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Entre mundos, entre medos: o maravilhoso apelo sinistro de Penny Dreadful
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Ana Maria Bahiana

 

Episode 101

Ah, Penny Dreadful, Penny Dreadful, como eu gosto de você!

Certo, não é exatamente algo que não vimos antes: o mundo opulento/aterrador da Inglaterra vitoriana é território mais que fértil, e agora mesmo está no ar, pela BBC., a ótima série Ripper Street que, embora seja um policial procedural “duro”, às vezes flerta com o sobrenatural.

E, é claro, temos A Liga Extraordinária. Fãs em geral e steampunks em particular vão achar, como eu achei, muitos pontos de contato entre o cico de obras de Alan Moore e a série de John Logan que a Showtime estreou aqui nos EUA neste último domingo. Tenham paciência – principalmente a partir do segundo episódio Penny Dreadful assume um perfil que, embora tenha pontos de contato com a Liga, é todo seu.

“Penny dreadfuls”, deve-se explicar, eram revistinhas-folhetins que faziam sucesso na Grã Bretanha de meados  do século 19 com história de terror em série. Seu público alvo eram (como hoje, aliás….) os adolescentes . Uma confluência de formatos e estios que fascinou o criador e showrunner John Logan (Skyfall, Hugo Cabret, Gladiador, os próximos dois 007).

Este Penny Dreadful pode ser “lido” de muitos modos diferentes. Como na Liga de Alan Moore, Logan faz um refogado bem apurado de praticamente todos os mitos e criaturas fantásticas da era vitoriana: vampiros, múmias, criaturas feitas a partir de cadáveres, Jack O Estripador. Também como na Liga há um grupo de personagens nada “normais” reunidos em torno de um propósito comum: um aristrocrata endinheirado fascinado com explorações geográficas (Timothy Dalton), uma bela médium com vastos dons paranormais (Eva Green), um pistoleiro norte-americano de pontaria infalível (Josh Hartnett) e um certo Doutor Victor Frankenstein (Harry Treadway).

O objetivo, pelo menos em tese, é achar a filha do aristocrata, desaparecida em circunstâncias que nunca são claramente mencionadas – e cuja primeira tentativa de resgate, logo no episódio de estreia, indica claramente que… bom… a coisa não é bem assim.

Episode 101

Essa, na verdade, é a essência da série: revelações constantes, uma atrás da outra, camadas de trama e de definição de personagens sendo retiradas, a cada momento. Cicatrizes são um elemento visual importante, sempre presente: elas apontam para a ideia de que há algo por baixo, algo oculto, feridas e traumas e monstruosidades mal curadas, mal contadas, mal esquecidas, mal cobertas. De quem o pistoleiro está fugindo? Por que o aristocrata frequenta lugares tão… inóspitos? O que realmente aconteceu com a filha dele? Por que a médium vive na mansão do aristocrata, por que reza fervorosamente, quase histéricamente?  O diretor dos dois primeiros episodios, Juan Antonio Bayona, nos brinda logo de cara com um plano sensacional de uma dessas preces, Eva Green praticamente decapitada sob o peso de sua devoção… ou de sua culpa?.

Lá pelo meio do segundo episódio uma sessão espírita toma rumos realmente extraordinários, e Penny Dreadful engrena numa descida delirante para o que os (fabulosos) diálogos de Logan descrevem como “um meio mundo entre a crença e o medo”. Com uma direção de arte espetacular, que contextualiza visualmente uma era fascinada ao mesmo tempo com a ciência e o ocultismo, ganhando fortunas com a rrevolução industrial mas sonhando com romanticamente com um mundo selvagem, e uma fotografia de cinema, Penny Dreadful tem ainda, para a sua largada, um diretor que sabe como poucos armar uma cena e deixar a imagem contar a história. São tantos os exemplos que não me arrisco a cometer spoilers…

Digo apenas: não percam de jeito nenhum.


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