Só para os fortes: vem aí o cinema-claustrofobia
Ana Maria Bahiana
Não sei se poderíamos chamar de sub-gênero, mas dois filmes de alta visibilidade que estarão em cartaz en breve nos EUA tem tanto em comum que não resisto a chamá-los de cinema claustrofobia: Buried (Enterrado Vivo), que estreia neste fim de semana (12 de novembro no Brasil) e 127 Hours (127 Horas), que vai para as telas, aqui, dia 5 de novembro (18 de março no Brasil). Um é cem por cento ficção, o outro baseia-se em fatos reais. Ambos são criaturas da produção globalizada de hoje, co-produções entre estúdios independentes de luxo norte americanos e empresas europeias. Ambos têm um único protagonista em, praticamente, um único cenário, foram dirigidos por europeus- o espanhol Rodrigo Cortés e o inglês Danny Boyle- trabalhando com orçamentos reduzidos e tecnologia de ponta, capaz de suplantar os apertos financeiros com engenho e arte.
Os dois se seguram em fiapos de narrativa, às vezes titubeiam e muitas vezes alcançam momentos de alto brilho . Mas, mais importante, ambos são muito bons _ embora não aconselháveis para pessoas impressionáveis, como se dizia antigamente.
Enterrado Vivo é meu favorito. A espoleta da narrativa é tão absoluta que, muitas vezes, parece forçada – mas outros filmes já gastaram muito mais dinheiro e tempo de nossas vidas com muito menos… Paul Conroy (Ryan Reynolds) é um motorista de caminhão trabalhando no Iraque na entrega de suprimentos. Quando seu comboio é atacado, Paul é nocauteado e acorda num caixão enterrado em algum ponto da área de conflito, com um celular, um isqueiro e um cantil. Vozes diversas, ao telefone, alternam-se ao longo dos concentrados 90 minutos do filme (o tempo que Paul tem de oxigênio em seu cativeiro) . Algumas, ameaçadoras, explicam que ele é um refém cuja libertação custa, em princípio, muitos dólares (as exigências aumentam com o passar do tempo); outras, indiferentes ou compassivas, vão compondo a reação do mundo da superfície à tragédia de Paul.
O diretor Rodrigo Cortés – que filmou Enterrado Vivo na Espanha pelo ínfimo orçamento de 3 milhões de dólares – mantém o olhar do filme estritamente dentro dos limites do caixão. É um feito que daria orgulho a Alfred Hitchcock e que, para muitas pessoas da plateia, causa acessos muito reais de falta de ar. A espetacular fotografia de Eduard Grau (cujo talento vimos recentemente em A Single Man) explora cada ângulo possível para manter a composição ao mesmo tempo clara e opressiva. E como o roteiro (do americano Chris Sparling) é fictício e define Paul como um civil sofrendo as consequencias da guerra alheia, a conexão com a plateia é muito fácil, ultrapassando posturas políticas e indo direto ao coração humano da trama – e Ryan Reynolds trabalha esses contornos com enorme talento.
127 Horas baseia-se numa história verdadeira : em maio de 2003 o engenheiro civil e alpinista Aron Ralston, de 28 anos, sofre um acidente num remoto canyon do Utah, e se vê aprisionado no fundo de uma ravina, a mão direita esmagada por uma enorme rocha. Aron sobrevive cinco dias – as 127 horas do título – nessas condições, até , em desespero, sem víveres e sem água, tomar uma decisão excruciante para salvar sua vida. Se você não sabe o que é, não vou contar – basta dizer que é dramático o bastante, no filme, para enviar pessoas mais sensíveis direto para o banheiro.
