relacionamentos.  Sou de paz, mas digo: levando em conta as referências a livros, programas de TV, capas de revista, vocabulário (“hippies”) e o abundante maconhal que pontua várias cenas, Weiner está sendo muito bobo – é claro que a sexta temporada se passa entre o final de 1967 e um bom trecho de 1968, o período dos grandes terremotos culturais, políticos, sociais e existenciais que sacudiram os Estados Unidos e o mundo. O que farão, neste mundo em ebulição, os quarentões da chefia, os trintões que eram jovens ambiciosos no início da série, as mulheres cujo espaço se amplia, trazendo mais oxigênio e mais veneno, também?

Por enquanto, neste episódio de abertura, estamos no portal. Há uma bebedeira homérica, uma interessante festa de ano novo e duas mortes, não tão súbitas e trágicaa como as anteriores, mas com intensas repercussões emocionais. Sally avança pela adolescência e Betty tem um vislumbre do que é a tal da contracultura. Megan faz o papel de empregada numa novela ( e assina autógrafos para fãs); Peggy não tem mais nenhum receio de impor sua autoridade; Roger experimenta a psicanálise, e Don , num de seus momentos de brilhantismo, tem um ato falho que mostra exatamente por onde anda sua cabeça.Num dos momentos definidores do episódio, um fotógrafo diz a ele, inocentemente: ''Seja você mesmo''. É a pergunta-tema da noite…

Como Os Sopranos -escola de treinamento de Weiner – antes dela, Mad Men é uma série que marcou e mudou a TV americana, abrindo uma clareira de criação de dramaturgia num momento que parecia entregue inteiramente aos realities. Esta é sua penúltima temporada, e Weiner e sua equipe tem agora do desafio da alta expectativa, da capacidade – ou não – de manter a qualidade, a calma que impos ao seu ritmo, explorando (nas palavras do seu criador) não a época, mas as pessoas que, pela roleta do tempo, casaram de viver na época. ''O Portal'', abrindo essas vidas para o momento em que, mais uma vez, elas tem que se definir, promete. E muito.

A sexta temporada de Mad Men estreia hoje, domingo dia 7 de abril, na AMC, nos  EUA, e dia 22 de abril na HBO, no Brasil.


Adeus, Roger Ebert, o homem que amava o cinema
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Ana Maria Bahiana

 Roger Joseph Ebert, 18 de junho de 1942 – 4 de abril de 2013

''No fim das contas o que vale é que tentamos, no limite de nossas habilidades, fazer outras pessoas um pouco mais felizes, e fazer a nós mesmos um pouco mais felizes. Isso é o que importa. Devemos tentar contribuir com um pouco de alegria para o mundo.''


Da Tailândia, sem amor: o novo de Gosling/Refn
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Ana Maria Bahiana

Te cuida, Tarantino: Nicolas Winding Refn foi à Tailândia com Ryan Gosling e cinco milhões de dólares de uma co-produção franco-sueca-tailandesa com a Film District de Graham King e voltou com este sonho violento e altamente estilizado que segue os passos de Drive pelo submundo de Bangkok. E que, me dizem, vai a Cannes antes de estrear nos EUA em julho. Com vocês, Only God Forgives.


A globalização da tela pequena: a TV adere à refeitura
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Ana Maria Bahiana

Clive Owen em Second Sight, a original

Mais do que nunca em sua história de 70 anos a televisão norte-americana está seguindo a deixa do cinema e usando conceitos e projetos internacionais como base para sua produção.

Não é uma tendência inédita _ nos anos 1960 e 1970 pelo menos duas séries muito populares, All in the Family e Three’s Company, foram refeituras de séries britânicas.

Mas estes últimos anos viram uma tremenda aproximação entre produções internacionais e produtores norte-americanos de TV (e por TV hoje entendemos todas as plataformas, é claro). De Ugly Betty/ Yo Soy Betty, La Fea (Colombia) a Homeland/Prisoners of War (Israel), passando por In Treatment (Israel), The Killing (Dinamarca),House of Cards, Shameless, Being Human, Prime Suspect, The Office (Grã Bretanha), a TV norte americana está cada vez mais saindo de seu modelo habitual– criar um conceito, revendê-lo ao mundo – para criar uma outra mão no trânsito de ideias.

A temporada 2013-2014 pode ser uma recordista nesta outra mão: que eu saiba há pelo menos  seis séries sendo desenvolvidas para a TV norte americana a partir de títulos estrangeiros:

