Blog da Ana Maria Bahiana

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Guerra nas pipocas: a TV e as mulheres estão ganhando…
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Ana Maria Bahiana

game-of-thrones-season-4-episode-9-the-watchers-on-the-wall-wildlings-hboMinha vontade esta semana era escrever exclusivamente sobre Game of Thrones, sobre como esta quarta temporada está  elevando ainda mais o nível já alto da série . E como Neil Marshall, que já havia botado pra quebrar na batalha do Blackwater, na  segunda temporada, definitivamente colocou a televisão num nível antes povoado apenas por gigantes como David Lean, William Wyler , John Ford. Porque dirigiu Watchers on the Wall como antes se dirigiam os grandes filmes de combate, tendo a petulância de incluir este plano sequência (que já vais er devidamente anexado ao meu curso…) Nessa hora é  bom lembrar  que Neil Marshall assinou alguns dos meus filmes de ação/terror favoritos dos últimos anos: Dog Soldiers, Abismo do Medo, Centurion. Tudo explicado: o bom cinemão está mesmo indo para a TV. Mas existem outros assuntos palpitantes aqui na cidade do outro lado do continente – e da Copa. Por exemplo:  edge-of-tomorrow-trailer-2

 

O que fazer com Tom Cruise? A vida é não é fácil quando um jovem mega-astro  passa dos 50 anos deixando para trás uma carreira muito mais de estrela do que de ator. Cruise é um dos nossos últimos, senão o último, puro “astro de Hollywood”. Sua glória se baseia não em como intrepreta seus papéis mas em como os papéis se transformam nele, Tom Cruise. Seus anos de esplendor estão entre Negócio Arriscado e Guerra dos Mundos, com um apogeu ali entre Top Gun e Magnolia, com um Kubrick ensanduichado no meio. Tempos mudaram, plateias mudaram ainda mais e, agora, No Limite do Amanhã tomou uma surra na bilheteria norte-americana, apesar dos elogios da crítica (merecidos – é um filme muito mais inteligente do que precisa). A bem da verdade a Warner, que é um verdadeiro rolo-compressor no marketing e distribuição, foi, digamos assim, super discreta e contida no lançamento de Limite do Amanhã. O empurrão maior foi reservado para os mercados internacionais, onde o filme foi lançado antes da estréia norte americana (sentiram a pressão aí?) E onde está fazendo uma bela carreira, com mais de 82 milhões de dólares em caixa – indica um caminho possível:  os anos dourados de Cruise estão fora dos Estados Unidos. É um padrão comum a todos os grandes astros de ação dos anos 80 e 90. Será que algum dia Cruise se imaginou na mesma categoria que Schwarzenegger e Stallone? hazel gus on set

 

Quem está dominando as bilheterias? Quem deu surra em No Limite do Amanhã foi A Culpa é Das Estrelas, a própria antítese do filme de ação/sci-fi.  É a segunda vez  em duas semanas desta temporada-pipoca, em geral dominada por adolescentes masculinos e familias, que o público feminino dá as cartas : Malévola passou de longe Um Milhão de Maneiras de Pegar Na Pistola (não briguem comigo – foi esse o título que o filme de Seth MacFarlane ganhou no Brasil) ; e acho que a mesma coisa vai acontecer internacionalmente. O mito de que apenas rapazes entre 14 e 39 anos vão ao cinema em quantidades suficientes para alegrar os grandes estúdios não se sustenta mesmo.  Bastava olhar o último relatório da Motion Picture Association of America para o ano de 2013: 51% dos compradores de ingressos são mulheres; 52% das pessoas que vão ao cinema também são mulheres. Num recente seminário da indústria, aqui em LA, o workshop sobre “como atrair o público feminino” estava superlotado. Eu não fui mas tenho uma sugestão simples: contratem mais mulheres roteiristas, diretoras, produtoras. Opcionem mais obras onde mulheres são protagonistas. O “público feminino” não é um gueto – é metade do mundo. E parece que é a metade que está ganhando. 680x478

 