Boyle faz o que pode para elevar a narrativa acima do desesperador tédio de cinco dias solitários no fundo de um cânyon – Aron (James Franco) monologa, alucina, relembra. Como Boyle e seu co-roteirista Simon Beaufroy estão trabalhando com fatos reais, eles não têm a liberdade de Enterrado Vivo para armar tramas paralelas nos momentos cruciais, de forma a segurar o espectador. O foco precisa se manter inteiramente em Aron – e seu estoicismo, típico de alguém com grande preparo físico e íntimo conhecimento da natureza, muitas vezes parece indiferença ou até mesmo arrogância. Crédito a Boyle e aos DPs Enrique Chediak e Dod Mantle por criarem mini-poemas visuais de intensa beleza pontuando as 127 horas da provação de Aron, e por se recusarem a levar o filme para a apelação. Quando acidente e solução final acontecem, é com a exata simplicidade e até rispidez com que essas coisas realmente têm.
Para espíritos fortes, recomendo ambos.
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Gilberto
23/06/2011 13:39:02
"Enterrado Vivo" é muito mais tenso que "127 horas" . Este vale apenas por ser uma historia real e a bela locação. "Panico na Neve", que alguém citou no começo, é também muito tenso, tendo uma das cenas mais convincentes já vistas no cinema, aquela do desespero da moça que fica sózinha. Grande interpretação!
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João César
11/10/2010 15:30:02
Claro que para quem pode ver os noticiários que mostraram o drama deste alpinista, teve até uma matéria especial do Fantástico sobre a história, não é surpresa nenhuma. Mas ver a visão do diretor sobre a história e como isto é transposto para a tela traz uma expectativa grande, e isto não faz perder o interesse em assistí-lo. Isto me faz lembrar de "Apollo 13", todos sabiam o final da história, mas mostrar para o público como eles conseguiram o feito de voltarem pra casa é o que nos motivou a ver o filme.
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ludovina
09/10/2010 15:30:08
nossa fiquei ansiosa para ver os dois filmes , apeasar de ser muito nervosa. vou aguardar.
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Ana Maria Bahiana
09/10/2010 14:49:58
Nota da gerencia: numa tentativa de tentar manter o nível da conversa, aqui, longe da baixaria que assola outros espaços não aprovei alguns comentários ultra-extra indignados em resposta ao comentário-spoiler. A fúria de vocês foi devidamente anotada e registrada. Se vocês quiserem expressa-la de novo sem os xingamentos pessoais, terei prazer em postar os comentários.
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Gutierrez
09/10/2010 14:26:24
Não... ele corta é a mão.Não o braço...
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Ana Maria Bahiana
09/10/2010 14:12:16
Obrigada, Professor.
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Ana Maria Bahiana
09/10/2010 14:11:56
E onde, Rodrigo, eu digo o final de algum dos dois filmes? Se bem que um deles, sendo um fato público e notório, não é difícil achar na web.
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Rafael Coutinho
09/10/2010 11:50:29
É já já fazem um dos mineiros chilenos, que é uma história que pode até ter mais tramas e também é extremamente claustrofóbicas.
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bernadette lyra
09/10/2010 11:37:16
UAU!!!!
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Magali
09/10/2010 11:33:37
Juraaa?????
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Danny Boyle
09/10/2010 11:26:00
Puxa vida...vc acabou com a surpresa do meu filme!Pensei que nenhum outro o.t.a.r.i.o. havia lido essa história...
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Bruno
09/10/2010 11:25:20
kkkQue comentário ordinário hein!
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eliane
09/10/2010 11:17:20
conta a nova agora!!!! kkkkkkkkkkkkk
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marciano
09/10/2010 11:15:48
puxa, que estraga prazeres vc ein????com certeza depois que viu "O Sexto Sentido" saiu contando pra todo mundo!!!desagradável!!!
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Marco Tritapepe
09/10/2010 11:06:35
Ryan Reynolds promete ser um grande Lanterna Verde amiga Ana? Ele tem chamado atenção a tempos.
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Rodrigo
09/10/2010 10:50:47
É uma coisa péssima ler uma resenha e saber o final do filme, pois, se revela, não instiga. (E não me refiro ao comentário de edup4).
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Fábio
09/10/2010 10:48:42
"Tem" (sem acento) por "têm" (com acento): o problema aparece três vezes no texto.
