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Voando para o ‘Rio’: por que o filme de Carlos Saldanha é muito importante
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Ana Maria Bahiana

 

Toda vez que alguém me faz a pergunta clássica – quais as chances do cinema brasileiro no mercado internacional? – eu respondo, com certa dose de cautela: as mesmas de qualquer país que produza cinema regularmente e, assim, dê oportunidades para o aparecimento e desenvolvimento de seus talentos.

E – eu acrescento, sempre- me parece que na animação estão, hoje, as maiores chances.

Em primeiro lugar, porque a quantidade de brasileiros que já estão, hoje, trabalhando em praticamente todas as produtoras de animação, da Disney à Klaaski Csupo, da Dreamworks à Pixar, é imensa. Em segundo lugar, porque animação tem enorme facilidade de transpor fronteiras, reduzir grandes temas a uma experiencia comum a diferentes culturas, idiomas, idades. Uma grande parte da animação é como o cinema mudo – transmite ideias sem palavras. O cérebro humano adora isso: é assim que sonhamos, que nos recordamos, que construimos nosso repertório pessoal.

Disney sempre compreendeu isso. No passado, quando Walt era vivo, seus personagens visitaram a América Latina e deram a partida na “aproximação cultural” que se fazia necessária durante a Segunda Guerra Mundial. Em anos mais recentes, longas da Disney flertaram com a China (Mulan), o Oriente Medio (Aladim),  a África e o público de origem africana (Rei Leão, A Princesa e o Sapo), a América hispânica (A Nova Onda do Imperador).

Era uma questão de tempo até que a confluência dessas duas tendências – a presença de brasileiros no setor e a sua tradição internacionalista – chegasse ao Brasil.

Sergio Mendes, produtor da trilha, e Carlos Saldanha (dir) na premiere de Rio, domingo, em Los Angeles

Teria sido sensacional se a maturidade desse movimento se desse através de uma produção brasileira. Em teoria, temos todos os elementos para isso. Mas a prática é sempre muito mais complicada.

Mas vamos comemorar – Rio, produção norte-americana (Blue Sky Studios, braço de animação da Fox), é exatamente o tipo de filme que concretiza essa aproximação cinematográfica entre o Brasil e o mundo. A Fox  pagou as contas e, com certeza, exigiu a presença de talento local : Jesse Eisenberg, Anne Hathaway, Jamie Foxx, etc (o que é uma coisa boa – garante muito melhor o livre trãnsito internacional). Mas sua concepção, seu desenho de base e todo o controle de sua narrativa são de um brasileiro que faz parte dessa vasta migração de talento: Carlos Saldanha, que pensou, com carinho, em elementos de nossa cultura e paisagem.

É o perfeito produto de exportação: padrão de qualidade e astros de calibre internacional, marketing global com toda força de um grande estudio, e um coração integralmente brasileiro, sem aquela visão forçada, de fora para dentro, que estamos tão acostumados a ver.

E é lindo.

Voar é uma dessas experiencias impossíveis que o cinema reproduz bem e que o cinema de animação recria espetacularmente. Ao colocar pássaros brasileiros como protagonistas de sua história, Carlos Saldanha deu a seu filme uma ferramenta excepcional para envolver as plateias e mostrar o Rio de Janeiro de um dos melhores pontos de vista possíveis. Nada como a perspectiva do alto, em movimento, para captar em toda grandeza a espetacular paisagem de blocos gigantescos de granito, massas de verde, curvas de azul.

Aprecio sobretudo a honestidade de não ignorar os problemas – a pobreza, as favelas, o menino de rua, os contrabandistas de animais silvestres- combinada com a delicadeza de saber como mostra-los para plateias infantis .

É uma fantasia com raízes na realidade, um bilhete de amor com a generosidade para envolver quem não conhece o começo do romance.

E, estrategicamente, é importantíssimo. Rio é o campeão de bilheteria nos mercados internacionais, e estou muito curiosa para ver como se portará aqui (a premiere foi neste domingo, e o filme entra em cartaz nesta sexta nos Estados Unidos, em contra-programação a Scream 4). Antecipo enorme sucesso.

Mas mesmo sem isso, Rio já abre portas de par em par para temática e talento brasileiros que estejam dispostos a realmente dialogar com a indústria e com plateias do mundo todo.

E, sinceramente, acho que mais gente vai resolver visitar o Rio de Janeiro depois de ver este filme do que com todas as campanhas oficiais que foram feitas nos últimos anos…

 


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