Blog da Ana Maria Bahiana

Depois dos prêmios, as crises

Ana Maria Bahiana

Dá pra ver o Charlie Sheen daí? Cena de Marte Precisa de Mães...

...e os produtores Zemeckis, Jack Rapke e Steve Starke,da ImageWorks Digital

Se o Brasil retoma a vida depois do carnaval, LA  volta ao normal depois do Oscar, fim oficial e real da temporada de prêmios. Neste momento do ano que afinal começa, duas crises tem ocupado a industria:  a de Charlie Sheen e da animação por motion capture, escola Robert Zemeckis.

O suspense da crise Charlie Sheen tem duas partes: como  CBS/Warner/Chuck Lorre vão reformular Two and a Half Men,  sua série campeã de audiênica nos EUA e principal exportação mundo afora; e se Charlie será capaz de se reinventar depois do que parece  um descontrolado suicídio profissional.

Saberei mais, pelo menos sobre a primeira parte, em breve.

Passemos portanto para a segunda crise, que foi selada esta semana com o desastre de  Marte Precsia de Mães, a derradeira obra da ImageMovers Digital, o estúdio de captura digital criado por Robert Zemeckis em parceria com a Disney em 2007. Apesar de boas críticas, o longa de animação, que custou mais de 200 milhões de dólares e dois anos de trabalho para realizar e lançar, rendeu minguados 6.9 milhões de dólares na bilheteria norte americana. E os mercados internacionais não vão ajudar: Marte fez apenas 2.1 milhões de dólares nos 8 países nos quais já estreou (o filme ainda não tem previsão de lançamento no Brasil).

Todo mundo parece ter uma explicação para o fracasso de Marte : o título, que teria afugentado os meninos; a história de mães abduzidas, que poderia ter assustado a criançada mais moça; o congestionamento de lançamentos de animação. Mas o mais convicente, para mim, é o mais óbvio: a proposta estética do tipo de captura que Zemeckis e sua equipe praticam é frio, esquisito, desconfortável e, mais importante, vastamente suplantado por outras opções, como a perfeição psicodéllica de Avatar ou a “emotion capture” de Rango.

Mars – escrito e dirigido por Simon Wells, mas produzido por Zemeckis- não é a primeira rejeição deste estilo de mocap : Os Fantasmas de Scrooge foi outro fracasso de bilheteria, capaz de segurar os 200 milhões de dólares de seu custo apenas depois do lançamento internacional. O Expresso Polar, seu antecessor no estilo Zemeckis de mocap, foi apenas ok na bilheteria em 2004 _ e ambos contavam com o clima de festas para gerar interesse. (Beowulf, voltado para um outro segmento de plateia, é um caso a parte, mas também foi salvo pela bilheteria internacional).

A ImageWorks Digital já havia sido ejetada pela Disney ano passado, e agora fechou de vez, demitindo não apenas os 450 técnicos, artistas e funcionários responsáveis por Mars, mas também todos os que trabalhavam no reboot de Yellow Submarine – que já está oficialmente cancelado.

É um drama comum em pioneiros: ver primeiro não significa necessariamente ter a melhor solução.

Nos idos de 2002 Zemeckis foi um dos primeiros a abraçar completamente o que se anunciava como a nova grande fronteira da linguagem cinematográfica: a capacidade de anular a divisão entre real e virtual, captado e manipulado. Infelizmente, a WETA de Peter Jackson disparou à sua frente, desenvolvendo a tecnologia necessaria para realmente integrar os dois aspectos, inserindo o virtual no real sem quebra de engajamento da plateia – pensem na primeira vez em que vimos Gollum em Senhor dos Aneis – e, finalmente, em Avatar,  possibilitando a completa fusão de ambos.

Acho muito interessante o que aconteceu com Rango – que, se vocês não viram, devem correr para ver, pois é o melhor filme de 2011, até agora. Talvez porque tenha sido concebido e executado por dois forasteiros no mundo  da animação – Gore Verbinski e a Industrial Light and Magic – o maravilhoso western existencial se permitiu pensar fora da caixa.

Verbinski escreveu o roteiro pensando em cinema em geral e não animação em particular – o melhor modo de se pensar, como já propunha Papai Walt Disney . E como não queria perder a capacidade de improvisação de seu velho amigo Johnny Depp, e a vitalidade que vem de um bando de atores interagindo – o equivalente a gravar um álbum ao vivo- Verbinski e a ILM inventaram um sistema entre o mocap e a animação digital, captando interpretações ao vivo de todo o elenco que serviram de base para criação de suas personas digitais.

Há tempos este sistema é usado por animadores tradicionais e digitais como base de sequencias mais complexas – a valsa entre Bela e Fera, por exemplo, no longa de 1991. Sem um passado de animador, Verbinsky olhou para o recurso como uma ferramenta criativa nova, que poderia ancorar toda a sua saga de habitantes do deserto vivendo uma saga meio Chinatown, meio Sergio Leone e um tanto Carlos Castañeda. O resultado é um filme que, além de maravilhoso por si mesmo, está sendo abracado entusiasticamente pelas plateias. Como merece.

