O que aprendemos com o fracasso de Depois da Terra
Ana Maria Bahiana
Sabe por que você está vendo tantos cartazes, teasers e anúncios de Depois da Terra?
A resposta está no fim de semana sangrento na bilheteria norte-americana. Não estou nem me referindo ao episódio de Game of Thrones de domingo que, fiel aos livros, trouxe a esperada virada violenta _ estou falando da surra que Depois da Terra levou de dois filmes sem estrelas do calibre de Will Smith: Velozes e Furiosos 6 e Truque de Mestre.
Como muitos de vocês leram por aí, em sua segunda semana em cartaz Velozes e Furiosos continuou no número um com mais de 35 milhões de dólares (um total acumulado de 171 milhões de dólares ), seguido pelo estreante Truque de Mestre com mais de 29 milhões de dólares. Depois da Terra estreou em terceiro, com 27.5 milhões de dólares. É muito difícil ir além saindo tão baixo.
Não tenho postado nem comentado sobre bilheterias principalmente porque números, sozinhos, só interessam a quem produz e distribui. O que me interessa nos relatórios de bilheteria (que leio religiosamente toda semana) são indicações de tendências, um modo de compreender melhor tanto o mecanismo interior da indústria que produz quanto da plateia que consome produtos audiovisuais.
Há cinco anos estamos dentro de um ciclo em que o rabo – a distribuição e o marketing—abana o cachorro- a criação do conteúdo. Não é novidade: esses ciclos se repetem desde que o cinema se tornou bem de consumo. Durante um tempo, quem controla a produção é quem distribui, ou seja, o que entendemos como “os grandes estúdios”. Quando isso chega ao extremo, tudo vira de cabeça para baixo e, por um tempo, a criação passa a dar as cartas.
Para o penúltimo ciclo (dos anos 50 aos anos 80), leiam Easy Riders, Raging Bulls, de Peter Biskind, que saiu no Brasil (sim, a tradução é minha…) pela Intrínseca. Para o último ( dos anos 80 ao começo do século 21), Down and Dirty, do mesmo Biskind. Para uma visão geral, o ótimo The History of Independent Cinema, de Phil Hall.
A surra de Depois da Terra mostra que:
– a presença de um mega-astro como Will Smith , sozinha, não atrai plateias quando o filme é notoriamente ruim, chato.
– Um filme ruim e chato que tem a seu favor o poder de uma franquia, de uma mitologia conhecida, de um universo já criado anteriormente por quadrinhos ou TV, sobrevive.
– Um filme geneticamente criado no laboratorio do marketing e distribuição não é infalível.
– Um filme sem grandes astros se garante junto ao público quando tem os elementos certos: o poder da franquia, no caso de Velozes e Furiosos, o poder de um bom conceito ; no caso de Truque, a direção veloz e a popularidade do diretor Louis Leterrier graças à franquia Transporter ( ao contrário do nome de M. Night Shyamalan, tão queimado que sumiu até dos cartazes de Terra…)
E aí entra você, cara leitora ou leitor no Brasil, cercado de posters por todos os lados: o único modo do filme recuperar seu orçamento de 130 milhões de dólares está na bóia salva vidas que tem escorado esta indústria desde a crise de 2008 – o mercado internacional. É por isso que filmes como Homem de Ferro 3 e Guerra Mundial Z estreiam primeiro fora dos EUA. É por isso que você vai ter uma overdose de Depois da Terra. Porque este mercado não tem mais a habilidade de segurar alguma coisa que custe mais que a média de 30 milhões de dólares gastas numa produção, aqui. E porque, mesmo com todas as tentativas de controle do conteúdo pela distribuição, não existem fórmulas perfeitas.