Blog da Ana Maria Bahiana

Arquivo : julho 2014

Confissões de um homem muito estranho: uma conversa com Guillermo del Toro
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Ana Maria Bahiana

guillermo-del-toro_Fotor   Alguns dias atrás passei uma tarde excepcional com uma pessoa que admiro muito: Guillermo Del Toro. Desde Cronos, em 1993, Del Toro me impressionou como um olhar e uma voz originais e únicas, ao mesmo tempo extremamente culta e radicalmente pop, com uma pegada visual que estava fazendo falta no gênero fantástico. Tudo o que Del Toro fez depois confirmou minhas suspeitas. Ainda bem. Na véspera da estréia norte-americana de The Strain –a  adaptação épica dos três livros que Del Toro escreveu com Chuck Hogan – Del Toro me deu o prazer de uma longa conversa sobre terror, cinema, sua coleção de memorabilia e as três casas que mantém aqui em Los Angeles para abrigar toda a sua tralha, mais mulher e duas filhas.  (Devo acrescentar que Del Toro está, neste momento,  em adiantada pré-produção de Crimson Peak, thriller de terror  gótico sobre casas mal assombradas estrelado por Jessica Chastain, Charlie Hunman e Tom Hiddleston, e que estreia aqui em outubro de 2015….) Alguns momentos bacanas do papo: Você começou sua carreira  na TV, no México, e agora está aqui na TV dos Estados Unidos – como, aliás, vários de seus colegas diretores. A TV está mesmo passando por uma Era de Ouro? _ Eu acho a TV um dos lugares mais interessantes, criativamente, hoje, para se trabalhar. Uma coisa que amo na TV é a possibilidade de mudar o tom da história de temporada para temporada, de desenvolver profundamente os personagens, de criar e explorar quantos arcos narrativos quisermos. E não estou nem falando de algo experimental _ estou falando de um canal pago ou mesmo aberto. Você não precisa correr para desenvolver seu personagem – você não precisa nem mexer nele nas primeiras quatro horas de uma série! E num filme você tem duas horas para fazer tudo! Para quem escreve, como eu, é uma proposta irresistível – hoje podemos ser muito mais audazes, mais ousados, e ainda sim atingir uma grande plateia. Não me espanta que muitos de meus colegas, diretores como Alfonso Cuaron, David Fincher e Steve Soderbergh estejam trabalhando para TV. É onde as coisas interessantes estão acontecendo. Você se policiou ou se restringiu quando adaptou seus livros para a TV? _Eu não sou muito bom em termos de me policiar ou me restringir… Mas até eu achei que alguns trechos dos livros eram pesados demais para serem mostrados… perturbadores demais. Então deixei de fora. Se algo é extremo demais – mesmo numa série que é cheia de momentos extremos – isso pode interferir com a apreciação de toda a história. Ler é uma coisa, ver é outra. Algo excessivo pode passar a ser repugnante, visualmente. E isso sou eu falando – eu que nunca tive medo de coisas repugnantes!

Del Toro e uma parte muito pequena de seu "terrário".

Del Toro e uma parte muito pequena de seu “terrário”.

Como você se define? _ Sou um cara muito estranho. Eu fui um menino muito estranho, e agora sou um homem muito estranho. Adoro minha coleção de monstros, meus kaiju, meus anime, meus posters. Moro numa casa normal com a minha familia mas trabalho nas minhas duas casas anormais onde tudo isso está reunido. E me sinto feliz como um lagarto num terrário. Eu sempre me achei um lagarto. Se você põe um lagarto num shopping, ele vai ficar apavorado, perdido. Mas num terrário ele está bem feliz e contente. Esse sou eu. Você diz isso porque gosta do terror e do fantástico? _Não… é porque eu sou estranho mesmo, e sei disso. Sou obcecado pelo terror e pelo fantástico desde garoto, mas sempre busquei algo diferente nele. Sempre procurei ler tudo sobre o assunto, ver todos os filmes possíveis. Mas quando eu crio, eu sei que estou pegando uma tangente. Estou indo por um outro caminho. Sou igual a um taco com caviar e um pouco de ketchup e mostarda por cima. Nem todo mundo vai gostar de mim, mas é como eu sou. Qual o diretor de cinema fantástico que você mais admira? _Tem muitos… Terror é uma coisa tão pessoal… é tão pessoal quanto comédia… o que faz uma pessoa rir pode dar nojo em outra pessoa… Terror é assim também.  O que eu acho apavorante e genial e sublime outra pessoa pode achar medíocre, e não se impressionar nem um pouco. Admiro muitíssimo John Carpenter. Acho um diretor ousado e maluco que nunca foi devidamente apreciado. Ele é fantástico, inteiramente avant-garde. O Enigma de Outro Mundo (The Thing, 1982) é absolutamente incrível! É fantástico! E no entanto foi massacrado quando estreou… Por isso eu digo que sou estranho mesmo… Se você quiser ler sobre o lado literário da minha conversa com Guillermo del Toro, ela está aqui.


