Analisando a pré-lista do filme estrangeiro no Oscar
Ana Maria Bahiana
E o balaio do filme estrangeiro do Oscar, hein? Sinto muito não ver o Brasil– com O Palhaço, de Selton Mello – na lista mas sinceramente não me surpreendo. Há muita coisa que precisa ser feita para realmente termos chance de comprar essa briga, e que vai da escolha do representante no Oscar até uma verdadeira estratégia de campanha, aqui. Infelizmente não tenho visto nenhum desses passos estratégicos nos últimos anos.
A lista repete muita coisa da seleção dos Globos de Ouro, mais uma vez afirmando a importância desse passo na trajetória de um filme estrangeiro por aqui — algo que o Brasil tem ignorado com uma teimosia que se reflete proporcionalmente na sua ausência. (Atualizo a informação: no final, tivemos três filmes inscritos para o Globo de Ouro: Xingu, Heleno e O Som Ao Redor. Mas todos entraram na última hora, literalmente. E com isso não tiveram tempo para fazer a campanha que é essencial para se destacar na selva dos prêmios).
Dos nove do balaio do Oscar, quatro são também indicados ao Globo de Ouro:o grande favorito Amour que, acho, vai ganhar ambos; o noruegues Kon-Tiki, uma bela lição de como transformar uma cinebio de aventura num exercício de reflexão existencial; o dinamarquês A Royal Affair, da estrela ascendente da Zentropa (e roteirista original da série Millenium), Nikolaj Arcel; e Os Intocáveis, que joga descaradamente para a arquibancada, e tem ainda por cima a força da pressão dos irmãos Weinstein.
Outros três do balaio eram francos favoritos e por pouco não foram indicados aos Globos: o chileno No ( nota pessoal: me encantou profundamente e me deu saudade do que não vivi) que tornou-se o representante da América Latina na disputa; o romeno Beyond The Hills, de Cristian Mungiu, um favorito pessoal meu, todo em planos-sequência e luz natural; e o islandês The Deep, uma espécie de Náufrago nas águas geladas do Mar do Norte,e que já rendeu ao seu ótimo diretor, Baltasar Kormákur, dois projetos aqui em Los Angeles.
Surpresas mesmo foram o suíço Sister, sobre a complicada relação entre irmãos num resort de luxo, e o canadense Rebelle/War Witch, que tem um diretor de origem vietnamita e se passa inteiramente num país da África Central estraçalhado pela guerra civil.
Ausências notáveis: o coreano Pietá, vitorioso em Veneza; o maravilhoso italiano Caesar Must Die, dos irmãos Taviani, vencedor em Berlim; o alemão Barbara, outro favorito meu, mais um poderoso perfil de mulher vindo da Europa; e o holandês Kauwboy, que tem dois elementos normalmente irresistíveis para os acadêmicos _ criança (um menino) e bichinhos (no caso, uma gralha).
Agora é pensar quais desses nove vão de fato tornar-se indicados, dia 10 de janeiro.