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Bruno Moura
09/10/2010 10:26:55
Qualquer um que procure alguma imagem de Aron Ralston na internet saberá o que ocorreu. Isso não justifica o comentário do edup4, que se mostra uma pessoa extremamente inconveniente. Palavras da própria Ana "Se você não sabe o que é, não vou contar"...Chato né?
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Patrícia
09/10/2010 10:18:55
Não entendi o pedido de desculpas...
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Nivaldo Prado
09/10/2010 10:16:51
Cabral, dexcobriu à America.
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Fabrício Meyer
09/10/2010 09:49:20
Sério não diga, e vc vota DIlma!!!!
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Captain Zecca
09/10/2010 06:47:07
Uma das maiores sensações de terror que a mente humana sente, sem duvida é a da claustrofobia. Há diferentes níveis de um indivíduo para outro, mas de modo geral o pavor é tão intenso que se submetido a um tempo prolongado, o sistema cardíaco da pessoa não resiste.
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Fabi!
09/10/2010 05:31:47
Bem, eu assisti, aqui em Madrid, o primeiro filme: Buried!Para mim é espetacular. Faz uma enorme critica à politica norteamericana, a maneira como estamos ligados ao sistema de empresas, governo.. e qdo precisamos nao somos atendidos! O roteiro é excelente, é claro que em algumas horas é tedioso, mas na maioria do tempo o texto, os angulos e principalmente o ator nos prende a atençao!Eu vi neste filme, o que há muito nao via no cinema: diretores que se propoem a trabalhar com o som como forma de cena e nao como um complemento da cena! Isto lembra o inicio do cinema moderno, qdo os diretores como Dziga Vertov trabalhava com o som! O fato é que me encontrei supreendida e feliz por isso, pq em algumas vezes nao tem imagem, o cine todo no escuro, a voz do autor e o publico todo em silencio sofrendo junto com o personagem!Enfim, eu gostei e olha que pra eu gostar ...demora! rsrsrsVale a pena!
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edup4
09/10/2010 02:30:47
Ele corta o proprio braço !!!!!!! desculpem
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Rafael F
09/10/2010 00:06:06
Curioso que sou, procurei saber o que houve nessa história do filme do Boyle. Que coisa!Aí, no caminho para o desfecho, encontrei a palavra "necrose". Procurei apenas na Wikipedia. Há duas fotos de gelar a espinha na versão inglesa do verbete. Não tive coragem de procurar mais, desta vez, no Google Imagens.
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eduardo machado
08/10/2010 23:33:10
muito louco e tenso adorei e pelo visto vai ter continuaçao
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Heverson
08/10/2010 23:17:36
Conheço essa historia narrada no filme 127 horas, bem como seu final. Ja estive onde esse caso aconteceu, e um dos lugares mais maravilhosos que estive em minha vida, chama-se Canyonlands National Park, fica no estado de Utah, ao lado do Arches National Park na cidade de Moab. Quem um dia tiver oportunidade, nao deixe de conhecer, vale cada centavo. Dezenas de filmes foram rodados la (Bang Bang quase todos) no Missao Impossivel 2 que no começo aparece o Tom Cruise escalando uma montanha de pedra foi filmado em Canyonlands. A fotografia do filme ja deve valer assisti-lo.
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Ana Maria Bahiana
08/10/2010 22:47:40
Eu aposto na fotografia e no roteiro. Ryan Reynolds também é uma possibilidade.
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Nilson Jr
08/10/2010 22:41:47
Ana, 127 Hours já sabemos que tem chances fortes de indicações, e Buried? Alguma?
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Ana Maria Bahiana
08/10/2010 22:41:14
Foi direto pra DVD/Blu Ray, aqui...
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Gustavo Zago
08/10/2010 22:26:26
Já viu filmefobia ana???É disso que voce descreve para pior,apesar de nao ter tanta qualidade,ser mais assustador mesmo!Esses dois parecem otimos!!!Assim que é bom,ao contrario dos atuais filmes de terror mega trash!!!
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Biajoni
08/10/2010 22:23:15
ei, que me diz de FROZEN? - que no brasil ganhou o título de... bem... PANICO NA NEVE.
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