Doze anos de uma história, um momento depois do outro
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Ana Maria Bahiana

boyhood abre 2 Boyhood, Ellar Coltrane Na última cena de Boyhood (Richard Linklater, 2014) , Mason (Ellar Coltrane) e uma amiga contemplam o céu em chamas e o horizonte infinito do majestoso parque Big Bend, no extremo sudoeste do Texas. Os dois estão meio viajandões de cogumelo, ocorrência não incomum quando se tem 18 anos e se está pousado no gume da lâmina entre o não saber bem quem se é e as portas escancaradas do futuro.Em alguns dias Mason e seus amigos de excursão pelo Big Bend começarão suas aulas na universidade. É possível que Mason e sua amiga se tornem um casal. É possível que Mason se forme com louvor em fotografia, sua paixão até o momento, que já lhe rendeu um prêmio no ginásio. É possível que ele troque tudo, que largue tudo, que se case, que  mude de cidade, ou de país… Tudo é possível, e é isso que a imensa paisagem vermelha, que imediatamente remete aos westerns clássicos, imprime em nossas retinas.

Mason e a amiga trocam um breve diálogo, que a princípio parece coisa de doidão. Ela acha que “carpe diem”, aproveite o dia, aproveite o momento, deveria ser ao contrário, que o momento é que nos pega, nos envolve, toma conta de nós. Mason concorda. “O momento é tudo”, ele diz, enquanto a câmera se aproxima lentamente, delicadamente, de seu rosto.

Esta cena, simples e maravilhosa, é o fecho perfeito para um filme enganosamente simples e cem por cento maravilhoso. Durante duas horas e 45 minutos – que passam com a mesma rapidez de um momento fugidio – vimos Mason/Ellar crescer diante de nossos olhos, do moleque de 6 anos que ainda se refugia no colo da mãe (Patricia Arquette) para ouvir histórias ao rapaz de 18 que compreende, afinal, que fantástica, penosa, complicada, única é essa estrada que trilhamos desde nossa primeira inspiração.

A absoluta insanidade de Linklater – filmar uma história ao longo de 12 anos, com os mesmos atores e não-atores – só havia sido tentada, que eu saiba, no território do documentário, com a série Up, de Michael Apted, que seguiu um grupo de crianças desde a escola até a meia idade. Mas a ousadia aqui é outra: o autor não está removido da história, não é o ser onipotente que, de fora, registra as trajetórias de outros. Em Boyhood Linklater está no centro de tudo: na concepção e planejamento do projeto (só a pré-produção levou mais de um ano, e a pós-produção, dois); no roteiro, que sem sombra de dúvida espelha sua própria vida crescendo no oeste do Texas num família instável centrada numa figura materna forte e progressista; e finalmente no olhar calmo, preciso, com que deixa que as duas histórias – a sua e a de Mason/Ellar – se desenrolem ao sabor do tempo.   Boyhood, Ellar Mason., Ethan HwakeCom certeza muita gente vai sair desse filme dizendo “mas é só isso? Isso não é nada demais”. Compreendo _ décadas de fogos de artifício visual de todos os tipos, de efeitos espetaculares a dramas e terrores absurdos, complicadas estruturas narrativas e outros adornos nos deixaram viciados naquilo que é ruidosamente “difícil”. Boyhood não é ruidoso, mas não é fácil – e a simplicidade do olhar de Linklater é o mais complicado de tudo, permitindo que, sobre a sua proposta, a vida e o tempo, em si, construissem um filme. Drama e comédia acontecem, mas Linklater não força a mão em momento algum, não sublinha, não grita – estamos com ele na casa da familia, no banheiro da escola, no assento do carona, na garagem, no almoço de domingo, respirando livremente o momento. Em breve outro momento virá, e outro, e mais outro, o rio do tempo mudando pessoas e paisagens, tecendo uma trama em parte inventada, em parte vivida . Como eu cheguei aqui? , o filme pergunta. Deixando os dias passarem, é a resposta, como na canção dos Talking Heads.

