O que quer dizer o novo acordo financeiro da Warner
Ana Maria Bahiana
A primeira coisa que me chamou a atenção sobre o anúncio do novo acordo financeiro da Warner foi que os dois trades rivais, Variety e Hollywood Reporter, colocaram a palavra exclusivo em suas manchetes. O pau deve ter comido solto, porque pouco tempo depois a Variety tirou o “exclusivo” deles.
É um detalhe pequeno, mas que me diz o seguinte: a Warner está preocupada em mandar com urgência, para seus acionistas e para a indústria em geral , o recado de que está tudo bem, que a saída da Legendary até que não é tão terrível assim, e mesmo que Pacific Rim seja a meia bomba na bilheteria que as projeções anunciam, tudo vai ter um final feliz.
Ei, até o possível buraco nos cofres que o Homem de Aço é capaz de deixar está resolvido! (Leiam com calma o último parágrafo da matéria do Hollywood Reporter…)! E, de todo modo, nunca estivemos em crise! (Leiam a primeira frase do penúltimo parágrafo da matéria da Variety, que fala nos “bolsos profundos” da matriz corporativa da Warner, a Time Warner…. Que se baseia em hã… livros, discos, revistas e TV a cabo… que estão..hã-hã… morrendo?)
Falo como quem trabalhou muitos anos em trade – esse é o principal papel desses veículos business to business, num business tão louco, arriscado e cheio de egos como este: mandar recados para lá e para cá. Lendo as matérias com esses olhos, eis minha teoria: o acordo ainda está longe de ser fechado, mas a Legendary já caiu fora; vamos falar “extra-oficialmente”, prometendo exclusividade a ambos, com os dois principais trades norte americanos, para passar o recado de que não há crise, está tudo bem…
Acho até que sei quem falou com quem mas não vou arriscar meu pescoço.
Os pontos mais interessantes do novo acordo financeiro:
_ Três empresas subsituiriam o atual arranjo com a Legendary: o conglomerado financeiro Bank of America/Merryl Lynch entraria com um financiamento de 400 milhões de dólares; a empresa de investimento privado Dune Capital colocaria cerca de 150 milhões de dólares de aporte direto, em troca de uma parte de todos os direitos de cada projeto; a produtora Rat Pac, do diretor Brett Ratner em parceria com o multimilionário australiano James Packer (dono do maior iate ao largo da Croisette, em todo Cannes) entrariam com um valor ainda não especificado, também em troca de participação equity nos filmes da Warner.
-Pausa : você confiaria num estúdio que tem Brett Ratner como um de seus parceiros, provavelmente com poder de decisão?
_ Pausa 2: Ratner não é mencionado na matéria da Variety. Aí está uma pista interessante.
_ Continuando: ao contrário da Legendary, que escolhia os projetos nos quais parceirava com a Warner, o novo acordo cobriria todas as produções do estúdio. Como o acordo oficialmente ainda não foi concluído, não se sabe quais as contrapartidas, ou como ficará o poder de dar a luz verde e a forma final dos projetos.
_ Há uma possível dança das cadeiras no ar. O Bank of America teve durante anos um acordo semelhante com a Fox que garantiu, entre outros, Avatar. A Fox é o estúdio mais interessado em parceirar com a Legendary – até porque já deu partida em mais uma tentativa de franquia com o reboot de A Liga Extraordinária,agora como série de TV. A série hq de Alan Moore e Kevin O’Neill já virou filme em 2003 mas não foi muito longe. Quem sabe agora…..