O blockbuster ainda tem futuro?
Ana Maria Bahiana
Não muito tempo atrás, quando a temporada-pipoca começava exatamente agora, no feriadão do 4 de julho, dia da independência norte americana, os estúdios sabiam exatamente o que fazer: por um filmão de ação no máximo possível de telas, e esperar a grana pingar no caixa. Eu disse pingar? Palavra errada. Tsunami seria o mais correto.
Eram os bons tempos de Exterminador do Futuro 2, 31 milhões de dólares em 1991; Independence Day, 50 milhões de dólares na estreia em 1996; MIB Homens de Preto, 51 milhões de dólares em 1997; Transformers, 70 milhões de dólares em 2007.
Mas estes agora são tempos em que um filme como Homem de Aço quebra recordes, faz mais de 528 milhões de dólares pelo mundo afora e ainda não dá lucro (ele precisa fazer três vezes seu orçamento de 225 milhões de dólares para isso), e,ainda por cima, é deslocado do primeiro lugar na bilheteria por um longa de animação, Universidade Monstros. Fenômeno que deve ser repetir exatamente agora, no feriadão, quando outro filme criado dentro da fórmula para fazer sucesso na temporada pipoca – O Cavaleiro Solitário, bem ruinzinho, aliás – vai levar uma surra de outro longa de animação, Meu Malvado Favorito 2.
Não sei se os estúdios estão se fazendo esta pergunta, mas me parece o óbvio: o “frankenfilme”, o filme feito por comitê, com todo mundo dando palpite e anexando o que acha que vai fazer sucesso, ainda funciona? E como é possível sobreviver numa era em que tais projetos só podem ser rentáveis se derem retornos que mais parecem o PIB de alguma pequena república do leste europeu?
Diante disso, ficou ainda mais interessante a leitura desta experiência feita pelo New York Times: Red, White and Blood, argumento fictício de um possível frankenfilme colando todos os clichês que, teoricamente, devem dar super certo na bilheteria – Velozes e Furiosos misturado com Duro de Matar, mais romance açucarado e muitas explosões — foi submetido a um produtor, dois executivos de marketing , um especializado nos Estados Unidos,outro nos mercados internacionais, um pesquisador de mercado, um executivo de estúdio e um roteirista.
Cada um deles deu seu palpite, e eis o que eu deduzi que, pelo senso comum hollywoodiano, funciona num filme, hoje:
– Armas mortais, imensas e apavorantes. Dar tiro é pouco.
– Ninguém mais aguenta heróis-presidentes. Chefes da CIA ou agentes secretos funcionam melhor.
– É importante ter atores bonitões que tirem a camisa frequentemente.
– Os elencos devem ser multi-culturais e multi-étnicos.
– Se possível, incluir diálogo em outros idiomas, especialmente espanhol.
– Menos romance, mais ação. Segundo o marketeiro internacional, romance vende mal internacionalmente. Ação e muitas explosões é o que o público fora dos EUA gosta de ver.
– Nada de sexo – o filme precisa ser para maiores de 13 anos.
– Quando em dúvida, destrua coisas espetacularmente. Um monte dessas cenas resolve qualquer fraqueza do roteiro.
O que vocês acham?