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Let Me In: um remake à altura do original
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Ana Maria Bahiana

Fim de semana interessante na bilheteria. Fiquei feliz ao ver a popularidade de The Social Network, o título número 1 nos EUA com 23 milhões de dólares de bilheteria. Para um filme que é  estudo de personagem, diálogo em alta intensidade e recusa de abraçar os padrões herói/vilão, é uma bem-vinda surpresa.

Fiquei triste, contudo, com o fraco desempenho de Let Me In, a refeitura do cultíssimo sueco Let the Right One In – um traço na bilheteria, com pouco mais que 5 milhões de dólares. Triste porque o filme é ótimo, reverente quanto ao material original, delicadamente adicionando referências que tornam a história enraizada não mais num subúrbio de Estocolmo, mas em Los Alamos, Novo México, nos primeiros anos da década de 1980.

Refeituras, em si mesmas, não são nem boas nem ruins – são apenas mais uma forma de abordar conteúdo pré-existente, como adaptações de livros, graphic novels, séries de TV. É verdade que a grande maioria das refeituras são bobagens colossais – banalizações de algo que fazia todo sentido do mundo na versão original. Mas um bom conceito e uma boa história, com sólida estrutura e personagens completos, pode, sim, ser transplantada de lugar, tempo e referência cultural e se transformar em algo muito interessante. Penso em Carne Trêmula, Os Infiltrados, Sete Homens e um Destino, entre outros.

Let Me In com certeza está nesta nobre lista. Antes de ser diretor no cinema (na TV ele já tinha vasta experiência) Matt Reeves era roteirista, assinando dois títulos excelentes: The Pallbearer, de 1996, e The Yards, de 2000. Ao trazer Let The Right One In da Suécia para o final do inverno no Novo México de 1983 Reeves fez, e primeiro lugar, um admirável trabalho de roteiro, simplificando elementos (que já haviam sido sintetizados pelo próprio autor , John Lindqvist,  no filme original, uma adaptação do  seu bem mais complicado livro) e firmando a tragédia da história em cultura pop, religiosidade e hábitos sociais coerentes com a realidade norte americana na era Reagan.

O elenco é excepcional – com destaque para Chloe Moretz, nova iteração de Jodie Foster,  Kodi Smit-McPhee, vindo de A Estrada, e o sempre ótimo Richard Jenkins, como o guardião da menina. E a trilha de Michael Giacchino tem a dose certa de lirismo e treva que a história exige.

Boas refeituras tem um elemento em comum – ao levar uma história de um meio ambiente para outro, ressaltam o que havia de essencialmente brilhante no material original. A profunda solidão de todos os protagonistas de Let Me In – não apenas as crianças, mas os adultos à sua volta, também – a escuridão de um mundo que fala muito em “bem”  e “mal” mas não consegue definir nem um nem outro iluminam o filme de Matt Reeves como um sol da meia noite bizarramente perdido sobre as mesas do Novo México.


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