Mas Boyhood não é apenas a vida de um garoto – é a vida de seus pais (Arquette e Ethan Hawke), de sua família, de suas comunidades, de seu estado, de seu país, de todos nós. Somos nós todos atravessando 12 anos, mudando de roupa, de tecnologia, de trilha musical. Somos nós todos crescendo, amadurecendo, envelhecendo – palmas extras para Arquette e Hawke, que chutam o balde do convencional e se permitem envelhecer diante dos nossos olhos – ganhando, perdendo.

Vendo Boyhood eu pensei imediatamente em SlackerDazed and Confused, os filmes de Linklater que, para mim, mais se aproximam em conceito e estética deste. Mas um minuto depois eu vi, escondido em Boyhood, o olhar delicado e generoso de François Truffaut, seu comprometimento inequívoco com a verdade de cada pessoa, seu jeito despojado e poético de enquadrar, escolher, mostrar. Mason poderia ser Antoine Doinel no oeste do Texas, crescendo com os mesmos pequenos-grandes dramas que são os de todos nós e que, às vezes, o olhar do cinema captura tão precisamente.

E, no final, o momento é tudo.

Boyhood está em cartaz nos EUA e estréia no Brasil dia 30 de outubro.

 


Na mão e contramão da história, entre humanos de todos os tipos
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Ana Maria Bahiana

Dawncarao

 

A primeira (descontado o prólogo) e a última imagens de O Planeta dos Macacos- O Confronto (Dawn of the Planet of the Apes, Matt Reeves, 2014) são a mesma: um super close de Caesar, o líder dos símios que, no filme anterior desta iteração da franquia, libertou um bando de seus companheiros de espécie do cativeiro dos humanos.

Abrir um filme assim é uma ousadia tremenda – a imagem nos pede para aceitar um rosto não-humano como nosso igual e, mais que isso, como o protagonista de uma narrativa cinematográfica que, fora da animação, é dominada por nós, homo sapiens.É um risco brutal que nos diz, de cara, que o diretor Matt Reeves está jogando com todas as suas cartas, e veio para nos provocar, nos instigar, nos propor a ver um filme-diversão, um filme fantástico, como algo além de desculpa para duas horas no ar condicionado, comendo pipoca.

Quando vemos Caesar em extremo close-up, no final do filme, não há mais risco – e esse é um dos grandes triunfos de O Confronto. Graças a uma exemplar combinação de arte e tecnologia, do talento imenso de Andy Serkis e da genialidade dos animadores da Weta (e de mais três estúdios auxiliares de VFX), das excelentes escolhas de Reeves e da bela articulação do roteiro, há muito abraçamos Caesar e seus companheiros de tribo como personagens completos e complexos. A possível estranheza de ver um filme protagonizado por não-humanos desde o começo – algo que nem Avatar, que primeiro propôs esse conceito, deve coragem de fazer – desfaz-se com tamanha rapidez que, não demora nada, são os atores humanos que parecem fora do lugar.

O que é exatamente a ideia central de O Confronto. Dez anos depois dos eventos do filme anterior, de 2011 (aconselho ver antes deste) o mesmo vírus que tornou os símios capazes de saltar algumas etapas na escala da evolução dizimou a população humana do planeta. Núcleos de refugiados vivem em condições precárias no que restou das grandes cidades, enquanto nas florestas do norte da Califórnia, Caesar (Serkis) comanda uma vasta população símia capaz de comunicação, artefatos, estratégia, cultura, política e organização social.

