Telluride clareia as apostas para os prêmios. E tem gosto de Brasil.
Ana Maria Bahiana
Tilda Swinton, Glenn Close, George Clooney e Michael Fassbender acabaram de garantir a pole position para a largada da Corrida do Ouro 2011: seus filmes – We Need to Talk About Kevin, de Lynne Ramsey; Albert Nobbs, de Rodrigo Garcia; The Descendants, de Alexander Payne; A Dangerous Method, de David Cronenberg e Shame, de Steve McQueen- estão na seleção do super exclusivo Festival de Telluride que começa amanhã.
São quatro dias do melhor cinema do mundo todo, sem prêmios e sem badalações, numa cidadezinha no alto das Montanhas Rochosas. E porque tem uma curadoria rigorosa, um clima relax e sem pressão (ao contrário dos grandes festivais), acesso ao mesmo tempo exclusivo e popular e posicionamento ideal no começo do outono norte-americano, Telluride está se tornando o melhor primeiro indicador do que vem por aí na temporada de prêmios.
Note-se, por exemplo, que Albert Nobbs foi escolhido, mas seu principal rival na “batalha das divas”, The Iron Lady, com Meryl Streep, ficou de fora (segundo a organização do festival, o filme ainda estava em pós produção e os produtores não queriam arriscar uma cópia inacabada, como Paul Thomas Anderson fez com Sangue Negro alguns anos atrás.)
O Clooney diretor de Tudo pelo Poder também não foi considerado pelo festival (e de fato o filme é fraco), mas o Clooney ator está na linha de frente, agora, com The Descendants, o independente-de-luxo que mais tem crescido em zum-zum de bastidor, nestas últimas semanas do verão.
Gostei de ver We Need To Talk About Kevin e Shame na lista: dois filmes com propostas intrigantes por dois diretores britânicos que vem na contramão do britânico-de-exportação tão comum nas temporadas de prêmios. Kevin põe Tilda de novo nas cercanias dos prêmios, e Shame pode finalmente aumentar a popularidade de Steve Mc Queen, um interessantíssimo diretor inglês (que não se parece nem um pouco com seu homônimo astro dos anos 1960) cujo filme de estreia em 2008, Hunger, ainda está na minha lista como um dos melhores, mais originais e perturbadores títulos da primeira década do século 21. Além do mais, Shame tem três ótimos atores que, imediatamente, entram para as pré-listas: Michael Fassbender (que tem o reforço do filme de Cronenberg), Carey Mulligan (que também tem Drive no seu currículo 2011) e James Badge Hale (que pode ser um dos coadjuvantes do ano).
E agora ao que eu acho mais lindo de Telluride este ano: o Brasil. O Brasil está nas Montanhas Rochosas tanto na presença de Transeunte, de Eryck Rocha, na mostra principal quanto na mostra paralela organizada pelo curador convidado, Caetano Veloso. Não sei o que amei mais: o fato de Caetano ter escolhido Se Meu Apartamento Falasse, do mestre Billy Wilder, ou o documentário Nordeste: Cordel, Repente e Canção, de minha amiga Tânia Quaresma, cujo maravilhoso trabalho documentando a música do Brasil eu ainda espero ver devidamente reconhecido. Do Norte ao Sul.