Por que O Destino de Júpiter foi chutado para 2015? Vamos voltar ao marketing da Warner? Porque a resposta está aí….  Duas palavras: Cloud. Atlas. Que custou 102 milhões de dólares e fez 29 milhões e trocados nos Estados Unidos e Canadá, sendo salvo, assim-assim, pelos mercados internacionais (olha eles aqui de novo…). E mesmo assim… Certo, o motivo oficial pode até ser mesmo a pós produção, os efeitos digitais, etc. Mas suspeito que a razão mais profunda é estratégica: 18 de julho, a data original, é o filé da temporada-pipoca, super competitiva, onde um passo em falso é muito mais fatal do que os tranquilos idos de fevereiro de 2015, época morninha, sem grandes expectativas, sem a necessidade de uma campanha maciça ( e caríssima) de marketing . Coisa semelhante aconteceu com a Sony e Caçadores de Obras Primas – só que da temporada-ouro para o mesmo banho-maria do começo do ano. Em outras palavras: os executivos de distribuição e marketing deram uma boa olhada no filme e tiveram aquele proverbial frio na barriga, Que não era de emoção. E ,pra terminar, um lembrete: Penny Dreadful está chegando ao Brasil em julho, pela HBO (aqui, a série é da arqui rival Showtime). Não perca. Principalmente se você é fã de terror old school, com inclinações góticas. E gosta de coisas muito bem escritas.


Entre mundos, entre medos: o maravilhoso apelo sinistro de Penny Dreadful
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Ana Maria Bahiana

 

Episode 101

Ah, Penny Dreadful, Penny Dreadful, como eu gosto de você!

Certo, não é exatamente algo que não vimos antes: o mundo opulento/aterrador da Inglaterra vitoriana é território mais que fértil, e agora mesmo está no ar, pela BBC., a ótima série Ripper Street que, embora seja um policial procedural “duro”, às vezes flerta com o sobrenatural.

E, é claro, temos A Liga Extraordinária. Fãs em geral e steampunks em particular vão achar, como eu achei, muitos pontos de contato entre o cico de obras de Alan Moore e a série de John Logan que a Showtime estreou aqui nos EUA neste último domingo. Tenham paciência – principalmente a partir do segundo episódio Penny Dreadful assume um perfil que, embora tenha pontos de contato com a Liga, é todo seu.

“Penny dreadfuls”, deve-se explicar, eram revistinhas-folhetins que faziam sucesso na Grã Bretanha de meados  do século 19 com história de terror em série. Seu público alvo eram (como hoje, aliás….) os adolescentes . Uma confluência de formatos e estios que fascinou o criador e showrunner John Logan (Skyfall, Hugo Cabret, Gladiador, os próximos dois 007).

Este Penny Dreadful pode ser “lido” de muitos modos diferentes. Como na Liga de Alan Moore, Logan faz um refogado bem apurado de praticamente todos os mitos e criaturas fantásticas da era vitoriana: vampiros, múmias, criaturas feitas a partir de cadáveres, Jack O Estripador. Também como na Liga há um grupo de personagens nada “normais” reunidos em torno de um propósito comum: um aristrocrata endinheirado fascinado com explorações geográficas (Timothy Dalton), uma bela médium com vastos dons paranormais (Eva Green), um pistoleiro norte-americano de pontaria infalível (Josh Hartnett) e um certo Doutor Victor Frankenstein (Harry Treadway).

O objetivo, pelo menos em tese, é achar a filha do aristocrata, desaparecida em circunstâncias que nunca são claramente mencionadas – e cuja primeira tentativa de resgate, logo no episódio de estreia, indica claramente que… bom… a coisa não é bem assim.

Episode 101

Essa, na verdade, é a essência da série: revelações constantes, uma atrás da outra, camadas de trama e de definição de personagens sendo retiradas, a cada momento. Cicatrizes são um elemento visual importante, sempre presente: elas apontam para a ideia de que há algo por baixo, algo oculto, feridas e traumas e monstruosidades mal curadas, mal contadas, mal esquecidas, mal cobertas. De quem o pistoleiro está fugindo? Por que o aristocrata frequenta lugares tão… inóspitos? O que realmente aconteceu com a filha dele? Por que a médium vive na mansão do aristocrata, por que reza fervorosamente, quase histéricamente?  O diretor dos dois primeiros episodios, Juan Antonio Bayona, nos brinda logo de cara com um plano sensacional de uma dessas preces, Eva Green praticamente decapitada sob o peso de sua devoção… ou de sua culpa?.

Lá pelo meio do segundo episódio uma sessão espírita toma rumos realmente extraordinários, e Penny Dreadful engrena numa descida delirante para o que os (fabulosos) diálogos de Logan descrevem como “um meio mundo entre a crença e o medo”. Com uma direção de arte espetacular, que contextualiza visualmente uma era fascinada ao mesmo tempo com a ciência e o ocultismo, ganhando fortunas com a rrevolução industrial mas sonhando com romanticamente com um mundo selvagem, e uma fotografia de cinema, Penny Dreadful tem ainda, para a sua largada, um diretor que sabe como poucos armar uma cena e deixar a imagem contar a história. São tantos os exemplos que não me arrisco a cometer spoilers…

Digo apenas: não percam de jeito nenhum.


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