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As necessidades dos refugiados de San Francisco – comandados por Dreyfus (Gary Oldman, competente como sempre) – colocarão os dois mundos em conflito, acelerando a narrativa que, em última instância, levará ao cenário desenhado no primeiro filme de todos, O Planeta dos Macacos, de 1968 (escrito por Rod “Além da Imaginação” Serling, dirigido por Franklin “Papillon” Schaffner e adaptado de um genial bestseller do mesmo nome, de Pierre Boulie, cujo universo continua alimentando a franquia.)

O Planeta dos Macacos-A Origem já tinha sido um filme da alegre categoria :”filme  muito melhor do que precisava”, graças não apenas aos excelentes VFX mas também ao roteiro de Rick Jaffa e Amanda Silver (os mesmos de O Confronto) e à direção de Rupert Wyatt. Matt Reeves dirigiu um filme que me fez rir à revelia de suas intenções – Cloverfield – mas também assinou dois filmes que me disseram muito: The Pallbearer, de 1996, e Deixe-me Entrar, de 2010. Em todos eles (sim, inclusive Cloverfield) Reeves demonstrou seu talento em enquadrar e movimentar o olhar da câmera para contar muitas histórias ao mesmo tempo, coisa que faz aqui tantas vezes que é difícil até destacar uma – mas recomendo que prestem atenção numa cena de batalha que inclui o ponto de vista de um tanque, e que já seria extraordinária mesmo que todos os seus personagens fossem de carne e osso.

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Parte do que faz O Confronto se destacar nas águas mornas desta temporada pipoca é a sensação extraordinária de estarmos vendo ao mesmo tempo a mão e a contramão da história humana: o nosso retrocesso paralelo à evolução dos novos humanóides que criamos à nossa semelhança, dando a eles um pedaço do que julgávamos, em nossa arrogância, ser nosso dom maior, a inteligência. “Eles não precisam de energia elétrica”, diz um personagem humano. Exatamente. No começo do filme Caesar nos olha na platéia como quem pergunta o que estamos fazendo ali. No final, ele nos olha para ver se ainda temos alguma dúvida.

Se você só tem tempo para ver um filme da temporada pipoca este ano, veja O Planeta dos Macacos- O Confronto.

 E por favor – uma indicação para Andy Serkis, já!

O Planeta dos Macacos- O Confronto estréia aqui nesta sexta dia 11 e no Brasil dia 24 de julho.


No cardápio da TV: monstros, tiranos e rapazes sem camisa
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Ana Maria Bahiana

The Strain Antes de continuar com as novas séries deste segundo semestre,algumas boas notícias sobre futuros projetos:

  • Sherlock vai ter mais uma temporada em 2015-2016! Essa fez minha semana…
  • A quarta temporada de The Killing – a série que ninguém consegue matar – estará disponível na Netflix dia 1 de agosto.
  • Fãs de American Gods, como eu, ainda não se desesperem de todo. Embora a HBO tenha desistido depois de três tentativas de adaptar o livro de Neil Gaiman ( dá para imginar por que…) a Fremantle Media, que detem os direitos, está convencida de que é capaz de tirar uma série dali. A busca por um showrunner do primeiro time está avançada.
  • Fãs de Jonathan Strange e Mr. Norrell, também não percam as esperanças. O filme não saiu, mas vem aí uma série de sete episódios da BBC America, estrelada por Eddie Marsan (o “Terry” de Ray Donovan, e o “Inspetor Lestrade” de Sherlock) e Bertie Carvel ( o “Barnatabois” do filme Les Miserables).

