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Arquivo : Peter Mullan

Paraíso perdido: Top of the Lake, a série-sensação da nova temporada
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Ana Maria Bahiana

Nas primeiras imagens de Top of The Lake uma menina entra, de roupa e tudo, lago adentro. O lugar é lindo, alguns diriam mágico: altas montanhas, florestas, o lago coberto de neblina.  A determinação da menina, seu caminhar resoluto água adentro, até o queixo, é terrível, mais apavorante ainda porque não sabemos nada que nos ajude a entender a imagem serena, deliberada e assustadora que a diretora Jane Campion nos propõe.

Esta tensão entre o belo e o terrível é o próprio tema da minissérie do canal Sundance, que estreia hoje aqui nos Estados Unidos. Jane Campion, que criou a série e escreveu e dirigiu vários episódios, diz que sua inspiração para Top of the Lake foi exatamente o descompasso entre “nossos sonhos, nossas noções de paraíso, de um lugar perfeito longe das complicações da vida” e a realidade, “o despertar dos sonhos”. A pequena comunidade isolada às margens do lago, nos arredores de Queenstown, Nova Zelândia (que serviu de locação para as filmagens) tem todos os elementos do sonho – inclusive um recanto chamado, precisamente, Paradise – mas seu coração abriga todos os pesadelos que o ser humano é capaz  de imaginar e, portanto, fazer. O fato de Campion ter decidido levantar esses véus com precisão e calma ao longo dos sete episódios torna Top of the Lake absolutamente hipnótica.

A menina da primeira cena é o agente desse desnudamento, e para resolver seu caso – a crise que a levou a caminhar lago adentro, seu sumiço imediatamente depois – entra em cena Robin, uma experiente policial que nasceu e cresceu na comunidade, mas mudou-se para bem longe, para Sydney, na Australia, assim que pôde. O caso da menina desaparecida será um modo drástico de passar a limpo o passado que a impulsionou para fora deste paraíso, enfrentando seus fantasmas cara a cara, caminhando resolutamente, ela também, para dentro do lago da vida que deixou para trás mas que definiu a mulher que ela é.

Elisabeth Moss interpreta Robin com um leve sotaque entre o australiano e o neozelandês – “eu aprendi imitando a própria Jane”, ela me disse – e a mistura de força e fragilidade que todos os fãs de Mad Men conhecem bem (e que foi exatamente o que fez Jane Campion escolhe-la para o papel). “Foi assim que acabou a produção da quinta temporada (de Mad Men)”, Moss me contou. “Eu tinha feito teste para o papel mas achava que não tinha a menor chance.  Eu estava encantada com o projeto, eu sabia que conhecia Robin, eu compreendia a mulher que ela era, e estava animadíssima em trabalhar com Jane Campion.”

Como eu e como muitos espectadores, Elisabeth viu imediatamente um clima Twin Peaks em Top of the Lake, “algo difícil de explicar, um clima de mistério e de absurdo, mesmo”. Essa não foi a inspiração imediata de Campion – ela credita Deadwood, de David Milch, como sua referência para o clima de Top of the Lake – mas os elementos estão todos lá: o incrivelmente dramático que é subitamente interrompido pelo ridículo (há uma cena envolvendo Peter Mullan e uma xícara de chá que é absolutamente exemplar), o ritmo deliberado, que avança sempre em pequenos passos precisos, a estética em tons mudos, os personagens que não seguem clichês de previsibilidade – Holly Hunter como a líder de uma “comunidade terapêutica” à beira do lago é provavelmente a pior terapeuta na história da terapia, e o manda-chuva Peter Mullan, obcecado pela mãe morta e viajando de ácido entre as flores é exatamente o que não se veria num seriado americano sobre crime em cidades do interior.

Eu queria muito poder dizer que Top of the Lake tem data de estreia no Brasil, mas ainda não achei esta informação. Eis o que posso dizer: procurem essa minissérie, de todos os modos . E confirmem porque muito do melhor cinema de hoje não é cinema, é televisão…

Veja trailer estendido em inglês da série “Top of the Lake”


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