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Amor em tempo de guerra (fria): porque The Americans é a melhor nova série da temporada nos EUA
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Ana Maria Bahiana

Primavera  norte americana na TV é pior que cena climática em filme do Michael Bay: um massacre, com baixas por todos os lados, onde só sobrevivem os heróis.

Tenho feito o melhor possível para acompanhar a safra 2013, mas confesso que o tédio tem interrompido minha determinação muitas vezes. Sei, por exemplo, que The Following tem muitos fãs, inclusive os editores e colunistas da Entertainment Weekly, que só faltam pedir a série em casamento de tanto amor. Pessoalmente, eu não aguento mais a saída fácil de virar cada cena do avesso com alguém “inesperadamente” confessando ser um follower, mais aquele entulho de absolutamente todos os clichês do terror, sem ironia (logo você, Kevin Williamson!) mais aquele sub-Hannibal Lecter do James Purefoy.

Talvez por esperar tão pouco desta nova safra, não levei muita fé quando li o argumento de The Americans. Espiões levando uma vida dupla nos subúrbios dos Estados Unidos? Eu já não vi essa série e ela não se chamava Homeland?

Como eu estava enganada! Criada e escrita por um ex-agente da CIA, Joe Weisberg (que deixou a CIA por “motivos pessoais de natureza ética” e foi professor de ginásio antes de virar roteirista de TV) The Americans tem três elementos que a elevam bem acima do mais-ou-menos desta temporada: o verdadeiro conhecimento da natureza e processos do trabalho do espião; a capacidade de traduzir dramaticamente o labirinto psicológico que faz parte da profissão; e o fato de se passar nos anos 1980, uma década pouco explorada na dramaturgia de cinema e TV, e que tem todos os elementos fascinantes das grandes transformações políticas: fim da guerra fria, glasnost, Reagan e o escândalo Irã/Contra.

Some-se a isso o excepcional desempenho de Keri Russell e Mathew Rhys como a dupla de agentes da KGB  fingindo ser um casal classe média norte americano nos subúrbios de Washington em meados dos anos 1980. As complicações existenciais e psicológicas são tantas, empilhadas umas em cima das outras, os desdobramentos de uma mentira em cima de outra mentira, justificada (de forma cada vez mais tenue) pela noção de “dever e honra” (título do episódio mais recente, devastador). Durante quanto tempo é possível fingir amor sem senti-lo ou transforma-lo em repulsa? Num ofício em que não se deve confiar em ninguém, como confiar no seu parceiro? Como viver plenamente uma vida oposta à que se foi educado para desejar? Como ser capaz de matar friamente, torturar sem remorso e trair sem medo e, ao mesmo tempo, educar dois filhos em idade escolar?

E tudo isso é apenas o começo. As interpretações de Russell e Rhys são perfeitamente calibradas, com os dois sendo capazes de ser ao mesmo tempo ternos e ameaçadores, amorosos e terríveis, frágeis e implacáveis. O jogo de xadrez com o agente do FBI que mora na casa ao lado  (Noah Emmerich) e que foi, ele mesmo, um operador infiltrado (num grupo de supremacistas brancos)  ainda não foi explorado plenamente nesta temporada, mas espero muita coisa boa na segunda, que já foi devidamente encomendada.

E ajuda muito ter uma trilha com Fleetwood Mac, Echo and the Bunnymen e New Order, uma abertura de grafismo elegante e  saber que a série foi inspirada em fatos reais, que vieram à tona em 2010.

Quando estrear aí no Brasil, no canal Fox, em maio, não percam de jeito nenhum.


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