E agora…. strain The Strain (FX, estréia nos EUA dia 13 de julho). Você sabe que Guillermo del Toro conseguiu te enrolar direitinho quando você termina de ver o primeiro episódio/piloto de The Strain completamente apavorada e hipnotizada. E só muito tempo depois você pára e percebe que este é o tipo de…eu ia dizer filme, o que ele de fato é… em que personagens entram em lugares enquanto outros gritam :”Não! Não! Não entre aí”; onde uma caixa gigantesca aparece numa área suspeita controlada pelo Centro de Controle de Epidemias e ninguém põe nem ao menos um vigiazinha para tomar conta da dita cuja; e que quando um personagem diz “nenhum veículo deixa esta área sem minha permissão” você sabe que na cena seguinte uma van enorme vai fazer exatamente isso. Tudo perdoado, Guillermo. Quem leu os quadrinhos criados por Del Toro e Chuck Hogan sabe do que se trata (a série é fiel à hq). Quem não sabe pode apertar os cintos para uma jornada daquele tipo de horror à moda Del Toro (que produz a série e dirigiu e escreveu o piloto): orgânico e metafísico, onde a própria carne humana é a fonte dos principais terrores, e onde nenhuma metáfora capaz de ser levada ao pé da letra é deixada de lado. Garanto: nunca mais você vai ouvir “Sweet Caroline”, do Neil Diamond, do mesmo modo. outlander Outlander (Starz, estréia nos EUA dia 9 de agosto). Sim, esta é o tipo de série em que rapazes fortes e bem apessoados – de kilt, ainda por cima! – tiram a camisa por qualquer coisa, mesmo no clima super ameno das montanhas da Escócia. É, também, o tipo de série em que uma moça tem que escolher entre dois bonitões igualmente (em tese) irresistíveis (o rebelde escocês Sam Heughan e o marido inglês Tobias Menzies) Tendo dito isso, acrescento – não é Crepúsculo. O diferencial é a obra de Diana Gabaldon, que oferece uma heroína substancial e complexa, a enfermeira Claire Randall, (Caltriona Balfe), escolada nos ambulatórios da Segunda Guerra Mundial, e um bom pano de fundo com os intermináveis conflitos entre ingleses e escoceses no século 18. As paisagens da Escócia (cujo bureau de cinema apoiou  e co-produz o projeto) são um ótimo bônus. tyrant Tyrant (FX, estréia nos EUA dia 24 de junho). Quem será que achou que isso daria uma boa série? Temos aqui o israelense Gideon Raff, um dos criadores de Homeland, juntando-se aos americanos Howard Gordon ( de 24 Horas) e Craig Wright (Lost, Brothers and Sisters, Six Feet Under, United States of Tara) para criar uma série sobre a luta pelo poder num país (árabe, muçulmano) fictício do Oriente Médio. E sabem o que é pior? O que mais incomoda não é nem o festival de clichês que referencia em parte o Iraque de Saddam Hussein, em parte o Egito da Primavera Árabe e da praça Tahir, e que coloca um irmão “mau “, o mais moreno, mais árabe ( o palestino Ashraf Barhom) contra um irmão “bom”, o mais clarinho, mais ocidental (o inglês Adam Rayner). É a multidão de personagens superficiais, começando pelos dois irmãos (Barhom parece que está sempre latindo; Raymer, que está sempre com dor de cabeça) e culminando numa familia que parece um replay das piores coisas de Homeland: a dona de casa devotada que não tem mais o que fazer além de se preocupar com o marido (Jennifer Finnigan, sempre com os olhos arregalados), os dois filhinhos insuportáveis. Eu já vi quatro episódios e digo: não melhora. Muito pelo contrário. knick2 The Knick (Cinemax, estréia nos EUA dia 8 de agosto) Sempre teve curiosidade para saber como se consertavam fraturas e se faziam cesáreas uns 100 anos atrás? Como eram tratadas, digamos, meningite e sífilis? Sempre quis saber como foram criados os instrumentos cirúrgicos, como se desenvolveram as técnicas e tratamentos da medicina moderna? Então esta série é para você! Mas mesmo que você não tenha nenhum desses interesses, esta é uma série que recomendo a qualquer pessoa que goste de bom cinema. Porque é cinema: Steve Soderbergh, produtor e criador, dirige e opera a câmera nos 10 episódios, garantindo unidade estética e clareza de visão na história de um hospital na Nova York do começo do século 20 – Knickerboker, o Knick do título – e seu time de médicos, tão fascinantes e complicados quanto os dos melhores momentos de, digamos, ER. Clive Owen como o cirurgião-chefe Dr. John Thackery, vaidoso, arrogante, viciado em drogas, é o Sol em torno do qual se desenrola a trama de vida e morte,. Um filmaço, em 10 episódios.


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