Blog da Ana Maria Bahiana

Arquivo : filme estrangeiro

Número recorde de títulos na disputa pelo Oscar de filme estrangeiro
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Ana Maria Bahiana

The Grandmaster, de Wong Kar-wai

A Academia anunciou hoje de manhã, oficialmente, os filmes concorrendo ao Oscar deste ano na categoria “filme estrangeiro”. Um número recorde países – 76- submeteu títulos, com três deles – Arábia Saudita, Moldova e Montenegro- entrando na briga pela primeira vez. Outras curiosidades incluem um filme submetido pela Grã Bretanha – Metro Manila–  inteiramente falado em tagalog, a língua nacional das Filipinas e o primeiro filme enviado pelo Paquistão  desde 1963 – Zinda Baag.

É importante saber o pano de fundo em que a disputa se dará, este ano: pela primeira vez em muito tempo, eu diria que pelo menos o tempo em que acompanho o Oscar (ou seja, mais de 25 anos) sinto um real impulso de transformação da categoria. Não é a toa: junto com documentário, é a categoria que mais dá dor de cabeça, controvérsia e críticas. Mas ao longo de todas essas décadas nunca senti na diretoria da Academia uma real vontade de fazer algo sério a respeito de todo o processo, da submissão de filmes ao sistema de escolha dos indicados.

Nada vai acontecer agora, este ano, mas vejo um desejo real de re-pensar todo o processo à luz de uma produção internacional cada vez mais globalizada e cooperativa cujos resultados poderão mudar a disputa já no ano que vem.

O Passado, de Asghar Farhadi

Um ponto que a Academia sempre se recusou a tocar foi o aspecto “concurso de misses”, com apenas um filme representando cada país. As crises que esse processo criou já levou a várias falhas na gama de títulos concorrentes e, este ano, podem ser sentidas na falta dos elogiadissimos e premiados A Vida de Adele (a França escolheu Renoir, de Gilles Bourdos, que passou ao largo, aqui), A Touch of Sin, de Jian Zhangke (a China preferiu o mais tradicionalmente heróico Back to 1942, que tem Adrien Brody no papel de um correspondente norte-americano – uma fórmula semelhante à submissão chinesa de 2011 As Flores da Guerra, outro drama de guerra com um astro anglo-falante, Christian Bale, num papel importante) e  The Lunchbox, de Ritesh Batra, que, apesar de críticas positivas no circuito de festivais e distribuição norte-americana assegurada pela Sony Classics, foi preterido pela comissão indiana por The Good Road – uma escolha que ainda está causando controvérsia na Índia.

Gloria, de Sebastián Lelio

Pelo menos posso dizer que  a escolha do Brasil- O Som ao Redor- é a melhor que já vi nos últimos anos. Queria poder dizer também que está na linha de frente para as indicações, mas não arrisco tanto. Pus o orelha no chão, troquei figurinhas com alguns distintos personagens e, na “chave” da América Latina (porque é assim que se dá a pré-pré seleção, com filmes grupados em chaves com representantes dos diversos continentes…) ouvi com frequencia menções ao mexicano Heli, que valeu ao seu diretor Amat Escalante o prêmio de melhor direção em Cannes, e o chileno Gloria, de Sebastián Lelio, que passou por quase todos os festivais importantes e tem distribuição nos EUA via Roadside Attractions_ ouço até ruídos de uma indicação de melhor atriz para sua estrela,Paulina Garcia.

A Caça, de Thomas Vinterberg

Outros rivais de peso são o iraniano O Passado, do já oscarizado Asghar Farhadi, único da turma a ser exibido no famosamente pé-quente festival de Telluride;  o dimarquês A Caça, de Thomas Vinterberg, que está em cartaz aqui e foi para a Mostra São Paulo de 2012; e The Grandmaster, de Wong Kar Wai, submetido por Hong Kong, que teve pré-estreia na Academia  e que, mesmo em versão reduzida, arrancou elogios eloquentes da crítica daqui. O delicado Wajdja, estreia da Arábia Saudita na disputa, também pode ser um adversário e tanto.

Mas guardem o fôlego : a corrida apenas começou….


Analisando a pré-lista do filme estrangeiro no Oscar
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Ana Maria Bahiana

Kon Tiki, da Noruega, um dos nove filmes pré-selecionados para o Oscar

E o balaio do filme estrangeiro do Oscar, hein? Sinto muito não ver o Brasil– com O Palhaço, de Selton Mello –  na lista mas sinceramente não me surpreendo. Há muita coisa que precisa ser feita para realmente termos chance de comprar essa briga, e que vai da escolha do representante no Oscar até uma verdadeira estratégia de campanha, aqui. Infelizmente não tenho visto nenhum desses passos estratégicos  nos últimos anos.

A lista repete muita coisa da seleção dos Globos de Ouro, mais uma vez afirmando a importância desse passo na trajetória de um filme estrangeiro por aqui — algo que o Brasil tem ignorado com uma teimosia que se reflete proporcionalmente na sua ausência. (Atualizo a informação: no final, tivemos três filmes inscritos para o Globo de Ouro: Xingu, Heleno e O Som Ao Redor. Mas todos entraram na última hora, literalmente. E com isso não tiveram tempo para fazer  a campanha que é essencial para se destacar na selva dos prêmios).

Dos nove do balaio do Oscar, quatro são também indicados ao Globo de Ouro:o grande favorito Amour que, acho, vai ganhar ambos; o noruegues Kon-Tiki, uma bela lição de como transformar uma cinebio de aventura num exercício de reflexão existencial; o dinamarquês A Royal Affair, da estrela ascendente da Zentropa (e roteirista original da série Millenium), Nikolaj Arcel; e Os Intocáveis, que joga descaradamente para a arquibancada, e tem ainda por cima a força da pressão dos irmãos Weinstein.

Outros três do balaio eram francos favoritos e por pouco não foram indicados aos Globos: o chileno No ( nota pessoal: me encantou profundamente e me deu saudade do que não vivi) que tornou-se o representante da América Latina na disputa; o romeno Beyond The Hills, de Cristian Mungiu, um favorito pessoal meu, todo em planos-sequência e luz natural; e o islandês The Deep, uma espécie de Náufrago nas águas geladas do Mar do Norte,e que já rendeu ao seu ótimo diretor, Baltasar Kormákur, dois projetos aqui em Los Angeles.

Surpresas mesmo foram o suíço Sister, sobre a complicada relação entre irmãos num resort de luxo, e o canadense Rebelle/War Witch, que tem um diretor de origem vietnamita e se passa inteiramente num país da África Central estraçalhado pela guerra civil.

Ausências notáveis: o coreano Pietá, vitorioso em Veneza; o maravilhoso italiano Caesar Must Die, dos irmãos Taviani, vencedor em Berlim; o alemão Barbara, outro favorito meu, mais um poderoso perfil de mulher vindo da Europa; e o holandês Kauwboy, que tem dois elementos normalmente irresistíveis para os acadêmicos _ criança (um menino) e bichinhos (no caso, uma gralha).

Agora é pensar quais desses nove vão de fato tornar-se indicados, dia 10 de janeiro.


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