Mais Rango no próximo.

  1. Daniel Braga

    21/03/2011 11:59:42

    Nunca consegui gostar de nenhuma animação do Robert Zemeckis. Espero que com (mais) esse fracasso no ramo da animação, o diretor possa voltar a fazer filmes memoráveis.

  2. Cesar Gananian

    20/03/2011 16:06:21

    Vamos esperar pela volta de Roger Rabbit, esse filme nãi vai fracassar!

  3. Thiago Teixeira

    17/03/2011 13:39:26

    Ana, vc é a cara da Shannen Doherty na época de Barrados no Baile (Beverly Hills 90210). Bjos.

  4. Amanda Denti

    17/03/2011 10:16:17

    Oi Ana, bom dia. Estou fazendo uma matéria para a Revista Náutica sobre os grandes filmes que já retrataram o mar. Gostaria de checar se você toparia participar como crítica, dando dicas e fazendo breves comentários para essa lista de filmes. Caso haja interesse, preciso do seu e-mail para enviar os detalhes. Te mandei uma mensagem pelo facebook e, se preferir, meu e-mail é o amandadenti@gmail.com.Muito obrigada desde já!

  5. Ana Maria Bahiana

    17/03/2011 00:19:59

    Vejo semana que vem...

  6. brendam

    16/03/2011 22:46:45

    Ana, falando em animação, chegou a ver 'Rio' do Carlos Saldanha? Liberaram uns vídeos ea trilha tá um show.

  7. Rafael Gomes

    16/03/2011 18:29:17

    Concordo com o Fikipe, é estranho assistir a uma animação protagonizada por "seres humanos" digitais, sempre soa artificial. Tanto é que nenhum dos filmes de animação que fez sucesso empregava personagens humanos a sério, eram sempre humanos como coadjuvantes (como nos Toy Story ou WallE) ou de uma forma menos séria (como em Monstros S.A.).Ana, você sabe alguma coisa sobre a adaptação do romance A Resposta (The Help aí) para o cinema? Fiquei tão curioso quando li que ele viraria filme, queria saber quem serão as empregadas.

  8. Renato Félix

    16/03/2011 12:42:03

    Curioso... Tenho que ver 'Rango' de novo. Achei tão chato e pretensioso...

  9. Filipe Pinheiro

    16/03/2011 11:37:10

    O grande problema dessas animações é que elas tentam ser muito reais e acabam parecendo demasiadamente artificiais. E eu considero Beowulf, Expresso Polar e Fantasmas de Scrooge, filmes com roteiros rasos e pouco trabalhados. O Zemeckis bem que poderia fazer um estágio de verão na Pixar, não é mesmo?Abraços, Ana. E parabéns pelo blog.=]

  10. Gustavo Zago

    16/03/2011 00:48:32

    ninguem estudio se interessou em seguir Yellow Submarine??que pena....

  11. Jeferson

    15/03/2011 23:42:28

    Pois é... as técnicas podem ser diferentes, mas pelo menos nas imagens que eu vi até agora do filme do Tintin feito pelo Spielberg com tecnologia desenvolvida pela WETA, eu achei que pareciam com os feitos com as técinas do Zemeckis.E parece que os investimentos tbém são altos, com a previsão de que seja feita uma trilogia.Vc sabe como tem sido as reações até agora sobe o projeto ou ainda é uma grande incógnita, Ana ?

  12. Leonardo

    15/03/2011 22:53:02

    Acho que o Robert Zemeckis deveria voltar a dirigir filmes. Acho que ele ainda nos pode dar filmes como "De Volta para o Futuro", ""Revelacao (What Lies Beneath), Forrest Gump, etc. Ele tem uma visao genial do movimento de camara, que é fácil reconhecer nos filmes dele. Quem sabe agora, com a falencia da ImageWorks ele volta a nos encantar.um abraco.

  13. João Luís Martínez

    15/03/2011 22:19:06

    Concordo que os filmes de Zemeckis com a tal captura digital causam um desconforto. Tanto em "O Expresso Polar" , quanto em "Beowulf", tive que fazer força para me encantar e nem sempre consegui, tanto que não me motivei a assistir "Os Fantasmas de Scrooge".Como roteirista, me parece que a escolha do material narrativo sempre esteve à reboque da técnica. Para terminar, de quem foi a "brilhante" ideia de usar "abduções maternas" como tema para um filme infantil? Esqueceram que são elas que levam seus filhotes ao cinema?

  14. Gean

    15/03/2011 21:59:14

    Graças a Deus, não deu certo este filme do Zemeckis.Tomara que ele agora volte a dirigir filmes sem esta técnica.Que saudades dele e de filmes como " De volta para o Futuro ", Nalfrago, Uma Cilada para Roger Rabit...e até de Revelação...

  15. João Oliveira

    15/03/2011 21:15:40

    Quem sabe agora o Zemeckis deixa essa obsessão de lado. Gosto dele como cineasta, mas sempre achei q ele estava exagerando com essa técnica.

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