  •  Los Roldan (Argentina): Ainda sem título nos EUA, a telenovela argentina está sendo adaptada  para a rede  ABC pela produtora Ventanarosa, de Salma Hayek, a mesma que trouxe Betty La Fea para cá. O clima é de comédia dramática e a  história gira em torno de uma alta executiva riquíssima que é salva por um rapaz operário e, em sinal de gratidão, lhe dá um alto cargo em suas empresas.
  •  Second Sight (Grã Bretanha): Com quatro temporadas na Grã Bretanha (onde é exibida como uma série de longas), Second Sight está sendo adaptada para a CBS por Michael Cuesta, responsável pela criação de Homeland a partir de Prisoners of War. Jason Lee vai tomar o lugar de Clive Owen (por quê, ó céus, por quê?!!!) no papel de um detetive super inteligente e racional que, depois de sofrer um acidente que afeta seu cérebro, muda completamente sua abordagem para resolver crimes tidos como insolúveis.
  •  Rake (Austrália): Um enorme sucesso na Austrália, esta série mistura drama e comédia super sombria, com um protagonista super interessante – o advogado beberrão e farrista que adora poesia, mora na zona e namora uma prostituta. Sam Raimi e Peter Tolan (Rescue Me) estão trabalhando no piloto para a Fox, com estreia prevista para novembro.
  •  Spy (Grã Bretanha):  Um pai de família subitamente se torna um espião nesta muitas vezes premiada comédia da Sky TV britânica . Rob Corddy é o astro da versão americana, estreando no segundo semestre na ABC.
  •  The Naked Truth (Israel): Clyde Phillips, o criador de Dexter, opcionou os direitos deste drama policial israelense e está desenvolvendo a série para a HBO. Como sua compatriota In Treatment, The Naked Truth se passa inteiramente em um ambiente – no caso, a sala de interrogatório de uma delegacia de polícia.
  •  Gavin & Stacey (Grã Bretanha):  A série de comédia sobre a longa e complicada amizade entre os personagens do título virou Friends and Family na versão que a Fox espera estrear no segundo semestre com Jason Ritter e Alexis Bledel nos papéis principais.
  •  Pulling (Grã Bretanha): Sucesso na BBC, a série de comédia segue três amigas que levam muito a sério sua liberdade de beber, namorar e trabalhar o mínimo possível. Kristen Schaal, Jenny Slate e June Diane Raphael são as estrelas da versão norte-americana, da ABC.

Game of Thrones, terceira temporada: hora da virada
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Ana Maria Bahiana

Minha maior admiração por Game of Thrones, além da  pura ambição de produzir um projeto desta escala, é a exatidão como David Benioff e Daniel Weiss abraçam a vasta paisagem humana, política e social do universo criado por George R. R. Martin. Exatidão, neste caso, não quer dizer que cada um dos muitíssimos fios narrativos da saga As Crônicas de Gelo e Fogo estão presentes na série  -isso seria impossível – mas que todas as ideias fundamentais contidas na obra estão articuladas e expressas com todo o vigor que a imagem em movimento pode dar.

É a hora de repetir o mantra comigo: livro é livro, filme é filme. Ou, neste caso, TV – embora, sinceramente, Game of Thrones tenha todo o fôlego e amplidão de um filme épico, daqueles que nos velhos tempos seriam em Cinemascope 70 milímetros. Toda vez que as perucas da Daenerys ou a dicção exageradamente teatral de, digamos, Iain Glen como Jorah Mormont ou Aidan Glenn como Littlefinger me incomodam, eu me lembro da incrível complexidade do texto original e volto a me deixar levar pela série.

A terceira temporada de Game of Thrones ocupa-se de A Tormenta de Espadas, o mais longo e mais sangrento dos volumes já publicados das Crônicas. Se me lembro bem (estou relendo o livro agora), há pelo menos cinco momentos marcantes em Tormenta, grandes viradas na narrativa que envolvem sangue, fogo e, para quem não leu, surpresas daquelas que fazem a gente pular do sofá e gritar “nãããoooo”. Na verdade, David Benioff me confessou que durante as filmagens de um desses cinco momentos, atores, equipe e extras desataram a chorar. “E essas são pessoas que não choram muito, porque conhecem todos os truques e, sinceramente, tem mais o que fazer”, ele disse. “Mas foi um momento incrivelmente emocionante.”

Nem todo o livro estará lá – como GRRM disse (e Benioff confirmou), um terço de Tormenta ficou para quarta temporada, incrementado com elementos do livro seguinte, O Festim dos Corvos.

Ao ver os primeiros quatro episódios desta temporada, fiquei mais uma vez feliz com a precisão da narrativa, o modo como as “nove tramas em nove lugares” (palavras de Benioff) seguem firmes e claras, expondo as marés dos jogos políticos, dando tempo para as definições emocionais dos personagens. Logo no primeiro episódio há um sensacional encontro entre Tywin Lannister (Charles Dance) e Tyrion (Peter Dinklage, cada vez melhor, se isso é possível) que, imediatamente, estabelece a base sobre a qual todo o restante da temporada em King’s Landing vai se desenvolver. E a complicada relação entre Jaime Lannister (Nikolaj Coster-Waldau) e Brienne of Tarth (Gwendoline Christie), uma das mais fascinantes da história, para mim, tem o exato tempo de se firmar e transformar.

Uma das perguntas que eu me fazia era como a série ia utilizar esses cinco momentos – todos grandes rupturas da trama, absolutamente definidores de seus personagens – para balizar o ritmo da temporada. Ao ver o primeiro deles (um dos meus favoritos de todos os livros) encerrando o quarto episódio, posso ter certeza de que há uma bela e sólida estrutura ancorando o que pode ser a temporada mais complexa e, possivelmente, perturbadora da série.

A terceira temporada de Game of Thrones estreia hoje nos EUA e no Brasil.